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terça-feira, 31 de maio de 2016

Há 38 anos morria o craque Boszik

Uma das seleções mais poderosas que o mundo conheceu foi sem dúvida a da Hungria, na Copa de 1954, disputada na Suíça. Nos cinco jogos que disputou, conseguiu a façanha de ser até hoje, passados 62 anos a seleção mais ofensivas da história, com o recorde de gols em uma única edição de Copa do Mundo, 27.

A Seleção Magiar assombrou o mundo, como na goleada de 6 X 3 sobre a Inglaterra em 1953, quando se preparava para a Copa do Mundo. O ataque húngaro era uma verdadeira máquina de fazer gols, com Puskás, Kocsis, Czibor, Hidegkuti e Budai. Esse cinco nomes se eternizaram, jamais serão esquecidos.

József Bozsik jogava mais atrás, era um gênio de seu tempo, mas pouco reconhecido. Sua genialidade no futebol começou na infância, ao lado de Puskás, talvez a maior lenda do futebol húngaro em todos os tempos. Os dois eram vizinhos e juntos transformaram a história do Kispest, posteriormente chamado de Honvéd. E, também a seleção.

Ferenc Puskás, ingressou na equipe principal do Kispest dois anos depois de Bozsik. A mudança de nome veio em 1949, quando a equipe tornou-se do Exército. Até então mediana, o Honvéd tornou-se um dos mais fortes times do país, recebendo vários craques recrutados por Sebes, dentre eles Gyula Grosics, László Budai, Sándor Kocsis e Zoltán Czibor.

Os títulos que o Kispest nunca conquistara não demoraram a chegar após a transformação. Bozsik faturou os campeonatos húngaros em 1950, 1952, 1954 e 1955.

A primeira partida de Bozsik pela Hungria foi em 1947. O país, porém, decidiu não participar das eliminatórias para a Copa do Mundo de 1950, juntamente com os demais comunistas do Leste Europeu, com exceção da Iugoslávia.

Cinco anos depois, Bozsik ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Verão de 1952 com a seleção. O Honvéd era a base do time, que no início da década de 1950 viveu uma invencibilidade ainda não igualada de 32 partidas.

A consagração definitiva ocorreu na Copa do Mundo de 1954: no ano anterior, a Hungria ganhou a Copa Dr. Gerö, precursora da atual Eurocopa, e bateu por 6 X 3 a Inglaterra em pleno Wembley, tornando-se a primeira seleção não-britânica a vencer os ingleses nos domínios deles.

A um mês do mundial, na revanche do English Team em Budapeste, a Hungria ampliou seu favoritismo, massacrando por 7 X 1.

A Seleção Magiar conseguiu fazer uma revolução tática no futebol da época, a qual dependia bastante de Bozsik, que dava o equilíbrio necessário no meio do campo. Era um dos responsáveis pela dinâmica do time. A maior parte das jogadas passava por ele, que tinha excelente saída de bola e sabia dar proteção à zaga, além de aparecer na frente como elemento surpresa.

Os húngaros chegaram até a final da Copa de 54, após uma campanha brilhante: na primeira fase, impuseram novos massacres: foram 9 X 0 na Coreia do Sul e 8 X 3 na Alemanha Ocidental.

Depois, nas quartas-de-final e semifinais, venceram por 4 X 2 as seleções que decidiram a Copa do Mundo anterior, Brasil e Uruguai. O jogo contra a Celeste foi o único em que ele não participou: contra os brasileiros, havia sido expulso juntamente com Nilton Santos, após ambos trocarem empurrões e pontapés, em uma partida tão marcada pela violência das duas equipes que ficou conhecida como "Batalha de Berna", em alusão também à cidade onde foi realizada a partida.

Ao ser indagado pelo árbitro da partida, o inglês Arthur Ellis, se havia sido suspenso posteriormente pela federação nacional, Bozsik respondeu desdenhosamente que "na Hungria, nós não prendemos deputados".

