Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A história do gol olímpico

Um dos lances mais bonitos do futebol é sem dúvida o chamado gol olímpico. Ele acontece quando na cobrança de escanteio a bola entra direto no gol, sem tocar em ninguém. No início, o gol marcado direto do escanteio não era considerado válido no futebol. Em 14 de junho de 1924, poucao antes dos Jogos Olímpicos de Paris, a Fédération Internationale de Football Association (FIFA) alterou as regras, para validar o gol feito pelo cobrador do escanteio.

Segundo o historiador esportivo Jorge Gallego, o autor o autor do primeiro gol direto de escanteio foi o escocês Billy Alston, que jogava no Yorkshire, em uma partida da Segunda Divisão de seu país, em 21 de agosto do mesmo ano, ainda que não tenha tido nenhuma repercussão internacional. Dois meses antes, os gols marcados diretamente de cobrança de escanteios não tinham validade. Na Inglaterra, o primeiro gol de escanteio foi marcado por Billy Smith, jogador do Huddersfield Town’s, também em 1924.

Já o termo "gol olímpico" surgiu num jogo amistoso entre as seleções da Argentina e do Uruguai, em 2 de outubro de 1924. O autor do gol foi o atacante argentino Cesáreo Onzari e a sua equipe ganhou por 2X 1. Os argentinos chamaram o gol de olímpico para ironizar a seleção uruguaia, que havia ganho o torneio da Olimpiada de Paris.

Nos Jogos Olímpicos, o futebol foi admitido em 1908 e a primeira seleção a ser campeã foi a Inglaterra, que venceu a Dinamarca por 2 X 0 na final. Nos jogos de 1924, em Paris, o futebol sul-americano começou a aparecer no cenário internacional: o Uruguai assombrou o mundo, ao ganhar da Suíça por 3 X 0, no jogo final.

Naquela época ainda não havia o Campeonato Mundial, que seria disputado pela primeira vez seis anos depois, em 1930, no Uruguai, mesmo já existindo a FIFA, que foi fundada no dia 21 de maio de 1904, após uma série de reuniões em Paris.

No retorno da França, os argentinos desafiaram os uruguaios para duas partidas comemorativas. Os dois países eram protagonistas naqueles anos, do maior clássico futebolístico do continente. Os “orientais”, certos de que venceriam, aceitaram. A primeira, disputada no dia 21 de setembro, em Montevidéu, terminou empatada em 1 X 1.
O segundo jogo foi marcado para uma semana depois, no estádio do Centro Sportivo Barracas, em Buenos Aires, que foi abaixo e não existe mais. Hoje uma praça se instala onde estavam fincadas as traves de madeira, que receberam o primeiro gol direto de um corner. O estádio, que tinha capacidade para 40 mil lugares estava lotado. Todas as expectativas foram superadas: 42 mil ingressos foram vendidos, 35 mil populares a 1 peso e 7 mil platéias a 3 pesos.

Somando os ingressos vendidos e os sócios e colaboradores do clube dono do estádio, que não pagavam, o jornal “La Nación” calculou um público de 52 mil pessoas. Já o “La Razón”, estimou uma platéia de 60 mil pessoas. A partida começou com muita gente a beira do gramado. Quando decorriam apenas quatro minutos, o árbitro uruguaio Ricardo Vallarino decidiu suspender o "match". Em conseqüência aconteceram incidentes, com alguns feridos.

A revanche foi marcada para nova data: 2 de outubro. Várias medidas foram tomadas, entre elas cercar o campo de jogo com um alambrado de 1,5 metro de altura. A partir daí, embora já existissem vários campos cercados no país e em Montevidéu, passou a chamá-los de alambrado olímpico. Também foi restringida a quantidade de ingressos e aumentado os preços. Foram vendidas 15 mil populares a 2 pesos e 5 mil platéias a 5 pesos. Se calculou em 30 mil os espectadores.

Todos queriam ver o quase invencível time campeão olímpico. Os argentinos queriam ser os primeiros a derrotá-los. Segundo a imprensa local, até o cantor de tangos, Carlos Gardel, que não era muito fã de futebol, compareceu ao jogo e assistiu o momento histórico.

O jogo se desenrolava difícil para os dois lados. O extrema-esquerda argentino, Onzari estava sendo marcado pelo famoso jogador “colored” Andrade, chamado de a “Maravilha de Ébano”. Aos 15 minutos da primeira etapa, o Uruguai foi punido com um escanteio. Onzari fez a cobrança. A bola foi rente a trave e entrou no arco sem que ninguém a tocasse. Os torcedores uruguaios emudeceram.

Os jogadores “orientais” protestaram, alegando que o arqueiro Mazali havia sido empurrado enquanto a bola vinha pelo ar. O árbitro não deu atenção. Na tentativa de menosprezar o feito adversário, disseram que Onzari não havia tido a intenção de chutar direto e que o gol havia sido coisa do vento. Cea, aos 29 minutos deixou tudo igual.

Aos oito minutos do segundo tempo, Tarasconi fez 2 X 1 para a Argentina, placar final. O jogo não chegou ao fim, pois quando faltavam quatro minutos para o seu encerramento, os uruguaios se retiraram de campo, alegando que os torcedores argentinos estavam jogando pedras e garrafas dentro do gramado. O jogador uruguaio Héctor Scarone acertou um pontapé em um policial e acabou preso. Já os argentinos se queixaram de jogo violento de parte dos uruguaios. O jogador Adolfo Celli, sofreu fratura da tíbia e perônio.

O jogo foi dirigido pelo uruguaio Ricardo Vallarino. A Argentina formou com Tesoriere - Bearzotti e Adolfo Celli – Médici – Fortunato e Solari – Tarasconi - Ernesto Celli – Galbino Sosa - Seoane e Onzari. O Uruguai com Mazzali- Nasazzi e Mascheroni – Andrade - Zibecchi e Zingone – Urdinarán – Scarone – Petrone - Cea e Romano.

Esse jogo marcou também o começo das transmissões de futebol pelo rádio. Os locutores Horácio Martinez Seaber e e Atilio Casime, cronista do diário “Critica”, transmitiram o jogo para a Rádio Argentina, desde uma cabine improvisada acima dos vestiários.

O feito de Onzari foi batizado ironicamente como “gol olímpico”, por ter contribuído para a primeira derrota do time campeão olímpico de 1924, quebrando sua invencibilidade. E o nome pegou, tanto que até hoje é assim chamado em qualquer lugar do mundo.

Onzari, que era o ídolo maior do Huracán, passou o resto de sua vida jurando que não havia sido casualidade. Começou a carreira jogando pelo Sportivo Boedo. Depois foi para o Mitre, onde atuou ao lado de Monti, Lindolfo Soria, Roldán e outros valores, que fizeram com que o time subisse para a Primeira Divisão. Em seguida, a AFA expulsou o clube de seu quadro de filiados. Em 1921 estreou no Club Atlético Huracán. Ali passou o restante da sua vida esportiva, encerrando a carreira em 1933.

Foi campeão argentino em quatro oportunidades, 1921, 1922, 1925 e 1928. Participou da Seleção Argentina em 14 jogos, tendo marcado cinco gols. Em 1925, foi cedido por empréstimo ao Boca Juniors, para participar como reforço, na histórica excursão do clube pela Europa.

Onzari morreu no dia 7 de janeiro de 1964, aos 60 anos de idade. O Huracán homenageou o ídolo dando seu nome a uma das arquibancadas do estádio do clube. E ainda que haja passado muitos anos, a desconfiança continua: cada vez que uma cobrança de escanteio sacode a rede sem intermediários, o público comemora o gol com uma ovação, porém sem acreditar.

Existe uma outra versão bastante semelhante à primeira, de que o gol teria acontecido num jogo oficial entre Argentina X Uruguai, na final dos Jogos Olímpicos de 1924, e também marcado pelo argentino Cesáreo Onzari. Mas o equivoco está na data do jogo, pois argentinos e uruguaios disputaram a decisão dos Jogos Olímpicos de 1928, em Amsterdã e não em Paris, quatro anos antes. Os uruguaios conquistaram o bi-campeonato olímpico.

O Brasil também ganhou uma versão do batismo do gol. Ele teria acontecido em um amistoso realizado em março de 1928, entre o Vasco da Gama e o time uruguaio do Montevidéu Wanderers, na inauguração dos refletores e de uma parte das arquibancadas do estádio de São Januário.

O clube carioca venceu por 1 X 0, com gol de Santana em cobrança direta de escanteio. E como o adversário era do país campeão olímpico, o tento teria sido batizado de "gol olímpico" pelos brasileiros. Na verdade, esse foi o primeiro gol olímpico marcado em gramados brasileiros e no próprio estádio de São Januário.

O ex-jogador do Palmeiras, Ary Mantovani entrou para o “Guiness Book”, o livro dos recordes mundiais, ao marcar dois gols olímpicos num só jogo. Até hoje, a Fifa não tem registro de que tal feito tenha sido superado ou mesmo igualado por algum jogador em partidas oficiais entre times profissionais.

Foi no dia 5 de outubro de 1946, na goleada de 6 X 2 contra a Portuguesa Santista, no Parque Antártica. Os gols aconteceram, um em cada tempo. Mantovani, que começou a carreira aos 17 anos, no extinto Comercial, time da capital, deixou os gramados aos 24 anos, para se dedicar ao ramo de hotelaria, em Águas de Lindóia, sua terra natal.

Em Copas do Mundo só foi marcado um gol olimpico, até hoje. Aconteceu no jogo entre URSS X Colômbia, empate em 4 X 4, no Mundial de 1962, no Chile. O autor da façanha foi o colombiano Marcos Coll.

Em 1973, Pelé, o Rei do Futebol e o lendário Santos F.C. sairam realizando amistosos pelo mundo, jogando no Golfo Pérsico, África, Alemanha, Bélgica, França e Inglaterra. Por fim, chegaram nos Estados Unidos para jogar contra o Baltimore Bays. Nesta partida, Pelé fez o único gol olímpico de toda sua carreira. (Pesquisa: Nilo Dias)

O gol olímpico de Onzari (Foto rarissima)

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O sapateiro que se tornou craque

Pedro Sernagiotto, o “Ministrinho” nasceu em São Paulo, no dia 17 de novembro de 1908. Foi um dos melhores ponteiros-direitos que o futebol brasileiro conheceu em todos os tempos. Ele foi descoberto em 1927 por um dirigente palestrino, quando jogava futebol nos campos de várzea que existiam nas proximidades da Rua Augusta, onde nasceu e passou a infância.

De imediato foi convidado para fazer testes no clube e, dias depois, já estreava pelo time principal às vésperas de completar 18 anos, algo absolutamente extraordinário para a época. Seu primeiro jogo com a camisa palestrina aconteceu no dia 13 de novembro de 1927, com vitória de 6 X 2 sobre o Americano, de Santos (SP). Nesse jogo também marcou seu primeiro gol pelo Palestra.

E, de cara foi chamado pelo então diretor Ítalo Bossetto, de “Ministrinho”, apelido que o consagraria durante toda a carreira, porque seu estilo de jogo se assemelhava a Giovanni del Ministro, antigo ídolo palestrino dos anos 20, que atuava com o nome de “Ministro”.

Em 1929, foi considerado o jogador mais popular da cidade de São Paulo, quando de uma votação promovida por um jornal da época, graças ao seu estilo irreverente e atrevido de jogar, mesmo sendo franzino, media menos de 1,60 m. “Ministrinho” teve três passagens pelo Palestra Itália. De1927 a 1931. De 1934 a 1935. E de 1941 a 1943, período em que o clube mudou a denominação para Palmeiras. Jogou 118 partidas e marcou 42 gols.

Seus duelos contra Grané, lendário zagueiro corintiano eram memoráveis. Grané chutava muito forte, era alto, 1,90 e pesava 100 quilos. Era chamado de 420, o canhão mais potente da época. Ele parecia ter o dobro do tamanho de “Ministrinho”, mas isso não intimidava o ponteiro palestrino. Ao contrário.

Nos primeiros duelos aconteceu um certo equilíbrio, embora o Palestra houvesse ganho as duas últimas partidas. Mas tudo desfez-se para os corintianos, no dia 24 de agosto de 1929. Nesse dia “Ministrinho” esteve impecável, marcou gol na goleada diante do Corinthians, 4 x 0, e driblou Grané tantas vezes, que ao final do jogo este preferiu trocar de posição com Leone a ter que ser violento com o veloz adversário.

