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sexta-feira, 8 de julho de 2016

O zagueiro das pernas arqueadas

Dia desses, não sei por que cargas d’água fui lembrar de Vagner Bacharel, um zagueiro de boa qualidade que jogou em vários clubes do futebol brasileiro, entre eles o Internacional, de Porto Alegre. E fui vasculhar na Internet maiores informações sobre ele, que faleceu aos 36 anos de idade, vítima de um lance casual no campo de jogo, quando defendia o Paraná Clube.

Zagueiro de estilo clássico, com ótimo posicionamento, bom cabeceador e com espírito nato de liderança, Vagner de Araújo Antunes, de apelido Bacharel, nasceu em 11 de dezembro de 1954, no Rio de Janeiro.

Ele fez sucesso por onde passou. Usou a braçadeira de capitão em praticamente todos os clubes que defendeu. Elogiado pela raça e pela qualidade técnica, o “xerifão” começou a carreira no Madureira, do Rio de Janeiro.

Com atuações destacadas pelo pequeno clube carioca na década de 1970, acabou negociado com o Joinville, de Santa Catarina, que na época batia de frente com as grandes potências futebolísticas no Brasileirão.

Depois chamou a atenção de dirigentes do Internacional, de Porto Alegre onde jogou em 1981. Posteriormente, defendeu o Cruzeiro, de Belo Horizonte, em 1982.

Seguro e implacável na marcação, Vagner Bacharel foi comprado pelo Palmeiras no início de 1983 e tornou-se ídolo da torcida alviverde, transformando-se num dos maiores jogadores do clube nos anos 1980.

Formou dupla de zaga com Luís Pereira e marcou 22 gols nos 260 jogos que disputou pela equipe palmeirense, com 102 vitórias, 105 empates e 53 derrotas, de acordo com o “Almanaque do Palmeiras”, de Celso Unzelte e Mário Sérgio Venditti.

Segundo o filho dele, Wagner Antunes Júnior, foi no Palmeiras que ele ganhou o apelido de Bacharel. Gostava de chamar todos os companheiros de bacharel. No final, foi ele que ficou sendo o Bacharel.

Conseguiu o feito de ser um dos poucos jogadores anistiados pela torcida palmeirense depois de a equipe perder a final do Paulistão de 1986 para a Inter de Limeira, numa das maiores surpresas do futebol até hoje.

Indiscutivelmente, foi uma liderança positiva, que sabia como manter o bom ambiente do grupo. Era metódico e sabia discernir qual a hora da cervejinha com os amigos, principalmente após os jogos.

Bacharel acabou entrando na estatística daqueles jogadores que morreram de maneira trágica e que foram esquecidos pela mídia e até pelos torcedores.

A principal virtude dele era o jogo aéreo. Também pudera, tinha mais de 1.80 de altura. Mas também sabia desarmar. Não era qualquer atacante que conseguia driblá-lo. 

Mas tinha um pecado, que muitas vezes se mostrou fatal, era lento demais e tinha dificuldades quando enfrentava atacantes velozes. E também tinha as pernas arqueadas, mas jurava que elas não o atrapalhavam em nada.

Mas os torcedores dos outros times não perdoavam e a gozação era comum. Tinha gente que dizia maldosamente, se ele jogasse futebol de salão e ficasse na barreira, a bola passaria no “vão” de suas pernas e seria gol do adversário.

Do Palmeiras, onde foi vice-campeão paulista em 1986, foi para o Botafogo, do Rio de Janeiro. E do alvinegro carioca para o Guarani, de Campinas que tinha um grande time e foi vice-campeão paulista de 1988.

No “bugre” campineiro brilhavam jogadores como Evair, Marco Antonio Boiadeiro, Ricardo Rocha, Neto, Paulo Isidoro, Sérgio Neri e outras feras comandadas pelo técnico José Luiz Carbone.

O time bugrino atropelou os concorrentes e chegou à final do estadual contra o Corinthians. Houve empate de 1 X 1 no primeiro jogo no Morumbi. Na partida de volta, o alvinegro venceu por 1 X 0, gol de Viola, aos 4 minutos do primeiro tempo da prorrogação.

Em 1990 foi jogar no Paraná Clube, depois de ter atuado pelo Fluminense, Sport Recife e Villa Nova (GO). Ele foi o primeiro capitão da história do time, que recém havia sido fundado, resultado de uma fusão entre Pinheiros e Colorado.

Estreou na derrota de 1 X 0 para o Coritiba, no dia 4 de fevereiro. Quatro meses após a sua contratação, na tarde de domingo, dia 14 de abril de 1990, no início do segundo tempo contra o Campo Mourão, pelo Campeonato Paranaense, ele subiu para cabecear e chocou-se com César Ponvoni, o “Charuto”, zagueiro adversário.

Com muitas dores, Vagner foi atendido ainda no gramado da Vila Capanema, em Curitiba, e logo encaminhado ao Hospital Evangélico, onde passou por uma radiografia e recebeu analgésicos.

Teve alta dois dias depois, mas retornou ao mesmo hospital. Só então, fizeram uma tomografia, que constatou um traumatismo craniano. Com a piora da sua saúde, foi transferido ao Hospital Cajuru no dia 19 e morreu dia 20 de abril de 1990, deixando a mulher Renata, e os filhos Wagner, hoje analista de projetos, e a analista financeira Tayane.

A viúva contratou advogados e ingressou na Justiça com pedido de indenização. Em 15 de dezembro de 1995, o juiz Valter Ressel, da 16ª Vara Cível de Curitiba, julgou inadequada a conduta dos médicos André Luiz Oliveira, do Paraná, e Inolan Guiginski de Oliveira, do Hospital Evangélico.

E condenou as duas instituições a indenizarem a família em 10,9 salários mínimos mensais até 2019, quando Vagner completaria 65 anos, e mais 500 salários mínimos (R$ 440 mil na época) por danos morais.

O falecimento de Bacharel mudou a vida da família radicalmente. Voltaram a morar no Rio de Janeiro e a viúva Renata Antunes, mulher guerreira, assumiu o papel de pai e o de mãe.

O futebol paranaense já havia sido enlutado no dia 18 de setembro de 1978 com a morte de Valtencir, aos 32 anos de idade, então jogador do Colorado, clube que posteriormente se fundiu com o Pinheiros para a criação do Paraná.

O lateral-esquerdo sofreu lesão na coluna cervical e no cérebro após choque com o meia Nivaldo, do Maringá, e morreu no local, o Estádio Willie Davis, em Maringá.

Apesar de passados 26 anos do falecimento de Bacharel, o filho Wagner Júnior costuma dizer que a dor da perda passa e a saudade fica. É essa saudade que até hoje sente de seu pai, de quem tem orgulho de ser filho. Mas garante que tem mais orgulho, ainda em ser filho da Renata Antunes. Pesquisa: Nilo Dias)