Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O “Dragão” dá a volta por cima

O Atlético Goianiense, um dos quatro clubes que se classificaram para a Série A do Campeonato Brasileiro de 2010 foi fundado em 2 de abril de 1937, com raízes no bairro de Campinas, na cidade de Goiânia, que acabara de ser fundada para ser a capital do estado de Goiás. Os fundadores do Atlético Goianiense foram: os irmãos Nicanor Gordo, primeiro presidente do conselho deliberativo, Alberto Alves Gordo e Afonso Gordo, Edson Hermano, primeiro goleiro do clube, João de Brito Guimarães, João Batista Gonçalves, Ondomar Sarti e Benjamim Roriz, entre outros.

O uniforme, com listras horizontais em vermelho e preto foi inspirado no Flamengo, do Rio de Janeiro e o escudo, no São Paulo F.C.. O símbolo do clube é um Dragão. O primeiro presidente do Atlético foi Antônio Accioly, que conseguiu o terreno para a construção do estádio do clube que leva o seu nome.

O primeiro campeonato goiano de futebol foi disputado em 1944 e vencido pelo Atlético. De lá para cá foram outros nove campeonatos estaduais conquistados, com destaque para o de 1957, quando foi campeão invicto. E por 21 vezes beliscou a taça, sendo vice-campeão.

A nível nacional, o Atlético Goianiense não tem do que se queixar, foi campeão brasileiro da Série C, em 1990, quando derrotou no jogo final ao América (MG), nos pênaltis, depois de 90 minutos em 0 X 0. Isso lhe deu o pioneirismo de ser o primeiro clube goiano a ganhar um título nacional importante. E em 2008, repetiu o feito. Antes, em 1971 já havia sido campeão do Torneio Integração, disputado por 16 equipes de diferentes estados, vencendo na partida final a Ponte Preta, de Campinas. Em campeonatos brasileiros da 1ª Divisão, a
melhor colocação foi o 21º lugar em 1980, entre 44 participantes.

Mas nem tudo foram flores na vida do clube. Em razão de más administrações o Atlético Goianiense passou por momentos de imensas dificuldades, e por pouco não enrolou a bandeira. Até o Estádio Antônio Accioly, patrimônio do clube sofreu com o descaso. Abandonado, acabou sendo demolido em 2001 para a construção de um shopping, mas um grupo de torcedores e a diretoria conseguiram embargar a obra. O pior aconteceu em 2003, quando pela primeira vez em sua história, o clube passou pela humilhação de cair para a segunda divisão do Campeonato Goiano, onde penou por dois anos.

Em 2005, quando assumiu o clube o presidente Valdivino José de Oliveira, o vice Maurício Sampaio, o presidente do Conselho, Marco Antônio Caldas, o ex-presidente Wilson Carlos e outros importantes beneméritos, o Atlético Goianiense deu a volta por cima: o estádio Antônio Accioly foi reconstruído e dentro de campo o time só deu alegrias, sagrando-se campeão do Acesso e garantindo o retorno a principal divisão do futebol goiano. Em 2006 o Atlético chegou a final do Campeonato Goiano contra o Goiás, com mais de 36.000 torcedores no Estádio Serra Dourada.

Em 2007, o Atlético venceu o Goiás por 2 X 1 no segundo jogo da decisão. No primeiro houve empate em 2 X 2, sagrando-se, depois de longos 18 anos campeão goiano perante 31.088 torcedores pagantes. No Campeonato Brasileiro da Série C, o time foi sexto colocado, por pouco não conseguindo subir para a Série B.

Em 2008 o Atlético conseguiu o acesso a Série B com quatro rodadas de antecedência , e para vibração de sua torcida, também o segundo título de campeão da Série C. O momento de graça do rubro-negro goiano atingiu o ponto máximo no último dia 21, quando classificou-se para a à Série A do Campeonato Brasileiro de Futebol, com uma vitória de 3 X 1 diante do Juventude, em pleno Estádio Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul.

