O
primeiro jornal dedicado a esportes no Brasil foi o “Jornal dos Sports”, que
era editado no Rio de Janeiro. Seus fundadores foram os jornalistas Argemiro
Bulcão e Ozéas Mota.
Sua
primeira edição circulou no dia 13 de março de 1931. Em 10 de abril de 2010, o
“Jornal dos Sports” chegou às bancas pela última vez.
Apesar
da semelhança com o jornal esportivo italiano “La Gazzetta dello Sport”, a
verdadeira inspiração foi o francês “L'Auto”, que era impresso em rosa.
Em
1931, Argemiro Bulcão dirigia o jornal “Rio Sportivo”, que circulava duas vezes
por semana no Rio de Janeiro. Interessado em fortalecer o jornalismo esportivo,
propôs uma sociedade a Ozéas Mota, proprietário da gráfica onde o jornal era
impresso. Com um capital de seis contos de réis, os dois fundaram o “Jornal dos
Sports”.
A
ideia presente no nome do jornal, de valorizar todas as modalidades esportivas,
era reforçada pelo seu logotipo: nele apareciam praticantes de lançamento de
disco, levantamento de peso, tênis, futebol, golfe, natação, remo, corrida,
boxe e hipismo.
Inicialmente,
cada edição tinha apenas quatro páginas, todas em preto e branco, e era vendida
ao preço de 100 réis. Nos primeiros anos o jornal mostrava um conteúdo disposto
em seis páginas impressas, primeiro em preto e branco e depois em papel
cor-de-rosa, a partir de 23 de março de 1936.
Essa
cor se manteve depois, porém mais vibrante, diagramação da manchete em cima do
logotipo, publicação de algumas fotografias, sendo que o texto sobressaia em
relação à imagem e também da utilização de ilustrações.
Podia
se observar nos editoriais dos primeiros anos, que a intenção de Bulcão era
fazer do “Jornal dos Sports” um veículo com influência política.
Outra
característica marcante desta primeira fase do jornal eram as colunas locais e
dos clubes. Como locais, podemos chamar de uma proposta de cobrir as práticas
esportivas pelos cantos da cidade e adjacências, como as cidades de Niterói,
São Gonçalo e a Ilha de Paquetá, por exemplo.
Desta
forma, o jornal procurava aumentar a amplitude de sua cobertura jornalística,
assim como conseguia agradar aos
leitores
destas localidades, que não eram contemplados pelos demais jornais da grande imprensa
da cidade.
Em
relação às colunas dos clubes, não se tratava apenas de cobrir a
vida
social e esportiva das principais agremiações da cidade, mas sim dos
considerados pequenos também como o Olaria e o São Cristóvão (os chamados
clubes de bairros).
Quando
da Copa do Mundo de 1934, o jornal consagrou-se como seu principal divulgador,
ao reforçar a ideia de que aquela não era uma mera disputa esportiva, mas sim
uma afirmação da força do Brasil, do seu povo, a partir do futebol.
Basta
folhear alguma edição antiga do jornal, para observar que ele usava um grande
número de palavras de origem inglesa, como “football”, ”match” e “record”. Até
o seu nome era escrito em inglês, jornal dos “Sports”.
O
jornal costumava criticar a divisão no futebol carioca entre a Associação
Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA) e a Liga Carioca de Futebol (LCF). Bulcão
defendia a unificação e a adoção do profissionalismo, tese que acabou
prevalecendo em 1937, com a fundação da Liga de Football do Rio de Janeiro
(LFRJ).
Em
outubro daquele mesmo ano o jornal foi vendido para o jornalista Mário Filho,
que já era seu colaborador. Ele recebeu ajuda dos amigos Roberto Marinho, José
Bastos Padilha e Arnaldo Guinle para poder comprá-lo de Argemiro Bulcão.
A
partir dai Mário promoveu uma série de inovações. Além de crônicas de Vargas
Neto, introduziu tiras e quadrinhos como forma de ilustrar a participação dos
clubes no Campeonato Carioca de futebol.
Com
a implantação definitiva do profissionalismo, passou a noticiar temas
relacionados à direção dos clubes, contratação de jogadores, salários e valores
dos passes.
