Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Três goleiros da pesada

Será que todos os jogadores de futebol cumprem a risca regras rígidas para controle de peso? A idéia que se criou é de que um atleta deve ter uma dieta controlada, não pode abusar de certas tentações gastronômicas, não pode ter barriga saliente. Enfim, para ter um rendimento satisfatório em campo e não ouvir críticas de torcedores é preciso muito cuidado. Quem não lembra do Ronaldo “Fenômeno”, na última Copa do Mundo? Você, leitor desta coluna com certeza o chamou de “gordo”. Ou pensou.

Pasmem, o futebol com todas suas vicissitudes tem sido pródigo em mostrar que nem sempre as coisas seguem esses preceitos ao pé da letra. O “Livro Guinnes”, bem que poderia estar presente nas estantes dos incautos. Nele, encontramos coisas que até Deus duvida. Já imaginaram um cara com 165 quilos como goleiro de um time de futebol? O gol é uma posição que exige reflexo, elasticidade e impulsão.

O inglês Willie Henry Foulke, em parte desmentiu isso. Com 1m90cm de altura e 141 quilos ele foi por muitos anos o goleiro do Bradford City Athletic Football Club, entre o final do século XIX e o início do século XX. No final da carreira chegou a jogar com 165 quilos. Não foi por acaso que os torcedores o chamavam de “Fatty” (gordão).

No Brasil tivemos alguns goleiros com peso descomunal. “Juca Baleia”, que jogou no Sampaio Corrêa do Maranhão, na década de 1990 ficou famoso por nunca ter atuado abaixo de 100 quilos. Em algumas vezes chegou a pesar até 150 quilos. O que não o impediu de se tornar um dos maiores ídolos da história do clube. Quem o viu jogar garante que era um arqueiro imponente, de milagrosa agilidade, também chamado pelos torcedores de “Moby Dick“ e de "baleia voadora".

Mesmo sem nunca ter defendido clubes do Sul e Sudeste, Juca ganhou projeção nacional atuando pelo Sampaio Corrêa nos jogos contra o Palmeiras, pela Copa do Brasil de 1992. Seu time perdeu as duas partidas, 1 X 0 no Maranhão, e 4 X 0 em São Paulo, mas ele foi o melhor em campo nos dois confrontos e ganhou de presente a camisa do goleiro Carlos.

Juvenal Marinho dos Passos, o “Juca Baleia”, nasceu em São Luis, no dia 3 de Maio de 1959. Jogou pelo Moto Clube (1979), Expressinho (de 1979 a 1982), Maranhão Atlético Clube (1983) e Sampaio Corrêa (de 1990 a 1993). Foi tri-campeão maranhense em 1990, 1991 e 1992.

“Juca Baleia” deixou de jogar em 1993. Hoje, é gerente de uma empresa de construção civil, auxiliar em uma escolinha de futebol, comentarista esportivo de uma emissora de rádio de São Luis e goleiro do time de veteranos do Sampaio Corrêa. Já recebeu vários convites para ingressar na vida política, mas descartou todos. Por enquanto. Também foi sondado para ser treinador.

No Rio Grande do Sul o destaque peso-pesado foi o goleiro Orlando, que entrou para a história por ser recordista em levar gols num jogo só e por ter sido considerado o goleiro mais gordo do futebol brasileiro, na época. Orlando Moreira Alves, o “Orlando Pataca”, nasceu em Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai, em 14 de junho de 1949. Garante ser descendente de índios e bugres. Conta que tinha seis dedos em cada mão, que foram retirados quando ainda era criança.

Em 1972 Orlando ganhou projeção nacional. Foi capa da revista “Veja”, por dois motivos: ser o goleiro mais gordo do futebol brasileiro, com 106 quilos e 1m79cm. E por ter levado 14 gols num jogo de seu time, o Ferro Carril, de Uruguaiana contra o Internacional em 23 de maio de 1976, a melhor equipe do futebol brasileiro. O seu recorde se mantém ate hoje, nenhum outro goleiro no futebol brasileiro foi buscar a bola tantas vezes no fundo da rede como ele.

Orlando levou os 14 gols, cinco no primeiro tempo, nove no segundo, mas foi eleito pela crônica o melhor jogador de seu time. Foram 47 chutes com direção certeira na meta e outros tantos que saíram pela linha de fundo. O goleiro operou verdadeiros milagres naquele dia, evitando que a goleada fosse maior. Eu me lembro de tê-lo visto jogar. Apesar do grande peso, era mesmo um bom goleiro, por incrível que pareça;

“Pataca” jogou pelo E.C. 14 de Julho, de Santana do Livramento (1969), Fluminense F.C., de Santana do Livramento (de 1970 a 1974), Grêmio F.B. Santanense, de Santana do Livramento (1974), Guarany F.C., de Bagé (1975), Riograndense F.C., de Santa Maria (1975 e 1976) e E.C. Ferro Carril (Uruguaiana) (1976). Sua galeria de troféus está vazia, não ganhou nenhum título como jogador profissional de futebol.

Orlando Pataca, goleiro aposentado pesa hoje 120 quilos, 14 a mais do que quando jogava. Depois que parou com o futebol trabalhou como funcionário da Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT) e foi segurança em bares noturnos, e proprietário de uma boate chamada "Consulado da Cerveja". Hoje, mora na praia de Cidreira, no litoral gaúcho com a terceira esposa, Dione. Para matar o tempo, treina goleiros na Escola Profissionalizante de Futebol (Esprof) e conta histórias de seus tempos de jogador, como esta:

“Em 1972 o Ferro Carril recebeu o E.C. Pelotas num jogo de campeonato. No time deles tinha um atacante muito bom, o Ademar, um artilheiro que fazia muitos gols. Eu lembro bem, a bola vinha alta e ele pulou para cabecear. Eu pulei também e dei um soco na nuca dele. O cara caiu e ficou desacordado por uns 10 minutos. Cheguei a pensar que ele tinha morrido”. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
(Juca Baleia ao lado do técnico do Sampaio Correia (Foto: Acervo pessoal de Juca baleia)

Anônimo disse...
O Orlando Pataca, no ano de 2008 continua treinando goleiros para a ESPROF em Barra Bonita - SP.
Fez parte de matéria jornalística (rádio, tv regional e jornais) de toda região Centro Oeste Paulista após eu encontrar matéria sobre ele no site do Pelé.net, o site do rei do futebol.
Autor do Texto: Orlando Mazetti Filho da Comunica Studio (www.comunicastudio.com)
16 de julho de 2008 10:50