E ele realmente voltou ao time na final, onde novamente os húngaros enfrentaram a Alemanha Ocidental. Os magiares estavam certos de nova vitória e não se abalaram nem após os alemães empatarem aos 18 minutos do primeiro tempo a vitória parcial por 2 X 0 que a Hungria conseguira construir nos sete primeiros minutos, mesmo com o segundo gol alemão saindo após falta no goleiro Grosics.

Bastante autoconfiantes, os húngaros nunca protestavam contra a arbitragem, pois costumavam compensar eventuais erros dela com muitos gols.

Porém, não foi o que aconteceu. Os alemães impuseram uma marcação firme sobre o principal armador das jogadas húngaras, Nándor Hidegkuti, e souberam fechar-se na defesa.

A seis minutos do fim, em um contra-ataque, viraram a partida e conseguiram suportar a pressão húngara nos últimos minutos, em que um gol de Puskás chegou a ser anulado. A invencibilidade húngara caiu naquela partida, justo quando não podia.

Quatro anos depois, Bozsik disputou a Copa do Mundo de 1958 como um dos titulares remanescentes de 1954, ao lado de Gyula Grosics, László Budai e Nándor Hidegkuti.

A Hungria sentiu a decadência sofrida pelo Honvéd após a crise de 1956. Puskás, Czibor e Kocsis, justamente os três melhores jogadores do time, haviam preferido o exílio no futebol espanhol. Os húngaros, sem eles, já não eram considerados favoritos como antes.

Curiosamente, foi nesse ambiente que Bozsik marcou seu primeiro (e único) gol em Copas, na estreia contra o País de Gales. Porém os húngaros resolveram recuar para segurar o resultado, sofreram o empate e terminaram a partida sofrendo pressão galesa, algo inimaginável anos antes.

No jogo seguinte, a Hungria enfrentou a anfitriã Suécia. Bozsik foi escalado no meio-de-campo, em uma posição mais avançada. Ele fez o que pôde, armando jogadas para que o jovem Lajos Tichy desferisse seus chutes violentos, mas apenas um deles resultou em gol, enquanto os nórdicos fizeram dois e venceram.

A partir daquela partida, o técnico Lajos Baróti, para o espanto geral, decidira não escalar mais Bozsik e Hidegkuti juntos: Hidegkuti não jogou contra a Suécia, voltou contra o México (contra quem Bozsik não jogou) e novamente saiu para a volta de Bozsik no play-off, em que os magiares voltaram a enfrentar Gales.

Apesar da violência húngara, os britânicos conseguiram vencer de virada e desclassificaram prematuramente os vice-campeões mundiais.

Bozsik permaneceu fiel às cores do Honvéd e da Hungria, as únicas duas equipes de sua carreira. Já em 1962, despediu-se da equipe nacional pouco antes do Mundial do Chile, se tornando o segundo jogador da história a superar a marca de 100 partidas por uma seleção.

Ainda atuou como deputado, dirigente e técnico na Hungria. Transformou-se em autoridade no país que ajudou a dar projeção graças à seleção. Bozsic morreu ainda jovem, aos 52 anos vítima de um ataque cardíaco, em 31 de maio de 1978, em Budapest.

Tinha um sentimento, o de nunca mais ter visto os ex-companheiros de seleção que fugiram do país, inclusive o amigo Puskás. 


Em janeiro de 2015 morreu ao Norte de Budapeste, na avançada idade de 85 anos o lateral direito Jeno Buzanszky, último integrante da mítica seleção de futebol húngara da década de 1950, que ficou invicta por quatro anos.

Buzanszky nasceu em Újdombóvár em 3 de maio de 1925 e começou sua carreira aos 13 anos de idade em uma equipe de sua cidade natal. Depois, jogou nas equipes Pécsi VSK e Dorogi Bányász, pela qual fez 274 partidas na primeira liga húngara.

Entre 1950 e 1956, vestiu a camisa da seleção húngara em 49 ocasiões, e em 1952 ganhou medalha de ouro nos Jogos Olímpicos em Helsinque.

Buzanszky encerrou sua carreira ativa em 1960, quando começou a trabalhar como treinador de vários times em Dorog e Esztergom. Em 1993, foi eleito membro da direção da Federação Húngara de Futebol.