Nos seus 72 anos de existência, o Atlético Goianiense tem se mostrado em verdadeiro celeiro de bons jogadores para o futebol brasileiro. Entre outros, revelou Baltazar, o “Artilheiro de Deus”, recordista absoluto de gols em campeonatos goianos, tendo balançado as redes adversárias 31 vezes, em 1978. Depois jogou no Grêmio, Flamengo, Palmeiras, Goiás e Atlético de Madrid, da Espanha; Júlio César, o “Imperador”, que brilhou pelo Flamengo; Valdeir, o “The Flash”, ídolo no Botafogo; Gilberto, destaque e campeão pelo Fluminense no estadual do Rio de Janeiro, em 1980; Luiz Carlos Goiano, ex-Grêmio e atual técnico do Barueri; Lindomar, que brilhou no Gama, de Brasília e Romerito, atualmente no Goiás. (Pesquisa: Nilo Dias)

Uma das primeiras equipes do Atlético Goianiense. (Foto: Acervo do Atlético Goianiense)

COMENTÁRIOS DE LEITORES

Gilson disse...
Eu parabenizo o brilhante repórter pelo brilhante trabalho e gostaria imensamente pela sua desenvoltura em saber das coisas o seguinte;
Quais foram do DRAGÃO GOIANIENSE, os MASSAGISTAS e se possível também LAVADEIRAS, que ajudaram o clube no periodo da sua fundação que foi em 1937 até a data de 1970
Trata-se de uma pesquisa na qual estou fazendo, já que sou fã do DRAGÃO.
Antecipo meus agradecimentos e sei que voce irá me RESPONDER. abraço.:
1 de dezembro de 2009 18:01

terça-feira, 24 de novembro de 2009

O alvinegro cearense

Mesmo faltando uma rodada para o término do Campeonato Brasileiro da Série B, já são conhecidos os quatro clubes que o ano que vem disputarão o principal campeonato do país. C.R. Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, Guarani F.C., de Campinas, Atlético Goianiense e Ceará Sporting Clube, que há 16 anos estava fora da elite do futebol brasileiro. O clube cearense garantiu a classificação ao derrotar a Ponte Preta, em Campinas por 2 X 1.

O Ceará foi o segundo clube come menos derrotas na competição, ficando nesse item atrás apenas do Vasco da Gama. Na festa do retorno a Série A, também a alegria de ver no mesmo dia, o maior rival, o Fortaleza, ser rebaixado para a Série C do campeonato brasileiro.

O Ceará Sporting Club foi fundando em 2 de junho de 1914. Tudo começou quando os jovens Luis Esteves Junior e Pedro Freire caminhavam no centro de Fortaleza. Após um deles chutar uma pedra, começaram a falar sobre futebol, surgindo a idéia de fundar um clube. Depois, encontraram alguns colegas no Café Art Nouveau, na Praça do Ferreira e a idéia da dupla foi bem aceita.

Ainda no mesmo dia, a turma se reuniu na residência de Luís Esteves. Segundo a história oficial estiveram presentes 22 pessoas, mas há quem diga que foram 18 e até 24. O nome escolhido para a nova agremiação foi Rio Branco Football Club, com camisas de cor lilás e calções brancos, semelhantes ao uniforme da atual Fiorentina, da Itália, que foi fundada 12 anos depois, em 1926, não havendo qualquer ligação com a escolha do time cearense.

A escolha do nome Rio Branco, provavelmente tenha sido uma homenagem ao diplomata brasileiro Barão do Rio Branco, falecido em 1912. Numa outra reunião, exatamente um ano depois, o nome do clube mudou para Ceará Sporting Club e como era difícil encontrar no Brasil camisas na cor lilás, o uniforme passou a ser preto e branco.

O primeiro presidente foi o comerciante Gilberto Gurgel, estabelecido na Praça do Ferreira. O primeiro ato da diretoria foi promover uma coleta entre os associados, para conseguir dinheiro para a compra de uma bola oficial número 5. Foram arrecadados quase 22 mil réis, uma quantia bastante apreciável, mostrando a boa condição social dos fundadores do clube.

