Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

domingo, 4 de agosto de 2013

Troféu Joan Gamper

O Santos F.C. foi o adversário do Barcelona no “Troféu Joan Gamper” deste ano, e levou uma goleada histórica de 8 X 0, em jogo realizado na última sexta-feira a tarde em Camp Nou, na capital da Catalunha. A competição é realizada desde 1966, sempre no mês de agosto e foi criada pelo então presidente do clube, Enric Llaudet em homenagem ao suíço Hans-Max Gamper Haessig (1877-1930), conhecido como Joan, fundador do F.C. Barcelona.

Até 1996 o torneio era disputado por quatro equipes em jogos eliminatórios. Em caso de empates a decisão era por cobranças de pênaltis. A partir de 1997, por problemas de datas, só duas equipes passaram a disputar o torneio, o Barcelona e um convidado. O único clube fora do continente europeu a vencer a competição foi o S.C. Internacional, de Porto Alegre, em 1982.

O clube gaúcho derrotou o poderoso Barcelona no jogo inaugural. O clube catalão havia preparado uma grande festa. Apesar de ter disputado antes os torneios “Teresa Herrera” e “Palma de Mallorca”, o Barcelona havia deixado para o “Joan Gamper” as estréias de suas duas grandes contratações: o argentino Maradona e o alemão Schuster. Além disso, havia a grande estrela do futebol espanhol, no momento: Quini.

O Internacional chegou falando em revanche, pois dias antes havia sido derrotado pelo Barcelona no “Torneio Teresa Herrera”, em La Coruña, por 1 X 0. O técnico do Internacional era Ernesto Guedes, que criticou a arbitragem na derrota de seu time. Já o treinador do onze catalão, Udo Lattek disse que sua equipe podia ganhar sempre do Internacional.

O jogo ainda tinha outro ingrediente, além do desejo de revanche do Internacional e da troca de farpas entre os técnicos, havia o jogador Cléo, que o clube colorado vendera ao Barcelona no inicio daquele ano e depois de três meses apenas treinando, sem jogar, foi novamente negociado com o "Colorado".

O jogo começou com amplo domínio do Barcelona, mas suas investidas paravam na forte marcação do onze brasileiro. O estreante Maradona pouco tocou na bola. O clube gaúcho raramente contra atacava. O segundo tempo começou quente: Maradona acertou uma bola na trave e Edvaldo, cobrando falta logo em seguida, deu a resposta, também acertando a trave catalã.

O jogo seguiu morno com o Barcelona atacando e o Internacional se defendendo. Um petardo de Schuster, que recém havia entrado em campo, acertando a trave, foi o lance mais perigoso nos minutos finais. Com o empate sem gols foi necessário ir para a cobrança de pênaltis.

Já era começo de madrugada em Barcelona quando começaram as cobranças. Para o Internacional cobraram e converteram Rubén Paz, Andrezinho, Ademir e André Luiz. Para o Barcelona, Quini, que acertou a trave, Maradona, que converteu e Alesanco que bateu e o goleiro Benitez defendeu. Final, Internacional classificado para a final 4 X 1 Barcelona.

O técnico do time espanhol não se conformou com a derrota e declarou após o jogo: “Normalmente debemos ganar a estos brasileños, pero esta noche el medio campo ha estado falto de profundidad.”

O Internacional jogou com Benítez – Edevaldo - Mauro Pastor - André Luís e Bereta (Müller) – Ademir - Cléo (Sílvio) - Mauro Galvão e Rubén Paz - Paulo César e Silvinho (Andrezinho). O Barcelona mandou a campo Artola – Gerardo – Migueli - Alesanco e Julio Alberto - Alonso (Schuster) - Esteban (Marcos) e Victor – Quini - Maradona e Carrasco.

A grande final foi no dia seguinte, 26 de agosto de 1982, entre Internacional X Manchester City, da Inglaterra, que havia eliminado o Colônia, da Alemanha. O primeiro tempo teve o domínio absoluto do Internacional, mas o placar permaneceu em branco.

