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sexta-feira, 15 de março de 2019

Botafoguense de alma e coração

 Roberto Lopes Miranda, um dos maiores atacantes da história do Botafogo, nasceu no dia 31 de julho de 1943, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. O menino franzino se destacou jogando pelo Manufatura, time do Barreto que volta e meia contava com a visita de olheiros nas partidas.

Com boas atuações e gols diante de clubes como Bangu e América, recebeu o convite do empresário do Fluminense para fazer teste no clube. Só que não teve chances de demonstrar seu futebol e quando saiu das Laranjeiras foi logo abordado e convidado a fazer testes no Botafogo. E foi em General Severiano que ele se firmou e começou a despontar no futebol.

Era 1957 quando o jovem Roberto, vestiu o manto da estrela solitária pela primeira vez. E logo começou a se destacar nos juniores do clube. Foi tri-campeão de juniores em 1961, 1962 e 1963. E estreou nos profissionais em 1962, quando também participou da campanha do título carioca.

Outra curiosidade lembrada pelo ex-jogador foi o tratamento que recebia dos consagrados jogadores da equipe profissional. Sem piedade alguma, Didi, Nilton Santos, Garrincha e Quarentinha saiam do treino e, ao avistarem o garoto jantando no refeitório, nem pensavam duas vezes antes de meterem a mão em seu prato. “Eles diziam que era o tira-gosto deles”, contava.

Fã dos “ladrões de comida”, que encantavam os amantes do bom futebol, Roberto Miranda não perdia um treino dos profissionais e chegou a pensar em deixar o clube, temendo não ter oportunidades no meio de tantos craques.

Mas, assim como no primeiro treino pelo Botafogo, também marcou gol na sua estreia como profissional e, com méritos, alcançou a titularidade daquele timaço.

Só em 1962 ele deu seus primeiros passos no time profissional. Em 1963 já era titular do time que naquela época, junto com o Santos era a base da Seleção. Nesse time que contava com Garrincha, Nilton Santos, Zagallo (bi-campeões mundiais). Além de craques como manga, Didi e Quarentinha.

A disposição, somada à facilidade de balançar a rede dos adversários, logo foi reconhecida e Roberto não demorou para cair nas graças da torcida alvi-negra.

Roberto Miranda viu de camarote a melhor safra de jogadores da história do clube. Por morar debaixo da antiga arquibancada de General Severiano, ele assistia diariamente ao treino de craques como Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo, entre outros.

E foi Amarildo sua maior inspiração. Ele se espelhou muito no “Possesso”, que logo foi vendido para o Milan. Roberto gostava muito do estilo dele, era rápido.

Em 1964 foi convocado por Vicente Feola, para disputar às Olimpíadas de Tóquio. O atacante não fez feio na competição, Foram dois gols marcados. Um no empate contra a República Árabe Unida (1 X 1) e outro na vitória contra a Coreia do Sul (4 X 0 ).

No único jogo que não marcou a seleção foi derrotada pela Thecoslováquia (1 X 0). Com a derrota o Brasil foi eliminado.

Depois dos Jogos Olímpicos, ele voltou para o Botafogo e continuou a conquistar títulos. Foi duas vezes campeão do Torneio Rio-São Paulo (1964 e 1966). Mais dois títulos cariocas (1967 e 1968). E o maior título da sua carreira no Botafogo, foi a Taça Brasil de 1968.

No total foram 351 jogos e 152 gols, que o tornam o nono maior goleador da história do Botafogo. Foi ainda o artilheiro do Campeonato Carioca de 1968. Suas atuações renderam uma caricatura no muro do clube, ao lado de outros grandes ídolos do Botafogo.

Em 1973 já sofrendo com lesões seguidas foi trocado pelo lateral Miranda do Corinthians, mesmo a contragosto. Embora tenha sido muito bom financeiramente para o alvinegro carioca, a contratação não gerou títulos para o time paulista. De acordo com o craque, o time era bom, mas muito azarado.

No Parque São Jorge, Roberto Miranda não conseguiu uma grande sequencia de jogos devido as lesões. Jogou pouco, por causa de diversas contusões. Uma operação no joelho direito acabou por fazê-lo encerrar prematuramente a carreira, ainda no Corinthians, em 1976, aos 33 anos. Foram 77 jogos e 21 gols, com a camisa do “Timão”.