A
isso se somou o nacionalismo exacerbado pela participação brasileira na Segunda
Guerra Mundial, com artigos em que os jogadores eram comparados aos soldados da
Força Expedicionária Brasileira (FEB).
Logo
após a guerra, em 1946, o Brasil foi escolhido pela FIFA como sede da Copa do
Mundo de 1950. O compositor Ary Barroso, então vereador no Rio de Janeiro,
apresentou um projeto para que fosse construído um estádio no bairro do
Maracanã.
Mas
a proposta não teve aceitação unânime. O então deputado federal, Carlos Lacerda,
se posicionou contra, dizendo que o custo seria muito alto no local apregoado, defendendo
que a construção se desse em Jacarepaguá.
Mário
Filho não se deu por vencido e publicou uma série de artigos defendendo a
construção do Estádio Municipal. E acabou vitorioso, com a pedra fundamental
sendo lançada em 2 de agosto de 1948 e o Maracanã inaugurado em 16 de junho de
1950.
O
jornalista ainda utilizou o “Jornal dos Sports” para criar competições esportivas,
com destaque para os “Jogos da Primavera”, em 1947, e o “Torneio de Pelada do
Aterro do Flamengo”, em 1951. E por sugestão dele nasceu o “Torneio Rio-São
Paulo de Futebol”.
Foi
um período áureo do jornal, que viu passarem por suas páginas nomes consagrados
como José Lins do Rego e Nelson Rodrigues, irmão de Mário Filho, entre outros.
Em
1950, a derrota para o Uruguai por 2 X 1, pela Copa do Mundo, num estádio do
Maracanã lotado, transformou o país em um grande velório, já que a Seleção,
tida como favorita, gozava de uma admiração ufanista por parte da população
brasileira.
A
derrota, inclusive, refletiu na mudança de linha editorial do jornal, que
passou a enfatizar menos o nacionalismo e fortalecer a visão de Mário Filho ao
criar mitos para o futebol brasileiro.
No
início dos anos 60, surgiu a seção “Segundo Tempo”, voltada às artes e à
cultura. Assim, os cronistas esportivos ganharam a companhia de críticos do
porte de José Ramos Tinhorão e Alex Viany
Depois
disso, só em 22 de fevereiro de 2008, houve nova mudança no controle do "Jornal
dos Sports", quando o publicitário Arnaldo Cardoso Pires assumiu a sua
direção.
Em
1966, quando Mário Filho morreu de um ataque cardíaco, aos 58 anos, o jornal
passou, então, para a sua viúva, Célia Rodrigues, que um ano depois, em 1967,
cometeu suicídio.
E
o jornal passou para as mãos do filho do casal, o jornalista Mário Júlio
Rodrigues. O herdeiro já tinha alguma experiência no diário, visto que havia
sido responsável pela seção “Segundo Tempo”.
Como
novo dono, quis, quis fazer inovações, tendo como inspiração o “Jornal do
Brasil”, que também se modificava na época, olhando para o “New Journalism”
americano.
Júlio
investiu na contratação de nomes consagrados como Zuenir Ventura, Reinaldo
Jardim e Ana Arruda Callado. E na lista de colaboradores surgiram os cartunistas
Ziraldo, Fortuna e Jaguar, além do compositor Torquato Neto.
Como
a “cereja do bolo” lançou o caderno cultural “Sol”, destinado a publicar experiências
de jovens jornalistas, vindos das primeiras faculdades de Comunicação Social do
país, tendo se transformado meses depois, em outro jornal.
O
suplemento serviu de inspiração para Caetano Veloso, no seu sucesso “Alegria,
alegria”. Vejam o verso: “O sol nas bancas de revista/Me enche de alegria e
preguiça/Quem lê tanta notícia/Eu vou...”
E
foi no “Jornal dos Sports” que Henfil criou personagens que se tornaram
mascotes das torcidas dos times cariocas, como o “Urubu”, que substituiu o marinheiro
Popeye como símbolo do Flamengo, e o “Bacalhau”, novo representante do Vasco da
Gama, no lugar do almirante português.
Mário
Júlio Rodrigues era um boêmio inveterado e frequentador assíduo das noites
cariocas. Essa vida desregrada e o alcoolismo o levaram a morte em 1972.
