O ex-lateral esquerdo do Botafogo e da Seleção
Brasileira, Nilton Santos, morreu na tarde desta quarta-feira, aos 88 anos de
idade, na Clinica Bela Lopes, bairro de Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro,
onde estava internado desde o último sábado em razão de complicações
respiratórias.
Na terça, ele havia apresentado uma melhora no
quadro de pneumonia que foi diagnosticado na segunda. De acordo com o boletim
médico, Nilton morreu em decorrência de pneumonia comunitária, tendo
comorbidades a doença de Alzheimer e a insuficiência cardíaca grave.
O ex-craque, que padecia do “Mal de Alzheimer” há
cinco anos, vivia na Clínica da Gávea. O Botafogo, desde 2007, quando o
presidente era Bebeto de Freitas, arcava com as despesas hospitalares do ídolo.
Sua esposa Célia luta contra um câncer no cérebro. Eles, inclusive, tiveram que
se separar por conta das doenças no fim de 2012.
O corpo do "Enciclopédia do Futebol" foi
carregado para dentro da sede de "General Severiano" ao som do hino
do clube e coberto pela bandeira com a "Estrela Solitária". Parentes,
amigos e torcedores devem velar Nilton Santos até a zero hora.
Depois, as portas serão reabertas às 7 horas, para
receber o público em geral. O ex-lateral-esquerdo deixará a sede alvinegra às
15 horas em um carro aberto do Corpo de Bombeiros, que seguirá em carreata até
o cemitério São João Batista, no bairro de Botafogo, na Zona Sul do Rio, onde
será sepultado.
O ex-craque nasceu em 16 de maio de 1925 no bairro
carioca da Ilha do Governador. Ganhou o apelido de "Enciclopédia de
Futebol", dado pelo ex-narrador esportivo Waldir Amaral, por causa de seus
conhecimentos sobre o esporte e por ser completo como jogador, tendo a
capacidade de encantar o torcedor.
Enquanto cumpria serviço militar foi descoberto por
um oficial da Aeronáutica que o viu jogar na praia e se encantou. Foi levado
por ele para jogar no Botafogo em 1948. Sua estréia com a camisa do clube da
estrela solitária aconteceu num jogo amistoso contra o América, de Minas
Gerais.
No campeonato carioca de 1948, entrou no time numa
partida contra o Canto do Rio, em Caio Martins, vencida pelo alvinegro por 4 X
2. Não participou do primeiro jogo do Campeonato, contra o São Cristóvão, o
titular foi Nilton Barbosa. O Botafogo ganhou o título daquele ano.
Nilton defendeu o Botafogo por 16 anos. Foi o único
time que jogou em toda a carreira, conquistando o Torneio Rio-São Paulo em 1962
e 1964, além do Campeonato Carioca em 1948, 1957, 1961 e 1962. Também vestiu a
camisa da Seleção Brasileira, onde foi bicampeão mundial em 1958 e 1962, além
de participar das Copas do Mundo de 1950, da qual era o último remanescente, e
de 1954. Somente deixou General Severiano em 1964 quando abandonou os gramados.
A direção do Botafogo emitiu nota oficial em que
lamenta o falecimento de seu ídolo Nilton Santos, o maior lateral-esquerdo de
todos os tempos, “adorado quanto Garrincha e respeitado quanto Pelé”. No
Botafogo, disputou 723 partidas, e marcou 11 gols. Na Seleção, fez 84 jogos,
marcando 3 gols.
Nilton estreou na seleção no Sul-Americano de 1949.
A competição foi realizada no Brasil que acabou campeão. Ainda foi campeão com
a camisa “Canarinho” no “Pan-Americano” de 1952. Sua despedida da Seleção
ocorreu na final da Copa de 1962, contra a Tchecoslováquia.
Foi o maior responsável pela contratação de
Garrincha, depois de tê-lo marcado em um treino do Botafogo e levado um drible
entre as pernas. Ficou furioso, mas exigiu que o endiabrado ponteiro-direito
fosse contratado e titular da equipe, pois assim, não teria que marcá-lo
novamente. Em 1998, em pesquisa realizada pela Fifa foi eleito junto com
Garrincha para fazer parte da Seleção Mundial de todos os tempos.
Nilton Santos foi o precursor em arriscar subidas
ao ataque através da lateral do campo. Revolucionou a posição de
lateral-esquerdo, utilizando-se de sua versatilidade ao defender e atacar,
inclusive marcando gols, numa época do futebol que a posição tinha apenas
função defensiva.
Até marcou um gol pela Seleção Brasileira, na Copa
do Mundo de 1958, contra a Áustria. Ele pegou a bola no campo de defesa e
driblou o time adversário inteiro, finalizando com um chute indefensável. O
técnico Vicente Feola quase ficou doido com o desenrolar da jogada.
