Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Uma incrível homenagem póstuma

Já pensou na possibilidade de seu clube de futebol lhe fazer uma homenagem com um minuto de silêncio, antes de começar um jogo de futebol e você estiver vivo? Pode parecer piada de mau gosto, mas isso aconteceu.

Na tarde de 24 de julho deste ano, o Jabaquara Futebol Clube, tradicional agremiação esportiva da cidade praiana de Santos (SP) jogou e venceu ao Grêmio Prudente, de Presidente Prudente, por 3 X 2, em partida válida pela primeira rodada da segunda fase do Campeonato Paulista da Série A2.

O início do jogo contou com um momento inusitado. O sistema de som do “Estádio Espanha”, do clube santista, na “Caneleira”, anunciou um minuto de silêncio após a notícia de que o presidente do Jabaquara, Antônio Gilberto Amaral da Silva, 70 anos, havia falecido.

Ao final do primeiro tempo, no entanto, a organização do clube esclareceu que a informação estava equivocada e que o dirigente ainda estava vivo.

O acontecimento seria cômico se não fosse trágico. Ricardo Gonçalves da Silva, filho de Antônio Gilberto esteve no estádio e explicou que seu pai sofreu uma complicação na cirurgia de que foi paciente, mas ainda estava sendo avaliado pelos médicos.

Antônio Gilberto estava há meses com um problema na coluna. Ele já havia operado o fêmur. Estava afastado do cargo pelos problemas de saúde, e já não andava mais. O presidente havia operado a cervical na semana passada, e na última sexta-feira passou mal e voltou para o hospital.

O falecimento ocorreu após a terceira cirurgia que Antônio teve de passar. Curiosamente sua morte aconteceu três dias depois da gafe da equipe ganhar destaque no país.

Ele chegou a jogar profissionalmente pelo Jabaquara na década de 60. Silva era presidente do clube desde setembro do ano passado, quando assumiu o posto no lugar de Manoel Rodriguez Gonzales, que morreu de câncer.

O velório aconteceu no “Memorial Necrópole Ecumênica”, em Santos, onde se realizou o sepultamento. O Jabaquara Atlético Clube lamentou a morte de seu presidente e lançou nota oficial prestando solidariedade aos familiares.

No jogo contra o Prudente, o Jabaquara marcou dois gols em apenas nove minutos no primeiro tempo. Aos 2 minutos, Welder marcou o primeiro gol do time da casa em uma jogada com Caique.

Logo depois, aos 9 minutos, Alef recebeu livre e não deu chances de defesa para o goleiro Douglas Silva. O início avassalador garantiu uma tranquilidade para a equipe que venceu o jogo por 3 X 2.

Ainda no primeiro tempo, o Grêmio Prudente descontou aos 30 minutos. Gustavo derrubou Renatinho na área. O próprio reduziu a diferença, cobrando pênalti com um chute certeiro no canto esquerdo.

Aos 19 do segundo tempo, Jé ampliou a vantagem do Jabaquara para 3 X 1. No final da partida, aos 46 minutos, Renatinho marcou mais uma vez para o time visitante. Reação tardia e os três pontos foram garantidos para o “Jabuca”.

Torcedor fervoroso do Jabaquara, Gilberto chegou a atuar com a camisa do “Leão da Caneleira” em 1965, mas devido a uma torção no joelho, acabou deixando o futebol. Apesar de ter participado por décadas da vida política do clube, ficou menos de um ano no cargo de presidente.

O Jabaquara foi fundado a 15 de novembro de 1914. Suas cores são o amarelo e o vermelho. A agremiação, anteriormente chamada de “Hespanha”, foi um dos membros fundadores da Federação Paulista de Futebol.

Disputou a Primeira Divisão estadual (atual A-1) entre os anos de 1927 a 1963, com sete ausências. Atualmente, disputa a Segunda Divisão do Campeonato Paulista de Futebol, organizado pela FPF.

O histórico do clube conta que ele foi fundado por um grupo de jornaleiros espanhóis, ou "tribuneiros", como eram chamados, ao início do século 20, que costumavam se reunir em torno do atual bairro do Jabaquara, em Santos.

Várias denominações foram sugeridas para a nova agremiação, como nova Cintra e Jabaquara. Mas acabou prevalecendo “Hespanha”, sugestão de um senhor negro, ex-escravo. E assim surgiu o “Hespanha Foot Ball Club”, em 15 de novembro de 1914.

A sua primeira partida oficial ocorreu em 1916, contra o Clube Afonso XIII, um resultado de 1 X 1, ocasião em que foi levantado o primeiro pavilhão do clube.

Nos anos de 1918 a 1920, conquistou a "Taça Grande Café D'Oeste" e participou como convidado na inauguração do estádio da Associação Atlética Portuguesa.

A partir dai o clube alcançou um grande crescimento, obrigando os dirigentes a construírem em 1924 uma praça esportiva maior, que se localizava no bairro do “Macuco”, o "Estádio Antônio Alonso", que levou o nome do seu proprietário. 

O primeiro jogo internacional do “Hespanha” aconteceu em 1930, tendo como adversário uma Seleção de Buenos Aires. Os brasileiros venceram por 3 X 2.

O Hespanha Foot Ball Club, como foi chamado até 1941, entrou para a Liga Santista em 1917. Dez anos mais tarde, a equipe começou a ganhar seu espaço e com campanhas impressionantes recebeu o carinhoso apelido de “Leão do Macuco”, numa alusão ao bairro em que ficava sua sede.

