A
empresa inglesa foi responsável pela transição dos bondes puxados por burros
para os elétricos, na primeira metade do século 20. Daí, a equipe de futebol
também ser conhecida como os “elétricos”.
O
clube disputou por sete anos o principal “Campeonato Pernambucano”. E nesse
período causou muitos estragos aos seus adversários mais fortes, o chamado “trio
de ferro”, Sport, Náutico e Santa Cruz, além do América, que na época gozava de
prestigio. Mas desapareceu da mesma forma como surgiu, rapidamente, e por isso
ganhou o apelido de “Furacão”.
Os
jogadores eram funcionários da Companhia. Domingos, Furlan e Rubinho, despachavam
no escritório central, que ficava na esquina da Rua Aurora com a Princesa
Isabel.
O
ponteiro Olívio trabalhava na seção de energia. O goleiro Zé Miguel ficava até
altas horas da noite como chefe de quarto do departamento de luz. Já “Sopinha”,
“Guaberinha”, “Paisinho” e Faustino exerciam outras funções na empresa.
Alguns
desses jogadores também atuavam em times de bairros, na “Liga Suburbana”, que
era muito forte na época. Casos de Zé Miguel, Olívio, “Paisinho” e “Quetreco”.
Os
“Elétricos” disputaram sete estaduais, de 1935 a 1941. O primeiro título, em
1936, foi tumultuado. Mesmo faltando 16 jogos para o campeonato acabar, os
clubes e a “Federação Pernambucana de Desportos” resolveram encerrar o certame.
Mesmo
com uma campanha muito superior a dos rivais, com sete pontos a mais do que
Náutico e Santa Cruz, ainda ficou a dúvida se o time teria fôlego para se
manter na ponta.
Sua
última partida foi contra o Sport, a quem venceu por 3 X 2, com dois gols de
“Sopinha” e um de Olívio. Foram 11 vitórias e dois empates.
O
time campeão de 1936 tinha essa formação: Zé Miguel – Domingos – Jorge. Zezé –
Faustino e Furlan. Alcides – Bermudes – Sopinha – Quatreco e Olívio.
No
ano seguinte, os “Transviários” fizeram uma campanha ainda mais arrebatadora,
para dizimar quaisquer dúvidas: 14 vitórias e apenas um empate, 64 gols
marcados e 16 levados.
A
prova da superioridade do Tramways foi a goleada aplicada no Sport, por 5 X 2,
no jogo que ratificou o título. Olívio, Navarra, Alcides, Quetreco e Sopinha
“Elétricos”.
Só
utilizando atletas “prata da casa”, talvez o Tramways não conseguisse sagrar-se
bi-campeão invicto. Foi preciso tirar os jogadores “Zezè”, Júlio Fernandes e “Alcides
Cachorrinho”, todos do Santa Cruz.
“Cachorrinho”
marcou 56 gols pelo Tramways em campeonatos pernambucanos, tornando-se o maior
artilheiro da equipe na história da competição. Com dinheiro de sobra, o
técnico Joaquim Loureiro veio de São Paulo para armar a equipe.
O
time bi-campeão tinha esta formação: Zé Miguel – Domingos e Ernesto. Guaberinha
– Paizinho e Furlan. Alcides – Omar – Navarra (Spinha) – Quetreco e Olívio.
Na
trajetória do primeiro título estadual do Tramways, em 1936, um jogador merece
um capítulo à parte. Dono de um potente chute, de causar medo nos goleiros,
como diziam os jornais pernambucanos da época, o argentino Bermudes foi um dos
pilares da inédita conquista do grêmio transviário.
Em
13 jogos pelo Tramways no Estadual de 36, o meia-direita Bermudes fez 19 gols,
cravando o seu nome na galeria dos artilheiros do Campeonato Pernambucano.
Náutico,
Sport e Santa Cruz sofreram nas mãos, ou melhor, nos pés do gringo, que
balançou a rede do trio de ferro. O Torre, principal rival do Tramways, era sua
vítima favorita. Na goleada por 8 X 4 sobre o Madeira Rubra, Bermudes fez a
metade dos gols do seu time.
Ao
todo, juntando os Estaduais de 1935 e 36, Bermudes marcou 32 gols pelo Tramways
– terceiro maior goleador da equipe no Pernambucano, atrás de “Alcides
Cachorrinho” (56 gols) e Olívio (46).
O
sucesso nos “Elétricos” fez com que o Náutico o contratasse. No Timbu, ele foi
novamente campeão pernambucano, em 1939, o segundo da história alvirrubra, ao
lado dos Carvalheira: Fernando, Zezé e Emídio.
Companheiro
de Bermudes nessa conquista, o ex-goleiro Djalma Cristaino Santos, falecido em
agosto de 2012, aos 94 anos, lembrava com muita saudade do amigo.
“Bermudes
era formidável, um grande amigo. Dançava muito bem tango. Um dia, chegou a
notícia de que ele havia morrido. Pedi licença a Cabelli (Umberto, técnico
uruguaio, que comandava o Náutico) e fui para a pensão onde ele morava.
Chegando
lá, o encontrei no chão, envolto em cigarros e bebidas, mas estava vivo. Então,
entrei em contato com a família dele e o seu pai mandou dinheiro para enviá-lo
de volta a Buenos Aires”, relatou.
Nos
anos 50, o ex-goleiro alvirrubro foi à capital argentina somente para rever o
amigo. “Em 1953, nos encontramos em Buenos Aires. Ele estava trabalhando como
locutor de rádio.
Foi
a última vez que nos vimos”, relembrava Djalma, que soube da morte do amigo
anos depois, através de uma carta enviada pelo esposa do argentino, Helena.
Pelo
Náutico, Bermudes anotou 12 gols pelo Estadual de 39. No ano seguinte, porém,
anotou apenas dois, ambos em amistosos.
As
cores do Tramways eram branco, azul e vermelho, por isso era chamado de tricolor
transviário. No biênio 1936/1937, foi ele que mandou no futebol pernambucano,
mantendo-se invicto nesse período.
O
Tramways era de uma época em que o profissionalismo ainda não tinha se
consolidado em Pernambuco. A maioria dos jogadores ainda não tinha contrato e não recebia
dinheiro para jogar futebol.
Mas
no caso dos “Elétricos”, a situação era um pouco diferente. Muitos que jogavam
pelo Tramways era em troca de emprego na empresa, o que se constituía em uma
espécie de amadorismo marrom, já que os atletas tinham salário, não pelo
futebol, mas pelas funções que exerciam na companhia inglesa.
O
médico cardiologista escritor Rostand Paraíso, autor do livro “Esses Ingleses”,
destacou na obra a presença e influência inglesa no Recife, contando passagens
vivenciadas pelo Tramways.
Até
1941, quando disputou o seu último Estadual, o Tramways seguiu fazendo um papel
digno. O fim da equipe foi assim explicado por Haroldo Praça, em seu livro “O
Gôl de Haroldo”, de 2001.
“Não
obstante reunir bons jogadores e armar equipes destacadas, o “Elétrico” foi
vitimado por moléstia incurável: clube de dono (Antônio Rodrigues de Souza,
diretor da empresa britânica, responsável pelo investimento na montagem dos
times de 1936/37). E aí começou a entrar para a história mais uma aparição
brilhante efêmera.” (Pesquisa: Nilo Dias)
O time campeão de 1936
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