Outra jogada que entrou para a história do futebol
foi protagonizada por Nilton Santos na Copa do Mundo de 1962. Ele cometeu um
pênalti escandaloso em um jogador da Espanha, que vencia o confronto por 1 X 0.
A partida era válida pela última rodada da fase de classificação e decisiva.
Quem perdesse, voltava para casa.
Assim que o atleta caiu, ele deu dois passos para
frente e saiu da área. O árbitro, que estava longe do lance, apenas marcou a
falta, em vez de pênalti. Ao lembrar o lance, Nilton dizia que foi pura
malandragem, daquelas que se aprende nas peladas. Depois o Brasil virou o jogo
com dois gols de Amarildo.
Nilton Santos, Gilmar, Didi e Zagalo foram os
únicos jogadores da Seleção Brasileira que participaram de todos os jogos das
Copas do Mundo de 1958 e 1962.
Contam que num jogo amistoso do Botafogo na cidade
do México contra o River Plate, da Argentina, Garrincha estava estraçalhando o
beque Vairo. Nestor Rossi, o maestro portenho, teria chamado o lateral e
aconselhou: “Quer melhorar teu futebol? Então faz o seguinte, aquele ali é o
Nilton Santos, beque esquerdo como você. Vai lá perto, disfarça e passa a mão
na perna dele. só isso. Passa a mão que naqueles pés está o futebol de todos os
beques do mundo".
Nílton Santos era um jogador clássico, elegante,
raramente fazia falta e nunca jogou com violência. Começou a carreira como
centroavante, mas foi colocado como quarto-zagueiro em um treino e logo em
seguida firmou-se na lateral. Encerrou a carreira com os quatro meniscos
inteiros, o que prova que tinha bom equilíbrio.
Romântico, não ligava para dinheiro, tinha um
espirito amador. Chegou a assinar três contratos em branco, no auge de sua
carreira. Mas não se arrependeu e garantia que faria tudo de novo. Agradecido,
dizia sempre que tudo o que tinha, tudo o que era, devia ao Botafogo.
Ele fez parte do “Fifa 100”. E foi homenageado no
“Prêmio Craque do Brasileirão de 2007”. Foi eleito pela Federação Internacional
de História e Estatísticas do Futebol (IFFHS), o nono maior jogador brasileiro
do século e o 28º da América do Sul. Em 2000 foi escolhido pela Fifa o melhor
lateral esquerdo do mundo em todos os tempos.
Foi escolhido ainda para integrar a seleção da
América do Sul de todos os tempos. A enquete foi realizada com cronistas
esportivos de todo o mundo. A Seleção foi esta: Fillol (Argentina) - Carlos
Alberto Torres (Brasil) – Figueroa (Chile) - Daniel Passarella (Argentina) e
Nilton Santos (Brasil) – Maradona (Argentina) - Di Stéfano (Argentina) –
Rivelino (Brasil) e Didi (Brasil) – Garrincha (Brasil) e Pelé (Brasil).
Em 2002, Nilton Santos recebeu uma homenagem do
apresentador e jornalista Milton Neves. Um tapete vermelho foi estendido para
que o eterno botafoguense pudesse participar do "Terceiro Tempo", na
TV Record.
Depois de encerrar a carreira, Nilton Santos não se
afastou do futebol. Em 1998, tocou um projeto de uma escolinha de futebol em
Palmas, Tocantins, para crianças carentes.
Mesmo declarando que nunca sonhou em ser treinador
de futebol chegou a treinar o Bonsucesso, modesto clube do subúrbio do Rio de
Janeiro. Com seus grandes conhecimentos futebolísticos, montou um time até bom,
considerando-se os parcos recursos de que dispunha.
Depois de sete jogos, conseguiu cinco vitórias. A
diretoria do Bonsucesso não estava acostumada com aquilo e chegando à conclusão
de que, pagando tantos "bichos" por vitória, o clube acabaria
falindo, optaram pela solução mais "lógica" e barata. Simplesmente
demitiram o técnico que estava causando tanto prejuízo.
Depois passou sem grande êxito pelo Galícia e
Vitória, ambos da Bahia e São Paulo, da cidade gaúcha de Rio Grande, onde não
conseguiu se adaptar ao frio e pediu para ir embora. O último time que treinou
foi o Taguatinga, de Brasília. O próprio Nilton gostava de contar como
aconteceu a sua saída do clube gaúcho:
Eu estava acostumado ao calor do Rio de Janeiro, e
era duro enfrentar o rigoroso inverno gaúcho. Num domingo, me levaram para
visitar a extensa praia do Cassino. O frio era intenso e nem saí do carro. De
repente, ví um pinguim morto na beira da praia. Era a desculpa que precisava
para romper o contrato: olha, pessoal, se nem pinguim aguenta o frio daqui, o
que é que estou fazendo nesta cidade? Arrumou as malas e voltou ao sol da sua
“Cidade Maravilhosa”.