Lépido, driblador e inteligente foi um dos primeiros jogadores brasileiros a se transferir para a Europa. Isso aconteceu em 1931, quando foi contratado pela Juventus, de Turim (Itália). Por engano, assinou contrato com dois times ao mesmo tempo, um com o Torino e outro com a Juventus, tradicionais adversários.

Ficou um ano suspenso, mas a Juventus sabendo das qualidades do jogador custeou todo o tempo e pode escalá-lo somente em 1933. Valeu a pena. “La Vecchia Signora” ganhou o bicampeonato 33 e 34, com soberba contribuição do craque brasileiro.

Embora se tratasse de um jogador de excelentes qualidades, conseguiu apenas três títulos em 16 anos de carreira: bi-campeão italiano pela Juventus (1933 e 1934) e campeão paulista pelo Palmeiras (1942). “Ministrinho” jogou ainda na Seleção Brasileira, Portuguesa de Desportos, no São Paulo e em outros times de menor expressão.

Sua despedida dos gramados ocorreu no dia 14 de outubro de 1943, quando o Palmeiras perdeu um jogo amistoso por 2 x1, para o Vasco da Gama, do Rio de Janeiro.

Assim que encerrou a carreira, reabriu a sapataria onde trabalhava antes de ser convidado a jogar no Palestra Itália, que se localizava na esquina das ruas Marques de Paranaguá e Augusta. Ele era proprietário, também, de uma bomba de combustível, adquirida com o dinheiro ganho no futebol, que ficava instalada na própria rua Augusta, do outro lado da calçada.

Sempre que era procurado por algum jornalista interessado em saber como vivia o grande ídolo do passado, tinha sempre uma resposta pronta na ponta da língua: “Sigo fazendo o que sempre fiz: torcer pelo Palmeiras”. “Ministrinho” faleceu em São Paulo, no dia 5 de abril de 1965, aos 57 anos de idade. (Pesquisa: Nilo Dias)

domingo, 12 de dezembro de 2010

Um presidente folclórico

Vicente Mateos Bathe, mais conhecido por Vicente Matheus, foi um dos mais importantes dirigentes do futebol brasileiro em todos os tempos. Era natural de Zamora, na Espanha onde nasceu no dia 22 de maio de 1908. Chegou ao Brasil em 1914, quando tinha apenas 6 anos de idade e foi criado na Zona Leste de São Paulo. Era o mais velho dos onze filhos de um português casado com uma espanhola.

Desde menino se tornou torcedor do Corinthians. Em 1934, aos 26 anos e naturalizado brasileiro, começou a fazer fortuna trabalhando como empresário da construção civil pesada, mineração de pedreiras (extração de pedras e areia). Foi quando se associou ao clube e comprou na rua São Jorge, a casa mais próxima da sede do Corinthians. A residência foi desapropriada anos depois, no entanto Matheus nunca mais se mudou das redondezas do Tatuapé.

Foi quando começou a se interessar pela política corinthiana. Carismático, em 1954 quando ganhou o título de campeão paulista do IV Centenário, ele era o diretor de futebol.

Em 1959, por voto direto dos associados, assumiu a presidência do clube. Ele presidiu o Corinthians por oito mandatos: 1959, 1972, 1973, 1975, 1977, 1979, 1987 e 1989. Com Vicente Matheus na presidência, o “Timão” conquistou alguns dos títulos mais importantes de sua história. O Campeonato Paulista de 1977, conquistado após 23 anos de espera, e o Campeonato Brasileiro de 1990, o primeiro do clube.

Vicente Matheus deixou seu nome gravado para sempre na história do S.C. Corinthians Paulista. Ele conseguiu algo difícil na vida de um clube de futebol, conquistar o respeito e o carinho da torcida. Ele administrava o clube como se fosse a casa dele. Era muito correto. Fazia tudo de acordo com o estatuto. Era considerado por companheiros de diretoria, como um “Caxias”.

Matheus foi um grande presidente, daqueles a moda antiga, capaz de investir dinheiro do próprio bolso no clube para comprar passes de jogadores. Almir, o Pernambuquinho, em 1960, por exemplo. Agia assim também em prêmios e até moradia aos jogadores alvinegros. Não tinha visão estratégica, com idéia de investimentos ou de marketing. Ainda assim, ninguém duvidava de sua honestidade e amor ao clube.

Protagonizou episódios célebres como, por exemplo, a contratação de Sócrates, um dos maiores ídolos da história corinthiana. Na época, Palmeiras e São Paulo também tinham interesse no “Doutor”, mas com as manobras de Vicente Matheus o Corinthians levou o camisa 8 para o Parque São Jorge.

Matheus nunca foi de paparicar a imprensa. Ao contrário, queixava-se muitos de alguns repórteres, que segundo ele deturpavam o que falava. Certa vez chegou a denunciar que alguns jornalistas já haviam lhe pedido dinheiro para publicarem coisas positivas sobre o Corinthians e sobre sua administração.

Ele nunca mostrou interesse em agradar jornalistas, ao contrário do seu irmão, Isidoro Matheus, que, como vice-presidente de futebol do clube, costumava presentear com um litro de uísque, cada jornalista esportivo de São Paulo no fim de cada ano.

Vicente Matheus certamente não teria condições de presidir o Corinthians nos dias atuais. Ele resistiu por muito tempo à idéia de a camisa do Corinthians ter o nome de um patrocinador. Depois, acabou cedendo. Mas não aceitava palpite de patrocinador.

Sua primeira esposa, Ruth Pereira Matheus, era filha de um grande desenvolvista do bairro de Guaianases. Ela se encontra sepultada no Cemitério do Lajeado, no mesmo bairro. Vicente Matheus e sua primeira esposa tiveram duas filhas, Abigail Matheus e Dalva Matheus.

Em 1968 casou em segundas núpcias com a ex-dançarina de Flamenco, Marlene Matheus, que ele conhecera dentro do próprio do Corinthians, em meados da década de 1950 quando ela se apresentou em um ballet espanhol na festa do IV Centenário. Com o tempo fizeram amizade, que acabou em casamento.

Marlene Matheus é paulistana do bairro do Brás, onde nasceu em 24 de setembro de 1936. Entrou para as colunas sociais a partir de sua união com Vicente Matheus, o presidente mais carismático da história do Corinthians.

Aproveitando-se da força política do marido, Marlene chegou até a ser eleita presidente do clube, cargo que ocupou entre 1991 e 1993. Em 2008 exerceu o cargo de vice-presidente Social do Corinthians na gestão Andres Sanchez. Marlene perdeu força nas alamedas do Parque São Jorge a partir da morte de Vicente, em 1997. Mas mantém-se como membro do Conselho de Orientação (Cori).

O ano passado, antes do jogo contra o Santos, no Pacaembu, pelo Campeonato Paulista, Marlene foi protagonista de um gesto bem ao estilo do seu falecido marido: enquanto a torcida corintiana se aglomerava à volta do estádio em busca de ingressos, estava evidente que um bom número de fãs do time não conseguirá entrar, os mais afoitos e desesperados tentavam de tudo para conseguir ver o jogo. Um deles, como flagrou a reportagem do portal “Terra”, conseguiu entrar sem ingresso - com a preciosa ajuda de uma conselheira corintiana.

Um pouco antes de o ônibus chegar ao Pacaembu, Marlene Matheus entrou no estacionamento com familiares. Foi quando um torcedor anônimo lhe disse: "vim de Santa Catarina. Sou corintiano, dá para me ajudar?". "Entra no porta-malas", mandou a viúva de Vicente Matheus. E, com o torcedor no porta-malas, o carro dela entrou no estacionamento.

A própria Marlene contou que quando Matheus deixou a presidência do clube, ficou muito triste, saiu cabisbaixo e chorando. Depois ficou com depressão, que acabou em doença. Morreu em fevereiro de 1997, aos 88 anos de idade, vítima de câncer, após ficar 14 dias internado no Instituto do Coração. Foi sepultado no cemitério da Quarta Parada em São Paulo.

Além de carismático, Matheus era uma figura folclórica, que produzia frases divertidas, carregadas de incorreções, algumas verdadeiras, outras nem tanto, criadas pela imaginação de torcedores do Corinthians e dos clubes rivais. Algumas pessoas garantiam que ele fazia isso propositadamente. Eis algumas:

“O Sócrates é um jogador invendável e imprestável.”; “Peço aos corintianos que compareçam às urnas para naufragar nossa chapa.”; "Tive uma infantilidade muito difícil."; "Haja o que hajar, o Corinthians será campeão."; “Depois da tempestade, vem a ambulância."; "Péra lá! Me inclua fora dessa!"; "O difícil não é fácil"; "De gole em gole, a galinha enche o papo" e "Vou realizar uma anestesia geral para quem tiver a mensalidade atrasada"

Contam, talvez por pura maldade, que Vicente Matheus voltava de ônibus com a delegação do Corinthians de um jogo do interior. Percebendo que os jogadores estavam muito cansados, ordenou ao motorista parar em um hotel na beira da estrada. Ele próprio desceu na frente. A recepcionista do hotel teria perguntado: "Boa noite, o senhor tem reservas?" E Vicente Matheus, respondeu rapidamente: "Tenho sim, cinco na linha e um no gol." (Pesquisa: Nilo Dias)

Vicente Matheus levantando a taça de campeão paulista de 1977.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Rio vai sediar os Jogos Mundiais Militares

Os V Jogos Mundiais Militares, chamados de “Jogos da Paz” serão realizados na cidade do Rio de Janeiro no próximo ano. A cidade venceu a disputa com a Turquia, que também pleiteava ser a sede dos jogos, que se constituem no terceiro maior evento esportivo do mundo, ficando atrás somente dos Jogos Olímpicos de Verão e Paraolimpíadas.

Essa será a primeira vez que os Jogos Mundiais Militares serão realizados no continente americano. A competição é promovida pelo Conselho Internacional do Desporto Militar (CISM), que equivale na esfera civil ao Comitê Olímpico Internacional. O Ministério da Defesa e as Forças Armadas brasileiras participam da organização dos jogos, integrados a Comissão Desportiva Militar do Brasil (CDMB), que é presidida pelo brigadeiro Luís Antônio Pinto Machado.

O CISM foi criado logo após a 2ª Guerra Mundial, em 1948, com um propósito pacifista e de integração das nações. O órgão conta com 132 países membros de todos os continentes, reunindo mais de um milhão de atletas militares ao redor do mundo, sendo a terceira entidade desportiva do planeta.

Para os jogos no Brasil, que se realizarão de 17 a 24 de julho de 2011, são esperados de 4.500 a 7 mil atletas de 110 países de todas as partes do mundo, que vão competir em 21 modalidades esportivas:

Atletismo, Basquetebol, Boxe, Cross Country, Equitação, Esgrima, Futebol de campo, Futebol de Salão (demonstração), Handebol, Judô, Natação, Orientação, Pentatlo Aeronáutico, Pentatlo Militar, Pentatlo Moderno, Pentatlo Naval, Pára-Quedismo, Tiro, Triatlo, Voleibol e Voleibol de praia (demonstração).

Para a realização dos Jogos Militares em 2011, foi oferecida a utilização da infra-estrutura esportiva dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro de 2007, e que fazem parte do projeto Rio 2016: Maracanãzinho, Centro Nacional de Hipismo, Parque Aquático Maria Lenk, Complexo Esportivo de Deodoro e Estádio Olímpico João Havelange. Além disso, a Vila de Atletas e o Estádio de São Januário, do C.R. Vasco da Gama, também serão utilizados.

Para abrigar os atletas, que devem comparecer ao evento, Ministério da Defesa e as Forças Armadas estão construindo uma vila olímpica na Zona Oeste do Rio de Janeiro, um complexo de instalações com 1.200 unidades habitacionais, entre 100 e 120 metros quadrados. O número de participantes dos V Jogos Mundiais Militares será superior ao número total de atletas do Pan, que foi de 4.200.

O projeto está sendo executado com a participação da União, e deve custar em torno de R$ 432 milhões. Ao final dos jogos as 1.200 unidades habitacionais passarão para as Forças Armadas, com 400 unidades para cada Comando. O total de valores autorizados pela União nos Orçamentos de 2009 e 2010, para viabilizar os Jogos soma R$ 748 milhões.

