Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Um jogador diferenciado

Ruben Walter Paz Márquez, mais conhecido como Ruben Paz, nasceu em Artigas (Uruguai), no dia 8 de agosto de 1959. Começou a carreira no Peñarol, de sua terra natal, onde jogou entre 1975 e 1976. Em 1977 foi para o Peñarol, de Montevidéu, onde se consagrou como craque, por lá permanecendo até 1981.

Em 1982 foi contratado pelo S.C. Internacional, de Porto Alegre. Ruben Paz chegou ao colorado gaúcho em fevereiro de 1982, levado pelo então presidente Frederico Arnaldo Ballvé. Estreou num jogo frente o Goiás pelo Campeonato Brasileiro, em que o Internacional goleou por 5 X 0.

Foram várias as atuações de luxo do craque da camisa 10 pelo Internacional, como por exemplo, a final do Campeonato Gaúcho de 1982. Ele foi o principal jogador em campo na vitória do Inter sobre o Grêmio por 2 X 0. Teve um desempenho notável no jogo que é lembrado até hoje pela torcida vermelha.

Em 1982, o Internacional realizou uma excursão por gramados europeus, tendo disputado o tradicional “Torneio Joan Gamper”, em Barcelona, na Espanha. Ruben Paz teve a oportunidade de mostrar todo o seu exuberante futebol.

O time era treinado por Ernesto Guedes, um polêmico treinador. O Inter chegou ao torneio tido apenas como um mero participante. O favorito era o Barcelona, que acabara de fazer grandes contratações, entre elas o argentino Diego Maradona e o alemão Schuster. O time espanhol ainda tinha em suas fileiras Quini, estrela do futebol espanhol na época.

No jogo contra o Internacional, para definir um dos finalistas, o Barcelona foi quem criou as melhores chances, o Internacional só arriscava em contra-ataques. O jogo terminou 0 X 0 no tempo normal, o que provocou uma decisão por pênaltis. O clube brasileiro venceu por 4 X 1 e garantiu vaga na final para enfrentar o Manchester City, da Inglaterra.

No jogo final deu Internacional 3 X 1, com gols de Edvaldo, Paulo César e Fernando. O City descontou com Mc’Donalds. Inter, Campeão do Torneio Joan Gamper. A imprensa espanhola da época deu grande destaque para conquista colorada e para o bom futebol de Ruben Paz.

Em 1983 os técnicos gaúchos o elegeram o melhor jogador em atividade no Estado. Em sua passagem por Porto Alegre, Ruben Paz teve duas filhas Maria Fernanda e Maria Eugênia, e fez amizades que duram até hoje, principalmente com ex-companheiros como Mauro Galvão, Rodrigues Neto e Edvaldo e o técnico Otacílio Gonçalves.

No clube colorado gaúcho atuou por cinco temporadas, tendo se consagrado como um dos maiores ídolos da torcida. Em 1986 deixou o Internacional para jogar no Racing Club de France, de Paris onde ficou por apenas uma temporada, indo em 1987 para o Racing, da Argentina. Em 1989 e 2000 defendeu o Genoa, da Itália.

Em 1990 voltou ao Racing argentino. Em 1993 atuou pelo Rampla Juniors, de Montevidéu. Em 1994 vestiu a camisa do Frontera Rivera Chico, de Rivera. Em 1996 transferiu-se para o Godoi Cruz, da Argentina. No mesmo ano jogou pelo Wanderers, de Artigas. De 1997 a 2000 esteve novamente no Frontera Rivera Chico.

Em 2002 foi para o Nacional, de San José de Mayo (Uruguai), em 2003 andou pelo Tito Borjas, de San José de Mayo, e em 2006 encerrou a carreira de verdadeiro cigano do futebol, defendendo o Pirata Juniors, de Artigas.

Em 1997, quando Ruben Paz jogava pelo Frontera Rivera Chico, de Rivera, eu presidia a S.E.R. São Gabriel, de São Gabriel (RS). E jogamos uma partida amistosos contra esse clube uruguaio, no Estádio Atlio Paiva, em Rivera, que terminou empatada em 0 X 0. Ruben Paz jiogou, mas não tinha mais o preparo fisico e técnica dos tempos de Internacional.

