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terça-feira, 10 de abril de 2018

O macumbeiro do profissionalismo

Abelard Jacques Noronha, um dos melhores presidentes da história do Sport Club Internacional, de Porto Alegre, era natural de Vacaria (RS), onde nasceu no dia 22 de outubro de 1911. Faleceu em fevereiro de 1997. Desportista destacado, também foi piloto de automóveis, tendo participado de diversas corridas entre 1934 e 1943.

Em outubro de 1942 ele assumiu a presidência do clube colorado, permanecendo no cargo até dezembro de 1944. Se constituiu em um dirigente vitorioso. Nos seis anos queu presidiu o clube ganhou nada mais, nada menos, do que seis títulos, em seis possíveis: tricampeão municipal e tricampeão estadual.

Sob seu comando o clube disputou 105 partidas oficiais e perdeu apenas sete. O ataque marcou 415 gols e a defesa foi vazada em 174 oportunidades.

Era um homem de ação. Gostava de grandes conquistas. Também foi responsável por importantes melhoramentos no antigo “Estádio dos Eucaliptos”, cada do Internacional, antes da construção do Beira Rio. Em 1943, construiu o pavilhão social que propiciou maior abrigo e conforto aos torcedores.

Presidente no tempo do “Rolo Compressor”, teve de fazer grandes esforços para manter os principais jogadores, que sofriam assédio de clubes do Rio de Janeiro e de São Paulo, na época os principais centros esportivos do país. E sempre respondia: “Não negocio os jogadores do meu clube.”

Os grandes feitos do “Rolo Compressor” chegaram a merecer do famoso compositor musical, Ary Barroso, uma crônica intitulada “O Macumbeiro do Profissionalismo Indígena”, que transcrevo integralmente:

Nos áureos tempos do amadorismo puro, o jogador escolhia livremente o clube dos seus afetos e envergava a sua camiseta com orgulho e entusiasmo. Os vôos eram raros e, quase sempre, provocavam escândalo.

Quando um atleta qualquer trocava de clube, era cognominado sarcasticamente de borboleta. Os borboletas podem ser os precursores da “insensibilidade clubística” que contaminou o nosso profissionalismo. O regime da remuneração organizada (ou desorganizada?) veio acabar definitivamente com o lado emocional do futebol.

Hoje em dia o jogador não tem mais preferência. Vai para o Grêmio que melhor lhe pagar. Não joga por causa do clube, senão pelo contrato a prazo fixo. Tanto se lhe faz vestir uma camisa branca ou preta, azul ou vermelha, aqui ou em São Paulo, no Norte ou no Sul. Todo fim de ano é este corre-corre tremendo em busca de craques, com operações mais ou menos escusas e expedientes geralmente inferiores.

No panorama do profissionalismo brasileiro, porém, há um grupo de jogadores sui generis. As abarrotadas arcas de dinheiro dos clubes milionários do Rio e de São Paulo absolutamente não seduzem o jogador deste grupo. 

São profissionais com mentalidade amadorista. Sentem-se bem onde estão e ouvem com singular desinteresse as ternas e embaladoras canções das sereias astutas que pretendem abraçar. Refiro-me ao notável grupo de profissionais do Internacional de Porto Alegre.

O estribilho destas canções de amor é o mesmo com pequeninas adaptações:
“O que é que vocês pretendem da vida, perdidos lá pelas lonjuras dos pampas? A felicidade está por aqui. Há dinheiro, fama, popularidade, cartaz, enfim... Vamos pensar no dia de amanhã”.

E eles continuam firmes no Internacional... Sai jogador do Pará, de Pernambuco, da Bahia, de Minas Gerais, do Paraná. Do Internacional não sai. Os emissários vão ao Sul e voltam desnorteados com o livro de cheques intacto. 

Que será isso? Não é por falta das sereias cantarem para eles o chorinho buliçoso e metálico das cifras. Há qualquer segredo no apego destes profissionais do Internacional ao próprio clube.

Alguém dirá: “São muito burros”. Responderei: “De burro não têm nada. São divinamente sagazes e inteligentes. Querem saber o que um deles me disse?