O ex-jogador foi internado no hospital de Esztergom em 12 de dezembro, onde foi operado. O estádio de Dorog, onde jogou entre 1947 e 1960, tem o nome de Buzanszky desde 2010. (Pesquisa: Nilo Dias)



domingo, 29 de maio de 2016

Quando a supertição entra em campo

O Botafogo, do Rio de Janeiro foi um clube quase sempre cercado de crendices e superstições. Essa fama começou em 1948, quando o presidente era o folclórico Carlito Rocha, que adotou como mascote do clube um bonito cachorro de nome “Biriba”, de pelo preto e branco, as cores do Botafogo. E como o time foi campeão carioca, a partir daí o mascote quase virou “santo”.

Por incrível que possa parecer, nenhum jogador do time que tinha uma verdadeira constelação de astros foi responsabilizado pela conquista do título, e sim o cachorro “Biriba”, que foi achado na rua pelo jogador “Macaé”, e levado para General Severiano.

O presidente Carlito Rocha, era um supersticioso de carteirinha, desde os seus tempos de jogador do clube, quando era capaz de entrar em campo com 40 graus de febre. Durante um jogo em que a equipe de reservas do Botafogo venceu o Madureira por 10 X 2, em 1948, o cãozinho preto e branco invadiu o campo como que a comemorar o décimo gol.

Aquela cena bastou para que Carlito considerasse ter sido um “sinal”. Então, adotou o “Biriba” como mascote oficial, mesmo sabendo que o dono era o zagueiro “Macaé”.

A partir daí Carlito levou o vira-lata “Biriba” a todas as partidas do Botafogo no campeonato de 1948, o qual acabou por ganhar espetacularmente na decisão com o “Expresso da Vitória”, a poderosa equipe do Vasco da Gama.

O cachorro tinha lugar privilegiado no banco de reservas e participava na comemoração dos gols. Carlito considerava que "Biriba" dava sorte e ninguém conseguia barrar o animal, fosse onde fosse.

A partir daí ele foi adotado como mascote pelo presidente, depois que o Botafogo venceu naquela semana, com “Biriba” no banco de reservas. Na verdade, “Biriba” tornou-se muito mais do que um simples mascote, quando o adversário estava apertando o Botafogo, Carlito Rocha mandava “Macaé” soltar o cachorro dentro do campo.

“Biriba” corria em direção a bola e os jogadores do Botafogo tinham ordem de não se mexer. Na tentativa do juiz e adversários em pega-lo, o jogo parava e esfriava. Então o Botafogo reagia e vencia. E “Biriba” tornou-se uma espécie de jogador numero doze.

Esse fato registrou-se inúmeras vezes no Campeonato Carioca de 1948 até que os dirigentes dos outros times começassem a estrilar. Houve até ameaças de seqüestrar “Biriba”, como precaução. Para se prevenir das ameaças, Carlito Rocha ordenou a “Macaé” que dormisse com o cachorro numa das torres da sede.

Outras ameaças vieram depois, como de envenenar “Biriba”. Então “Macaé” tinha de provar a comida do cachorro antes que ele a comesse.

Outro fato pitoresco, que fez aumentar ainda mais a crença de que o cachorro era verdadeiramente um talismã, aconteceu quando ele, na véspera de um jogo importante, fez “xixi” na perna do jogador Braguinha e o Botafogo ganhou.

A partir daí, em todo jogo importante, o presidente Carlito obrigava Braguinha a emprestar sua perna para servir de poste ao mascote.  Ou então “Biriba” tinha de lamber as chuteiras do jogador Otávio.

Num jogo frente o Vasco da Gama, no primeiro turno do certame de 1948, o presidente cruzmaltino, Ciro Aranha, proibiu a entrada de “Biriba” no estádio de São Januário. Carlito Rocha então perguntou: “E o presidente do Botafogo, pode entrar?” Ciro Aranha respondeu evidentemente que sim.

Então Carlito Rocha pegou “Biriba” no colo e, impávido, entrou com ele nas sociais do Vasco. O Botafogo foi campeão derrotando o Vasco na ultima rodada e “Biriba” posou com os craques na foto oficial, aos pés de Pirilo e Otávio.