Na etapa final os gols apareceram. Aos 12 minutos, Hakeide derrubou Cléo na área: pênalti, que Edevaldo converteu. Aos 15, Paulo César fez 2 X 0. Aos 20, Hartford, da seleção escocesa, foi expulso. Aos 37, Fernando Roberto ampliou para 3 X 0. Aos 41, Mcdonalds fez o gol de honra dos ingleses. Fim de jogo, Internacional campeão. O capitão André Luís recebeu o troféu, que é moldado em prata, com base de mármore e acabamento em ouro.

Internacional: Benítez – Edevaldo - Mauro Pastor - André Luís e Mauro Galvão – Ademir - Müller (Joãozinho) - Cléo (Sílvio) e Rubén Paz - Paulo César (Fernando Roberto) e Silvinho. Manchester City: Corrigan – Ranson – Macdonald - Tweart e Kempron (May) – Bond - Reenes e Hartford – Hakeide - Cross e Power.

Na decisão do terceiro lugar, o Barcelona do técnico falastrão, Udo Lattek e dos craques Maradona, Schuster e Quini, perdeu para o Colônia, por 1 X 0 e foi o último colocado do torneio.

Outros clubes brasileiros que disputaram o “Troféu Joan Gamper: 1968, Flamengo; 1972, Vasco da Gama; 1978, Botafogo; 1980, Vasco da Gama; 1981, Vasco da Gama; 1989, Internacional (perdeu para o Barcelona, por 1 X 0, na decisão do terceiro lugar); 1991, Internacional  (foi terceiro lugar ganhando do Rapid Viena, da Áustria, por 2 X 0; 1998, Santos e 2013, Santos.

O Barcelona foi o clube que mais venceu o “Torneio Joan Gamper”, 36 vezes (1966, 1967, 1968, 1969, 1971, 1973, 1974, 1975, 1976, 1977, 1979, 1980, 1983, 1984, 1985, 1986, 1988, 1990, 1991, 1992, 1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2006, 2007, 2008, 2010, 2011, 2013).

Depois vem o F.C. Kolns (Colônia), da Alemanha (1978 e 1991); Ujpest Dozsa, da Hungria (1970); Borussia Mönchengladbach, da Alemanha (1972); Internacional, do Brasil (1982); F.C. do Porto, de Portugal (1987); K.V. Mechelen, da Bélgica (1989); C.D. Tenerife, da Espanha (1993); Valência, da Espanha (1994); Juventus, da Itália (2005); Manchester City, da Inglaterra (2009) e Sampdória, da Itália (2012).

A maior goleada registrada na competição não foi Barcelona 8 X 0 Santos, como erroneamente foi dito na transmissão da Rede Globo, na última sexta-feira. Em 1984, o mesmo Barcelona goleou o Boca Juniors, da Argentina, por 9 X 1. Outras goleadas: 1966, RSC Anderlecht, da Bélgica 7 x 0 Nantes, da França e em 1992, F.C. Barcelona 7 X 1 CSKA Sofia, da Bulgária.

Hans-Max Gamper Haessig, conhecido na Catalunha como Joan Gamper, nasceu na cidade de Winterthur, ao Norte da Suíça, em 22 de novembro de 1877. Era o mais velho de cinco irmãos.

Anda pequeno foi morar em Zurique, depois que sua mãe morreu vitima de tuberculose. Com apenas 12 anos de idade já era um destacado ciclista e habilidoso enxadrista. Seu trabalho não permitiu que continuasse a praticar o ciclismo, por isso resolveu se dedicar ao râguebi (rúgbi ou rugby), golfe, tênis e ao futebol, onde alcançou grande êxito, sendo considerado um dos melhores jogadores do país, na época.

