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segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

A história do massagista zagueiro

Essa história louca aconteceu no “Campeonato Brasileiro da Série D” de 2013, num jogo entre as equipes do Aparecidense, de Aparecida, de Goiás frente o Tupi, de Juiz de Fora (MG), para definir quem avançaria nas oitavas de final.

O primeiro jogo disputado em Aparecida de Goiânia, terminou empatado em 1 X 1. Dessa feita o segundo jogo se desenvolvia em Juiz de Fora, no dia 7 de setembro de 2013. Decorriam 44 minutos do segundo tempo e a partida estava empatada em 2 X 2, resultado que classificaria o time goiano, graças aos gols marcados fora de casa.

O jogo, que era para ser apenas mais um válido pela IV Divisão Nacional, acabou se tornando um dos mais acidentados  incidentes e curiosos da história do futebol, que rodou o mundo e foi notícia por toda a parte.

Tudo, porque Romildo Fonseca da Silva, o “Esquerdinha”, impediu por duas vezes que a equipe mineira marcasse o seu terceiro gol e vencesse o jogo, classificando para a fase seguinte da competição.

Passados cinco anos do episódio, até hoje não foi esquecido por quem estava naquela noite histórica de feriado no “Estádio Municipal Radialista Mário Helênio”, em Juiz de Fora. Não resta dúvida que, para jogadores, dirigentes e árbitros envolvidos, aquela partida foi marcante.  

Tudo começou quando o atacante Ademilson, que defendeu Botafogo e Fluminense no início dos anos 2000, recebeu um passe dentro da área e finalizou para o gol. A bola passou pelo goleiro Pedro Henrique, mas não pelo massagista “Esquerdinha”, que evitou o gol parcialmente.

No rebote, o lateral-direito Henrique chutou de novo, mas o massagista conseguiu novamente evitar o terceiro gol do alvinegro.

Depois do lance inusitado, “Esquerdinha” correu em disparada para o vestiário, começando uma grande confusão. Os jogadores do Tupi partiram para cima do árbitro, querendo a validação do gol, que daria a vaga aos juiz-foranos.

O "massagista-goleiro" teve medo de morrer. Ele estava perto da trave porque havia sido chamado para atender o zagueiro Elder, de sua equipe. Em vez de sair depois do atendimento, “Esquerdinha” aproveitou o posicionamento e interceptou o chute de Ademilson. O massagista deixou o campo correndo muito.

"Já imaginou se ele escorrega? O pessoal mataria ele. Ainda bem que o homem é bom de corrida. Ele foi maratonista e correu a São Silvestre em 1994 e 1995", contou o irmão mais velho.

No entanto, o árbitro Arilson Bispo da Anunciação informou que tinha que fazer valer a regra, reiniciando a partida com bola ao chão. Mais de 20 minutos depois, o jogo recomeçou, mas o resultado de campo não foi alterado, com a Aparecidense se classificando após o apito final.

Como já era esperado, o Tupi acionou o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) em busca da anulação da partida ou da exclusão da Aparecidense da competição. No dia 16 de setembro de 2013, a Aparecidense foi excluída da Série D.

Porém, a Procuradoria apresentou recurso para mudar o artigo em que o clube goiano foi enquadrado. Paulo Schmitt pedia uma revisão do julgamento anterior, que enquadrou o clube no artigo 205 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, o CBJD (que diz o seguinte:

"Impedir o prosseguimento de partida, prova ou equivalente que estiver disputando, por insuficiência numérica intencional de seus atletas ou por qualquer outra forma", e não no 243-A, que, segundo as normas da Fifa, se encaixaria no precedente.

Por maioria de votos, o STJD manteve a decisão de excluir o time goiano. Assim o Tupi se classificou ás quartas de final para enfrentar o Mixto (MT), contra quem se classificou e conseguiu o acesso para a Série C do “Brasileirão”.

O massagista disse que a repercussão do lance na Série D de 2013 acabou atrapalhando sua carreira no futebol. Suspenso pelo STJD por 24 jogos, “Esquerdinha” ficou um longo tempo sem poder trabalhar. Segundo ele, a “falsa impressão de moralismo” acabou colocando-o em um papel de bode expiatório.

O lance rendeu bons dividendos para “Esquerdinha”, que chegou a ganhar matéria especial na abertura do “Programa do Jô”, na TV.

Mesmo com o Aparecidense eliminado, os políticos de Aparecida de Goiânia só pensaram em filiá-lo. “Saímos na frente. Vamos lançá-lo com o slogan: esse defende a cidade”, disse o deputado Sandro Mabel (PMDB).

“Esquerdinha” concorreu a deputado federal pelo Partido Republicano da Ordem Social (Pros), mas não conseguiu se eleger. (Pesquisa: Nilo Dias)