Não demorou para que surgissem inúmeras equipes, entre as quais: English Team, Stella Foot-Ball, Rio Negro Foot-Ball Club, Hesperia Atlético Clube, Maranguape Foot-Ball Club, Fortaleza Sporting Club e American Footbal Club. Em 1915 foi fundada a Liga Metropolitana, que organizou os primeiros campeonatos no Estado. O campo do Prado, um amplo terreno da empresa Boris Frères - onde hoje se localiza o CEFET e o estádio Presidente Vargas - era o local mais apropriado para os jogos.

O campeonato de 1915, o primeiro disputado no Ceará contou com a participação do Ceará, Maranguape, Rio Negro e Stella. Na partida final, realizada no Campo do Prado, o Ceará bateu o Stella por 2 X 1, gols de Humberto Ribeiro e Pacatuba, conquistando o título máximo
de forma invicta e sofrendo apenas dois gols.

Em 1916 o Riachuelo se filiou a Liga. Mas deu Ceará outra vez. Na final, o alvi-negro bateu o Maranguape por 2 X 0, com dois gols de Walter Barroso. Em 1917, o Riachuelo desistiu de competir e em seu lugar ingressou o Hespéria Atlético Clube. O Ceará sagrou-se tricampeão cearense, ao derrotar na partida final, disputada no campo do Prado, o Stella por 1 X 0, gol anotado por Gotardo. Os títulos do Ceará se repetiram em 1918 e 1919, na conquista do pentacampeonato.

Em 1918, apenas quatro clubes disputaram o campeonato: Ceará, Fortaleza (antigo Stella, que acabara de ser fundado), Rio Negro e Hespéria. O Ceará derrotou o Fortaleza na final por 2 X 0, gols de Walter Barroso e Enoch. O campeonato de 1919 foi disputado por Bangu, Ceará, Fortaleza, Guarany e Hésperia.

Nessa competição o Ceará sofreu a primeira derrota de sua história, perdendo de 1 X 0 para o Guarany. A final foi novamente entre Ceará e Fortaleza, com vitória do alvinegro, que perdia por 1 X 0 até os minutos finais e conseguiu uma sensacional virada para 2 X 1, gols de Walter Barroso,. O Ceará sagrou-se pentacampeão com a defesa menos vazada, o melhor ataque e o artilheiro do campeonato.

O Ceará é o clube do Estado melhor colocado no Ranking da CBF, ocupando o 25.º lugar geral, com 965 pontos. Em 1985, na sua última participação na 1ª divisão nacional, se tornou o clube cearense melhor classificado, ao terminar a competição em sétimo lugar. O clube, que tem a maior torcida no Estado, também é dono da maior seqüência de títulos do campeonato estadual: pentacampeão entre 1915 e 1919.

O mascote oficial do Ceará S.C. é o "Vovô". Apesar de muitos pensarem que o cognome “Vovô” se deva ao fato de o Ceará Sporting Club ser o clube mais velho do Estado, o real motivo é outro. Em 1920 o presidente do clube, Meton de Alencar Pinto,tratava os jogadores de meus netinhos e se auto-intitulava "Vovô".

O estádio do Ceará é o Carlos de Alencar Pinto, apelidado de “Vovozão”, com capacidade para 3.000 pessoas, onde treina e disputa amistosos. Mas o time disputa seus jogos oficiais no Estádio Castelão, que pertence ao Governo do Estado, com capacidade para 58.400 torcedores, ou no Estádio Presidente Vargas, da Prefeitura de Fortaleza, com capacidade para 22 mil expectadores.

Em 1964 o Ceará chegou às semifinais da Taça Brasil, campeonato que indicava o representante do Brasil na competição que atualmente é chamada de Taça Libertadores da América. O alvinegro cearense foi campeão do Grupo Nordeste e da Zona Norte e terceiro colocado na classificação final. Em 1969 o Ceará conquistou a Copa Norte-Nordeste. De 1975 a 1978 foi tetracampeão cearense. Em 1994 foi vice-campeão da Copa do Brasil, perdendo na partida final para o Grêmio, no estádio Olímpico.