A competição acontece de quatro em quatro anos, sempre no ano anterior aos Jogos Olímpicos. A primeira edição foi em 1995, em Roma, celebrando os 50 anos do fim da 2ª Guerra Mundial, com a participação de 93 países e 4.017 atletas. A segunda foi em Zagreb, Croácia, em 1999, com a participação de 82 países e 6.734 atletas. Os terceiros jogos se realizaram em Catânia, Itália, em 2003, com a presença de 87 países e 6.000 atletas. A quarta e última edição dos Jogos Mundiais Militares ocorreu em 2007, nas cidades de Hyderabad e Bonbain, na Índia, com a participação de 71 países e 4.571 atletas.

Nomes famosos vão em busca de medalhas: Henrique Haddad, Mário Trindade, Pedro Caldas e Isabel Swan (Vela); Tiago Camilo, Luciano Corrêa, Flávio Canto, Leandro Guilheiro, Danielle Yuri, Ketleyn Quadros e Edinanci (judô); Diogo Silva e Natália Falavigna (taekwondo); Washington Silva e Everton Lopes (boxe); Keila Costa, Hudson de Souza, Fabiano Peçanha, Matheus Inocêncio e Joana Costa (atletismo); Kaio Márcio, Joanna Maranhão, Nicholas Santos e Tatiane Sakemi (natação) e Rayanne Simões, Aline Franca e Maycon (futebol feminino).

Quem aceita participa de exames físicos e provas e, caso tenha sucesso, passa pelo treinamento que leva ao posto de sargento, com todos os benefícios da patente. O atleta entra para a Força, mas não vive a vida militar. Sua única função é competir como militar. Os atletas podem ficar até por oito anos como atletas-militares, mas devem passar por avaliações anuais

Não é só o militarismo brasileiro que conta com atletas oficiais das Forças Armadas. Em outros países, a medida é comum, como no caso da saltadora com vara russa Yelena Isinbayeva, detentora da melhor marca do mundo e campeã olímpica e mundial. Em agosto de 2005, ela foi certificada como tenente das Forças Armadas de seu país e em 2008 foi promovida a capitã.

Na França, o recrutamento de civis para o Exército também já é uma realidade. Ao todo são reservadas 90 vagas para esportistas de alto rendimento. Entre os alistados está o ex-recordista mundial dos 50 m e 100 m livres, o nadador Alain Bernard.

A Mascote dos Jogos Mundiais Militares de 2011 tem nome grego: "Arion", que significa “quem tem energia”. A escolha foi feita por votação popular. A opção vencedora recebeu mais da metade dos 81.537 votos dados durante 22 dias. A figura de "Arion" foi desenhada por Maurício de Souza, criador da Turma da Mônica. Maurício usou como inspiração um menino que se transforma em um super-atleta militar futurista para ilustrar essa idéia. Segundo o autor, a pomba acompanha o menino em todos os seus momentos e dá vida aos seus desenhos de soldadinhos da infância, criando a Tropa da Paz. (Pesquisa: Nilo Dias)

"Arion", a mascote dos Jogos Mundiais Militares de 2011 no Rio, criação do desenhista Mauricio de Souza.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A morte do "Parada 18"

Olavo Rodrigues Barbosa, o Nena, de 87 anos, zagueiro reserva da Seleção Brasileira, vice-campeão do mundo de 1950, faleceu na última quarta-feira, 17 em Goiânia, onde residia desde 2003, junto com a esposa Juraci Rodrigues Barbosa, com quem teve cinco filhos (Mário e Ana, nascidos em Porto Alegre e Jorge, Vera e Ludmea, em São Paulo), dez netos e dois bisnetos. Nena havia descoberto há poucos dias que tinha câncer nos pulmões. Já era tarde demais.

Agora, apenas um ex-jogador brasileiro que disputou a Copa do Mundo de 1950 no Brasil, ainda está vivo: Nilton Santos, que também era reserva. Nena, porém era o último integrante do “Rolo Compressor”, grande time do Internacional, que ainda estava vivo.

Nena nasceu em Porto Alegre no dia 11 de junho de 1923. Começou a jogar futebol na várzea portoalegrense, onde atuava como zagueiro do Esporte Clube Paraná. Ele foi para o Internacional em 1942 quando tinha apenas 18 anos de idade, descoberto pelo então técnico colorado, o uruguaio Ricardo Diez.

Estreou no Internacional no dia 12 de abril de 1942, na vitória de 5 X 2 sobre o São José, quando marcou seu primeiro gol, rebatendo de primeira uma péssima reposição do goleiro adversário, encobrindo-o, num lance que lhe valeu fama nacional. Substituía o lendário zagueiro Risada. Contudo sua estréia foi como lateral-esquerdo improvisado, já que Alfeu era o dono absoluto da zaga.

O time se renovara com ele, Ivo e Abigail, que foram as contratações mais importantes na administração do presidente Miguel Genta. Logo Nena firmou-se como zagueiro titular, passando a fazer parte do famoso “Rolo Compressor”, que ganhou oito títulos gaúchos nos anos 1940, e cuja formação clássica era esta: Ivo - Alfeu e Nena – Ássis - Ávila e Abigail – Tesourinha – Adãozinho – Russinho - Ruy e Carlitos.

Durante o período em que jogou no Internacional, Nena dividiu-se entre a zaga e a lateral-esquerda, sempre como destaque no "rolo compressor colorado". Foi nessa época que recebeu o apelido de "Parada 18", que era uma conhecida parada de bonde, localizada no bairro Tristeza, na Zona Sul de Porto Alegre. Em frente havia uma loja de atacado muito popular na época, que fazia grandes liquidações utilizando intensa propaganda radiofônica.

Segundo a propaganda da loja no rádio, nenhum passageiro do ônibus Tristeza passava da Parada 18, descia naquele ponto, atraído por preços acessíveis. Segundo os torcedores do Inter, nenhum atacante adversário conseguia passar por Nena. Ele era excelente nas bolas aéreas e tinha um bom porte físico. A partir daí Nena e a famosa parada passaram a ser sinônimos para os torcedores colorados, nos áureos tempos do “Rolo Compressor”.

Com a camisa colorada Nena foi campeão gaúcho em 1942, 1943, 1944, 1945, 1947 e 1948. Entre os jogadores mais conhecidos, destacavam-se o ponta-direita Tesourinha, que chegou à seleção brasileira, e Carlitos, maior goleador da história do clube, com 485 gols. Nena é considerado até hoje um dos maiores zagueiros que já vestiu a jaqueta do Internacional.

Em 1948, Nena foi convocado pela primeira vez para a seleção brasileira, na Copa Rio Branco, estreando num empate em 1 X 1 com o Uruguai. Pela seleção, jogou 6 partidas entre 1947 e 1950, com duas vitórias, três empates e uma derrota. Integrou a delegação brasileira na Copa do Mundo de 1950, mas não chegou a jogar. Assim como aconteceu a muitos jogadores que disputaram o mundial de 50, nunca mais voltou a jogar pela seleção, em função do trauma pela derrota para o Uruguai.

Os jogos de Nena na Seleção foram estes: 29/03/1947, Brasil 0 X 0 Uruguai, pela Copa Rio Branco; 04/04/1948, Brasil 1 X 1 Uruguai, também pela Copa Rio Branco; 11/04/1948, Brasil 2 X 4 Uruguai, ainda pela Copa Rio Branco; 07/05/1950, Brasil 2 X 0 Paraguai, pela Taça Oswaldo Cruz ; 13/05/1950, Brasil 3 X 3 Paraguai, igualmente pela Taça Oswaldo Cruz e 11/06/1950, Brasil 4 X 3 Seleção Paulista de Novos, amistoso.

Para muitos especialistas e até companheiros de Seleção, o que faltou ao Brasil na traumática decisão da Copa do Mundo de 1950 foi o gaúcho Nena. Ele nunca permitiria que o uruguaio Gigghia recebesse a bola às costas de Bigode e fizesse as duas jogadas, uma delas com gol, da vitória sobre o Brasil por 2 X 1. Nena era quase perfeito na cobertura, algo que faltou a Juvenal. Claro, é tudo mera suposição, só uma lembrança para mostrar a importância do antigo jogador.

Em agosto de 1951, Nena já era um homem realizado. Havia conquistado um lugar de destaque entre os melhores jogadores do futebol brasileiro e constituído uma família no casamento com Juraci Rodrigues Barbosa, em 1945. Mesmo assim transferiu-se para a Portuguesa de Desportos, de São Paulo onde formou o maior "trio final" da história do clube, ao lado do goleiro Muca e do gaúcho Noronha (ex-Grêmio).

Foi o melhor time da “Lusa” em todos os tempos. Nena atuou ao lado de craques como Júlio Botelho, Pinga e Simão, e conquistou os títulos do Torneio Rio-São Paulo de 1952 e 1955. Participou das excursões vitoriosas da Portuguesa pelo exterior, que resultaram nas conquistas das “Fitas Azuis” de 1951 e 1953. Sagrou-se ainda campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1952.

O zagueiro parou de jogar em 1958. Só teve dois clubes na carreira, Internacional e Portuguesa. Depois de pendurar as chuteiras, por insistência dos dirigentes continuou a serviço da Portuguesa, como técnico dos juvenis e do time principal, sempre que este precisava dos seus conhecimentos. Cansado de trabalhar em futebol, Nena foi transferido para o setor administrativo, tornando-se o responsável pela cobrança das mensalidades dos sócios.

Nos anos 1960, foi técnico das categorias de base do Corinthians. Ao considerar que era chegada a hora de viver tranquilamente, longe da agitação da capital, Nena comprou uma chácara no município de Francisco Morato, na região metropolitana de São Paulo, onde morou por aproximadamente oito anos.

O vice-campeão mundial de 1950 deixou um herdeiro nos gramados: o meia Andrezinho, revelado pelo Corinthians no final dos anos 90, na geração de Gil, Edu e Ewerthon. Andrezinho passou também pelo Noroeste, de Bauro (SP), Paysandu, de Belém do Pará e Croatia Sesvete, da Croácia.

Nena vinha pouco a Porto Alegre. Uma de suas últimas visitas foi para prestigiar o lançamento do livro “Rolo Compressor, memória de um time fabuloso”, do jornalista Kenny Braga, em 2008. Sua última estada na capital gaúcha foi o ano passado, quando das comemorações do centenário colorado. O Internacional decretou luto oficial e deixou a bandeira a meio mastro. (Pesquisa: Nilo Dias)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O primeiro atleticano na Seleção

Carlyle Guimarães Cardoso, ou simplesmente Carlyle, ex-jogador do Atlético Mineiro, Fluminense, do Rio de Janeiro e da Seleção Brasileira, nasceu no dia 15 de junho de 1926, na cidade de Almenara, interior de Minas Gerais. Começou a carreira de jogador de futebol em 1946, no E.C. Tabajaras, time amador de Ouro Preto, onde era o grande destaque do time. Jogava como atacante e era dono de um físico avantajado e de um chute forte.

Depois Carlyle jogou no “Vinte Reunidos”, um time amador da cidade formado por estudantes da “Escola de Minas”, quando era aluno do curso de Metalurgia. Naquela época os chamados “grandes” costumavam buscar reforços no interior do Estado, coisa difícil de acontecer nos dias de hoje, quando os jogadores são formados nas próprias categorias de base dos clubes.

Por isso Carlyle sonhava em jogar no Atlético Mineiro. O sonho se tornou realidade em 1945, quando foi até Belo Horizonte assinar seu primeiro contrato com o “Galo”, sem passar por nenhum teste preparatório. O atacante não teve problema para se adaptar no time da capital. Logo de cara ganhou a titularidade, num ataque que tinha Lucas, Lauro, Alvinho e Nívio.

Já no primeiro jogo em que foi escalado, se destacou, tendo marcado dois gols. Não demorou muito para tornar-se um dos grandes ídolos da fanática torcida atleticana.

Um momento marcante da carreira de Carlyle pelo Atlético foi em um clássico contra o América, disputado no dia 16 de janeiro de 1948. Após marcar o quarto gol do time em uma goleada, ele pegou a bola dentro do gol, levou-a até o meio-campo e sentou-se em cima para provocar os adversários. Acabou expulso após uma confusão em campo.

