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segunda-feira, 27 de junho de 2016

Morreu o cão de guarda do Internacional

Morreu às 7h30min da manhã de hoje (27), em Caçapava do Sul, sua terra natal, aos 61 anos de idade, Luis Carlos Melo Lopes, o “Caçapava”, um dos maiores volantes da história do Internacional, de Porto Alegre, vitimado por um infarto.

O ex-jogador seria o primeiro condutor da tocha olímpica na cidade do interior gaúcho. Ele jogou no time colorado entre 1972 e 1979, tendo conquistou dois Campeonatos Brasileiros e quatro Campeonatos Gaúchos, além de um campeonato cearense, pelo Ceará e um paulista, pelo Corinthians.

Era natural de Caçapava do Sul, por isso o apelido. Nasceu no dia 26 de dezembro de 1954. O volante deu seus primeiros passos no Gaúcho, time de Caçapava do Sul, quando tinha 18 anos de idade. Em 1972, transferiu-se para o Internacional, onde, aos poucos, começou a trilhar o caminho das grandes conquistas.

Em 1974, conquistou seu primeiro grande título com a camisa colorada, o Campeonato Gaúcho, que também ganhou em 1975, 1976 e 1978.

Um ano depois, deparava-se com um Beira-Rio completamente lotado para a grande final do "Brasileirão", diante do forte Cruzeiro. Placar de 1 X 0 para o Inter, gol do amigo Figueroa. Em 1976, veio o bicampeonato, vitória de 2 X 0 em cima do Corinthians de Neca e Ruço, entre outros.

Em um time onde quase todos atacavam e tinham qualidade para isso, "Caçapava" era o responsável pela guarnição da defesa colorada. Junto com Falcão, Carpegiani e depois Batista, formou um dos meios-campos considerados dos sonhos pelos colorados. Como marcador implacável, anulou grandes craques. Era o "cão de guarda" daquela equipe.

Depois, "Caçapava" ainda atuou por Corinthians (fez 148 jogos e marcou 5 gols), Palmeiras, Vila Nova, Ceará (campeão cearense em 1984), Novo Hamburgo e Fortaleza. Ele chegou a ter passagens pela Seleção Brasileira na década de 1970 e se aposentou em 1987.

Pouco antes de contratar "Caçapava", o presidente corintiano Vicente Matheus tentava a contratação do meio-campista Falcão, à época a principal estrela do Internacional.

Como o Colorado não tinha planos de perder seu melhor jogador para um time brasileiro, Falcão foi negociado posteriormente com a Roma, Matheus teve de se contentar em trazer o raçudo volante do Inter. "O melhor era o Falcão, mas o "Caçapava" estava também entre os melhores", contava Matheus.

"Caçapava" chegou ao Corinthians em 1979 e logo em seu primeiro ano no Parque São Jorge conquistou o título do Paulistão. O curioso é que além de Falcão e "Caçapava", o Corinthians tentou contratar mais um meio-campista colorado: Batista. Porém, Batista, embora tenha até colocado a camisa corintiana, jamais defendeu o alvinegro.

Na década de 1990, teve experiências como técnico no Piauí, dirigindo Ríver e Flamengo e paralelamente sendo pai de santo. Também dirigiu escolinhas de futebol para crianças carentes da sociedade local, em Timon (MA).

Também treinou a Escolinha de Futebol do 25º Batalhão de Caçadores - unidade militar do Exército Brasileiro - na divisa entre Teresina (PI) e Timon (MA) e ainda trabalhou no Internacional, nas categorias de base.

Em 2010, “Caçapava” foi homenageado em Piripiri (PI), com a reprodução de um clássico Gre-Nal em forma de “pelada”. O famoso volante gaúcho já havia treinado o 4 de Julho, time da cidade.

O Grêmio acabou levando a melhor no jogo: venceu por 5 X 3. E ao invés de sarapatel e buchada, o churrasco foi o prato do dia na confraternização final.

Atualmente, "Caçapava" trabalhava no setor de relacionamento social do Internacional e participava dos eventos consulares do Colorado. O velório ocorre a partir das 17h30 na Funerária Caçapava, sala 01. O enterro será realizado no Cemitério Municipal de Caçapava do Sul.

“Caçapava” era o cão de guarda da meia cancha colorada, e não dava descanso e nem sossego para os atacantes e meias mais desavisados.

Em um time onde quase todos atacavam e tinham qualidade para isso, o volante "Caçapava" era o responsável pela guarnição da defesa colorada. Junto com Falcão, Carpegiani e depois Batista, formou um dos meios-campos considerados dos sonhos pelos colorados mais antigos.

Como marcador implacável, anulou grandes craques que ousaram ameaçar os defensores do Inter, como Adãozinho e Palhinha, na final do Campeonato Brasileiro contra o Cruzeiro em 1975, e Geraldão, do Corinthians, em 1976.

