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quinta-feira, 4 de outubro de 2018

O homem bomba

Éder Aleixo de Assis, mais conhecido como Éder ou ainda Éder Aleixo, foi um dos grandes ponteiros esquerdos do futebol brasileiro, em todos os tempos. Nasceu em Vespasiano (MG), no dia 25 de maio de 1957.

Sua infância em Vespasiano foi sempre jogando bola. Isso lhe ajudou muito. Até porque seu pai foi jogador profissional e o incentivava muito. Teve a oportunidade de ser descoberto pelo “Biju”, que era o treinador do América. E o América treinava em Vespasiano e foi convidado para treinar no América aos 13 anos.

A sua vitoriosa carreira teve início nas categorias de base do América Mineiro.  Mas atingiu o auge no Grêmio Portoalegrense e no Atlético Mineiro. Em 1977 foi contratado pelo Grêmio Portoalegrense, onde foi campeão gaúcho em 1977 e 1979. Tem uma história no Grêmio em que Éder se apresentou ao clube com o braço enfaixado, pois havia sido vítima de um tiro.

Estava de férias em belo Horizonte. Ele estava com o então atleta e hoje técnico, Marcelo Oliveira. Havia recém voltado da praia. E ele até iria dormir na casa de Éder. Mas antes foram num barzinho na rua Paraíba.

Já estava indo embora, cada um no seu carro. Foi quando Éder ouviu Marcelo pedindo socorro, pois estava sendo assaltando. Éder foi para cima dos caras que lhe deram dois tiros, e correram.  Quando ele foi levantar o Marcelo, sentiu o sangue jorrando.

Tem até hoje essas duas marcas no braço. Foi para o hospital, lúcido. Lá lhe mostraram as duas marcas e fez a cirurgia. Tinha 21 anos, foi em 1978. Havia ficado na lista dos 40 jogadores do Cláudio Coutinho, para a Copa da Argentina. Ele e Falcão.

O Telê, que era o técnico, chegou no hospital. Éder estava na enfermaria, ao lado de outras vítimas de um acidente num viaduto. Telê  chegou querendo lhe tirar de lá, leva-lo para um apartamento.  Mas não quis. Há quem diga que foi uma briga que o ponta estava envolvido ao sair de uma boate.

Dois anos depois (1979), teve seu passe adquirido pelo Atlético Mineiro. Evidente que sua troca foi facilitada pelo fato de Éder ser atleticano apaixonado desde criança, e viria a se tornar o grande “Canhão Mineiro”. O jogador viveu no Atlético a fase mais bela e polêmica de sua carreira no futebol.

Pouco motivado no Grêmio, Éder conseguiu a inimaginável façanha de bater os sagrados Reinaldo e Cerezo na preferência da massa atleticana. Nesta mudança para Belo Horizonte, abandonou alguns vícios, deixou de fumar, por exemplo, adquiriu alguns hábitos saudáveis, passou a treinar mais e dedicou atenção especial ao desenvolvimento de seu chute.

Em consequência, começou a marcar gols olímpicos e suas cobranças de falta tornaram-se mortais. Só não conseguiu mudar o temperamento explosivo. Acumulou 25 expulsões só no “Galo”. 

Éder, bonito e namorador, chamava a atenção das mulheres e era visto com freqüência em bares noturnos e boates da capital mineira.
Ao chegar no “Galo”, em 1980, não gostou de ser reprimido pelo técnico Procópio Cardoso por enfeitar jogadas e mandou na lata:

"Não se mete no meu jogo". Em reportagem de abril de 1981, a revista “Placar” assim descreveu o gênio forte do camisa 11: "Era rebelde, xingava cartolas, brigava com técnicos, desrespeitava adversários, treinava pouco".

A lista de brigas de Éder vai desde Casagrande (sendo reprimido num Atlético x Caldense) até socos que lhe valeram um lugar na Copa de 1986. Brigou com companheiros de próprio clube e marcadores dos rivais. Temperamento explosivo, tal qual a maneira de fuzilar os goleiros. Porém, soube dosar e amenizar sua imagem de vida boêmia com seu belíssimo desempenho em campo, sempre com jogadas espetaculares e gols incríveis.

Foi no alvinegro mineiro que passou a maior parte de sua carreira. Suas grandes atuações valeram muitas convocações para a Seleção Brasileira.  Vestiu a “Canarinho” em 52 partidas, entre 1979 e 1986, sendo cinco não oficiais. Esteve na “Copa do Mundo”, de 1982. Seu apelido era “Canhão”, uma vez que era dono de um chute muito potente.

Sua presença na Copa de 1986 era quase certa, uma vez que o técnico Evaristo de Macedo bancou Éder no elenco titular. A última partida do meio-campista foi contra o Peru, em abril. O "Bomba" deu um soco no rosto do lateral peruano Castro e foi expulso pelo árbitro Arnaldo Cezar Coelho. Foi a pá de cal para a carreira internacional de Éder, que não foi convocado para a Copa.

No entra e sai no clube mineiro – foram quatro passagens -, sendo a mais conhecida entre 1979 e 1985, quando conquistou cinco títulos estaduais, 1980, 1981, 1982, 1983 e 1985 e ainda o “Torneio de Paris de Futebol”, em 1982. Éder também foi agraciado com a “Bola de Prata”, do Campeonato Brasileiro de 1983.