Como presente ganhou uma coleira de ouro com o escudo do Botafogo. E também deram-lhe champanhe no prato esmaltado e, por intermédio de “Macaé”, passou a ganhar até bicho.

O Botafogo só faltou registra-lo na federação e o cachorro vivia a contrafilé. Em 1948, com a presença de “Biriba”, o Botafogo registou 17 vitórias e 2 empates, sagrando-se campeão invicto após 13 anos.

“Biriba” viajava com o time para todo lado. Certa ocasião, o ônibus estava lotado, e faltava lugar para ele. Carlito Rocha não teve dúvida, afastou um jogador da delegação para que o animal pudesse ir em seu lugar.

Mas a sorte de “Biriba” só ocorreu em 1948. A partir de 1949 o Botafogo andava tão mal que o mascote viu sua estrela se apagar e começou a ser abandonado. Passou a viver pelos cantos do clube e às vezes desaparecia durante dias e ninguém dava por sua falta.

Como a sua carreira no futebol estava encerrada, por volta de 1953 “Macaé” o levou para seu apartamento em Copacabana. O sindico, um vascaíno amargo e vingativo, não queria saber de cachorros no prédio – muito menos aquele. Mas teve de ceder.

“Macaé” deu a “Biriba” todo o amor que podia e o levava para passear quase todos os dias. Com 12 anos de idade, praticamente cego e sofrendo do coração nos últimos anos, morreu no dia 10 de agosto de 1958, vitimado por um colapso.

“Biriba” morreu na residência do seu dono, a rua Raul Pompéia (Copacabana), do zagueiro “Macaé”, que foi o seu lançador como mascote do “team” naquele campeonato de 1948.

Até hoje, o símbolo mais conhecido do Botafogo é o cachorro, que foi sofrendo alterações ao longo dos anos e é desenhado das mais diversas formas. A torcida organizada “Fúria Jovem” divide-se atualmente em “canis” e as torcidas adversárias apelidaram os botafoguenses de “cachorrada”.

Osvaldo Baliza, um dos maiores goleiros da história botafoguense, era quem mais gostava de “Biriba”, depois de Carlito Rocha é claro. Os jogadores diziam que antes e depois dos treinos Osvaldo andava com o cachorro a tira colo.

Em 2008, a tradição foi revivida quando um cão, chamado “Perivaldo”, em homenagem ao ex-jogador do clube nos anos 1970, entrou em campo junto com o time em uma partida da Copa do Brasil, levado por seu dono, um carioca e fanático torcedor botafoguense residente na Paraíba.

Em suas costas negras, o beagle “Perivaldo” trazia uma marca de nascença em formato de estrela na cor branca, remetendo ao símbolo máximo do clube, a estrela solitária. Neste mesmo ano, o clube lançou dois mascotes oficiais, chamados “Biriba” e “Biruta”, para se identificarem com crianças.

No Tocantins uma família de torcedores do Botafogo batizou o cão recém-nascido de “Biriba Júnior”. O animal é todo preto com uma mancha branca em cima da cabeça e lembra o escudo do time carioca. E para o dono dele, José Ribamar Alves, o cachorro deu sorte para o time que foi campeão da Série B do ano passado e garantiu a volta do time a Série A do “Brasileirão”.

“Biriba Júnior” nasceu em Pium, região central do Tocantins e além do nome igual, o cachorro é vira-lata assim como o mascote original. E de acordo com Ribamar, desde que o “Biriba júnior” nasceu, no dia 29 de setembro do ano passado, o Botafogo foi só crescendo na competição, até se sagrar campeão.

A cadela deu 8 filhotes de várias cores. No terceiro que saiu, veio um todo pretinho, com um sinalzinho branco e foi escolhido para ficar na casa. Até aí o dono não tinha percebido nada. Quando mandou uma foto dele para os seus filhos, eles falaram do desenho da estrela solitária.