Foi capitão do F.C. Basiléia e depois o melhor atacante do F.C. Excelsior. Teve problemas no clube e resolveu abandoná-lo e fundar o F.C. Zurich, que não demorou em se tornar uma das melhores equipes do futebol suíço. Em 1897 mudou-se para Lyon, na França, onde ingressou no Union Athletique, um clube de rugby.

Em 1899 passou por Barcelona para visitar um tio, ali radicado, quando ia em viagem de negócios à África. Apaixonou-se pela cidade e decidiu também morar lá. Logo fez amizade com a colônia estrangeira. Aprendeu a falar catalão antes do espanhol e catalanizou o seu nome para Joan. Morador do bairro de Sant Gervasi de Cassoles, decidiu fundar um clube de futebol na cidade.

No dia 22 de outubro de 1899, a revista "Los Deportes" publicou um anúncio convidando todos os aficionados a prática do futebol, para uma reunião que aconteceria no dia 29 de novembro de 1899, no Ginásio Solé, da rua Montjuic del Carme número 5. Joan, junto de um grupo de ingleses e espanhóis fundou o Futbol Club Barcelona. As cores escolhidas para a camiseta foram inspiradas no F.C. Basiléia, da Suíça, o azul e o vermelho (grená).

Joan Gamper fez parte como jogador da primeira equipe do Barcelona, onde jogou de 1899 até 1903. Ajudou o clube a ganhar seu primeiro troféu, a “Taça Macaya” e jogou a primeira final da “Taça do Rei”, disputada pelo Barcelona e ganha pelo Viscaya.

Posteriormente foi presidente do clube por cinco mandatos. Foi ele que contratou o atacante filipino Paulino Alcántara, até hoje o maior goleador da história do clube, com 357 gols. E também trouxe nomes míticos como Zamora e Samitie. Foi durante um dos mandatos de Gamper que Jack Greenwell tornou-se o primeiro treinador profissional da história do Barcelona. Com ele de presidente o clube ganhou 11 Campeonatos da Catalunha, 6 Taças do Rei e 4 Taças dos Pirinéus.

Em 1922, Joan Gamper doou 1 milhão de pesetas para a construção do novo estádio de Les Corts, onde em 1925 o hino espanhol foi assobiado e o britânico aplaudido, para fúria do ditador Primo de Rivera. Como represália pela atitude pouco nacionalista dos adeptos do clube, o governo central mandou fechar o estádio por três meses e Gamper  obrigado a partir para o exílio.

Mais tarde foi autorizado a regressar a Espanha e à sua querida Barcelona, mas proibido de ter qualquer ligação com o clube que ajudou a fundar. Essa interdição o levou a um estado depressivo que o acompanhou até ao fim da vida. Cada vez mais debilitado, perdeu o entusiasmo e viu o seu estado de saúde piorar. A grande depressão de 1929, consequência do “crash” da bolsa de Nova York, provocou a ruína de Gamper.

Durante um ano combateu a depressão, isolando-se em sua casa, mas os problemas pessoais e financeiros ocupavam o seu dia-a-dia, até que em 30 de Julho de 1930, com um tiro na cabeça, pôs fim à própria vida. A sua morte consternou o clube e a cidade. Dezenas de milhares seguiram o féretro a caminho da sua última morada no Cemitério de Montjuic.

Depois da tragédia a cidade prestou-lhe algumas homenagens. Uma rua do bairro de Les Corts levou seu nome. O F.C. Barcelona lhe reservou a carteira de número 1 de sócio. Anos mais tarde o ditador Franco não permitiu que o novo estádio do clube, o “Nou Camp”, tivesse o nome do seu fundador.

Foi então que em 1966, o então presidente Enric Llaudet instituiu o “Troféu Joan Gamper”, que com o passar dos anos assegurou grande prestígio internacional, e com o qual tradicionalmente começa a temporada no "Camp Nou", antes do início da Liga Espanhola de Futebol. (Pesquisa: Nilo Dias)

Joan Gamper. (Foto: Acervo fotográfico do F.C. Barcelona)