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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Niginho, o "menino metralha"

Leonídio Fantoni, o “Niginho”, grande ídolo da torcida do Palestra, de Belo Horizonte, que na década de 1940 mudou o nome para Cruzeiro E.C., nasceu em 12 de fevereiro de 1912, em Belo Horizonte e faleceu em 5 de setembro de 1975, em Belo Horizonte.

Era membro de uma família palestrina. Ao menos cinco familiares atuaram pelo clube mineiro: ele, os irmãos João Fantoni (Ninão) e Orlando Fantoni, o primo Otávio Fantoni (“Nininho”) e os sobrinhos Benito e Fernando Fantoni. Excetuando os sobrinhos, todos atuaram na época em que o clube era Palestra Itália.

Com 14 anos, já atuava nas categorias de base do Palestra. “Niginho" não foi apenas seu único apelido. Ficou também conhecido como "Carrasco dos Clássicos", por ter sido o palestrino/cruzeirense que mais marcou gols contra Atlético e América.

Em toda a história do maior clássico de Minas Gerais, ninguém foi mais carrasco que o imortal “Niginho”. Carrasco de verdade. Daqueles que fazem muitos gols numa partida e só de entrarem em campo provocava calafrios nos adversários. Em sua primeira passagem pelo Palestra marcou seis vezes em 11 clássicos.

Outro apelido era "Tanque", fruto de sua especialidade, romper as defesas adversárias aproveitando-se de sua alta estatura e força física. "Menino Metralha" foi outro apelido, pois chutava tanto a gol quando chegou ao time principal, aos 19 anos, que logo passou a ser chamado dessa forma.

Por ser alto e forte, “Niginho” fazia da raça a sua principal característica. Armar jogadas não era seu forte. Em compensação tinha grande facilidade de romper defesas com piques rápidos e arremates potentes. Era um atacante de raro talento, tendo marcado 207 gols pelo clube mineiro, em 257 partidas, segundo o Almanaque do Cruzeiro, de Henrique Ribeiro. Em sua primeira passagem pelo Palestra, ganhou um tricampeonato mineiro, em 1928, 1929 e 1930.

Jogou ainda pela Lazio da Itália, Palmeiras, Vasco, Atlético Mineiro e novamente Cruzeiro, onde encerrou a carreira. Foi campeão mineiro em 1928, 1929, 1930, 1940, 1943, 1944 e 1945. Era irmão de Orlando Fantoni, que também jogou futebol e tornou-se renomado treinador após encerrar a carreira.

De acordo com o Almanaque do Palmeiras, de Celso Unzelte e Mário Sérgio Venditti, fez seis jogos pelo clube paulista, com a marca incrível de seis gols marcados. Conquistou cinco vitórias e empatou uma partida.

“Niginho” era um dos quatro Fantoni revelados pelo futebol mineiro. Era irmão de João Fantoni (“Ninão”) e Orlando, atacantes, e primo-irmão de “Nininho”, lateral esquerdo. Todos eles começaram a carreira no Palestra (atual Cruzeiro), e um por um foram parar no futebol italiano, onde alcançaram grande sucesso jogando pela Lazio nas décadas de 1920 e 1930.

Na Itália ficaram conhecidos como Fantoni I (“Nininho”), Fantoni II (“Ninão”), Fantoni III (“Niginho”) e Fantoni IV (Orlando). Orlando Fantoni, inclusive, também teve passagens pelo Vasco, tanto como jogador quanto como técnico. “Niginho”, só não chegou a jogar ao lado de Orlando, que começou a carreira já após a morte de “Nininho”.

“Niginho” foi para a Itália em 1930, juntamente com “Ninão”. No ano seguinte receberam a companhia de “Niginho. Na Lazio, seus dois primos jogavam no ataque e ele, na meia. Além deles, a Lazio trouxe outros brasileiros na época, o que faria seu elenco ficar conhecido como “Brasilazio”. Foram os corinthianos Filó, De Maria, Del Debbio, Rato e Amílcar; os palestrinos paulistas Pepe, Duílio Salatin, Enzio Serafini; além de André Tedesco (do Santos) e Benedito (do Botafogo).