Teve também uma curta passagem pelo Flamengo, onde sentiu a sensação mais estranha de sua carreira: jogar e vencer o Botafogo por 2 X 0, no Maracanã.

“Graças a Deus não marquei gol nessa partida. O Botafogo foi tudo na minha vida. Tudo que eu tenho hoje eu devo ao Botafogo”, dizia.

Além da Seleção Olímpica, ele também teve sua chance na Seleção principal. E a sua maior conquista da carreira foi a conquista da Copa do Mundo do México, em 1970.

Um título que ele jamais teria no currículo se o técnico João Saldanha não tivesse sido trocado por Zagallo: Ele tinha uma diferença com o Saldanha desde o juvenil do Botafogo, quando se recusou a fazer uma jogada, que ele pediu. Pouca gente sabe disso.

Mas com a saída de Saldanha tudo mudou. Um dia, ele foi cercado pela imprensa no treino, em General Severiano. Depois ele pediu para sair do treino. Estranhou, mas quando chegou ao vestiário ficou sabendo da sua convocação.

Em uma época de ouro do futebol brasileiro, com dezenas de jogadores que entraram para a história dos seus clubes, o artilheiro assegurou uma vaga entre os convocados para a Copa de 70, no histórico tri mundial.

Reserva imediato do ataque, entrou nas partidas contra Inglaterra e Peru, substituindo à altura Tostão e Jairzinho, respectivamente. “Jogar com aquelas feras foi tudo de melhor. Chegar ate a Copa do Mundo foi o auge. O “Dadá” nem mudava de roupa, ficava de terno, e eu que entrava”, tirava onda.

Além da Copa de 1970, ele esteve cotado para disputar as Copas de 1966 e 1974. Só que devido as lesões ele não foi convocado. Pela Seleção Brasileira, fez 18 partidas oficiais e marcou nove gols. Também atuou em dois jogos não oficiais, ambos em 1970, e marcou um gol.

Em sua carreira sofreu todo o tipo de lesão. Costela, braço, clavícula e tornozelo são apenas algumas partes do corpo que sofreram ao longo do tempo em que esteve nos gramados.

E ainda rompeu o “Tendão de Aquiles”, dessa vez em um acidente doméstico, quando da queda de um litro (vidro) de leite. Teve de fazer muitas cirurgias depois que parou de jogar.  Até uma cirurgia plástica

O antigo narrador de futebol da “Rádio Globo”, Valdir Amaral, foi quem o apelidou de “Vendaval”, porque partia para cima dos adversários que lhe batiam muito, mas encarava os caras também.

Tinha fama de "não fugir do pau", que cresceu quando, logo depois de marcar o gol de empate em uma partida contra o Vasco, levou um tapa do zagueiro Fontana e revidou, o que gerou uma enorme briga e causou a expulsão de ambos.

Inclusive, saiu do Maracanã sangrando e indo direto para a Delegacia de Polícia. “Iam me matar? Não! Então eu ia para a briga, mesmo”, comentava com bom humor.

Títulos conquistados. Pelo Botafogo: Campeonato Carioca (1962, 1967 e 1968); Torneio Roberto Gomes Pedrosa (1964 e 1966); Campeonato Brasileiro de Futebol (1968); Tri-campeão da Copa do Mundo de Clubes (1967,1968 e 1970); Campeão do Torneio de Carranza, Argentina (1966) e campeão do Troféu Jornalista de Caracas (1966). Seleção Brasileira: Copa do Mundo (1970).

Hoje, aos 75 anos, o ex-jogador continua vivendo do futebol. Participa de eventos, de palestras e descobriu uma nova paixão em Niterói, onde vive.

As cinco horas da manhã vai para a academia e aproveito para malhar. É um viciado em exercícios. Vai dormir pensando nisso. Fica até uma hora e meia na academia e ainda malha aos sábados.

Em razão da ruptura do ligamento cruzado em um dos joelhos, que o fez encerrar cedo a carreira, o médico o orientou a pegar peso para fortalecer o músculo. Fez tanto que não parou mais. (Pesquisa: Nilo Dias)