Carlyle ficou no Atlético até 1948, tendo jogado 131 partidas, marcado 58 gols e conquistado o título mineiro de 1947, ao lado de ídolos como Kafunga e Zé do Monte. Tempo suficiente para entrar na história ao ser o primeiro jogador do clube mineiro convocado para a Seleção Brasileira.

Ele foi convocado em 1948 pelo técnico Flávio Costa e substituiu o atacante Friaça, na partida contra o Uruguai válida pela Copa Rio Branco, no Estádio Centenário, em Montevidéu. E conseguiu marcar o gol de honra brasileiro, na derrota de 4 X 1, para o Uruguai.

No mesmo ano, em um amistoso do Atlético Mineiro contra o Vasco da Gama, Carlyle ficou famoso ao fazer três gols no arqueiro Barbosa, titular da Seleção Brasileira, que ostentava uma invencibilidade de 15 jogos.

Em 1949 Carlyle se transferiu para o Fluminense e se tornou o artilheiro do Campeonato Carioca daquele ano, com 23 gols. O ataque do tricolor carioca era simplesmente sensacional: Santo Cristo, Didi, Orlando e Rodrigues. No clube da rua Álvaro Chaves foi campeão carioca em 1951, campeão da Copa Rio em 1952 e campeão do Torneio Belo Horizonte, também em 1952.

Em 1953 teve seu passe vendido para o Santos F.C.. No clube da Vila Belmiro, Carlyle logo no jogo de estréia contra o São Paulo F.C. foi protagonista de um lance inusitado: entrou em campo descalço, as meias e chuteiras seguras nas mãos. Sentou-se ao centro do gramado e sob os olhares de todos, completou seu uniforme.

Em 1954 ingressou no Palmeiras, onde atuou em nove jogos e marcou quatro gols. E foi novamente convocado para a Seleção Brasileira em 1955, sendo titular. Encerrou sua curta passagem pelo futebol jogando pelo Botafogo, do Rio de Janeiro.

Carlyle era temperamental, quase uma segunda edição do famoso Heleno de Freitas, mineiro como ele, e criou casos não apenas no Fluminense, como também no Botafogo. Ele não tinha um pedaço da orelha esquerda e sentia-se mal por isso, não aceitando nenhum tipo de brincadeira. Só admitia ser fotografado de perfil.

No início de 1954, a revista “Manchete” o escolheu para ser o primeiro jogador a posar com o novo uniforme canarinho da Seleção Brasileira, após um concurso lançado pelo jornal “Correio da Manhã” e ganho pelo jornalista gaúcho Aldyr Garcia Schlee. E Carlyle, belo porte, feições e corpo de atleta, não deixou por menos: posou de perfil, escondendo a orelha.

Fora dos gramados tornou-se um grande comentarista esportivo e cronista de talento na imprensa escrita e falada. Em 1968, ao lado do treinador e dirigente Lísio Juscelino “Biju” Gonzaga e do radialista Juventino de Lima Júnior, o “Jota Júnior”, Carlyle, integrou a comissão selecionadora que comandou a Seleção Brasileira na vitória por 3 X 2 sobre a Argentina, em partida amistosa realizada no Mineirão.

Carlyle Guimarães Cardoso teve uma morte trágica, em 23 de novembro de 1982, atropelado na saída do Estádio do Mineirão, ironicamente por um amigo que iria lhe dar uma carona. Em sua cidade natal, Almenara, uma avenida leva o seu nome. (Pesquisa: Nilo Dias)

Carlyle foi o primeiro jogador a posar com a tradicional camisa canarinho, da Seleção Brasileira.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O dia em que o futebol ajudou o PCB

O leitor já imaginou o que aconteceria se nos dias atuais fosse realizado um jogo de futebol entre dois grandes clubes do futebol brasileiro, em benefício da campanha eleitoral de um partido político? E ainda mais se fosse para ajudar o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Dificilmente poderia ser feito um jogo dessa magnitude. Com certeza a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Fedération Internationale de Football Association (FIFA) não permitiriam.

Pois, pasmem, isso já aconteceu e está contado em todos os detalhes no livro “Palmeiras x Corinthians 1945: o jogo vermelho”, de autoria do deputado federal Aldo Rebelo e lançado pela Editora UNESP. O livro tem 124 páginas e custa R$ 34.00.

Aldo Rebelo é político, jornalista e torcedor da S.E. Palmeiras. E foi em uma visita a sala de troféus do clube, no Estádio Parque Antártica, que teve sua atenção voltada para um troféu diferente dos demais: uma escultura em bronze, de 60 centímetros de altura, de uma mulher alada, projetada para frente, como se estivesse se preparando para alçar voo, presa sobre uma base de mármore branco com a inscrição “Homenagem do Movimento Unificador dos Trabalhadores”. Intrigado, ali mesmo, ele começou uma pesquisa sobre a origem do troféu.

E descobriu que ele foi ganho numa partida disputada no Estádio do Pacaembu contra o eterno rival, S.C.Corinthians Paulista, há exatos 65 anos. E o mais importante, o jogo foi realizado para arrecadar fundos para o MUT, uma entidade criada em 1940, que era o braço sindical do Partido Comunista Brasileiro (PCB).

Os dois clubes e a Federação Paulista, que tinha entre seus dirigentes Ulysses Guimarães, dispensaram qualquer quantia pela apresentação. Em 1945 os comunistas haviam acabado de deixar a ilegalidade. O gesto de desprendimento dos jogadores e dirigentes foi considerado bastante ousado na época.

Oficialmente a renda seria para o MUT, mas na realidade serviria para ajudar a financiar a campanha do PCB. Havia uma meta do partido de arrecadar 750 mil cruzeiros para financiar as eleições. Só o jogo arrecadou quase 115 mil cruzeiros.

O principal dirigente do MUT era João Amazonas, que torcia pelo Palmeiras e já era um dos principais dirigentes do PCB. Os dirigentes do MUT foram todos candidatos pelo PCB a deputado federal ou estadual. E graças ao dinheiro arrecadado, dois meses depois, Prestes foi eleito senador e o PCB fazia 14 deputados federais. Mas dois anos depois, em 1947, o partido foi posto na ilegalidade e todos eles foram cassados.

O ano de 1945 foi singular na história do Brasil e do mundo: marcou o fim da Segunda Guerra, do Estado Novo e o Partido Comunista vivia na legalidade pela primeira vez em sua história. O clima do pós-guerra tornou simpático o movimento comunista, pois seus Exércitos ajudaram a bater o Eixo.

O movimento comunista no país reunia simpatizantes entre intelectuais, operários, empresários e mesmo na Federação Paulista de Futebol. Havia produtos chamando atenção para o tema, como o "Sabão Russo" ou, em referência a Prestes, o perfume "Cavaleiro da Esperança".

“No Brasil, naquele clima de redemocratização, a opinião pública ficou comovida com o sofrimento de Luís Carlos Prestes quando sua mulher, Olga Benário foi entregue aos nazistas pelo Estado Novo e assassinada em campo de concentração”, argumenta Rebelo, que enfrentou dificuldades para encontrar quem se lembrasse da história e recuperou o episódio pela pesquisa de jornais e documentos.

O livro é uma contribuição histórica, não só para o futebol, mas para a política brasileira, pois mostra com riqueza de detalhes um fato pouco lembrado pela mídia. Rebelo conseguiu juntar uma grande quantidade de anexos, tais como súmulas, recortes de jornais do período e fotografias dos principais personagens que fizeram parte desse episódio – presidentes de clubes, políticos, jogadores e líderes sindicais.

O jornal do PCB tratou o jogo com muita deferência, quase editorialmente: uma discussão sobre o futebol e o movimento operário, que o futebol tinha origem operária, que era um esporte proletário. E, pouco antes, o próprio Pacaembu já tinha sido cedido para um comício de Luís Carlos Prestes, assim como o estádio do Vasco, no Rio. Esse vínculo entre os comunistas e o futebol, na época, já era bem visível.

Rebello não descobriu em sua pesquisa nem jogadores nem dirigentes filiados ao PCB. Mas havia simpatizantes. O principal jogador do Corinthians, o maior artilheiro da história do clube, Cláudio Cristovão Pinho, teve até falecer uma relação muito próxima dos comunistas.

A organização imprimiu um sabor sindical ao “Derby”, ao marcar uma partida preliminar entre os times do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Fiação e Tecelagem, comandado por um corinthiano X Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, dirigido por um palmeirense, que nutriam forte rivalidade.

O jogo preliminar foi vencido por 3 x 2 pelo quadro do Fiação e Tecelagem, e o público prestara de pé a homenagem de um minuto de silêncio em memória do craque Hermman Friese.

E veio o jogo principal. Como um clássico envolvendo Palmeiras X Corinthians é sempre impregnado de emoções, o autor dedica capítulos inteiros para descrever como se deu a preparação técnica dos times para o antológico jogo, a cobertura pela imprensa e, por fim, um panorama do clássico, que teve vitória do Palmeiras por 3 X 1.

Era a primeira vez, desde o fim do Campeonato Paulista, que as equipes duelariam com titulares. O jogo marcou também a estreia de Osvaldo Brandão como técnico palmeirense, após encerrar a carreira de jogador devido a uma lesão.

O jogo foi desenvolvido em um clima tenso. Para se ter uma ideia, o jornal "Gazeta Esportiva", definiu na crônica do dia seguinte o primeiro tempo como "45 minutos de hostilidades".

Palmeiras: Clodô - Caieira e Junqueira - Zezé Procópio - Túlio e Waldemar Fiúme – Oswaldinho – Gonzalez - Lima IV - Lima e Canhotinho. Corinthians: Bino - Domingos e Rubens – Palmer - Hélio e Aleixo – Cláudio – Milani – Servílio - Eduardinho e Ruy. João Etzel, o árbitro.

O estádio lotado vibrava com a disputa do clássico e pelo ambiente de liberdade daquele ano de 1945, que levava ao Pacaembu torcedores, operários, jornalistas, sindicalistas e comunistas, quase em confraternização pela chegada da democracia e das esperanças por ela criadas.

Aos 16 minutos da partida, o atacante Oswaldinho foi duramente atingido pelo médio Rubens, substituto do veterano Begliomini, que procurava mostrar serviço entre os titulares. A partir deste momento o jogo ameaçava descambar para uma "tourada", conforme registrou no dia seguinte o jornal “O Estado de São Paulo”.

Aos 31 minutos, Servílio fez Corinthians 1 x 0 Palmeiras. A torcida palmeirense, aflita, acompanhava com expectativa o recomeço do jogo no segundo tempo. O time alviverde redobrava a pressão sobre o adversário. O goleiro Bino, chamado de "Gato Selvagem" era o termômetro da partida, realizando incríveis defesas.

Aos 27 minutos da segunda etapa, Waldemar Fiúme, o "Pai da Bola", com o estilo clássico de sempre, marcou o gol de empate. A torcida alviverde ainda comemorava o gol quando Lima fez 2 X 1 para o Palmeiras, aos 29 minutos. Um minuto depois o uruguaio Villadoniga, "El Architeto" fez 3 x 1, placar final. (Pesquisa: Nilo Dias)


O livro de Aldo Rebelo é uma contribuição histórica ao futebol e à politica do país.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

CEUB, um time que deixou saudade

O futebol de Brasília até hoje não se consolidou. Entre altos e baixos continua ocupando uma posição apenas intermediaria no cenário nacional. É verdade que depois de muitos anos conseguiu participar de recentes campeonatos brasileiros da Série A com S.E. Gama e Brasiliense F.C.. Foram passagens rápidas e sem qualquer brilho, com durações efêmeras de apenas uma temporada e o retorno rápido a Série B.

Muita gente credita a pouca evolução do futebol de Brasília ao fato da cidade ser muito nova, e a maioria de seus moradores torcer por clubes de outros Estados. E isso é um fato incontestável. Nos jogos em Brasília, os adversários quase sempre levam mais torcedores aos estádios, que os clubes locais.

A primeira edição do campeonato da nova capital federal foi disputada em 1959. A cidade nem havia sido fundada, mas os operários que trabalhavam nas obras de construção de Brasília já haviam organizado seus times. O campeão foi o Grêmio Brasiliense. Depois disso, o domínio passou a Defelê e Rabelo. O Defelê, inclusive, foi o primeiro time a defender Brasília em uma competição nacional, no caso, a Taça Brasil de 1963. Foi eliminado na primeira fase pelo Vila Nova de Goiás.