A partida mais memorável de “Niginho” pela equipe italiana deu-se contra o Milan, quando marcou quatro gols. A trajetória na Itália, terra das raízes familiares, acabou interrompida quando ele, que tinha dupla cidadania, foi convocado para lutar com as tropas fascistas na Abissinia, invadida pelo exército italiano por ordem de Mussolini.

A convocação deu-se em 1935, um mês após “Niginho” ter-se casado com a húngara Ana, que conhecera em Roma. Não querendo ficar longe de sua esposa e temendo uma guerra, retornou ao Brasil com autorização de sua equipe, que inclusive pagou as despesas com a viagem de navio.

O ano foi difícil: em fevereiro de 1935, o primo “Nininho”, que chegara a atuar pela Seleção Italiana nas eliminatórias da Copa do Mundo, morreu em virtude de uma septicemia decorrida de infecção em lesão que sofrera no nariz em uma partida contra o Torino. Sem o consentimento formal da Lazio, foi jogar em outro Palestra Itália, o de São Paulo.

De volta ao Brasil, “Niginho” incorporou-se novamente ao Palestra, e meses depois, com o campeonato carioca de 1937 já em andamento, foi contratado pelo Vasco. Logo na estréia, fez dois gols no Flamengo. Fazendo gols a rodo - só na goleada de 12 X 0 no Andaraí foram quatro - foi o artilheiro do campeonato com 25 gols em 20 jogos.

Convocado para a Copa do Mundo de 1938 na França, para a reserva de Leônidas da Silva, “Niginho” acabou não atuando. Por ocasião da partida semifinal, por ironia contra a Itália, Leônidas não podia jogar por estar contundido e a Federação Italiana, com o referendo de Mussolini, vetou a escalação de “Niginho”. A FIFA covardemente acatou a ordem e tirou do jogador a chance de participar da competição.

Mas segundo o livro “Seleção Brasileira – 90 Anos”, de Roberto Assaf e Antonio Carlos Napoleão, defendeu o Brasil em quatro jogos entre 1936 e 1937 com três vitórias, uma derrota e dois gols marcados.

De volta ao Vasco depois da Copa, na primeira rodada do campeonato carioca de 1938, “Niginho” aproveitou para fazer mais dois gols no Flamengo, decretando a vitória vascaína por 2 X 0, justamente na inauguração do estádio da Gávea. Para confirmar o hábito, ele repetiu a dose no ano seguinte, com o mesmo placar no mesmo local. Por ironia, foram os dois últimos gols do artilheiro com a camisa cruzmaltina.

“Niginho” era um jogador de invejável categoria, centro-avante artilheiro, tipo oportunista, que não deixava o goleiro picar a bola no chão sem tentar mandá-la para as redes. Segundo o jornalista Plínio Barreto, “Niginho” decidiu uma partida entre Mineiros X Cariocas, em Álvaro Chaves, no Rio, assim: “Estava 3 X 3 e ele pegou uma bola na sua intermediária e saiu driblando. Passou por um, veio o segundo, o terceiro, foi embalando, chegou na área, passou por outro, deixou o goleiro caído e só parou quando esbarrou nas redes”.

Em 1939, ele voltou ao Palestra mineiro, que se renomeou Cruzeiro em 1942. Foi novamente tricampeão estadual, em 1943, 1944 e 1945. Encerrou a carreira em 1946, atuando ao lado do irmão Orlando - que no ano seguinte iria para a Lazio. “Niginho” deixou os gramados com 207 gols em 257 partidas pelo Palestra/Cruzeiro, firmando-se como o maior ídolo do clube na era pré-Mineirão. É também o terceiro maior artilheiro da história do time, pelo qual seria novamente tricampeão estadual em 1959, 1960 e 1961, como treinador.

“Niginho” manteve-se trabalhando no clube social do Cruzeiro até sua morte, em 1975, ocasionada por um mal súbito quando estava a caminho da “”Toca da Raposa” para rever os amigos após afastar-se em virtude de recuperação de uma cirurgia. Premiações: Melhor Jogador do Ano pelo Vasco da Gama, na temporada de 1938. (Pesquisa: Nilo Dias)