Não me interessam as propostas formidáveis que constantemente nos fazem representantes de clubes cariocas e paulistas. Não deixo o Internacional. Vivo bem por lá, rodeado de amigos sinceros, protegido por meus diretores e amparado pela minha torcida. Por que hei de abandonar o agradável ambiente em que vivo, pela ambição de mais alguns cruzeiros?

Nem tudo neste mundo se pode comprar com dinheiro. Não, estou satisfeito no Internacional e já que comecei neste clube, nele hei de terminar minha carreira. Se o futebol brasileiro precisar de meus modestos recursos, estarei a sua disposição com prazer e honra. Agora, clube, só o meu.

Quando o craque terminou eu ainda continuei olhando para ele, meio tonto, meio abobalhado, sem capacidade para articular uma palavra. Percebendo minha atitude, sublinhou as suas expressões com este período definitivo: É isso mesmo, “seu” Ary. Uma espécie de tiro de misericórdia.

Sacudi a cabeça como quem espanta o sono e rapidamente dei um pulo na cadeira e fui cair no gabinete de trabalho do senhor Abelard Noronha, na capital gaúcha, para perguntar-lhe com a sofreguidão dos curiosos impenitentes:

Presidente, o senhor que é macumbeiro do profissionalismo indígena, o senhor que faz despachos terríveis e os coloca na porta da casa de seus jogadores a ponto de inocular-lhes a mística internacionalista, o senhor que não tem medo de tenores e muito menos de sereias, o senhor feiticeiro dos pampas, quer me revelar a sua reza milagrosa?

Olhe, quem sabe não é isso que está faltando ao futebol brasileiro e nós seremos capazes de fazer uma revolução no profissionalismo fazendo de todos os jogadores gente da marca dos seus jogadores. Ah, pai de santo invencível, me dá um pouco de seu “marafo”.

Porque, meus senhores, a obra do presidente do Internacional tem sido tão útil, tão grande e tem produzido tão admiráveis frutos que ele pode ser apontado como único em sua terra, pondo amor no coração dos seus contratados e retendo no seu clube astros de invulgar brilho, como este gigantesco Ávila, este satânico Adãozinho, este incansável Abigail e esta maravilha que é Tesourinha. Eta macumbeiro brabo e perigoso.

Abelard Jacques Noronha era filho de São Sebastião do Cai. Segundo contava sua viúva, Hilda Arregui Noronha, ele era realmente apaixonado pelo Internacional. Tanto que escrevia um diário descrevendo todos os jogos do seu time. Era um estudioso do futebol e, conforme relata o cronista Wianey Carlet,  "era considerado grande entendedor do esporte”.

Abelardo era um homem elegante, alto, magro, usava gravata com alfinete de ouro e abotoaduras. Sempre que o Internacional perdia um treinador e estava com dificuldade para encontrar um substituto, alguém lembrava, invariavelmente: “Chama o Abelard”.

E lá ia o homem do alfinete de ouro e abotoaduras. Orientava treinamentos, definia escalações e comandava o time até o Inter encontrar um profissional da área. Abelard foi treinador do Inter em duas ocasiões, nos anos de 1960 e 1963.

Em outubro de 2010 o Beira-Rio recebeu uma visita especial, da viúva do ex-presidente do Internacional nos anos de 1943 e 1944, Abelard Jacques Noronha. Ela foi recebida no departamento de comunicação social do Clube.

Ela estava na ocasião com 94 anos, conversou com o vice-presidente, Gelson Pires, que enfatizou a sua visita. “Só quem não conhece a história do Inter, não valoriza a importância de Abelard Noronha como presidente. A Hilda representa todas essas coisas boas que ele trouxe para nós, colorados”, disse.

A esposa do ex-presidente colorado chegou acompanhada de sua neta, Bibiana Noronha, que não deixa de recordar das histórias e dos objetos adquiridos pelo avô. “Ele amava realmente o Inter. Até fez um diário contando como foram todos os jogos do time”, exemplificou.