O Brasiliense já foi visto como um fenômeno esportivo pelo rápido crescimento. O clube surgiu em 2002, quando o empresário e ex-senador Luiz Estevão comprou o Atlântida F.C., de Taguatinga. Em 2002 foi vice-campeão da Copa do Brasil, após eliminar equipes como o Atlético Mineiro e Fluminense e perder a final para o Corinthians, em jogo que até hoje gera polêmica.

É o detentor do maior número de conquistas estaduais consecutivas no Centro-Oeste, com 6 títulos ganhos entre 2004 e 2009 desbancando o maior rival, Gama que tinha 5 títulos consecutivos entre 1997 e 2001.

Mas o Brasiliense mesmo assim não conseguiu se firmar até hoje como uma instituição forte e vitoriosa. Ainda luta para tentar retornar a elite do futebol brasileiro, mas não tem conseguido êxito, talvez mais pelas intromissões de seu dono, o ex-senador Luiz Estevão. É ele quem contrata e manda embora, muitas vezes sem qualquer lógica. A cada ano passa quatro ou cinco treinadores pelo clube, o que torna impossível qualquer projeto duradouro de time.

A situação do Gama é ainda pior. Teve seus anos de predominância no futebol de Brasília, graças às generosas verbas públicas que recebia. Até um estádio novo ganhou, construído com dinheiro público, que hoje é um verdadeiro elefante branco. O Gama foi parar na quarta divisão do futebol brasileiro. E parece que o seu destino só tende a piorar nos próximos anos.

O Brasília E.C., fundado em 1975 foi durante algum tempo sustentado pela Associação Comercial do Distrito Federal. Isso lhe garantiu a hegemonia no futebol candango, com oito títulos entre 1976 e 1987. Com o passar dos anos também afundou numa série de dividas e insucessos. Desde o ano passado tenta se reestruturar, tarefa que não tem sido nada fácil.

Na cidade onde o colunista mora, Sobradinho, o futebol parece que ficou só na saudade. O time da cidade, o Sobradinho E.C. já foi o melhor do Distrito Federal e foi bi-campeão em 1985/1986. Depois, parece que as direções incompetentes e as brigas internas acabaram com o clube. Cheio de dividas e sem perspectivas, agoniza na última divisão do futebol local.

Na década de 1960 o Centro de Ensino Unificado de Brasília (CEUB), criou seu time de futebol profissional. Se não conseguiu grandes feitos, pelo menos colocou Brasília num lugar mais destacado no mapa do futebol brasileiro. Sua fundação aconteceu em 1968 por iniciativa de um grupo de universitários da instituição.

Mas foi nos anos 70 que o CEUB começou a se projetar de fato. Em 1972 foi segundo colocado no campeonato local. Em 1973 foi campeão, derrotando na partida final ao Relações Exteriores, por 1 X 0. O título garantiu ao time universitário o direito de ser o primeiro clube da capital federal a participar de um Campeonato Brasileiro.

O curioso é que em 1973 o futebol brasiliense ainda era amador. O profissionalismo só chegou de maneira definitiva a Brasília em 1976. A competição foi amadora de 1960 a 1965 e de 1969 a 1975. O campeonato chegou a ser profissional entre 1966 e 1968, mas recaiu no amadorismo de 1969 até 1975.

A estréia do Distrito Federal na Série A de 1973 foi no jogo CEUB X Botafogo, empate de 0 X 0, no antigo estádio “Pelezão” A primeira vitória foi alcançada também no “Pelezão”, na terceira rodada contra o Figueirense por 2 X 1. A trajetória do CEUB no campeonato foi fraca, ficando em 33° lugar entre 40 equipes. O que sobrou de positivo foi a popularidade que o clube conquistou dentro da capital federal.

Em 1974 o Pioneira F.C. sagrou-se campeão de Brasília, mas a então Confederação Brasileira de Desportos (CBD) designou o CEUB para representar a capital federal no Brasileirão. A equipe acabou na 19ª e penúltima colocação no Grupo B, 37a na classificação final. De qualquer maneira, os torcedores locais puderam assistir a grandes jogos. A direção do CEUB fez de tudo para que o time tivesse uma participação mais efetiva na competição.

Em 1974 houve a inauguração do “Estádio Governador Hélio Prates da Silveira”, primeira denominação do “Estádio Mané Garrincha”, que depois da reforma para a Copa de 2014 vai se chamar “Estádio Nacional de Brasília”. Foi no dia 10 de março, e o jogo de inauguração foi entre o CEUB X Corinthians Paulista, pelo campeonato brasileiro.

O jogo foi de portões abertos para o público, por iniciativa do Governo do Distrito Federal. O time paulista venceu por 2 X 1. Vaguinho do Corinthians fez o primeiro gol do estádio. Ele mesmo também marcou o segundo. Juracy fez o gol dos locais.

CEUB: Valdir – Odair - Pedro Pradera - Cláudio Oliveira e Rildo – Alencar - Péricles (René) e Xisté - Dílson (Cardosinho) - Juracy e Dario. Corinthians: Armando - Zé Roberto – Pescuma - Wagner e Wladimir – Tião - Adãozinho e Washington – Vaguinho - Roberto e Marco Antonio. Juiz: Luiz Carlos Félix. Bandeiras: Cassirio Marinho e Carlos Vieira do Amaral.

Em 1975, não houve campeonato distrital. Por isso, o CEUB foi novamente convidado a representar o Distrito Federal no Campeonato Nacional, ficando em 9º no seu grupo, e em antepenúltimo ou 32º lugar na classificação geral.

Ainda em 1975 o CEUB se tornou o primeiro time de futebol de Brasília a excursionar pela Europa, onde enfrentou o La Coruña e Sevilla, tradicionais clubes espanhóis e a Seleção da Iugoslávia, entre outros. Somente 33 anos depois um time brasiliense iria fazer uma excursão ao velho continente, que seria o Brazsat.

O Campeonato Brasiliense de 1976 marcou a volta em definitivo do futebol profissional. O Ceub ganhou os dois primeiros turnos e era líder do terceiro quando a Federação Brasiliense virou a mesa e mandou que fosse disputado um quadrangular final para a definição do campeão e representante local no Brasileirão.

O CEUB se negou a participar e o Brasília foi declarado campeão. Mas não levou. A CBD decidiu que o Distrito Federal não teria direito a participar do campeonato, devido a confusão estabelecida pela Federação local. Com isso o CEUB passou a enfrentar sérias dificuldades financeiras para se manter em atividade. Sem alternativas, o clube fechou as portas. Foi o melancólico fim do primeiro clube de Brasília a ter reconhecimento nacional.

Nessa sua curta trajetória o CEUB contou em seu plantel com jogadores que tiveram passagens por grandes clubes do futebol brasileiro, como Valdir, ex-goleiro do Vasco, Rogério, goleiro, ex-Grêmio e ex-América (RJ), Paulo Lumumba, ex-Grêmio, Oldair, campeão brasileiro em 1971 pelo Atlético (MG), Rildo, ex-Botafogo e Santos, Claudio Garcia, ex-Fluminense e depois treinador de futebol, Tuca, ex-Botafogo, Roberto Dias, ex-São Paulo, Cláudio Adão, Fio Maravilha e outros. O CEUB foi treinado pelo conhecido técnico João Avelino.

Daqueles áureos tempos tudo o que restou do CEUB foram troféus e recortes de jornais guardados com carinho, no escritório de Adílson Peres, advogado, que foi o último presidente do clube, que teve todas as suas diretorias formadas por universitários entre 20 e 25 anos. (Pesquisa: Nilo Dias)

CEUB, um time que deixou saudade

O futebol de Brasília até hoje não se consolidou. Entre altos e baixos continua ocupando uma posição apenas intermediaria no cenário nacional. É verdade que depois de muitos anos conseguiu participar de recentes campeonatos brasileiros da Série A com S.E. Gama e Brasiliense F.C.. Foram passagens rápidas e sem qualquer brilho, com durações efêmeras de apenas uma temporada e o retorno rápido a Série B.

Muita gente credita a pouca evolução do futebol de Brasília ao fato da cidade ser muito nova, e a maioria de seus moradores torcer por clubes de outros Estados. E isso é um fato incontestável. Nos jogos em Brasília, os adversários quase sempre levam mais torcedores aos estádios, que os clubes locais.

A primeira edição do campeonato da nova capital federal foi disputada em 1959. A cidade nem havia sido fundada, mas os operários que trabalhavam nas obras de construção de Brasília já haviam organizado seus times. O campeão foi o Grêmio Brasiliense. Depois disso, o domínio passou a Defelê e Rabelo. O Defelê, inclusive, foi o primeiro time a defender Brasília em uma competição nacional, no caso, a Taça Brasil de 1963. Foi eliminado na primeira fase pelo Vila Nova de Goiás.

O Brasiliense já foi visto como um fenômeno esportivo pelo rápido crescimento. O clube surgiu em 2002, quando o empresário e ex-senador Luiz Estevão comprou o Atlântida F.C., de Taguatinga. Em 2002 foi vice-campeão da Copa do Brasil, após eliminar equipes como o Atlético Mineiro e Fluminense e perder a final para o Corinthians, em jogo que até hoje gera polêmica.

É o detentor do maior número de conquistas estaduais consecutivas no Centro-Oeste, com 6 títulos ganhos entre 2004 e 2009 desbancando o maior rival, Gama que tinha 5 títulos consecutivos entre 1997 e 2001.

Mas o Brasiliense mesmo assim não conseguiu se firmar até hoje como uma instituição forte e vitoriosa. Ainda luta para tentar retornar a elite do futebol brasileiro, mas não tem conseguido êxito, talvez mais pelas intromissões de seu dono, o ex-senador Luiz Estevão. É ele quem contrata e manda embora, muitas vezes sem qualquer lógica. A cada ano passa quatro ou cinco treinadores pelo clube, o que torna impossível qualquer projeto duradouro de time.

A situação do Gama é ainda pior. Teve seus anos de predominância no futebol de Brasília, graças às generosas verbas públicas que recebia. Até um estádio novo ganhou, construído com dinheiro público, que hoje é um verdadeiro elefante branco. O Gama foi parar na quarta divisão do futebol brasileiro. E parece que o seu destino só tende a piorar nos próximos anos.

O Brasília E.C., fundado em 1975 foi durante algum tempo sustentado pela Associação Comercial do Distrito Federal. Isso lhe garantiu a hegemonia no futebol candango, com oito títulos entre 1976 e 1987. Com o passar dos anos também afundou numa série de dividas e insucessos. Desde o ano passado tenta se reestruturar, tarefa que não tem sido nada fácil.

Na cidade onde o colunista mora, Sobradinho, o futebol parece que ficou só na saudade. O time da cidade, o Sobradinho E.C. já foi o melhor do Distrito Federal e foi bi-campeão em 1985/1986. Depois, parece que as direções incompetentes e as brigas internas acabaram com o clube. Cheio de dividas e sem perspectivas, agoniza na última divisão do futebol local.

Na década de 1960 o Centro de Ensino Unificado de Brasília (CEUB), criou seu time de futebol profissional. Se não conseguiu grandes feitos, pelo menos colocou Brasília num lugar mais destacado no mapa do futebol brasileiro. Sua fundação aconteceu em 1968 por iniciativa de um grupo de universitários da instituição.

Mas foi nos anos 70 que o CEUB começou a se projetar de fato. Em 1972 foi segundo colocado no campeonato local. Em 1973 foi campeão, derrotando na partida final ao Relações Exteriores, por 1 X 0. O título garantiu ao time universitário o direito de ser o primeiro clube da capital federal a participar de um Campeonato Brasileiro.

Em 1973 foi realizada uma assembleia, onde ficou decidido que o clube se tonaria profissional, inclusive com a mudança de nome, ,passando a se chamar CEUB Esporte Clube, que, a partir daquele momento, tornou-se independente da Universidade, para que pudesse disputar o campeonato brasileiro de futebol, série A.

Portanto, a partir do ano de 1973 o clube já era profissional, mesmo porque, se não o fosse, jamais poderia disputar o campeonato brasileiro da primeira divisão.


A competição de Brasília foi amadora de 1960 a 1965 e de 1969 a 1972. Antes, o campeonato chegou a ser profissional entre 1966 e 1968, mas recaiu no amadorismo de 1969 até 1972.