Uma lei datada da década de 1940, quando da Segunda Guerra Mundial, obrigou a mudança de nome. O clube, depois de uma votação, passou a chamar-se Jabaquara, em homenagem ao seu bairro de origem.

O ano de 1944 foi histórico. O ataque do time foi o melhor do futebol paulista. Esse período de grandeza resistiu até 1957, quando o treinador era Arnaldo de Oliveira, popularmente conhecido como “Papa”.

Tempos de revelações de grandes jogadores, como o goleiro Gilmar, com passagem pelo Sport Club Corinthians Paulista e campeão mundial pelo Santos Futebol Clube e Seleção Brasileira de Futebol. E Osvaldo da Silva, o famoso “Baltazar”, que depois se consagrou no Corinthians, recebendo o apelido de “Cabecinha de Ouro”.

Durante sua centenária trajetória o Jabaquara revelou outros bons jogadores, casos de Marcos (revelado para o Corinthians), Feijó, Getúlio, Ramiro e Álvaro (para o Santos), Célio (para o Vasco da Gama,do Rio de Janeiro) e Melão, (do Santos para a Itália).

Em 1945 o clube sofreu grave crise financeira e por pouco não foi rebaixado para à Segunda Divisão. Teve de vender um valorizado terreno, próximo à praia, no bairro “Ponta da Praia”, que não saldou as dívidas do clube. Restou treinar em um campo na cidade vizinha de São Vicente.

O ano de 1957 foi marcante na história do clube, que conseguiu bater de virada o rival Santos, em partida inesquecível disputada na Vila Belmiro.

O técnico do Jabaquara era Nelson Ernesto Filpo Nuñes, que a partir dali passou a ser chamado de “Dom Filpo” pelo seu feito de vitórias consecutivas no clube. Ele ainda salvou o clube de um rebaixamento em 1959. O inevitável rebaixamento ocorreu em 1963.

Em 1963 o Jabaquara comprou uma grande área de 67.380 m2, em um local alagadiço e pouco valorizado, mas que contribuiu para o crescimento no bairro da “Caneleira”, onde construiu seu atual estádio, que leva o nome de “Hespanha”. A área é bem maior que do Estádio Urbano Caldeira, da Vila Belmiro. Essa é a origem do nome da mascote, "Leão da Caneleira".

As seguidas crises de ordem financeira fizeram com que o clube se dedicasse durante algum tempo, a equipes amadoras, deixando o futebol profissional. O retorno aconteceu somente em 1977 inserido na Terceira Divisão (atual A-3).

A partir dai o Jabaquara vive uma alternância entre a Segunda Divisão (atual A-2) e a Terceira, mesmo sendo um privilegiado fundador da Federação Paulista de Futebol.

Em 2002 o clube parecia que ia se recuperar dentro de campo, quando foi campeão paulista da Série B3, antiga Sexta Divisão, atualmente extinta, chegando a se manter invicto por 23 jogos.

E assim tem sido sua trajetória. Em 2006 e 2007 na Quarta Divisão
Em 2008 a equipe anexou ao seu patrimônio o Litoral Futebol Clube, entidade de um projeto social idealizado por “Pelé”.

Com isso a equipe conseguiu apoio para as disputas da Série B estadual e para as categorias de base, além de um patrocínio com a empresa alemã “Puma”, fornecedora de materiais esportivos. Além do Jabaquara, o Monte Alegre e o Paulista, de Jundiaí também fazem parte do projeto.

Participações em campeonatos. Campeonatos Paulista: Série A1: 30 participações (1927, 1928, 1929, 1935, 1936, 1937, 1938, 1939, 1940, 1941, 1942, 1943, 1944, 1945, 1946, 1947, 1948, 1949, 1950, 1951, 1952, 1955, 1956, 1957, 1958, 1959, 1960, 1961, 1962 e 1963); Série A2: 6 participações (1964, 1965, 1966, 1967, 1980, e 1982); Série A3: 12 participações (1981, 1983, 1984, 1985, 1986, 1987, 1988, 1989, 1990, 1991, 1992 e 1993); Segunda Divisão: 20 participações – 1977, 1978, 1979, 1994, 1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015; Série B2 (extinta): 4 participações (2000, 2001, 2003 e 2004); Série B3 (extinta): 1 participação (2002). Títulos Estaduais. Campeonato Paulista - Série A3 (1993) e Campeonato Paulista Segunda Divisão (2002).

Campanhas de Destaque. Taça Grande Café D'Oeste: (1918, 1919 e 1920); Vice-Campeonato Paulista Sub-20 - 2ª Divisão (2011 e 2012) e Vice-Campeonato Paulista (1927).

O Jabaquara Atlético Clube conta apenas com uma torcida organizada: a “Fúria Rubro-Amarela”, fundada em 2008. Essa torcida vem se destacando no cenário paulista da segunda divisão, comparecendo aos jogos, incentivando e apoiando o clube em todos os momentos. O seu lema é "Lado a lado com o Jabuca". (Pesquisa: Nilo Dias)

Antônio Gilberto Amaral da Silva, presidente do Jabaquara, que recebeu homenagem de um minuto de silêncio, ainda em vida. (Foto: Divulgação)