Ao final da visita, todos se dirigiram à sala presidencial do Clube, onde estão expostas as fotos dos presidentes. Lá, Hilda se encontrou novamente com Abelard Jacques Noronha. Um momento, de fato, emocionante.

Nos anos 1940 o Grêmio, o eterno rival, só mandava à campo jogadores da cor branca, conquistou apenas duas vezes o campeonato regional, enquanto o Internacional, que desde os anos 30 se utilizava de negros, no mesmo período vencera 12 campeonatos. "Era negro? Era bom? Era nosso", foi uma frase imortalizada por Abelard Jacques Noronha."

A época em que Abelard foi presidente, fez parte da mais brilhante fase do Internacional, a do “Rolo Compressor”. Esse era o nome de um time brilhante que conquistou o exacampeonato, dos anos 1940 a 1945.

Adãozinho, um dos maiores craques colorados, foi para o Internacional em 1943, descoberto pelo presidente Abelard Jacques Noronha, atuando no time de aspirantes. Em 1944 já era titular do famoso time colorado.

Adãozinho disputou 30 Grenais, vencendo 19, empatando 7 e perdendo 4, marcando 16 gols em clássicos. Jogou pela Seleção Brasileira em duas partidas oficiais: Brasil 1 X 1 Uruguai, em 1947, e Brasil 2 X 4 Uruguai, em 1948. Foi convocado para a Seleção na Copa de 1950.

Abelardo Jacques Noronha, filho de Abelard Jacques Noronha, ex-proprietário da “Fazenda do Socorro”, confirma que recuperou 4.500 peças, roupas e objetos, que pertenceram à sua tia Maria de Lourdes Noronha, conhecida pela cultura e por suas viagens à Europa.

A maior parte de seus vestidos estavam expostos no “Museu da Baronesa”, em Pelotas, mas foram recuperados e, em comodato, cedidos ao “Museu Municipal", esclarece Abelardo, que também atende pelo apelido de Nê.
Ele herdou do pai a paixão pelo futebol. Abelard Jacques Noronhafoi conselheiro e presidente do S. C. Internacional, morreu em 1997. Sua mãe, com mais de 90 anos, reside em Porto Alegre.

Através da lei Nº 8190 de 15 de julho de 1998, a prefeitura de Porto Alegre homenageou Abelard Jacques Noronha dando o seu nome ao logradouro que liga a rua Mostardeiro ao Parque Moinhos de Vento, no bairro de mesmo nome, com a denominação de “Largo Abelard Jacques Noronha”.

Tarde de um dia de outubro de 1944, um sábado, véspera de decisão do Campeonato de Porto Alegre, entre Grêmio e Internacional. Um “Cadillac” preto parte do estádio dos Eucaliptos, no bairro Menino Deus, rumo ao bairro Tristeza, para o Sul da cidade.

Dentro do carro, vão o presidente do Internacional, Abelard Jacques Noronha, e os jogadores Tesourinha, Nena, Alfeu e Motorzinho. Durante o percurso, vão acertando os últimos detalhes do plano.

Entram na “rua da igreja” e chegam à cada de Carlitos. Carlitos era o ponta-esquerda do Internacional, ídolo, um dos artilheiros do time, e foi operado dos meniscos do joelho direito, há 27 dias. Desde que saiu do hospital, ficava em casa repousando. Só vez ou outra é que saia, para pescar uns lambaris no Rio Guaíba, ali perto.

“Carlitos – é Nena, o capitão quem fala num tom amigo mas firme. Viemos te buscar para a concentração”.

“Mas o que é que eu vou fazer lá? Não vou jogar”. Abelard argumenta que quer ver todos os jogadores juntos. Não quer que falte ninguém nessa hora. Está em jogo o pentacampeonato, e nenhum detalhe deve ser descuidado. Afinal, todos os jogadores são como irmãos.

Os cincos desfiam argumentos ao mesmo tempo. E Tesourinha passa o braço sobre o pescoço de Carlitos. “Vamos lá, rapaz, tu sabe como pode ser útil só com a tua presença”. Carlitos acaba concordando. Pede licença para ir buscar o pijama e escova de dentes. Quando se afasta, os outros jogadores piscam o olho.