A estréia do Distrito Federal na Série A de 1973 foi no jogo CEUB X Botafogo, empate de 0 X 0, no antigo estádio “Pelezão” A primeira vitória foi alcançada também no “Pelezão”, na terceira rodada contra o Figueirense por 2 X 1. A trajetória do CEUB no campeonato foi fraca, ficando em 33° lugar entre 40 equipes. O que sobrou de positivo foi a popularidade que o clube conquistou dentro da capital federal.

Em 1974 o Pioneira F.C. sagrou-se campeão de Brasília, mas a então Confederação Brasileira de Desportos (CBD) designou o CEUB para representar a capital federal no Brasileirão. A equipe acabou na 19ª e penúltima colocação no Grupo B, 37a na classificação final. De qualquer maneira, os torcedores locais puderam assistir a grandes jogos. A direção do CEUB fez de tudo para que o time tivesse uma participação mais efetiva na competição.

Em 1974 houve a inauguração do “Estádio Governador Hélio Prates da Silveira”, primeira denominação do “Estádio Mané Garrincha”, que depois da reforma para a Copa de 2014 vai se chamar “Estádio Nacional de Brasília”. Foi no dia 10 de março, e o jogo de inauguração foi entre o CEUB X Corinthians Paulista, pelo campeonato brasileiro.

O jogo foi de portões abertos para o público, por iniciativa do Governo do Distrito Federal. O time paulista venceu por 2 X 1. Vaguinho do Corinthians fez o primeiro gol do estádio. Ele mesmo também marcou o segundo. Juracy fez o gol dos locais.

CEUB: Valdir – Odair - Pedro Pradera - Cláudio Oliveira e Rildo – Alencar - Péricles (René) e Xisté - Dílson (Cardosinho) - Juracy e Dario. Corinthians: Armando - Zé Roberto – Pescuma - Wagner e Wladimir – Tião - Adãozinho e Washington – Vaguinho - Roberto e Marco Antonio. Juiz: Luiz Carlos Félix. Bandeiras: Cassirio Marinho e Carlos Vieira do Amaral.

Em 1975, não houve campeonato distrital. Por isso, o CEUB foi novamente convidado a representar o Distrito Federal no Campeonato Nacional, ficando em 9º no seu grupo, e em antepenúltimo ou 32º lugar na classificação geral.

Ainda em 1975 o CEUB se tornou o primeiro time de futebol de Brasília a excursionar pela Europa, onde enfrentou o La Coruña e Sevilla, tradicionais clubes espanhóis e a Seleção da Iugoslávia, entre outros. Somente 33 anos depois um time brasiliense iria fazer uma excursão ao velho continente, que seria o Brazsat.

O Campeonato Brasiliense de 1976 marcou a volta em definitivo do futebol profissional. O Ceub ganhou os dois primeiros turnos e era líder do terceiro quando a Federação Brasiliense virou a mesa e mandou que fosse disputado um quadrangular final para a definição do campeão e representante local no Brasileirão.

O CEUB se negou a participar e o Brasília foi declarado campeão. Mas não levou. A CBD decidiu que o Distrito Federal não teria direito a participar do campeonato, devido a confusão estabelecida pela Federação local. Com isso o CEUB passou a enfrentar sérias dificuldades financeiras para se manter em atividade. Sem alternativas, o clube fechou as portas. Foi o melancólico fim do primeiro clube de Brasília a ter reconhecimento nacional.

Nessa sua curta trajetória o CEUB contou em seu plantel com jogadores que tiveram passagens por grandes clubes do futebol brasileiro, como Valdir, ex-goleiro do Vasco, Rogério, goleiro, ex-Grêmio e ex-América (RJ), Paulo Lumumba, ex-Grêmio, Oldair, campeão brasileiro em 1971 pelo Atlético (MG), Rildo, ex-Botafogo e Santos, Claudio Garcia, ex-Fluminense e depois treinador de futebol, Tuca, ex-Botafogo, Roberto Dias, ex-São Paulo, Cláudio Adão, Fio Maravilha e outros. O CEUB foi treinado pelo conhecido técnico João Avelino.

Daqueles áureos tempos tudo o que restou do CEUB foram troféus e recortes de jornais guardados com carinho, no escritório de Adílson Peres, advogado, que foi o último presidente do clube, que teve todas as suas diretorias formadas por universitários entre 20 e 25 anos. (Pesquisa: Nilo Dias)

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O zagueiro esquecido

Pellegrino Adelmo Begliomini, o ex-zagueiro Begliomini, nasceu em 27 de novembro de 1914 em Santo André (SP). Filho de italianos, ele jogou em várias equipes amadoras da sua terra natal, até se destacar no 1º de Maio FC, o time mais forte da cidade. Foi lá que, aos 17 anos, observado por um dirigente recebeu convite para jogar no juvenil do Palestra Itália. Estreou em 1934 em uma vitória sobre o Uberaba por 4 X 0.

Begliomini fez 184 jogos pelo Palestra, com 118 vitórias, 30 empates, 36 derrotas e nenhum gol marcado, tendo sido campeão paulista em 1936, 1940 e 1942. Foi o primeiro jogador do hoje ABC Paulista a defender a Seleção Brasileira.

Em 1942 o mundo estava envolvido na Segunda Guerra Mundial e o Brasil, em guerra com a Itália. Situação bem constrangedora para os italianos residentes em nosso país, especialmente em São Paulo. O Palestra Itália de então teve que mudar o nome para Sociedade Esportiva Palestra de São Paulo, devido a uma grande campanha de difamação, movida contra ela.

Mas nem mesmo assim houve sossego. Às vésperas do jogo decisivo contra o São Paulo, teve que mudar novamente o nome, dessa vez para Sociedade Esportiva Palmeiras, cuja denominação, permanece até hoje.

A partida ia ser realizada, por coincidência, no dia vinte de setembro, data da Unificação da Itália, o que aconteceu no ano de 1870. As baterias funcionaram, incessantemente, por certo locutor esportivo amparado pelo proprietário da emissora em que trabalhava. O adversário tinha preparado uma grande vaia para quando a S.E. Palmeiras entrasse em campo.

O vice-presidente do novo Palmeiras era o capitão Adalberto Mendes, oficial do Exército Brasileiro, que entrou em campo fardado, a frente da Bandeira Nacional, segura pelas mãos dos jogadores. As vaias programadas acabaram não acontecendo.

Começou o jogo e o resultado estava 3 X 1 a favor do Palmeiras, quando o zagueiro sãopaulino, Virgílio, deu uma violenta entrada no jogador Villadonica, dentro da área. O juiz incontinente marcou pênalti, expulsando o faltoso. A partida, que até aquele momento era tensa, explodiu de vez. Os jogadores do São Paulo inconformados com a decisão do árbitro e, obedecendo as ordens vindas da sua diretoria, retiraram-se de campo.

O juiz então deu a vitória ao Palmeiras, O jogador Begliomini, ao ser entrevistado por uma emissora, no auge do entusiasmo, gritou a plenos pulmões a frase que se eternizou: “O Palestra morreu invicto e, o Palmeiras, nasceu campeão!”.

Os heróis daquela conquista foram Oberdan, Junqueira, Begliomini, Zezé, Og Moreira, Del Cláudio, Valdemar Fiúme, Villadoniga, Nero, Lima e Etchevarrieta.

Depois do título de 1942, Begliomini se transferiu para o Corinthians, onde foi apenas vice-campeão: 1943, 1945 e 1946. Fez 75 jogos com a camisa alvinegra com 47 vitórias, 12 empates e 16 derrotas. Por uma dessas ironias do destino, quando defendeu o Corinthians marcou dois gols contra em clássicos contra o Palmeiras.

Encerrou a carreira prematuramente, aos 33 anos de idade, quando ainda jogava no Corinthians, devido a uma séria contusão em um dos joelhos. Nessa época fez dupla de zaga, com outra lenda do futebol brasileiro, Domingos da Guia.

Begliomini serviu a Seleção Brasileira entre 1942 e 1945. A primeira convocação foi para participar do Campeonato Sul-Americano de 1942, disputado no Uruguai. O time ficou em terceiro lugar, atrás da Argentina e dos donos da casa que foram campeões. Por conta de uma forte gripe que pegou no avião, o zagueiro só conseguiu estrear contra o Equador, na vitória por 5 X 1, no Estádio Centenário de Montevidéu. No ataque brasileiro, havia talentos da grandeza de Cláudio Cristóvão de Pinho, Pirilo, Tim e Zizinho.

A defesa brasileira foi a menos vazada do torneio e Begliomini se destacou por seu futebol sério e de muita raça, que lhe valeu o apelido de “Stalingrado”, referência a cidade russa que foi palco de uma das mais sangrentas batalhas da 2ª Guerra Mundial. A imprensa da época se referia a ele como “a barreira'' ou “o intransponível''. Em casa, com pais e tios, o apelido era mais carinhoso, “Cócco”, que, em italiano, significa ‘querido'', ‘predileto''.

Segundo o advogado Henrique Johnen, neto de Begliomini, ele jamais esqueceu esse campeonato. Ficou impressionado com a paixão dos uruguaios pelo futebol. Dizia que era impossível ganhar deles lá. De fato, o Brasil perdeu por 1 X 0 e só dois anos depois veio a desforra em jogos amistosos realizados no Rio de Janeiro e em São Paulo, para homenagear os soldados brasileiros que retornavam da guerra na Europa. O Brasil fez 6 X 1 e 4 X 0 nos uruguaios.

Em 1945, ele disputou novamente o Sul-Americano, desta vez no Chile. O Brasil perdeu o título para a Argentina. Além de Begliomini, o time tinha craques como Tesourinha, Zizinho, Heleno de Freitas, Jair da Rosa Pinto, Ademir Menezes e o goleiro Oberdan. Begliomini nunca esqueceu o susto que passaram na concentração. Uma certa manhã aconteceu um tremor de terra por lá.

Os jogadores estavam tomando café. As xícaras foram parar quase meio metro longe, e as cadeiras embaixo das mesas. Alguns jogadores ficaram desesperados, querendo voltar imediatamente para o Brasil. O Zizinho, que tinha um medo enorme foi correndo arrumar as malas.

Considerado um dos melhores elencos da história da Seleção Brasileira, a maioria desses jogadores jamais foi a uma Copa do Mundo. O último Mundial havia acontecido em 1938, na França. O Brasil havia lançado a candidatura para sediar a de 1942, mas por causa da guerra ela não aconteceu. Só veio para o nosso país em 1950, quando Begliomini já havia deixado os gramados.

Com o fim da carreira dentro de campo, Begliomini virou técnico. Foi treinar o Clube Atlético Rhodia, de Santo André, e ainda passou por Guarani de Campinas, Noroeste de Bauru, Portuguesa Santista, Guaratinguetá entre outros. Depois de aposentado, na década de 1970 jogou pela equipe de veteranos do “Dragão Vermelho”, que disputava o torneio interno do Clube Atlético Aramaçan. Ele era reserva do time e mesmo com certa idade, ainda impunha respeito pelo tamanho.

Begliomini morreu no dia 10 de outubro de 1992, aos 78 anos de idade, sem ter a fortuna e a fama que os jogadores de Seleção, hoje em dia, conseguem rapidamente. Ficaram as medalhas, fotos e recortes de jornais com seus dias de glória. O neto Henrique Johnen e a enteada Eunice Pellozo pretendem doar parte desses documentos ao Museu Octaviano Gaiarsa, em Santo André. (Pesquisa: Nilo Dias)

(Foto: Acervo da S.E. Palmeiras)

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Mais três clubes centenários

A grande imprensa brasileira praticamente só noticiou o centenário de fundação do S.C. Corinthians Paulista, um dos gigantes do futebol brasileiro. Mas não é só ele que entra neste ano de 2010 para a seleta galeria de clubes centenários. Também os tradicionais E.C. Noroeste, de Bauru e Associação Esportiva Velo Clube Rioclarense, ambos do interior de São Paulo completaram 100 anos .

A Assembléia Oficial de fundação do Velo Clube aconteceu no dia 28 de agosto de 1910,na residência do desportista Miguel Ângelo, á Rua 1, Avenidas 4 e 6, em Rio Claro. O nome do Velo Clube está diretamente ligado à prática do ciclismo. No início do século XX o Brasil sofria grande influência da França.