Todo o botafoguense tem superstição e com Ribamar não foi diferente. Assiste todos os jogos com o cachorro ao seu lado e acredita na sorte que ele dá ao time. (Pesquisa: Nilo Dias)


segunda-feira, 9 de maio de 2016

O futebol paranaense está de luto

Morreu na manhã do último sábado 7, o ex-jogador de futebol José Roberto Marques, o “Zé Roberto”, que brilhou em vários clubes do futebol brasileiro. Ele estava internado há uma semana no hospital Amparo, da cidade de Serra Negra, no interior paulista onde residia, tendo sido vítima de uma apendicite supurada. Após uma piora em seu estado de saúde, ele passou por uma cirurgia e acabou não resistindo.

A supuração acontece quando o apêndice não é retirado a tempo e acaba se rompendo, ocasionando o derrame de fluidos inflamatórios com bactérias na cavidade do abdômen, podendo provocar peritonite e insuficiência de múltiplos órgãos.

Nos últimos 15 anos, estava muito debilitado pela vida desregrada. Vivia modestamente por conta de uma aposentadoria da Prefeitura de Serra Negra, onde residia.

Em 2013 foi internado em uma clínica da cidade, por conta de um grave Acidente Vascular Cerebral (AVC), que deixou seu braço esquerdo parcialmente paralisado. Recuperado, chegou a comparecer a um encontro de ex-atletas do Palmeiras ainda naquele ano.

Zé Roberto, que era considerado o melhor jogador de toda a história do futebol paranaense,  estava aposentado e iria completar 71 anos no próximo dia 25. Ele deixou três filhos, Rose, Renata e Roberto, dois netos e dois bisnetos.

Batizado José Roberto Marques, e chamado pelos torcedores dos clubes onde jogou, de "craque-encrenqueiro", nasceu no dia 31 de maio de 1945 em São Paulo. Começou a carreira de futebolista jogando nas divisões de base do Botafogo, de Ribeirão Preto.

Seu Jerônimo, pai de Zé Roberto, tinha seu passado marcado pelo futebol. Foi também jogador do Botafogo nos anos 40 e conhecia muito bem o mundo de ilusões que cercam os gramados.

Um dia descobriu uma perturbadora e preocupante coincidência. O filho, outro sonhador com apenas 13 anos de idade, faltava na escola para jogar no infantil do mesmo Botafogo Futebol Clube.

O garoto, que vivia com os avós em Ribeirão Preto, dizia que ia para o grupo escolar e no caminho deixava os livros de lado e tirava sua chuteirinha surrada da sacola. Foi assim que seu Jerônimo decidiu enviar o filho para São Paulo.


Sob os cuidados da mãe, voltaria sua cabeça para os estudos e com tarefas produtivas que o ajudariam na construção de um futuro melhor. O primeiro emprego, como datilógrafo, foi arrumado pela própria mãe, em um escritório da Rua São Caetano.

Depois dessa primeira ocupação, Zé Roberto também trabalhou como corretor no bolsa de valores. Até o dia em que descobriu o time amador do São Paulo no bairro de Santa Terezinha.

Novamente, faltava nos compromissos para jogar futebol e coincidentemente, o time do bairro de Santa Terezinha também apresentava cores iguais ao Botafogo, de Ribeirão Preto.

Ai não teve jeito. Do São Paulo de Santa Terezinha ele acabou no São Paulo do Morumbi. Seu Jerônimo nem falava mais nada. Como ponta de lança, centroavante ou mesmo ponta esquerda, Zé Roberto sabia fazer gols.

Alto, o corpo esguio e um tanto desengonçado, o jovem talento não demorou muito tempo para cair nas graças do saudoso Vicente Feola, que sempre arrumava um tempinho para assistir aos garotos das divisões de base.

E Zé Roberto foi crescendo dentro do Morumbi. O ano de 1964 apresentou os primeiros frutos na carreira do atacante. Convocado para o selecionado nacional juvenil que foi aos jogos olímpicos do Japão, Zé Roberto anotou os três gols da vitória de 3 X 0 sobre os argentinos, em partida disputada ainda no período de preparação da equipe.

Profissionalizou-se pelo São Paulo, onde foi considerado “o craque do futuro” pelo técnico Vicente Feola, e ganhou o apelido de “Gazela”, devido as pernas finas. Depois da olimpíada, Zé Roberto atuou por empréstimo pelo Guarani e pela Francana no ano de 1966.