Manhã de domingo. Cai uma chuva fininha. Nesta cidade de 250 mil habitantes, a semana inteira só se falou na decisão do campeonato. No Gre-Nal  – “o Derby”, “O Clássico dos Clássicos”, “O Choque-Rei”. Agora, ainda mais.

O jogo foi no Estado da Timbaúva, do Força e Luz, no bairro Caminho do Meio. O Força e Luz não costumava ganhar campeonatos, mas a “Timbaúva” era maior do que a “Baixada”, do Grêmio, e do que o “Eucaliptos”, do Internacional. Podia receber umas 13 mil pessoas.

No estádio dos Eucaliptos, depois do almoço, Tesourinha, Nena, Alfeu e Motorzinho cercam Carlitos ao lado da mesa de bilhar. “Tu vai jogar - diz-lhe Nena”. Carlitos franze a testa, arregala os olhos. “Que é isso? Eu fui operado não faz um mês”.

“Vai jogar sim”, entra Tesourinha com seu sorriso. “Mas eu estou sem treinar”. Alguns minutos de conversa, e Carlitos acaba convencido. “Quer saber de uma coisa? Vamos lá”.

Os outros jogadores soltam um urro e vão levar a boa nova ao técnico Orlando Cavedine. Às 15h30min, estoura o foguetório. O Grêmio entra em campo. Vem com Júlio - Clarel e Rui. Vinicius - Touguinha e Sanguinetti. Bentevi e Bombachudo. Ramón Castro - Ivo Aguiar e Mário.

O técnico, que senta no banco usando terno e gravata, é Telêmaco Frazão de Lima. Logo a seguir, mais foguetes. É o Inter que entra: Ivo - Alfeu e Nena. Assis - Ávila e Abigail. Tesourinha - Volpi - Adãozinho - Motorzinho e Carlitos.

As três rádios de Porto Alegre descrevem as cenas. Na cabine da Rádio Gaúcha está Oduvaldo Cozi, famoso narrador carioca, que veio à passeio e foi convidado a narrar o jogo. Com sua voz anasalada, Cozzi recorreu as palavras poéticas para expressar as emoções que antecedem o grande jogo.

O juiz, o elegante senhor Henrique Maia Failace, o “Rei do Apito”, ordena o início. Adãozinho passa a Tesourinha, que estica um passe em diagonal a esquerda. Carlitos entra correndo, leva no peito e, da entrada da área, de canhota, acerta o ângulo esquerdo.

Vai lá dentro do gol, pega a bola, corre para o centro e coloca-a na marca. A torcida do Inter sacode as arquibancadas fazendo a maior barulheira. Os jogadores do Grêmio, como sua torcida, estão paralisados. Quando vão tocar na bola pela primeira vez, já está 1 X 0.

Mas reagem, tornando o jogo parelho. O Grêmio era um bom time. Tinha Júlio, um goleiro que espira confiança; Clarel, beque-central forte, autoritário; Touguinha, centromédio lutador e técnico; Bentevi, um ponta veloz; e, principalmente, Ramón Castro, um centroavante uruguaio de grande classe, exímio cabeceador.

Mas o Internacional era o “Rolo-Compressor”, o grande time do Estado, com um grande jogador em cada posição. Os seus maiores destaques naquela tarde eram Tesourinha e Adãozinho. Tesourinha, vindo de trás, ziguezagueia entre os adversários em dribles estonteantes. E Adãozinho um negrinho atrevido, tornavam a vida de Clarel um inferno.

Aos 25 minutos, Carlitos se chocou com Vinicius e caiu gemendo. Sentiu o joelho. Alfeu, Nena e Tesourinha se olharam, sérios, com uma certa dor na consciência. 

Carlitos se recusava a sair. Não queria deixar o time com 10. já cumprira a sua parte, mas achava que tinha de ir até o fim. Quando o primeiro tempo terminou, era o Grêmio que estava pressionando, aproveitando a vantagem.