Em francês uma das palavras utilizadas para se designar “bicicleta” é vélo, daí surgiram os termos Velo Clube – designação genérica de agremiações voltadas para a prática ciclística – e velódromo – local destinado a estas práticas.

Durante dez anos o Velo Clube dedicou-se exclusivamente ao ciclismo, transformando Rio Claro em um pólo do esporte no interior paulista e atraindo desportistas de diversas localidades do estado. Em 18 de dezembro de 1910 foi inaugurado o Velódromo com uma pista de 240 metros. Na ocasião houve uma prova ciclística.

Em 1919 ocorreu uma paralisação que se prolongou até 1.919, quando graças aos esforços de Venâncio Batista Chaves, José Mattola, José Felix Teixeira e Domingos Giovanni, o clube foi reorganizado com uma nova Diretoria, que tinha como presidente Joaquim Alves Penna.

O futebol foi introduzido no clube somente em 1920, por idéia de um grupo liderado por Felício Castelano e Aldino Tebaldi. No dia 16 de maio de 1.920, em uma fusão com o já existente Comercial F.C., passou a denominar-se Associação Esportiva Velo Clube Rio-Clarense. A data de fundação, no entanto, permaneceu a do clube de ciclismo: 28 de agosto de 1910.

No mesmo ano de 1920 foi construído o Campo de Futebol, com uma pequena arquibancada de madeira em um terreno entre a Vila da Caridade São Vicente de Paula e a Santa Casa de Misericórdia. Em 1925 O Velo foi campeão do interior, Na época este era o torneio de maior prestígio que uma equipe de fora da capital ou de Santos podia conquistar.

Como Campeão do Interior o Velo Clube ganhou o direito de disputar a Taça Competência, contra o campeão do estado naquele ano – no caso o São Bento da capital. O jogo ocorreu no estádio Parque Antártica, atual Palestra Itália, e o São Bento venceu o Velo Clube por 2 X 0, ficando com o troféu.

Em 30 de outubro de 1938, foi inaugurado o novo estádio, com arquibancadas de cimento armado. Em 5 de abril de 1953, aconteceu a inauguração do alambrado, que recebeu o nome de “Alambrado Floriano Bianchini” um dos patronos do Velo Clube.

Em 22 de junho de 1969 teve inicio a construção do estádio Benito Agnello Castellano, o "Benitão", inaugurado em 7 de setembro de 1.972. Em 1973 O Velo Clube conquistou o Titulo de “Quinto Clube de Futebol mais Querido do Estado de São Paulo”, em pesquisa feita pela” Revista Placard”, jornal” Diário da Noite”e jornal “Folha da Tarde”. Em primeiro ficou o S.C. Corinthians Paulista, em segundo S.E. Palmeiras, em terceiro São Paulo F.C. e em quarto lugar Santos F.C. O "Benitão" foi inauguado em 7 de setembro de 1972, com o jogo Palmeiras 4 X 1 Velo Clube.

Em 1953, a FPF determinou que somente clubes de cidades com mais de 50 mil habitantes, poderiam disputar a segunda divisão, o que afastou o clube da principal divisão do futebol paulista e provocou o licenciamento das atividades futebolisticas. Em 1978 o Velo foi vice-campeão da divisão Intermediaria,com o direito de disputar uma vaga na Divisão Especial, contra o Paulista F.C. de Jundiaí.

Foram disputadas três partidas. O Velo ganhou duas e empatou uma, garantindo o seu acesso juntamente com a A.A. Internacional, de Limeira, ingressando assim na Divisão Especial (atual Série A1), do Campeonato Paulista de 1979.

Em 1991 foi vice-campeão da Segunda Divisão, subindo para a Divisão Intermediaria, juntamente com a A.D. São Caetano. Por motivo de o estádio "Benitão" não comportar 15 mil torcedores, o Velo continou amargando a Segunda Divisão, fato que se repetiu no ano seguinte. O seu grande rival é o Rio Claro F.C., que em 11 de maio do ano passado também completou 100 anos.

Já o E.C. Noroeste, de Bauru foi fundado em 1 de setembro de 1910, por funcionários da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, que ligava Bauru a Bolivia, com o nome de Sport Club Noroeste. Seu primeiro presidente foi o engenheiro Carlos Gomes Nogueira. O primeiro jogo da história do Noroeste foi contra um selecionado da cidade de São Manoel, com vitória por 1 X 0.

O primeiro título estadual foi do Campeonato do Interior de 1943. quando decidiu o certame em duas partidas frente o Guarani, de Campinas, no Estádio do Pacaembu, tendo vencido a primeira por 1 X 0 e empatado a segunda em 0 X 0. Os heróis de 43 foram: Amélio - Xande e Irineu Pé de Boi - Balbino - Sérgio e Chocolate - Lamonica - Crisanto - Adolfrizis - Cirilo e Albércio ou Fontes.

O maior susto da história do Noroeste ocorreu no dia 23 de novembro de 1958, durante um jogo contra o São Paulo F;C., no Estádio Alfredo de Castilho. Aos 25 minutos do primeiro tempo a geral pegou fogo. O incêndio consumiu as populares e causou pânico no público presente. O fogo ainda atingiu algumas casas, que ficavam nas proximidades. Cinco pessoas ficaram feridas.

Em maio de 1964, a primeira viagem internacional. Uma excursão para um torneio em Cochabamba, na Bolivia. Vitórias sobre o Club Jorge Wilstermann, por 2 X 1, Club Deportivo San Jose, de Oruro por 4 X 0 e Club Aurora, então campeão boliviano também por 4 X 0. Um dos grandes jogadores do futebol brasuileiro que vestiu a camisa do Noroeste, foi Jairzinho, o "Furacão da Copá" de 1970.

Em 1956, o Noroeste teve nas mãos a oportunidade de mudar para sempre seu destino. Pelé, que poucos anos depois se transformaria no Rei do Futebol, realizou três amistosos com a camisa vermelha. Não há muitos registros sobre os jogos, mas em um deles, o jovem gênio fez quatro gols na goleada por 8 X 2, em amistoso contra uma seleção de Ibitinga (SP).

O juvenil do BAC (Bauru Atlético Clube) foi dissolvido, e o pai do Pelé, o Dondinho, que era funcionário da ferrovia e auxiliar técnico do Noroeste, o levou para treinar. O encantamento dos dirigentes pelo garoto, no entanto, não virou realidade. Já vislumbrando o talento do filho, Dondinho não permitiu que Pelé assinasse contrato com o Noroeste com a intenção de colocá-lo em um clube maior. Meses depois, ele seguiu para o Santos.

Pelo mundo afora também temos alguns clubes que completaram ou vão completar 100 anos em 2010: Club Deportivo Godoy Cruz, da Argentina, fundado em 1º de janeiro. Ainda em solo hermano, o Club Deportivo Libertad, sediado na cidade de Sunchales, na Província de Santa Fé, fundado em 25 de maio de 1910. O Club Atlético Vélez Sársfield, da Argentina fundado em 1º de janeiro de 1910. E ainda, na América do Sul, o Audax Club Sportivo Italiano, do Chile foi fundado no dia 30 de novembro de 1910. Tetra-campeão do país, o clube carrega na palavra Audax o significado, em latim, de ousado.

Na Europa, a festa será do Club Sport Marítimo, fundado no dia 20 de setembro de 1910. Outro time português prestes a comemorar o centenário é o Clube Desportivo Nacional, fundado em 8 de dezembro de 1910. Também o Vitória Futebol Clube, conhecido como Vitória de Setúbal, foi fundado em 20 de novembro de 1910. Na Terceira Divisão de Portugal temos o Sporting Clube Farense, fundado em 1º de abril de 1910.

A história centenária do S.C. Corinthians Paulista, o leitor poderá conhecer em matéria publicada neste blog em especial publicada neste blog em 7 de abril de 2998, com o título "O Clube mais brasileiro". O link para acesso a matéria é: http://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=1656799841567369036&postID=3577506863701168947

Todos os clubes brasileiros já centenários

C.R. Flamengo (RJ), fundado em 15-11-1895; C.R. Vasco da Gama (RJ), fundado em 21-08-1898; E.C. Vitória, de Salvador (BA), fundado em 13-05-1899; C.A. Votorantim, de Votorantim (SP), fundado em 01-01-1900 e reorganizado em 04-02-1939; S.C. Rio Grande, de Rio Grande (RS), fundado em 19-07-1900; A.A. Atlética Ponte Preta, de Campinas (SP), fundada em 11-08-1900; Clube Náutico Capibaribe, de Recife (PE), fundado em 07-04-1901; E.C. 14 de Julho, de Santana do Livramento (RS), fundado em14-07-1902; Fluminense F.C. (RJ), fundado em 17-10-1902; Tuna Luso Brasileira, de Belém (PA), fundado em 01-01-1903; Grêmio Football Porto Alegrense, de Porto Alegre (RS), fundado em 15-09-1903; Bangu A.C. (RJ), fundado em 17-04-1904; Botafogo de Futebol e Regatas (RJ), fundado em 12-08-1904; América F.C. (RJ), fundado em 18 de setembro de 1904; Clube do Remo, De Belém (PA), fundado em 05-02-1905; S.C. do Recife (PE), fundado em 13-05-1905; A.A. Internacional, de Bebedouro (SP), fundado em 11-06-1906; C.A. Ypiranga (SP), fundado em 10-07-1906; C.A.Cravinhos, de Cravinhos (SP), fundado em 12-07-1906; Guarany F.C., de Bagé (RS), fundado em 19-04-1907; C.A. Pirassununguense, de Pirassununga (SP), fundado em 01-09-1907; C.A. Mineiro, de Belo Horizonte (MG), fundado em 25-03-1908; Villa Nova A.C., de Nova Lima (MG), fundado em 28-07-1908; E.C. Palmeirense, de Santa Cruz das Palmeiras (SP), fundado em 07-09-1908; S.C. São Paulo (RS), fundado em 04-10-1908; E.C. Pelotas, de Pelotas (RS), fundado em 11-10-1908; Associação Rocinhense de Futebol, de Vinhedo (SP), fundado em 20-01-1909; S.C. Internacional, de Porto Alegre (RS), fundado em 04-04-1909; Rio Claro F.C., de Rio Claro (SP), fundado em 09-05-1909; Paulista F.C., de Jundiaí (SP), fundado em 17-05-1909; F.B.C. Rio-Grandense, de Rio Grande (RS), fundado em 11-07-1909; Cotinguiba E.C., de Aracaju (SE), fundado em 10-10-1909; Coritiba F.C., de Curitiba (PR), fundado em 12-10-1909; C.S. Sergipe, de Aracaju (SE), fundado em 17-10-1909; S.C. Corinthians Paulista, fundado em 01-09-1910 E.C. Noroeste, de Bauru (SP), fundado em 01-09-1910; Velo Clube Rioclarense, de Rio Claro (SP), fundado em 28-08-1910 e E.C. União, de Tambaú (SP), fundado em 25-09-1910. (Pesquisa: Nilo Dias)

Pelé, com a camisa do Noroeste.(Fonte: Acervo do E.C. Noroeste)

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Morreu último remanescente da copa de 1930

Morreu hoje, 30 de agosto, na cidade de La Plata, vizinha a Buenos Aires o último remanescente da 1ª Copa do Mundo de Futebol, disputada em 1930 em gramados do Uruguai. O ex-atacante da seleção argentina, Francisco Antônio Varallo nasceu a 5 de fevereiro de 1910, em La Plata e este ano havia completado 100 anos de idade.

Varallo começou a carreira aos 17 anos de idade no 12 de Octubre, um pequeno clube do bairro de Los Hornos, em La Plata. Um ano depois, em 1928 decidiu fazer um teste no Estudiantes de La Plata, mas não teve sorte. Mesmo tendo marcado 11 gols em três partidas pelas divisões de base, o 12 de Octubre não o liberou, porque quase todos os seus dirigentes eram torcedores do Gimnasia Y Esgrima, o maior rival do Estudiantes.

Mesmo contra a vontade, Varallo foi parar no Gimnasia y Esgrima. Seu primeiro jogo foi defendendo o time “C”, com vitória de 9 X 1. Ele marcou todos os gols da goleada e foi imediatamente promovido a equipe principal. Foram os torcedores do Gimnasia que o apelidaram de “Cañoncito”, (Canhãozinho) ou “Pancho”. Lá, foi campeão argentino de 1929, quando o torneio ainda era amador.