A fama de “jogador problema” não demorou para chegar. Zé Roberto amava popularidade, não ligava para o dinheiro e gostava mesmo era da vida na boemia.

Mesmo querido dentro do clube, o presidente Laudo Natel não pensou duas vezes em liberar o atacante por empréstimo quando surgiu o interesse do Atlético Paranaense. Para o São Paulo, Zé Roberto era um irrecuperável.

Além de Zé Roberto, o presidente do Atlético, Jofre Cabral, investiu em veteranos consagrados contratando Bellini e Djalma Santos.
Com o uniforme do Furacão, o “Gazela”, apelido de Zé Roberto, logo se transformou em ídolo. Durante essa primeira temporada no cenário paranaense, anotou 24 tentos e foi o artilheiro da competição.

Com o término do empréstimo, o Atlético não dispunha da quantia exigida pelo São Paulo. E assim, Zé Roberto voltou ao Morumbi. O Atlético tentou de tudo para contratá-lo em definitivo. Não conseguiu.

Campeão paulista de 1970, não demorou muito tempo para que ele voltasse ao futebol paranaense. Dessa vez o destino foi o Coritiba Foot Ball Club.

Segundo o Grupo Helênicos, no primeiro treino do meia no Coxa, o estádio ficou lotado de torcedores ansiosos por sua estreia. No “Coxa”, Zé Roberto aprendeu muito seguindo orientações do técnico Tim.

Em 1972 atingiu o auge de sua carreira ao conquistar o concorrido prêmio da “Bola de Prata” da revista Placar. Nos anos seguintes, foi campeão do Torneio do Povo em 1973 e tetracampeão paranaense (1971, 72, 73 e 74).

Defendendo o Coritiba, jogou 146 partidas e marcou 72 gols, sendo o sétimo maior artilheiro da história do clube. Filho de jogador, que jogou no Corinthians de 1942 a 1955, deixou sua marca como o maior artilheiro dos anos 70, com 73 gols em partidas oficiais de competição. Sua última partida pelo Coritiba foi no dia 13 de julho de 1974, contra o Fortaleza, no estádio Belfort Duarte.

Em 1974, Zé Roberto foi negociado com o Corinthians e tudo parecia ser um casamento perfeito, Em seu primeiro clássico contra o Palmeiras no estádio do Pacaembu, o “Gazela” anotou os três gols da espetacular virada alvinegra por 3 X 1.

Zé também foi o autor do gol da vitória contra o São Paulo, que deu ao Corinthians o título de campeão do primeiro turno, o que valeu qualificação para disputar o encontro final do campeonato paulista.

Depois da sofrida derrota na finalíssima do certame para o Palmeiras, Zé Roberto voltou ao seu tradicional “porto seguro”, o Coritiba, onde permaneceu até o ano de 1977.

Jogou ainda no CRB, de Alagoas, Guarani, de Campinas e Francana, de Franca (SP). Voltou ao “Furacão” em 1977, quando tinha 32 anos, mas já não estava em boas condições físicas e decidiu se aposentar.  Daí em diante só voltou aos gramados em times amadores.

Além de ser um artilheiro sem igual dentro de campo, Zé Roberto carregava consigo todo o folclore de ser um jogador boêmio e adorado por praticamente todos aqueles foram seus companheiros de equipe. Ele definia muitos fatos como lenda, mas admitia que tinha sim um gosto pela vida noturna.

Antes de chegar ao “Timão”, a passagem dele pelo “Coxa” foi marcante, tendo empilhado títulos: Torneio do Povo, em 1973; tetracampeão paranaense em 1971, 1972, 1973 e 1974. (Pesquisa: Nilo Dias)


sábado, 7 de maio de 2016

Morreu o craque que quase fez o Estádio Olímpico desmoronar

Morreu na sexta-feira, 6, aos 83 anos de idade, Larry Pinto de Faria, um dos maiores jogadores da história do S.C. Internacional, de Porto Alegre. Desde dezembro do ano passado ele tratava de uma pneumonia. Em 29 de abril, seu estado piorou e teve de ser internado no Hospital Santa Clara, onde sofreu uma parada cardíaca e faleceu por volta das 6 horas da manhã.