O vice-campeonato deu ao Ceará o direito de disputar sua primeira competição internacional, feito ainda não repetido por clubes cearenses: a Copa Conmebol de 1995. Apesar de ser eliminado na primeira fase, o alvinegro saiu invicto da competição

No período de 1996 a 1999 o Ceará conquistou outro tetracampeonato. Em 2005 o Ceará realizou mais uma boa campanha em uma competição nacional: a Copa do Brasil, quando chegou às semifinais da competição, conseguindo eliminar grandes times, como Atlético Mineiro e Flamengo, e terminou na quarta colocação.

Títulos do Ceará Sporting Clube. Nacionais; vice-campeão da Copa do Brasil (1994); Interestaduais: Torneio Norte-Nordeste (1964 e 1969); Copa do Nordeste (1969); Copa Verão de Recife (1997); Estaduais: campeonato Cearense: 1915, 1916, 1917, 1918, 1919, 1922, 1925, 1931, 1932, 1939, 1941, 1942, 1948, 1951, 1957, 1958, 1961, 1962, 1963, 1971, 1972, 1975, 1976, 1977, 1978, 1980, 1981, 1984, 1986, 1989, 1990, 1992 (dividido com Fortaleza, Icasa e Tiradentes) , 1993, 1996, 1997, 1998, 1999, 2002 e 2006; Torneio Início: (1922, 1923, 1926, 1932, 1936, 1937, 1943, 1947, 1952, 1953, 1967 e 1978).

Artilheiros alvinegros no Campeonato Cearense: Walter Barroso ( 1915, 1916, 1918 e 1922); Pau Amarelo (1925); Farnum (1931 e 1932); França: 1941 e 1942); Pirão (1943); Alfredinho (1948); Antonino (1951); Luiz (1956); Gildo (1961 e 1963); Vítor (1971); Da Costa (1972); Marciano (1981);Ademir Patrício (1982); Anselmo (1984); Rubens Feijão (1986); Hélio Carrasco (1990); Pintinho (1996). Artilheiros do Brasil: Sergio Alves (2002, dividido com Mário Negrim, do Ferroviário).

O jogo mil de Pelé pelo Santos, foi contra o Ceará, no dia 3 de novembro de 1972. No confronto de alvinegros quem se deu bem foi o “Vovô”, que venceu por 2 a 1. Pelé marcou para o Santos e Samuel e Da Costa para o Ceará. Cerca de 36 mil torcedores assistiram o jogo realizado no Estádio Presidente Vargas. O Ceará jogou com: Hélio - Paulo Tavares – Odélio - Mauro Calixto e Dimas – Edmar – Joãozinho e Nado - Jorge Costa - Samuel e Da Costa. O Santos teve: Joel Mendes – Turcão – Paulo - Altivo e Murias (Vicente) – Léo – Pitico e Roberto Carlos - Afonsinho (Edu) - Pelé e Ferreira.

O Ceará já utilizou cinco escudos. O primeiro (1914 a 1915), quando ainda se chamava Rio Branco Foot-Ball Club; O segundo, (1915 a 1954) tinha sete listras alternadas em branco e preto, além das iniciais CSC: Ceará Sporting Club; O terceiro, (1955 a 1969) era inspirado no escudo do Santos, de São Paulo,com uma bola na parte superior, o nome "Ceará" e nove listras alternadas em branco e preto; O quarto, (1970 a 2003) trazia em destaque o nome do clube, além de nove listras alternadas em preto e branco; O quinto escudo, (2003 até hoje), traz a data da fundação do clube (1914), além de cinco estrelas representando o pentacampeonato estadual (1915-1919) e listras em preto e branco.

Alguns dos grandes jogadores que envergaram a camisa alvinegra em toda sua história: Carneiro, Alexandre, Carlito, Dimas Filgueiras, Arturzão, Edmar, Serginho, Zé Eduardo, Erandy, Da Costa, Tiquinho, Petróleo, Hélio Carrasco, Katinha, Gildo, Lula Pereira, Jorge Luis Cocota , Vítor Hugo, Pintinho, França, Hermenegildo, Mota, Damasceno, Mastrillo, Mitotônio, Gotardo, Nado, Pintado, Cláudio Adão, Marciano, Ivanildo, Amilton Melo, Elói, Sérgio Alves, Iarley e Adilson. (Pesquisa: Nilo Dias).