Em sua longa carreira de jogador, Ruben Paz conquistou muitos títulos: Campeonato Artiguense (1975); Campeonato Sul-Americano Sub-20 (1977 e 1979); Campeonato Uruguaio (1978, 1979, 1981 e 1982); Mundialito (1981); Campeonato Gaúcho (1982, 1983 e 1984); Super Copa Libertadores da América (1988); Supercopa Interamericana (1988); Campeonato Riverense (1994); Liguilla de Ascenso (1998); Liga Mayor de San José de Mayo (2003 e 2004).

Ruben Paz jogou dois Mundiais pela Seleção do seu país, em 1986 no México e 1990 na Itália. Foi campeão pela “Celeste” da “Copa del Oro”, conhecida como “Mundialito”, disputado em 1980 e da qual participaram unicamente as seleções até então campeãs do mundo. Com o selecionado uruguaio disputou um total de 66 partidas oficiais e marcou 12 gols.

Durante os cinco anos que vestiu a camisa do Internacional, Ruben Paz foi um jogador diferenciado, aquele que pensava o jogo, distribuía as jogadas e armava as ações ofensivas do time. Portador de uma técnica apurada, foi ídolo da torcida, jogou duas Copas do Mundo e deixou os gramados somente aos 47 anos de idade.

Ele adorava jogar futebol. A bola era sua companheira inseparável, por isso demorou tanto a encerrar a carreira. Ele conta que os fez em duas etapas, como jogador profissional parou aos 41 anos, jogando o campeonato uruguaio pelo Frontera Rivera Chico. E por times amadores em 2006, e assim mesmo para atender ao pedido de um amigo de infância, o também ex-jogador Mario Saralegui, que, na época, assumiu o comando do Peñarol e chamou Paz para ser assistente.

Hoje Rubens Paz mora em Artigas, sua cidade natal, onde se dedica a um projeto de revelação de jogadores de futebol. Mas ainda acompanha pela televisão os jogos do Internacional,seu clube brasileiro de coração. (Pesquisa: Nilo Dias)

Ruben Paz, quando defendia o Internacional.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O São Borja está de volta

Hoje o Campeonato Gaúcho da Divisão Principal é disputado por clubes de cidades que na maioria se localizam próximas a Porto Alegre. As viagens mais longas para os clubes da capital são Ijuí (402 km), Passo Fundo (280 km) e Pelotas (246 km). De resto tudo é perto: Canoas (9 km), Gravataí (23 km), Novo Hamburgo (35 km), Bento Gonçalves (120 km), Lajeado (114 km), Caxias do Sul (134 km), Veranópolis (147 km) e Santa Cruz (150 km).

Mas nem sempre foi assim. Num passado não muito distante clubes de Uruguaiana, São Borja, Santo Ângelo, Bagé, Rio Grande e Livramento constantemente se classificavam para o mais importante certame do Estado. Os clubes da capital precisavam atravessar o Estado para jogar contra os times dessas cidades.

Uruguaiana, por exemplo, fica a 649 quilômetros de Porto Alegre; São Borja, a 594; Santana do Livramento, 489; Santo Ângelo, 442; Bagé, 366 e Rio Grande, 309 km. A decadência futebolística dos clubes dessas cidades os afastou da principal competição do Estado. Associações tradicionais como Grêmio Santanense, F.B.C. Rio-Grandense (Rio Grande), S.E. São Borja e Ferro Carril, Uruguaiana e Sá Viana, de Uruguaiana praticamente enrolaram as bandeiras.

São Paulo e S.C. Rio Grande, Guarany e Grêmio Bagé, 14 de Julho, de Livramento e S.E.R. Santo Ângelo ainda vivem de teimosos, envolvidos em campeonatos de divisões inferiores, altamente deficitários.

Eu hoje vou contar um pouco da história da S.E. São Borja, que nasceu de uma fusão entre dois antigos e tradicionais clubes rivais de São Borja, Cruzeiro e Internacional, que sucumbiram devido a graves crises financeiras. O novo clube herdou a cor vermelha do Internacional, a azul do Cruzeiro e o branco que simbolizava a paz entre as duas agremiações. A fusão pretendia unir a população para apoiar e fortalecer o futebol da cidade.

Já no seu primeiro ano de vida o São Borja disputou o campeonato da Primeira Divisão do Campeonato Gaúcho, onde se manteve ininterruptamente por 11 anos, de 1977 a 1987, chegando à fase final da competição em três oportunidades: 1980: 6º lugar (melhor campanha da história do clube); 1981: 7º lugar e 1983: 8º lugar.