Dizem, que embora fosse um negro de porte físico avantajado, o que impunha respeito em seus adversários, "Caçapava" sofria de uma enorme fobia por cobras e aranhas. Bastava alguém ameaçar jogar algum desses animais, mesmo que de brinquedo, contra sua pessoa, que saia em disparada feito uma criança medrosa.

Em uma entrevista dada ao programa “Paredao do Guerrinha”, na Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, em 2014, "Caçapava" disse que como jogador, sempre procurou “entender o campo”. Não era um “engenheiro” nem “loteador de terra”, mas loteava.

Teve a oportunidade de jogar com caras que tinham raciocínios diferentes, dribles diferentes. E ele era o complemento deles. O segredo “era dominar, ver e tocar", lembrava.

Com essa ideia de simplificar, "Caçapava" "facilitava" a vida dos craques dos time. Se precisasse, ele fazia uso da força para isso, sem rodeios.

"Se não der na técnica tem que dar no pau. No bom sentido... Tem que chegar junto”, resumia "Caçapava", que era tido pelo ex-zagueiro Elias Figueroa como fundamental para seu sucesso no Inter, já que o adversário "dificilmente passava pelo volante”.

O ex-volante do Inter, no entanto, não se restringia a marcar. "Caçapava" sabia o que fazer com a bola e na base do Inter e da Seleção chegou a atuar como meia e ponteiro, como relembrou no programa.

No entanto, a permanência dele no Inter, não foi tão fácil. Depois de um período de três meses, ele foi dispensado por Ernesto Guedes, mas o preparador físico da época o ajudou.

"Ele disse: os caras estão de sacanagem contigo. Vou te dar uma programação de exercícios e tu vais voltar para o Inter", lembrou o que foi dito. Um olheiro do Inter foi a Caçapava e assistiu a um jogo da base em que ele marcou gol. Com isso, o ex-jogador retornou ao clube do coração.

"Caçapava" via o título de 1975 como mais importante, já que foi a primeira conquista nacional do Inter. Daquele campeonato, a principal recordação foi a semifinal contra o Fluminense, onde ele não deixou Rivelino jogar e o Inter venceu no Rio de Janeiro por 2 X 0.

O técnico Rubens Minelli escalou o time com 10 na preleção e no fim da sua fala sentenciou. "Quem vai jogar nessa função é tu "Caçapava". Se tu marcares o Rivelino nós ganhamos o jogo", disse Minelli.

Como para "Caçapava" "missão dada era missão cumprida", ele aceitou o desafio e soltou uma frase que chocou os companheiros como Falcão, que chegou a chamar o colega de time de "louco".

"Tá 'morto' chefe!", disse Caçapava, confiante que anularia um dos melhores jogadores da época.

"Caçapava" "colou" em Rivellino desde o começo do jogo. Quando o craque do Fluminense tentou fazer o famoso "elástico", o volante deu com bola e tudo. Rivelino reclamou falta, mas o que ganhou foi um alerta de Dulcídio Boschilia.

"Do jeito que está esse “negão” vai te matar hoje", disse Boschilia, segundo lembra "Caçapava". Nova reclamação, desta vez de Paulo César Caju e o árbitro soltou: "calma ou ele vai matar dois".

Com o volante anulando as jogadas de ataque, o Inter derrotou em pleno Maracanã um Fluminense considerado uma verdadeira "Seleção". Para ele, naquele momento, o Inter teve que mostrar empenho acima de tudo.

"Não existe sorte. Existe empenho e dedicação. Cada um sabia sua função e o que podia render", recordava "Caçapava".

A morte do exjogador pegou seus ex-companheiros de surpresa. Valdomiro Vaz Franco, disse que estava arrasado:

"Não perdi um amigo, perdi um filho", comentou. Ele ainda destacou a garra de "Caçapava" em campo: "Ele fazia da bola um prato de comida. Aquela vontade de jogar. Aquela garra. Era uma pessoa que todo mundo gostava."

Valdomiro revelou ainda uma amizade muito próxima com ´"Caçapava": "Eu fui padrinho de casamento dele. Aconselhei ele quando foi pro Corinthians. Ele não queria sair do Inter. De jeito nenhum."

Através de sua assessoria de imprensa, Paulo Roberto Falcão, amigo e ex-companheiro de quarto nas concentrações do Internacional na década de 70, se declarou muito triste com a notícia do falecimento de "Caçapava". Confira a nota na íntegra:

Recebi com muita tristeza a notícia da morte do meu querido amigo e irmão "Caçapava". Se dentro das quatro linhas ele foi um grande jogador, fora foi uma das pessoas mais doces e sensíveis com quem convivi e de cuja sincera amizade compartilhei por muitos anos.

Que a família deste grande homem tenha o conforto necessário para enfrentar este difícil momento. (Pesquisa: Nilo Dias)