Time do Ceará, campeão estadual de 1915. (Foto: Acervo do Ceará Sporting Clube)

COMENTÁRIOS DE LEITORES

Mastrillo Veiga disse...
Caro amigo, você esqueceu do guerreiro Mastrillo,esse tem que estar em qualquer equipe do Ceara em todos os tempos. Um grande abraço do amigo Feliipe Mastrillo, filho do proprio.
17 de dezembro de 2009 17:17

RESPOSTA: Mastrillo já consta da matéraia, atendendo sua observação.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Uma vitória por meio gol

Quem quiser duvidar, que duvide. Mas que aconteceu, aconteceu. Foi no início da década de 50, na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul.

Domingo de tarde, inverno, tempo ruim, uma chuva fina e fria e um vento Minuano de fazer doer as orelhas. Mesmo assim o campo de jogo estava cheio. Umas quatrocentas pessoas se amontoavam por debaixo dos pés de cinamomo, buscando abrigo.

O Gaúcho, da vila do Bolacha e o Vila Verde, da vila de mesmo nome decidiam o campeonato amador da cidade. Jogo parelho, difícil de apitar. Muita rivalidade entre os times. As duas vilas que representavam, eram separadas por um córrego e unidas por um pontilhão.

Jogo duro, era falta em cima de falta, os ânimos cada vez mais exaltados e o relógio correndo mais rápido que a bola. E nada de sair do 0 x 0. Ninguém queria perder. Foi quando Saci, o craque do Gaúcho, um crioulo magro e serelepe fugiu da zaga adversária e mandou bala em direção ao gol.

Por uma dessas brincadeiras de mau gosto que só o destino pode aprontar, a bola parou numa poça d’água bem em cima da risca fatal. Formou-se a confusão. O pessoal do Gaúcho gritava pedindo gol. A gente do Vila jurava que a bola não havia entrado.

Coitado do juiz, um tal de Chico Cachaça, que apitava de graça, só para colaborar, se viu de repente no meio de uma confusão danada. Se desse gol, ia apanhar. Se não desse, ia apanhar também.

Para piorar, não havia nenhum brigadiano no campo. Tomar qualquer decisão seria uma loucura, quase um suicídio. Pensou rápido e decidiu dar no pé. Saiu correndo rua afora, com os jogadores dos dois times e as torcidas atrás. Como era ligeiro, conseguiu chegar ao posto policial da vila.

Novo bate boca. É gol, não foi gol. Com a proteção dos brigadianos ninguém se atreveu a tocar no Chico Cachaça, que prometeu colocar na súmula a sua decisão. Mesmo assim, só conseguiu chegar em casa já quase meia-noite.

No outro dia, debaixo de enorme expectativa o presidente da Liga, rodeado de dirigentes e jogadores leu a súmula do jogo. Para surpresa geral estava escrito: ”Terminei o jogo aos 42 minutos do segundo tempo por falta de garantia, ficando o escore em meio gol a zero, favorável ao E.C. Gaúcho”. Há quem jure que até hoje a súmula está guardada no cofre da Liga, como prova aos incautos de que isso realmente aconteceu. (Texto: Nilo Dias)

A vida de juiz de futebol é dura.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Para haver punição a vítima tem que ser medalhão

O responsável epelo blog publica este artigo por considerá-lo apropriado para o momento.

Por Gerson Sicca
http://limponolance.blogspot.com

Há muitas mentiras sobre o Brasil. Afinal, só um universo de mentiras pode manter uma sociedade tão desigual.

Uma mentira muito difundida é a de que o povo brasileiro é bom e solidário.
Uma ficção. Os brasileiros são humanos, com qualidades e defeitos, parecidos e diferentes entre si, como todos os povos, e criados em uma sociedade que aceita a crueldade alheia com imensa naturalidade.

É certo que relações de solidariedade são fortes no âmbito familiar e em grupos mais próximos (vizinhos, turma do futebol, etc), além das situações extremas de intenso sofrimento, como nas catástrofes. No entanto, no geral, quando se trata de avaliar o significado do que ocorre no seio da sociedade, o brasileiro raramente consegue pensar para além da sua esfera privada. Aliás, isso é comum no homem médio.