Por muitos anos durante as disputas do campeonato gaúcho a equipe que tivesse que jogar contra a extinta Sociedade Esportiva São Borja tinha três preocupações: jogar no caldeirão do estádio Vicente Goulart, a distância e ainda a duração das viagens.

No Campeonato Brasileiro da Série C de 1981, o São Borja chegou à 3ª fase da competição, terminando a competição em 5º lugar. No Campeonato Gaúcho de 1987 o time ficou em 14º (último lugar) e foi rebaixado para a “Segundona” pela primeira vez. O time era chamado pelos torcedores de “Bugre Missioneiro” e “Missioneiro de Alma”, tendo como mascote a “Cruz de Lorena” e um “Índio”.

Em 1997, o São Borja retornou à Primeira Divisão disputando a Série B (Divisão de Acesso), na época em que a Primeira Divisão era dividida em duas séries. A equipe entrou numa das vagas deixadas por Aimoré e Atlético de Carazinho - que haviam se licenciado. Mas o São Borja tornou a ficar em último lugar (14º na Série B) e foi rebaixado. Após o campeonato o São Borja se licenciou do futebol profissional.

A S.E. São Borja não teve vida fácil. Não jogava nunca perto de casa, tendo sempre que enfrentar grandes distâncias para cumprir seus compromissos. Para se ter uma ideia, os tempos de viagem, só de ida, para algumas cidades: Pelotas: 8 horas de viagem e 600 km; Santa Maria: 4 horas de viagem e 300 km; Porto Alegre: 8 horas de viagem e 600 km; Caxias do Sul: 8 horas de viagem e 600 km; Santa Cruz do Sul: 6 horas de viagem e 450 km e Veranópolis: 6 horas e 30 minutos e 515 km.

O São Borja disputava seus jogos no Estádio Municipal Vicente Goulart, também conhecido por “Vicentão”, com capacidade para 12 mil expectadores, que fora cedido pela prefeitura em comodato por 10 anos. Ali foram realizados grandes jogos contra a dupla Gre-Nal e inesquecíveis vitórias do futebol são-borjense.

Em 2009 o São Borja retomou suas atividades com a denominação de Associação Esportiva São Borja, inicialmente dando ênfase nas categorias de base, participando do Campeonato Gaúcho de Juvenis.

A Associação Esportiva São Borja, foi fundada por um grupo de empresários são-borjenses, em sua maioria ex-jogadores, no dia 19 de fevereiro de 2009, após um longo período sem futebol profissional na cidade.

Os ex-jogadores, Gilberto Alvarez da Costa (Giba), Cassiá Carpes, João Carlos Falcão (Polaco) e Jesus Franco, juntamente com os profissionais liberais Clóvis Alberto Emanuelli (Beto) e José Carlos Dubal idealizaram um projeto que visava primeiro fortalecer as categorias de base para depois pensar em profissionalizar a instituição.

O projeto começou com a organização do time juvenil do São Borja, comandado pelo ex-jogador Polaco, que dirigiu a equipe na primeira competição estadual, e por motivos de força maior, entregou o cargo ao seu auxiliar técnico naquela época, Airton Fagundes. No segundo semestre de 2009, Fagundes comandou o juvenil da AESB em seu primeiro torneio internacional na cidade de Rio Negrinhho, quando o Bugre terminou a competição como vice-campeão, invicto, pois a decisão fora por pênaltis.

No ano seguinte, o meia-atacante Igor Pinto se destacou no campeonato estadual e despertou interesse dos grandes clubes brasileiros. A direção do Clube viu que era hora de crescer e profissionalizou a instituição e o atleta.

Em 2011, o clube consolidou sua melhor campanha e terminou a Copa RS em 5º lugar, sendo eliminado nas quartas de final da competição, tornando-se assim a referência da fronteira Oeste nas categorias de base.

Com a profissionalização da Instituição em 2010, a Associação Esportiva São Borja foi obrigada a acelerar o projeto e ingressar antes do previsto no futebol profissional do Rio Grande do Sul, e no ano de 2012 disputou pela primeira vez um campeonato gaúcho, a Série C do estadual.