Aos 8 minutos do segundo tempo, Carlitos encontrou forças para bater um escanteio. Júlio respondeu de soco e a bola cai nos pés de Volpi. Foi o segundo gol. Agora, viria o baile, apostavam os colorados, certos de que o Grêmio estava morto.

Mas aquela seria, a rigor, a última carga do Internacional sobre o gol do Grêmio. A partir dali, o jogo exigiu muito mais que raça, garra – heroísmo até – do que qualquer outra coisa.

Lodo depois do gol, o lateral-direito Assis se machucou e foi ficar parado na ponta-direita – Volpi veio para o meio e Tesourinha passou para o lugar de Assis. Carlitos andava capengando pela ponta-esquerda. O Internacional recuou. O Ataque se resumia a Adãozinho.

O Grêmio foi todo para a frente. Aos 22 minutos, Ramón Castro cabeceou e a bola bateu na trave. Aos 23, Sanguinetti esticou o passe a Bentevi na direita. O cruzamento veio alto, no segundo poste.

Ramón Castro, desta vez acertou. A torcida do Grêmio se levantou. Em gritaria, pedia a vitória. Confiava nela. Afinal, o Grêmio tinha tradição de grandes viradas – quantas vezes fez dois, três gols em cinco minutos? Certamente, ia ser fácil agora, que o Internacional tinha apenas nove homens úteis.

Pouco depois, Alfeu torce o joelho. Ficaram apenas oito homens úteis. A torcida do Grêmio se agitava ainda mais. Lá dentro os jogadores respondiam atacando em avalanche. Aos 30, o goleiro Ivo defendeu um gol certo de Bentevi. Aos 32, Nena desarmou Ramón Castro de carrinho, quando o uruguaio ia marcar.

O ataque do Internacional só tinha aleijados: Assis, Alfeu e Carlitos. Adãozinho estava na intermediaria, tentando segurar o jogo. O meia Motorzinho era um beque ao lado de Nena. Ávila, o centromédio, um enorme negro de voz forte, postava-se na meia-lua da área e comandava a resistência dali. Não se cansava de rugir para Volpi. “Luta, castelhano covarde”.

Volpi, muito clássico, muito jovem, tinha medo de meter o pé nas divididas. Não era homem para Gre-Nal. Nesta hora, era como se o Internacional estivesse jogando com sete.

E o Grêmio em cima. Touquinha, sem marcação, dav as cartas no meio-de-campo. Os laterais Vinicius e Sanguinetti viraram atacantes, o cerco era completo. O gol deveria sair a qualquer momento. Não era possível que Ivo e seus beques improvisados continuassem resistindo por muito tempo.

O jogo ia chegando ao fim. Aos 42, Ivo faz a sua maior defesa, num chute de Bombachudo. Aos 45, depois da cobrança de um escanteio, formou-se o entrevero e Ivo ficou fora do lance. Ivo Aguiar tinha o gol livre à sua frente e tocou. Quando ia gritar gol, um negro se atirou esticando a perna, desviando e ficando ali, deitado, gemendo, apertando o joelho. Era Alfeu.

O Jogo terminou assim. Junto com o alívio, veio a vontade de chorar. E muitos jogadores choraram abraçados a Assis, Alfeu e Carlitos – os heróis. Mas a torcida pulava o parapeito e acordava os jogadores erguendo-os no ar; o Internacional era pentacampeão da cidade.

Em carros abertos, eles foram levados até o “Estádio dos Eucaliptos” bem devagar, cercados pelo povo. Lá durante o Carnaval, apareceram o presidente do Grêmio, Martim Aranha, e o diretor Balbino Ermida, para apresentarem os cumprimentos de seu clube. E foram muito aplaudidos. Os dirigentes do Internacional anunciaram o prêmio: três contos de réis para cada jogador.

Enquando o Cadillac preto levava Carlitos de volta, ele ia pensando: “Três conto de réis é a metade de um terreno que tem lá perto de casa. Valeu a pena? Não, não foi por isso que eu concordei em entrar em campo”.
Depois disso, ficou um mês em casa. Curando o joelho. (Pesquisa: Nilo Dias)