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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A praga de "Arubinha”

O programa “Globo Esporte”, da Rede Globo, apresentou uma série de reportagens contando histórias vividas no futebol carioca. Em uma delas contou parte da famosa praga rogada pelo ponta-esquerda "Arubinha", do Andarahy, clube extinto do Rio de Janeiro. O fato teria ocorrido no dia 30 de dezembro de 1937, uma quarta-feira, depois que o Vasco da Gama aplicou uma goleada de 12 X 0 no adversário.

O time da "Cruz de Malta" lutava pelas primeiras posições no campeonato. A chuva começou cedo e continuou por toda a tarde e chegou até a noite. Normalmente, nessas condições, o jogo seria transferido. Mas ninguém lembrou disso, pois era uma partida sem muita importância, pois todos sabiam que o Vasco ia vencer. E jogo assim não se transfere.

O Andarahy alugou alguns carros, saiu com o time da praça Sete e foi sem problemas até as Laranjeiras. Às 21 horas em ponto, o juíz Haroldo Dias da Motta entrou em campo, com as calças arregaçadas. E dê-lhe apito chamando as duas equipes, pois com um tempo daqueles, quando mais cedo o jogo começasse, melhor.

O Andarahy entrou em campo, mas nada do Vasco. Fizeram a volta do gramado, levantaram urras para as arquibancadas vazias. E toca a esperar pelo Vasco. Haroldo Dias da Motta apitou com mais força, talvez os jogadores vascaínos não tivessem escutado.

Mas o imprevisto havia ocorrido, um acidente de trânsito fez com que a delegação vascaína se atrasasse em mais de uma hora. Na esquina de Figueira de Melo com Francisco Eugênio, apareceu um caminhão da limpeza pública e pegou um dos carros cheio de jogadores do Vasco, e havia feridos graves.

Oscarino fora para o raio X, estava com uma costela partida. Também Rey não poderia jogar, nem Mamede e Cuco. Os outros jogadores saíram do Pronto Socorro em direção ao estádio. Isso foi determinante para que o Andarahy esperasse pelo adversário. A voz geral era de que o Andarahy queria mais a amizade do Vasco, que os improváveis dois pontos.

O Andarahy, se quisesse teria ganho os pontos daquele jogo, mas preferiu esperar que o adversário chegasse. Isso custou caro, o Vasco não quis saber de agradecimentos e aplicou uma estrondosa goleada de 12 X 0. Dizem que antes do jogo começar, "Arubinha" teria feito uma advertência: “Eu só peço uma coisa: que o Vasco não abuse do escore".

E por aí começa a história do “Sapo de Arubinha”. Quando o jogo acabou, ele teria se ajoelhado ainda dentro do campo, juntado as mãos, olhado para cima e dito em alto e bom som: "Se há um Deus no céu, o Vasco tem de passar 12 anos sem ser campeão".  Ou seja, um ano por gol sofrido na goleada de 12 X 0. Se o clube da "Cruz de Malta" tivesse feito só 1 X 0, ou no máximo 3 X 0, nada disso teria ocorrido

Uns dizem que "Arubinha" não se contentou com isso e que no dia seguinte foi até São Januário para reforçar a praga. Entrou escondido no gramado e enterrou um sapo com a boca costurada, ao mesmo tempo em que repetia a praga dita logo após o jogo. Mas o fato é que o Vasco passou a perder jogos inesperados e acabou a temporada em terceiro lugar, oito pontos atrás do campeão, o Fluminense.

Os anos se passaram e nada do Vasco ser campeão. Os dirigentes, que a principio não acreditavam na história do sapo, mandaram revolver o campo, mas não acharam nada. O negócio foi chamar o "Arubinha" e lhe oferecer dinheiro para que contasse onde havia enterrado o sapo. Mas ele negou que tivesse feito isso. Disse que era tudo história de torcedor.

E a praga continuou a fazer estragos. O Vasco gastava rios de dinheiro contratando os melhores jogadores, mas não ganhava nada. Tudo indicava que tinha mesmo um sapo enterrado em São Januário. E ainda uma dúvida pairava sobre os vascaínos: a praga dos 12 anos começava em 1937, ou a contar de 1934, quando o Vasco fora campeão pela última vez?

O Vasco nem contou o campeonato de 1936, que ganhou fora da Liga Carioca, onde estavam Fluminense, Flamengo e América. A Federação Metropolitana, que tinha Vasco, Botafogo, Bangu e São Cristóvão, era a entidade oficial.

A conclusão era de que se fosse contar com o campeonato de 1936, o da Federação Metropolitana, o clube teria de esperar mais tempo para que a praga se cumprisse. Talvez só fosse campeão em 1948. Por isso, todo vascaíno torceu para que a praga vigorasse a partir de 1934. O Vasco só voltou a ser campeão em 1945, onze anos depois.

Tem gente que lembra a goleada de 24 X 0 que o Botafogo impôs ao Mangueira. Mesmo sem que se tenha conhecimento de alguma praga, a verdade é que depois disso o Botafogo teve de esperar 20 anos para ser campeão de novo. Em resumo, se tivesse vencido de 4 X 0, certamente não precisaria esperar tanto tempo para levantar a taça outra vez.

Pode até ser verdade que "Arubinha" nunca tenha enterrado sapo algum no gramado de São Januário, mas a verdade é que o Vasco penou 11 anos sem ganhar nada. Teria sido efeito da praga ou apenas uma coincidência? Ninguém pode explicar. E assim vai ficar para toda a eternidade, pois "Arubinha" morreu por volta dos anos 80. (Pesquisa: Nilo Dias)

O jornalista Mário Filho escreveu um livro em que conta a história de "Arubinha". (Foto: Divulgação)