Chegou a fazer parte da cúpula do futebol do
Botafogo. Mas não durou muito tempo, sendo afastado após dar um soco no
ex-árbitro Armando Marques, derrubando-o escada abaixo do Estádio do Maracanã,
depois de um jogo em 1971.
Nilton Santos era um verdadeiro especialista em
contar passagens divertidas da vida de Garrincha, seu "compadre" e
amigo íntimo de muitos anos. Ele garantia que na sua frente Garrincha, um
contumaz alcoólatra, nunca havia tomado um gole, pedindo sempre um "copo
de água" quando o via.
Em meados da década de 1990, o ex-lateral esquerdo
estabeleceu residência em Brasília e marcou época na cidade. Como coordenador
de um projeto de iniciação ao futebol para crianças, Nilton Santos ensinou os
segredos da bola e dos gramados a mais de mil aprendizes.
Esforçou-se o quanto pode para manter a iniciativa,
mesmo nas condições mais adversas, mas foi obrigado a abandonar o programa
quando deixou de ter um local para abrigar os meninos.
Na passagem pela cidade, foi ainda treinador do
Taguatinga, mas a nova experiência como técnico de futebol também não foi
bem-sucedida. Contratado como colunista do jornal “Correio Braziliense”, Nilton
Santos revelou talento com as palavras, comentando temas esportivos e revelando
histórias curiosas dos tempos de jogador. Conquistou leitores assíduos e acabou
agraciado com o título de cidadão honorário de Brasília, em 1997.
De volta ao Rio de Janeiro, Nilton Santos fixou
residência na cidade de Araruama, onde escreveu e lançou, em 1998, uma
autobiografia de muito sucesso, intitulada “Minha Bola, Minha Vida”, pela
editora Gryphus, na qual contou detalhadamente todos os passos da vitoriosa
carreira.
Ele também foi homenageado no “Cantinho da
Saudade”, em dezembro de 1999, no “Museu dos Esportes Edvaldo Alves de Santa
Rosa – Dida”, que fica localizado no Estádio Rei Pelé, em Maceió.
Nilton Santos é nome de estádio. Fica em Palmas,
Tocantins, onde morou entre 1999 e 2000, quando desenvolveu um projeto social
com jovens através do futebol. Tem capacidade para receber até 8 mil
torcedores.
Foi inaugurado no dia 12 de outubro de 2000. O
primeiro gol no estádio foi marcado pelo atacante Malzone, que nesta ocasião
jogava pela Seleção Brasileira Sub-17, no amistoso Seleção Brasileira Sub-17 2
X 2 Seleção Tocantinense Sub-20, que inaugurou a praça de esportes.
Títulos. Torneio Rio-São Paulo: (1962 e 1964); Taça
dos Campeões Estaduais Rio-São Paulo (1961); Campeonato Carioca (1948,1957,1961
e 1962); Torneio Início Carioca (1961, 1962 e 1963); Torneio Municipal de
Futebol do Rio de Janeiro (1951); Torneios Internacionais. 6º Torneio Pentagonal
do México (1958); Torneio Internacional da Colômbia (1960); Torneio
Internacional da Costa Rica (1961); 6º Torneio Pentagonal do México (1962);
Torneio Jubileu de Ouro da Associação de Futebol de La Paz (1964); Torneio
interclubes do Suriname (1964); Torneio Governador Magalhães Pinto (1964);
Torneio Triangular de Porto Alegre (1951); Seleção Brasileira. Copa do Mundo
(1958 e 1962); Campeonato Sul-Americano (1949); Taça Oswaldo Cruz (1950, 1955,
1956, 1958, 1961 e 1962); Copa Rio Branco (1950); Campeonato Pan-Americano
(1952); Taça Bernardo O'Higgins (1955, 1959 e 1961) e Taça do Atlântico (1956 e
1960).
Um amigo de Nilton Santos, Damásio Desidério,autor
de um enredo na Escola de Samba Vila Isabel, em 2002, que homenageou o
ex-craque, ganhou de presente todo o acervo de relíquias juntadas por ele em
toda a carreira. Agasalhos, chuteiras e as camisas das finais da Copa de 1958 e
de 1962, utilizadas por Nilton Santos, integram uma lista de quase duas dezenas
de peças de valor histórico.
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