No dia 29 de julho do ano passado, 15 anos depois do último jogo de futebol profissional na cidade, a nova Associação Esportiva São Borja entrou em campo para enfrentar em partida amistosa no lendário Estádio Coronel Vicente Goulart, ao E.C. Ferro Carril, de Uruguaiana. Mais de 500 torcedores compareceram ao Estádio para ver o time local ser derrotado por 2 X 1.

A cidade já revelou grandes nomes para futebol gaúcho. O zagueiro Cássia Carpes saiu do Internacional, de São Borja, para o Grêmio, onde conquistou títulos como jogador e treinador. O goleiro Mano saiu da SESB para o Internacional e também jogou no Santos. Seu último trabalho foi como treinador do Sub-17 da própria AESB, no início da Copa FGF de Futebol Juvenil nesse ano. E também Zé Alcino, que jogou na Dupla Gre-Nal e no exterior.

Em abril de 2011 o São Borja deu um passo importante na consolidação da instituição como clube moderno, quando começou a construir o Centro de Treinamento Pirahy, que tem um campo com medidas oficiais, um gramado similar ao do Estádio Olímpico, caixa de areia, sala de musculação, vestiário, sala de reunião, de TV e de materiais, que já tem projeto para ser ampliado.

O novo C.T. terá uma área de aproximadamente 20 mil metros quadrados, com alojamento para 52 atletas, mais dois campos oficiais e três de futebol sete, quadra sintética coberta, duas piscinas sendo uma climatizada e outra natural, consultórios médico e odontológico, academia, vestiários modernos e lavanderia.

Títulos. Torneios Estaduais. Seletiva do Campeonato Brasileiro Série C (1981); Torneio Incentivo (1982); Copa Associação dos Cronistas Esportivos Gaúchos-ACEG (1985). Artilheiros. Do Campeonato Gaúcho - Segunda Divisão: Zé Alcino (1994 com 23 gols).

Jogadores de destaque: Zé Alcino (atacante); Mano (goleiro); Ilo (centroavante); Morça (ponta direita); Silmar (lateral direito); Aguiar (zagueiro central); Canhotinho (ponta esquerda); Cassiá (zagueiro); Vadinho (ponta direita) e Brandão (atacante). (Pesquisa: Nilo Dias)

O último time profissional que o São Borja teve, em 1997, antes do retorno em 2012. (Foto: Mario Aguiar)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Um grande goleiro

Osvaldo Alfredo da Silva, o Osvaldo “Baliza”, foi um dos melhores goleiros a vestir a camisa 1 do Botafogo, do Rio de Janeiro. Nasceu no dia 9 de outubro de 1923, em Tanguá (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro a 30 de setembro de 1999. Começou a carreira no próprio Botafogo, em 1943, permanecendo no clube até marco de 1953.

Sua estreia como titular do alvinegro carioca aconteceu no dia 8 de março de 1944, em jogo válido pelo Torneio Relâmpago, disputado no Estádio de São Januário. E o resultado não poderia ser melhor, uma goleada de 6 X 2 sobre o Flamengo. Os gols botafoguenses foram marcados por Afonsinho (2), Reginaldo (2) e Heleno (2). Para o Flamengo marcaram Zizinho e Tião. A arbitragem foi de Mário Gonçalves Vianna.

O Botafogo venceu com: Osvaldo “Baliza” – Hernandes e Lusitano - Zarci – Santamaria e Negrinhão – Afonsinho – Octávio (Tovar) – Heleno – Limoeiro e Reginaldo, Flamengo: Luiz Borracha (Doli) – Artigas e Newton – Quirino (Guálter) – Bria (Tião) e Jayme – Nilo – Zizinho – Djalma – Jacir e Vevé.

Seu último jogo pelo Botafogo aconteceu no dia 3 de março de 1953. Foi um amistoso contra o América Mineiro, que terminou empatado em 2 X 2. O jogo foi disputado em Belo Horizonte, no Estádio Octacílio Negrão de Lima, na Alameda.

O Botafogo mandou a campo: Osvaldo “Baliza” - Gérson e Floriano (Orlando Maia) – Araty - Calico e Juvenal - Geraldo (Vinícius) – Geninho – Dino - Bravo (Zezinho) e Jayme. Os gols do alvinegro foram marcados por Dino.

Pelo Botafogo Osvaldo “Baliza” foi bicampeão carioca de aspirantes (1944/1945); campeão do Torneio Início do Rio de Janeiro (1947); campeão carioca (1948) e do Torneio Triangular de Porto Alegre (1951).