Depois de uma frustrada passagem pelo futebol turco, onde defendeu o Malatyaspor, Éder retornou ao Atlético em 1989, tendo conquistado apenas um título, o de campeão do “Troféu Ramón de Carranza”, em 1990. Éder Aleixo vestiu a camisa do “Galo Mineiro”, por 368 vezes e marcou 122 gols.

Antes, havia passado por Internacional, de Limeira, Palmeiras e  Santos, todos de São Paulo, Sport Recife, Botafogo,do Rio de Janeiro, Atlético Paranaense e Cerro Porteño, do Paraguai, também sem sucesso.

Quase encerrando a carreira, Éder jogou de novo no Atlético Paranaense, em 1991, e pelo União São João, de Araras (SP), onde ficou até 1992. Teve ainda uma curta e surpreendente passagem pelo Cruzeiro, de Belo Horizonte, em 1993, quando conquistou sua única “Copa do Brasil”.

Defendeu o Atlético pela derradeira vez entre 1994 e 1995, ano em que voltou a atuar pelo União São João, onde permaneceu por um ano. Já sem a qualidade de antigamente, Éder passou alguns meses no Conquista (BA) e no Gama (DF). Em 1997, foi contratado pelo Montes Claros, quando já tinha 39 anos de idade. Éder encerrou a carreira pouco depois.

Hoje em dia, é empresário e comentarista esportivo na TV Globo, em Minas, e também dono de várias escolinhas de futebol. Chegou a trabalhar como diretor de futebol do Atlético até 2004.

Em janeiro deste ano o Atlético Mineiro criou o “Projeto Galo Forte”, que tem como objetivo buscar mais ajuda na base atleticana. Essa nova criação permitirá a observação de todas as camadas jovens do clube, o que irá ajudar no trabalho de montagem e observação de jogadores. O coordenador do projeto é o ex-jogador do clube Éder Aleixo.

Títulos. Grêmio. Campeão Gaúcho (1977 e  1979). Atlético Mineiro. Vice Campeão Brasileiro (1980); Campeão Mineiro (1980, 1981, 1982, 1983, 1985, 1989 e 1995); Campeão do “Troféu Brasília 21 anos” (1981); Campeão do “Torneio de Paris”, França (1982); Campeão do “Torneio de Bilbao”, Espanha (1982); Campeão do “Torneio de Berna”, Suíça (1983); Campeão da “Taça Tancredo Neves” (1983); Campeão do “Torneio de Amsterdã”, (1984); Campeão da “Taça 40 anos do Sindicato dos Jornalistas” (1985); Campeão do “Troféu Sérgio Ferrara” (1985) e Campeão do “Troféu Ramón de Carranza”, Espanha (1990).

Cruzeiro. Campeão da “Copa do Brasil” (1993); Seleção Brasileira. Terceiro lugar na “Copa América” (1979); Segundo lugar no “Mundialito”, de Montevidéu, Uruguai (1980); Campeão da “Taça da Inglaterra” (1981). Campeão da “Taça da França” (1981); Quinto lugar na “Copa do Mundo” (1982); Campeão do “Troféu Sport Billy Time”, fair play da Copa do Mundo (1982) e Segundo lugar na “Copa América” (1983).

Participou da goleada histórica do Atlético em cima da Seleção da Colômbia por 6 X 1, no “Mineirão”, dando um verdadeiro show com suas bombas, sendo um dos heróis do massacre.

Essa apresentação foi só uma das que deixaram Telê Santana convicto de que Éder deveria figurar entre os craques da Seleção Brasileira de 1982 na Copa do Mundo.

Prêmios: Revelação do Campeonato brasileiro (Oficial) (1980); “Bola de Prata” do Campeonato Brasileiro (1983) e 3º Maior Futebolista Sulamericano do ano - El Mundo – Venezuela (1983).

Também foi acusado de ganhar dinheiro para correr em direção a uma determinada placa de propaganda quando comemorasse seus gols, o que o teria levado a não passar bolas para companheiros mais bem colocados, na ambição mais de dinheiro que pelos gols. Fez parte do "Galo Hexa", maior seqüência já alcançada em Minas Gerais na era profissional.

Em 1982, no “Mundial na Espanha”, a tristeza da derrota para a Itália foi compensada pelo ego vaidoso do ídolo mulherengo que recebeu 16 mil cartas femininas.

Seu futebol, cobiçado por clubes do mundo inteiro, foi alvo do Hajmn, um clube do Emirados Árabes Unidos, que ofereceu sete milhões de dólares pelo ponta-esquerda.

Se aceita, seria a mais vultosa transação de toda a história do futebol até aquele momento, depois da compra do argentino Maradona pelo Barcelona por oito milhões de dólares.

O então presidente do Atlético, Elias Kalil recusou a proposta com certa serenidade. Kalil agiu com o coração de torcedor e constatou que Éder era insubstituível, pois apesar de todo aquele dinheiro na mão, não conseguiria comprar nenhum jogador que chutasse como ele.

Carreira no Atlético. Jogos: 368; Vitórias: 219; Empates: 84; Derrotas: 65; Gols: 122; Estreia: Atlético 1 X 1 São Paulo, em 3 de fevereiro de 1980; Último jogo: Atlético  3 X 1 Cruzeiro, em 4 de junho de 1995. (Pesquisa: Nilo Dias)