Todos
esperavam que o jornal fosse herdado por seu filho Mário Rodrigues Neto e de sua
primeira mulher, Dalila. Mas aconteceu o inesperado, o testamento deixou o jornal
para a sua segunda mulher, Cacilda Fernandes de Souza.
Isso
fez com que boa parte dos antigos colaboradores, deixasse o jornal. Cacilda
entregou a chefia da redação para o coronel Geraldo Magalhães. E como
consequência a linha editorial abandonava o apoio aos jovens. E muitos
jornalistas passaram para outras publicações, como a revista “Placar”.
Como
religiosa, a nova proprietária lançou um suplemento dedicado a assuntos
espíritas, o “Mundo Azul”.
Cacilda
não conseguiu manter o jornal e com a morte de Nelson Rodrigues, em 1980, passou
a enfrentar sérias dificuldades financeiras. E acabou vendendo o “Jornal dos
Sports” para à família Velloso, tradicional no ramo de redes de supermercados e
drogarias, entre outros negócios, no Rio de Janeiro.
O
comando do jornal foi entregue a Climério Pereira Velloso, auxiliado pelos
parentes Waldemar Pereira Velloso e Venâncio Pereira Velloso. E passou a ter
conteúdo político, dando grande destaque ao deputado estadual Napoleão Velloso
(PMDB), também membro da família.
Entre
os novos colaboradores deste período, destacou-se o Washington Rodrigues, o “Apolinho”,
criador da coluna “Geraldinos e Arquibaldos”, apelidos que ele mesmo havia
criado para os torcedores que frequentavam os setores da Geral e da
Arquibancada do Maracanã.
Os
donos do jornal gostavam de “Surf” e criaram o suplemento "Domingo é dia
de Surf", o primeiro do Brasil dirigido a esse esporte. O suplemento teve
a coordenação de Mauricio de Souza Coelho Neto, na época diretor geral da
Associação de Surf de Peito do Rio de Janeiro (ASPERJ).
Acostumado
a correr solto nas bancas de revistas do Rio de Janeiro, no fim dos anos 90, o “Jornal
dos Sports” teve que enfrentar pela primeira vez na sua história, uma
concorrência.
Nas
bancas apareceu outro jornal esportivo, o “Lance!”, em 1997, com um conteúdo moderno,
com a adoção de cores na primeira página. A queda nas vendas e as dificuldades
financeiras levaram os Velloso a vender o “Jornal dos Sports”, em 2000.
Quem
comprou foi o armador Omar Resende Peres Filho. Para diretor de redação levou o
jornalista Milton Coelho da Graça. Mas não durou muito. Em pouco tempo passou a
marca e o arquivo para os empresários Lourenço Rommel Peixoto, que também era
vice-presidente do “Jornal de Brasília”, e Armando Garcia Coelho.
Os
novos proprietários investiram em equipamentos e mudaram a redação da antiga
sede na rua Tenente Possolo, no Centro do Rio, para a Praça da Bandeira. E
outros colunistas foram contratados, com destaque para José Inácio Werneck e
Marcos de Castro.
Em
2004, Peixoto e Coelho se viram envolvidos na “Operação Sanguessuga”, da
Polícia Federal, que investigava denúncias de corrupção na compra de
medicamentos pelo Ministério da Saúde do Brasil. Os dois chegaram a ser presos.
Enfrentando
outra das tantas crises, o diário foi vendido ao empresário Wellington Rocha.
Quatro anos depois, em 2008, um novo grupo de empresários, liderado por Arnaldo
Cardoso Pires, assumiu o comando e transferiu mais uma vez a redação, desta vez
para a Rua do Ouvidor, no Centro do Rio.
4 comentários:
Jornal era demais gastava muito dele todas as segundas e quintas era certo eu comprar ele pra ler as notícias do Fluzão
esse jornal era o charme do futebol do rio, noticia de primeira mão para os leitores apaixonado por futebol.
Onde posso encontrar arquivos do suplemento O Mundo
Azul?
Aqui em Curitiba nos finais dos anos 60 início de 70 eu lia muito esse Jornal.
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