Osvaldo, que era um dos goleiros mais altos da época, media 1,90 m, transferiu-se para o Vasco da Gama em 1953, onde ficou somente um ano. Em 1954 foi contratado pelo Bahia, se sagrando campeão estadual no mesmo ano. Entre 1955 e 1958 jogou pelo Sport, de Recife, onde ganhou três campeonatos pernambucanos,em 1955, 1956 e 1958.

“Baliza” vestiu a camisa da Seleção Brasileira em duas oportunidades, sem levar gols. A primeiro em 17 de abril de 1949, na vitória do Brasil sobre a Colômbia por 5 X 0, em jogo válido pelo Campeonato Sul-Americano, disputado no Rio de Janeiro. A segunda, em 20 de abril de 1952, pelo Campeonato Pan-Americano, realizado no Chile, quando os brasileiros ganharam dos chilenos por 3 X 0. Nas duas competições a Seleção Brasileira foi campeã.

Osvaldo tinha como característica jogar sempre sério, sem defesas espalhafatosas. Mas tinha um costume que deixava os torcedores com os nervos a flor da pele: a cada gol do Botafogo saia da sua meta para ir comemorar com os companheiros, na área adversária, para depois voltar correndo.

Em 1998 o Botafogo realizou uma grande festa para comemorar os 50 anos do título de Campeão Carioca de 1948, o único que o clube conquistou no Estádio de General Severiano. Daquele time apenas três jogadores compareceram, Juvenal, “Baliza” e Otávio Sérgio, que receberam medalhas comemorativas.

Rubinho havia morrido, Gérson dos Santos estava em Minas e Nilton Santos, em Brasília; Ávila morava em Resende; Egídio Landolfi, o “Paraguaio” morrera poucos dias antes. Também já haviam morrido Geninho, Pirillo e Braguinha. E “Baliza” sofria do “Mal de Alzheimer”.

Hoje, passados 64 anos da conquista de 1948, apenas Nilton Santos ainda está vivo. Internado em uma clínica, sofre do “Mal de Alzheimer” apresenta problemas cardíacos e perde a memória com facilidade. O Botafogo, desde 2007, quando o presidente era Bebeto de Freitas, arca com as despesas de internação do ex-craque. Gerson dos Santos morreu em 2002 e Ávila, em 2006.

Osvaldo Baliza gostava de brincar com o goleiro reserva Ermelino Matarazzo, membro da tradicional e rica família paulista. Contam que certa vez, Matarazzo chegou para Baliza e disse: “Puxa vida, Baliza. Eu daria tudo para ser você...”. E Baliza teria respondido na hora: “Quer trocar agora, eu topo...” (Pesquisa: Nilo Dias)

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A "panelada" fatal

Antônio Edgar da Silveira, o “Mitotônio” foi um ponta-esquerda que se destacou como um dos grandes jogadores que atuaram no futebol cearense em todos os tempos. Nascido em Granja (CE), no dia 22 de fevereiro de 1916, quando garoto costumava jogar em um campo onde hoje se localiza o Mercado Público. Chegou à capital cearense para atuar pelo Fortaleza, em 1938, participando discretamente do título daquele ano, pois não possuía contrato formal com o clube.

“Mitotônio” foi parar no Fortaleza a convite do diretor Lauro Martins, que também era natural de Granja. No “tricolor”, em principio, o técnico Valdemar Santos, o “Gavião” não quis colocá-lo no time principal, sob a justificativa de que nunca o tinha visto jogar. Por isso “Mitotônio” apareceu no time de aspirantes, que na época fazia as partidas preliminares.

Mas não demorou mais que um jogo nos aspirantes, para o técnico colocá-lo no time de cima. “Mitotônio” chegou a ser escalado algumas vezes com o nome de “Massantônio”, em alusão ao centroavante de igual nome da seleção argentina de 1940. Mas o apelido não pegou.

Jogou no Fortaleza até o início de 1941 quando o técnico “Gavião” brigou com a diretoria e foi para o Ceará, levando metade dos atletas. No “Vovô” do futebol cearense, “Mitotônio” ficou por 10 anos quase ininterruptos. Era também o ponta-esquerda da Seleção Cearense, que disputava o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais.