O velório de Larry foi realizado na Capela Nossa Senhora das Vitórias, no estádio Beira-Rio. O funeral aconteceu às 16h de sábado no Crematório Metropolitano Saint Hilaire. O ex-craque deixa a mulher, Maria Luiza, os filhos Marcelo, Larry Júnior e Zilda Maria, além de seis netos e uma bisneta

Era natural de Nova Friburgo (RJ), onde nasceu a 3 de novembro de 1932.Começou a jogar nos mirins do Friburgo, time de sua terra natal, na posição de meia-esquerda. A infância e a puberdade ocorreram sem novidades. E em plena adolescência, aos 17 anos, mudou-para a antiga capital federal, para se matricular no Curso Preparatório para Oficiais da Reserva (CPOR).

No Rio continuou a manter estreitas relações com o futebol. Procurou o Fluminense e integrou-se na equipe de jovens, cujo técnico era Oto Glória. Em 1951 ganhou seu primeiro título no futebol, campeão carioca de juvenis. Ficou no Fluminense até 1954, quando se transferiu para o colorado gaúcho. Era um camisa 9 eminentemente técnico, que jogava com elegância e não trombava com os adversários.

A torcida colorada logo simpatizou com ele, pois já no segundo clássico Gre-Nal que disputou, o da inauguração do Estádio Olímpico, do maior rival, o Internacional aplicou uma goleada de 6 X 2 e Larry marcou quatro gols, em um fiasco que os gremistas antigos não esquecem.

A capacidade técnica de Larry ia muito além de fazer gols. Era um atleta clássico, refinado, coisa rara entre os centroavantes da época e de qualquer tempo. Tinha como companheiro de ataque um outro jogador excepcional, Bodinho, um pernambucano , que com ele formou uma dupla infernal, capaz de tabelinhas só comparáveis às dos santistas Pelé e Coutinho.

Um feito notável de Larry foi o de ter marcado 23 gols em apenas 18 partidas, quando só não se sagrou artilheiro do Campeonato Gaúcho de 1955, porque Bodinho fez 25 gols. A moral de Larry com a torcida vermelha era tanta, que mesmo errando dois pênaltis contra o Renner, que tiraram o Inter da disputa do título gaúcho de 1958, saiu de campo aplaudido.

Como jogador Larry foi campeão carioca em 1951 e fez parte do elenco que disputou e ganhou a Copa Rio, em 1952. Mas fora convocado para a Seleção Olímpica, o que prejudicou seu aproveitamento pelo time tricolor.

Porém, foi o artilheiro da Seleção Brasileira nos Jogos Olímpicos de Verão de 1952, quando marcou quatro gols em três jogos. Larry também foi o segundo jogador que marcou um gol do Brasil em olimpíadas, em Helsinque.

O primeiro gol foi marcado por Humberto Tozzi, na vitória de 5 X 1 sobre a Seleção da Holanda. O time brasileiro também contava com craques como Evaristo, Vavá, Zózimo, Carlos Alberto, Mauro, Valdir, Adézio, Milton Bororó, Humberto Tozzi e Jansen .  Foi, ainda, campeão Pan-Americano em 1956, quando a seleção gaúcha representou o Brasil. Pelo Internacional ganhou o Campeonato Gaúcho de 1954 e o de 1961.

O Brasil venceu duas partidas seguidas, 5 X 1 sobre a Holanda e 2 X 1 sobre Luxemburgo , até sofrer uma goleada para a Alemanha. O Brasil começou vencendo a Alemanha por 2 X 0 até os 30 minutos do segundo tempo. Os alemães empataram no último minuto.

Na prorrogação, 4 X 2 para a Alemanha e o Brasil, eliminado. A campanha acabou considerada boa e todos os jogadores tiveram três dias de folga em Paris, a capital francesa.

Depois que deixou os gramados trabalhou na Caixa Econômica Estadual. Entrou para a política, sendo eleito vereador em Porto Alegre por quatro vezes, secretário municipal da Produção, Indústria e Comércio (Smic) (de 1983 a 1985) e ainda suplente de deputado estadual. 