No inicio de 1930 foi defender o Véles Sarsfield, quando este fez uma excursão pela América. Suas boas atuações fizeram com que o técnico Juan Tramutola o convocasse para treinar com o grupo que disputaria a primeira Copa do Mundo da FIFA da história. Varallo não fez feio: esperto, mostrou tudo o que sabia em campo e garantiu uma vaga na seleção alviceleste. Foi o mais jovem integrante da seleção vice-campeã de 1930.

Varallo marcou o seu primeiro gol no Mundial no dia 19 de julho, na vitória argentina por 6 X 3 sobre o México. Na partida seguinte, diante do Chile, ele sofreu uma lesão que o tirou da semifinal. No dia da final era dúvida. Fez um exame pela manhã e se sentiu bem, por isso, decidiu jogar. Era um risco, porque naquela época não havia substituições.

O final da história é conhecido: a Argentina foi para o intervalo com uma vantagem de 2 X 1 no placar, gols de Carlos Peucelle e Guillermo Stábile, mas os uruguaios conseguiram a virada e acabaram se impondo por 4 X 2. Varallo quase decidiu o jogo ao acertar um chute no travessão. A Argentina ainda estava na frente, vencendo por 2 X 1. No mesmo instante voltou a sentir a lesão no joelho. Ao fim do jogo mal conseguia andar. Um dos momentos mais felizes da Copa de 1930, segundo Varello, foi a visita que o grande cantor de tangos, Carlos Gardel fez aos jogadores argentinos na concentração.

Em 1931, Varallo se transferiu para o Boca Juniors,vendido por AR 8 mil, onde virou ídolo e marcou 194 gols. Esse recorde só foi superado em 2008, por Martin Palermo. Pela equipe de Buenos Aires, conquistou os campeonatos argentinos de 1931, 1934 e 1935.

Ele também deixou a sua marca na seleção argentina, com a qual conquistou o Campeonato Sul-Americano (futura Copa América) de 1937, depois de uma dramática decisão contra o Brasil, vencida na prorrogação por 2 X 0. Aposentou-se aos 29 anos, em 1939, devido a uma lesão crônica no joelho, sofrida em 1937. A partir dali, jogava e forçava muito o joelho. Ficava uma semana sem treinar, se recuperando. Dois anos depois, já andava muito mal e sua mãe lhe pediu para que não jogasse mais.

Mas viveu o suficiente para ser celebrado nas festas de centenário do Boca, em 2005. A revista “Trivela” testemunhou interessante diálogo entre Varallo e as crianças que lhe pediam autógrafos e queriam tirar fotos com ele, que dizia: “Mas vocês nunca me viram jogar”. E as crianças respondiam: “Por causa do senhor, Don Pancho, meu avô virou torcedor do Boca Juniors. E por isso, eu também sou”.

Depois que parou de jogar, Varallo costumava dizer que havia conquistado muitas coisas boas ao longo da carreira, entre elas ter defendido a seleção argentina e ter sido durante anos o recordista de gols com a camisa do Boca. Mas garantia que não não houve dor maior na sua vida do que ter perdido a final do Mundial de 1930 para o Uruguai.

Em sua carreira conquistou 3 Campeonatos Argentinos (1931, 1934 e 1935), 1 Campeonato Sul-Americano (atual Copa América, 1937) e 1 Vice-campeonato da Copa do Mundo da FIFA (1930). Em 1933, após balançar as redes 34 vezes, Varallo foi o artilheiro do Campeonato Argentino e da América do Sul.

Fora dos gramados foi distinguido com o título de “Cidadão Ilustre de La Plata” (1998), “Ordem do Mérito da FIFA” (1994), prêmio único para um argentino, uma homenagem aos maiores jogadores da história, também recebido por Yashin (URSS), Zico, Boby Moore (Inglaterra), Muller e Beckembauer (Alemanha) e Pelé, entre outros. Em 2006 ainda recebeu a “Ordem do Mérito da CONMEBOL”.

Em fevereiro, quando Varallo completou 100 anos, o presidente da FIFA, Joseph S. Blatter, fez questão de prestar-lhe homenagem, escrevendo na revista Fifa World, em sua edição de março deste ano: "Muita coisa mudou no futebol. Para poderem disputar a Copa do Mundo da FIFA de 1930, no Uruguai, as seleções da Bélgica, França, Romênia e Iugoslávia viajaram de navio. Havia poucos jornalistas presentes.

Mas de lá para cá tudo passou a ser diferente, tudo ficou mais rápido, mais espetacular, até chegarmos à tecnologia 3D. Mas independentemente de todas estas mudanças, a essência do futebol segue a mesma. Isso fica claro quando vemos a história do Francisco Varallo, que completou cem anos e a quem eu parabenizo por tudo o que ele fez". (Pesquisa: Nilo Dias)

Com a morte de Francisco Varallo, o futebol mundial está de luto. (Foto: Acervo do Boca Juniors)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O “Cemitério dos Elefantes”

Os argentinos gostam de dar apelidos aos seus estádios, a exemplo de nós, brasileiros. Apenas alguns exemplos: “La Bombonera”, do Boca Juniors, cujo nome oficial é Estádio Alberto J. Armando, um ex-presidente do clube. O apelido se deve ao formato do estádio que lembra uma caixa de bombons. “El Cilindro” (Avellaneda), do Racing, que assim é chamado por causa de sua arquitetura. A denominação oficial homenageia o ex-presidente argentino, Juan Domingo Perón.

O Estádio do Club Atlético Vélez Sarsfield oficialmente chama-se José Amalfitani, ex-presidente do clube. Mas é conhecido popularmente por “El Fortin de Liniers”, denominação dada pelo jornalista Hugo Marini, do jornal "Crítica", em alusão à aparência do pequeno campo e a sua fama de baluarte.

O Estádio Lisandro de la Torre, é também chamado de “Gigante de Arroyto. Fica no bairro de Arroyto na cidade de Rosario, onde o Rosario Central joga suas partidas. Temos ainda o “La Ciudadela”, localizado no bairro de igual nome, onde o San Martin, de Tucumã sedia seus jogos. Viaducto”, do Arsenal Sarandi, “Nuevo Gasômetro”, do San Lorenzo, “La Fortaleza”, do Lanús e “Coloso del Parque”, do Newell's Old Boys.

Mas nenhuma denominação é mais criativa que o “Cemitério dos Elefantes”. O nome oficial é Brigadeiro General Estanislao Lopez, mas ficou popularmente conhecido por “Cemitério dos Elefantes". Está localizado no Bairro Centenário, na cidade de Santa Fé, na Argentina e pertence ao Club Atlético Colón, time chamado pelos adversários de "Sabaleros" ou "Negros". O estádio foi inaugurado no dia 9 de julho de 1946, com a vitória de 2 X 1 do Colón sobre o Boca Juniors.

O estádio, que tem capacidade para 32.500 pessoas já foi palco de importantes competições como a Copa Santa Fé, Copa Mundial Juvenil de Rugby 2010, e será um dos locais onde se disputará a Copa América do ano que vem.

No Dia 4 de agosto de 1952, o Conselho de Administração decidiu dar ao estádio o nome de Eva Duarte de Perón, em homenagem a então primeira dama do país, que apoiou a filiação do Colón a Associação de Futebol da Argentina (AFA). Eva Perón morreu em 26 de Julho do mesmo ano.

Depois, com o golpe de Estado que derrubou o presidente Juan Domingo Perón, os nomes dele e de sua esposa foram desgraçados pelos novos governantes, razão pela qual o estádio foi rebatizado com o nome de "Brigadeiro General Estanislao Lopez, que foi um caudilho na provincia de Santa Fé.

A denominação “Cemitério dos Elefantes” foi dada pelo jornalista Algel José Gutiérrez, porque lá todos os grandes clubes argentinos perderam para o Colón. O apelido se consolidou quando em 10 de maio de 1964, o Colón derrotou ao famoso time do Santos, de Pelé e companhia por por 2 X 1.

O time brasileiro fazia um giro por gramados da Argentina. Já havia ganho em Buenos Aires de dois dos grandes do futebol argentino, Boca por 4 X 3, em 5 de maio e Racing por 2 X0, em 7 de maio.A imprensa e o público consideravam o jogo contra o Colón como um simples treino para o Santos. Tudo indicava uma vitória fácil.

O Santos fez 1 X 0, aos 37 minutos do primeiro tempo.Na fase final, aos 6 minutos Lopes empatou, e Demetrio Gómez quase aos 45 minutos virou para 2 x 1. O gigante brasileiro foi mais uma vitima a cair no “cemitério dos elefantes”. Tempos depois, em 7 de setembro de 1964 o Colón também bateu a Seleção Argentina, por 2 X 0.

Entre dezembro de 1948, ano em que começou a jogar a segunda divisão, até novembro de 1952, o Colón se manteve invicto em seu estádio por 63 partidas, com 47 vitórias e 16 empates. E toda vez que jogou um amistoso contra qualquer dos cinco grandes, sempre venceu.

No dia 26 de maio de 2007 jogaram no “Cemitério dos Elefantes” o selecionardo argentino de rugby “Los Pumas”, contra a seleção da Irlanda, num teste para o pré-mundial da modalidade que foi disputado na França. No dia 20 de maio de 2009 a seleção de futebol da Argentina enfrentou a seleção do Panamá, em jogo amistoso internacional.

Em 1 de junho de 2009, en Nassau (Bahamas) durante um Coingresso extraordinário da Conmebol, o presidente da AFA, Julio Grondona, ratificou a Argentina como organizadora da Copa América de 2011 e confirmou que Santa Fé será uma das subsedes da competição.

Alguns anos depois, em 26 de março de 1967 o mítico reduto, que viu cair tantos grandes times, fez uma nova vitima internacional, dessa feita o Peñarol, de Montevidéu, tricampeão sul-americano e campeão mundial. Da mesma forma que Santos e Seleção Argentina, o Peñarol não resistiu aos “Sabaleros”, que venceram por 3 x 2, aumentando a extensão do cemitério futebolístico.

O dono do “Cemitério dos Elefantes”, o Club Atlético Colón foi fundado no dia 5 de maio de 1905, e surgiu por iniciativa de um grupo de crianças em idade escolar, que como recreação tinha adaptado a prática de futebol, em um campo vago popularizado como "campito". Entre os fundadores estavam os irmãos Ernesto e Adolfo Celli (“Alemão”), Atílio Badalini (“Gringo”), Cullen Funes, seu irmão William Cullen Funes, Geadá Montenegro, Mariano C. Rodriguez, Helvecio Fontana, John Adam, Juan Rebechi, seu irmão Antonio, Pedro Anibal Rebechi (“Galo”) e Humberto Sosa.

O clube foi oficialmente fundado e batizado com o nome de "Columbus Foot-Ball Club", uma homenagem ao navegador Cristóvão Colombo, em reunião realizada no dia 5 de Maio de 1905. As cores escolhidas para as camisas foram o vermelho e preto. Cada membro do clube era obrigado a contribuir mensalmente com dez centavos, para a compra e manutenção dos equipamentos.

Tempos depois, foi descoberto que existia outro time na cidade com as mesmas cores. Então foi disputado um jogo para ver quem seguiria vestindo vermelho e preto. A partida foi disputada em um campo da zona sul da cidade de Santa Fé, conhecido por “Canchitas”. O “Columbus” venceu e ganhou o direito de continuar usando as cores que até hoje o identificam. Em Março de 1920, em assembléia geral extraordinária foram aprovados os novos estatutos do clube, e também a mudança do nome para Club Atlético Colón, que ostenta até hoje.

Entre os jogadores que passaram pelo Colon em todos esses mais de 100 anos destacam-se Rubén Ernesto Aráoz, recordista de jogos pelo clube, atuou em 284 partidas e Edgardo Roberto Di Meola, o maior artilheiro do time, com 70 gols.

Muitos também foram os técnicos de renome que dirigiram o Colón. Entre eles Juan José Pizzutti, Néstor Rossi, José María Silverado, aniel Córdoba, José Etchegoyen, Francisco Ferraro, Jorge Fossatti, que recentemente treinou o Internacional, de Porto Alegre, Miguel Angel Russo e muitos outros. Atualmente, o presidente do clube é José Vignatti. (Pesquisa: Nilo Dias)

O "Cemitério dos Elefantes", (Foto: Acervo do Club Atletico Colón)