Pessoas morrem de fome, corruptos deitam e rolam no Poder Público, violência para todos os lados, contra a mulher, pobres, negros, homossexuais, trabalhadores, sistema prisional grotesco, e a maioria do povo nem está para tudo isso. Escandaliza-se com um fato aqui e ali, mas logo volta para a sua novela. Reclama do político e segue votando em quem compra voto, e por aí vai.

E nessa terra de "se a farinha é pouca, meu pirão primeiro", o povo costuma gritar mais alto sempre quando o andar superior sente-se lesado. Aí todo mundo fala e até o oprimido quer defender o opressor, ainda que muitas vezes por falta de informação. Por outras vezes, defende mesmo por ter uma visão de que a estrutura desigual deve mesmo ser mantida.

Por que falo de tudo isso? Por causa de Carlos Simon.

Já vi erros grosseiros de Simon. Erros mesmo, o roubo clássico. Erros sem explicação. O maior deles na final da Copa do Brasil de 2002, entre Corinthians e Braziliense, quando ele não deu um pênalti claro para o time de Brasília e ignorou uma falta absurda no lance de um dos gols do time paulista, tudo isso na primeira partida da final. Mas nenhum de seus "apitaços" deu tanta repercussão quanto o lance de domingo, no jogo entre Flu e Palmeiras.

Até pode ser que Simon tenha errado. Mas vendo com atenção percebe-se que Obina joga o braço para trás para impedir a antecipação do zagueiro tricolor. Logo, perfeitamente poderia ser marcada a falta, ainda mais no Brasil, onde os árbitros marcam qualquer coisa.

Mas o Palmeiras berrou e a Comissão de Arbitragem correu para socorrer o alviverde. Afastou Simon.

Estranho que os erros crassos de Héber Roberto Lopes na primeira partida da final da Copa do Brasil deste ano não tenham obtido a mesma repercussão. Um pênalti claro em Alecsandro aos 7 do primeiro tempo, quando o placar de Corinthians e Inter estava 0 a 0, e o segundo gol dos paulistas feito depois do jogador cobrar a falta com a bola rolando, bem na frente do árbitro.

Agora todo mundo fala, o Presidente do Palmeiras, imprensa, jogadores e quem mais tiver cordas vocais. Repercussão nacional.

E fica assim. O brasileiro não se irrita com o roubo, com a violência, com a falta de caráter. Ele foi criado na desigualdade e treinado para reproduzi-la. O brasileiro irrita-se quando os efeitos negativos da bizarrice nacional atingem o piso superior. Ninguém se indigna pelo ato em si, mas por quem foi afetado.

E assim continuamos. Julgamos conforme a vítima e o réu, e não pelo significado dos atos. O que nos interessa é manter a desigualdade e evitar que os afortunados sofram com as consequências nefastas, decorrentes do país cruel que nossos ancestrais criaram e que mantemos todos os dias com nosso comportamento na rua, na política, no trabalho e nas relações afetivas.

O Brasil tem uma sociedade civil que não se funda na igualdade, na liberdade e na ética.É o salve-se quem puder. E seguimos defendendo a desigualdade.

Por isso, se o Palmeiras berrar todo mundo vai acudir. Agora, se o reclamante tiver menos prestígio, será apedrejado e ridicularizado, embora vergonhosamente roubado.

Em suma, a Comissão de Arbitragem é Brasil!

OBSERVAÇÃO: E como ficam os "enganos" (será, mesmo?) que se verificam a cada rodada do Brasileiro, Séries A ou B. Os pênaltis não marcados para o Grêmio contra o São Paulo. O escândalo do jogo São Paulo X Barueri. O assalto "a mão desarmada" contra o Campinense, no jogo com o Vasco da Gama, o clube que teve mais pênaltis a seu favor em todo o Brasil, nos últimos anos, a maioria inventados. E por ai vai, é um campeonato altamente suspeito que procura beneficiar times do Rio e São Paulo. E o resto que se dane. (Nilo Dias)