Em 1945 o Ceará não disputou o Estadual, pois havia brigado com a Federação no ano anterior. Sem clube, “Mitotônio” e Hermenegildo, os dois melhores atletas do time, foram para o Náutico, de Recife. Ganharam o Campeonato Pernambucano daquele ano e voltaram para o Alvinegro em 1946.

Em 1949 0 Sussex Trader, time da Inglaterra que excursionou pelo Brasil, levou 16 X 0 do Ceará, numa jornada histórica da equipe alvinegra. “Mitotônio” deu um verdadeiro show, sendo considerado o melhor jogador em campo.

A popularidade de “Mitotônio” o levou a ganhar o concurso "Craque Mais Querido do Estado" e a figurar entre os 20 jogadores mais votados do País em promoção semelhante, promovida pelo “Jornal dos Sports”, do Rio de Janeiro.

O craque cearense morreu às 3 horas da madrugada de 1 de abril de 1951, depois de ter comido no dia anterior uma “panelada”, prato típico da culinária nordestina, feito com vísceras de bode. Pouco tempo depois da refeição, jogou pelo Ceará na vitória de 4 X 1 sobre o Gentilândia, em partida disputada no Estádio Presidente Vargas, em 31 de março, e válida pelo campeonato estadual. Tudo parecia normal com ele, tanto é verdade que logo aos 6 minutos marcou o primeiro gol da sua equipe.

Porém alguns minutos depois ele sentiu-se mal. Naquele tempo não eram permitidas substituições, por isso “Mitotônio” tentou continuar jogando, mas o técnico o retirou de campo, não permitindo o seu retorno para a etapa final. O escore já estava 3 X 0 para o Ceará, que mesmo com 10 jogadores em campo, ainda marcou mais um gol no segundo tempo.

O jogador foi levado para ser atendido na Assistência Municipal, hoje Instituto José Frota. Os médicos diagnosticaram congestão estomacal aguda, transformada em hemorragia, causada pela refeição pesada e mal digerida.

Como na época os clubes, na maioria, não contavam com Departamentos Médicos, muito menos com nutricionistas, “Mitotônio” não informou que almoçara uma “panelada”, pouco antes do jogo. Ele chegou a ser liberado do hospital após o atendimento, mas, durante a madrugada, voltou a sofrer com dores estomacais e acabou falecendo em sua residência.

O último jogo de “Mitotônio” era importante para o Ceará. O time precisava vencer para decidir o título na semana seguinte, contra o Ferroviário. Bateu o Gentilândia por 4X 1 mas perdeu o Estadual na derrota por 1 X 0 para o time da Ferrovia.

A história trágica de “Mitotônio” está contada nos livros "Ceará - Alegria do Povo", de Haroldo Moura e "Ceará - Uma História de Paixão e Glória", de Airton de Farias.

O ex-jogador do Gentilândia e hoje pesquisador de futebol, Airton Monte, que marcou “Mitotônio” em seu último jogo, contou que o atleta do Ceará parecia não estar na melhor forma física. Disse ter presenciado o lance que pode ter ocasionado a complicação no quadro de saúde do jogador.

“O Ceará contra-atacou, um atacante chutou e a bola bateu no travessão e, na volta, “Mitotônio” aproveitou para cabecear e caiu de joelhos, com a mão na cabeça. Eu vinha correndo atrás dele e cheguei perto e perguntei: o que foi “Mitotônio”? Ele respondeu: rapaz, parece que enfiaram uma espada na minha cabeça".

A morte de “Mitotônio” originou uma série de homenagens ao atleta e promessas de ajuda aos seus familiares. O Ceará organizou a "Campanha da Gratidão", visando arrecadar donativos de torcedores do clube e de outros desportistas, para a doação de uma casa para a família do jogador, desamparada após o seu falecimento.

Até uma comissão organizadora foi montada na sede do “Vovô”, para receber doações. No dia 7 de abril, o Ceará decidiria o título estadual do ano anterior com o Ferroviário, e os torcedores presentes ao estádio Presidente Vargas foram convidados a colaborar com a campanha.

Foi sugerida a realização de um Torneio Início, com a verba arrecadada sendo revertida para a família de “Mitotônio”. Não se sabe com certeza se a casa realmente chegou a ser entregue. O atleta deixou esposa e três filhos.

O Estádio Municipal de Granja tem o nome de “Mitotônio”, homenagem da terra natal ao seu maior personagem. (Pesquisa: Nilo Dias)