Também atuou como comentarista esportivo na extinta TV Difusora, canal 10 de Porto Alegre, nos programas “Portovisão” e “Meio-Dia - A Hora Local”. Trabalhou como comentarista esportivo na Rádio Gaúcha.

Quando chegou ao Internacional, Larry morou por um ano no antigo Estádio dos Eucaliptos, a casa colorada antes da construção do Beira Rio, junto de Bodinho, Gerônimo e Salvador . Lembra de quando o estádio foi derrubado. Ele ia consultar com um médico, nas cercanias do Eucaliptos, quando ouviu o barulho das máquinas.

Teve medo. Desconfiava do que se tratava, pois sabia que a área havia sido vendida para a Melnick Even, por R$ 28 milhões, bem mais do que o dinheiro arrecadado por Ildo Meneghetti para comprar o terreno no Menino Deus, em 1931. Quatro anos depois da conclusão do negócio, o estádio começou a desaparecer para dar lugar as torres de um condomínio de luxo.

E em vez do alojamento que serviu de casa para Larry Pinto de Faria, Bodinho, Jerônimo e Salvador, áreas de lazer. Em vez das arquibancadas da Dona Augusta, tantas vezes lotada de homens de chapéu e gravata, estacionamentos.

Larry desviou um tanto do caminho do consultório, parou o carro na Rua Silveiro e teve a certeza: naquele instante, uma parte da sua vida, da história do futebol gaúcho e da capital gaúcha começava a sumir para sempre, diante dos próprios olhos. 

Então, Larry, na época com 79 anos, emblema dos tempos de glória dos Eucaliptos, suspirou, guardou silêncio solene e disse: “Agora serão só minhas lembranças”.

Em 260 jogos pelo Internacional, Larry marcou 176 gols. Sete deles em quatro Gre-Nais, incluídos os quatro no 6 X 2 do torneio de inauguração do Olímpico. Juntos, ele e Bodinho somam 410 gols. Quase todos marcados no estádio que sumiu do mapa.

Era um tempo bem diferente de hoje, em que o clube tem ônibus super luxuoso. Antes, não, os jogadores iam a pé jogar fora de casa, no Força e Luz, na Baixada, na Montanha.

Uma curiosidade daquela época: não havia cama do tamanho de Salvador na concentração dos Eucaliptos, na verdade uma peça única forrada de paredes nuas com banheiro comum. As canelas ficavam de fora, o que deve ser incômodo.

O volante Salvador, era um negro gigantesco que vestiu a camisa 5 do Inter nos anos 50 e fez história no Peñarol e no River Plate. Também jogou no Cruzeiro, de São Gabriel (RS). Nas noites de calor, Salvador apanhava o lençol e o travesseiro e dormia no gramado, bem no círculo central. Era volante até dormindo.

Era comum moleques gremistas atazanarem a vida dos jogadores colorados, subidos em uma árvores atrás da goleira. O goleiro Milton Vergara trazia funda de casa para acertar esses moleques. Não havia agentes, assessores, empresários. Os torcedores convidavam os jogadores para um churrasco em casa e eles iam, com mulher e filhos.

Depois dos treinos, subiam todos para as cabines de imprensa, no ponto mais alto do estádio, e viam juntos os navios partindo do Guaíba. Larry dizia que ia ficar com saudade da sua primeira casa em Porto Alegre, mas se conformava lembrando que a história não se apaga.

Um dos filhos de Larry, o executivo Larry Pinto de Faria Junior, foi um dos sobreviventes do atentado de 11 de setembro de 2011 no World Trade Center, em Nova York, onde trabalhava. E diz não guardar traumas, mas afirma que o episódio o transformou em uma pessoa diferente.

"Ver a morte assim de perto muda a maneira de encarar a vida", disse Júnior à BBC Brasil, acrescentando que mudou sua filosofia de vida e suas. Passo a ser uma pessoa completamente tranquila e consciente das responsabilidades, procurando ser uma pessoa menos egoísta. (Pesquisa: Nilo Dias)

Larry Pinto de Farias. (Foto: Revista Colorada)