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segunda-feira, 9 de setembro de 2019

O mago do futebol uruguaio

Héctor Pedro Scarone foi um futebolista uruguaio, nascido em Montevidéu, no dia 26 de novembro de 1898 e falecido em 4 de abril de 1967, aos 69 anos. Jogava como meio-campista e atacante. Apelidado de “El Gardel del fútbol” e “El Mago”, é considerado como um dos melhores atacantes do início da profissionalização do futebol.

Seu pai era um italiano chamado Giuseppe Scarone, proveniente de Savona para trabalhar, segundo algumas versões, na ferrovia que deu origem ao Peñarol, clube ao qual Giuseppe se afeiçoou.

Em outras, Giuseppe teria trabalhado no mercado de carne de Montevidéu, ausentando-se na maior parte do dia. Héctor, na prática, acabou criado por uma irmã mais velha, pois perdera ainda bastante novo a mãe.

Carlos Scarone, irmão 10 anos mais velho, foi a primeira referência no futebol, onde jogava como centroavante. Carlos começou a jogar no River Plate uruguaio em 1908, passando em 1909 ao Peñarol. Teve destaque neste mesmo ano, quando estreou pela "Seleção Uruguaia", participando até do primeiro jogo da camisa celeste, em 1910.

Em 1911, Carlos foi jogar na Argentina pelo Racing, que fazia sua estreia na "Primeira Divisão". O uruguaio inclusive converteu o primeiro gol do clube na elite argentina, em chute potente e baixo contra o San Isidro, mas terminou jogando pouquíssimo no país vizinho.

Argumentou não ter ficado por doença e não ter sido cuidado devidamente pelo Peñarol. O rival Nacional aproveitou-se e o buscou. A insatisfação de Carlos com o Peñarol, indiretamente, originou um dos apelidos deste clube, o de “Manya”, uma deformação à língua espanhola de um diálogo na língua italiana com o pai Giuseppe, sugerindo-lhe que se ficasse no Peñarol iria "comer (mangiare) merda".

O insulto fez-se conhecido e bastante usado por Carlos nos clássicos, e com o tempo foi adotado pela própria torcida aurinegra. Carlos, o Scarone "antipático", não tardou em brilhar como tricolor.

Já Héctor, o Scarone "simpático", seguiu-o e, após uma recusa inicial aos 15 anos de idade devido ao seu físico, estreou no time adulto do Nacional quando ainda tinha 17 anos.

Tal como Carlos, Héctor logo mostrou protagonismo, marcando dois gols em vitória por 3 X 1 em clássico pela segunda rodada de um "Campeonato Uruguaio" ganho com sete pontos de diferença para o rival, um recorde para a época, e de modo invicto.

O Nacional também ganhou do Rosário Central, por 6 X 1, a “Taça Ricardo Aldao”, doada ao vencedor em tira-teima entre o campeão uruguaio e o vencedor entre o campeão argentino e o do campeonato rosarino. Héctor fez um dos gols e o irmão Carlos, três.

No ano de 1917, o Nacional foi novamente campeão uruguaio, com Héctor já se convertendo no artilheiro do elenco tricolor, com 13 gols, um deles na goleada de 4 X 1 sobre o arquirrival.

Héctor Scarone também estreou pela "Seleção", convocado junto com o irmão à vitoriosa “Copa América” daquele ano. Novos títulos vieram em 1919, com a conquista do "Campeonato Uruguaio" garantida na última rodada; e também de nova “Taça Ricardo Aldao”, derrotando na decisão o Boca Juniors (já no ano seguinte) por 3 X 0 mesmo com os uruguaios jogando a partida inteira com um a menos em função de um acidente prévio de um dos titulares. Héctor fez o primeiro gol.

O Nacional foi novamente campeão uruguaio em 1920, com Scarone sendo outra vez o artilheiro do elenco, com 19 gols, ao lado de Santos Urdinarán; e da “Taça Ricardo Aldao”, novamente em embate com o Boca Juniors (2 X 1).

Scarone também foi protagonista de um clássico com o Peñarol pela “Taça Fermín Ferreira”, na qual o Nacional conseguiu uma reviravolta sem precedentes na rivalidade: perdia de 3 X 0 e empatou, quase virando o jogo com Scarone - a jogada que daria a vitória aos tricolores terminou em bola na trave.

Em 1922, o futebol uruguaio iniciou um cisma a durar até 1925, com o Nacional permanecendo na liga reconhecida pela FIFA e o Peñarol, em outra, privando os jogadores aurinegros de integrarem a seleção uruguaia.

O Nacional, vencedor contínuo da sua liga (Scarone foi em 1923 novamente o artilheiro do plantel, com 20 gols, formou então a base da “Celeste Olímpica”.

Nesse ínterim, Héctor se firmou como "o principal Scarone"; enquanto o irmão Carlos deixou em 1922 a seleção, Héctor foi um dos cinco jogadores tricolores que em 1924 ganharam as “Olimpíadas” e um dos oito na também vitoriosa “Copa América” daquele ano, conquistas que celebraram as bodas de prata da fundação do Nacional.

Outrora apelidado de “Rasquetita” em referência ao apelido de “Rasqueta” do irmão Carlos, Héctor passou a ser apelidado de “La Borelli”, em referência à atriz Lyda Borelli, emblema do cinema mudo italiano, devido às reações imprevisíveis e caprichosas. Outra alcunha foi “El Mago”.

Não houve campeonato uruguaio em 1925, um ano ainda assim marcante ao Nacional. O clube fez uma excursão consagradora à Europa. No ano seguinte ao primeiro ouro olímpico do futebol uruguaio e sul-americano, a viagem confirmou o valor do futebol uruguaio.

Cerca de 700 mil pessoas viram a equipe ao longo de 38 partidas. Foram 130 gols marcados, somente 30 sofridos, com 26 vitórias e somente cinco derrotas.

Scarone marcou 29 gols, convertendo-se na principal referência ofensiva após a séria lesão nos meniscos que o centroavante Pedro Petrone sofreu contra o Barcelona. Nessa partida, o clube catalão abriu 2 X 0 e foi de Scarone o gol do empate em 2 X 2.

Dos outros gols que marcou, Scarone fez dois na vitória por 3 X 0 em Gênova sobre o Genoa, dono de dois títulos italianos nas três temporadas anteriores e maior campeão do “Calcio” naquela época.

Fez dois em um 7 X 0 sobre a "Seleção Neerlandesa", em Roterdã; três em vitória por 5 X 1 sobre a "Seleção Belga", em Bruxelas; dois em vitória por 6 X 0 sobre a "Seleção Francesa", em Paris; dois em 5 X 2 sobre a "Seleção Suíça", na Basileia; um em vitória por 2 X 1 sobre a "Seleção Catalã",em Barcelona; e dois na vitória por 3 X 0 sobre o Deportivo La Coruña, na cidade do adversário.

O desempenho contra o Barcelona, por sua vez, preponderou para que os “Blaugranas” o contratassem em 1926. Hugo Meisl, crítico de futebol e futuro técnico do Wunderteam austríaco, qualificou Scarone como "o melhor forward do mundo", sendo dele o gol uruguaio em uma das poucas derrotas, um 2 X 1 para o Rapid Viena.

Scarone não foi o primeiro nativo da América do Sul no Barcelona, nem mesmo primeiro de seu país, pois o clube tem registros de uma partida amistosa disputada em 1903 por um uruguaio chamado Josep Mascaró.

Scarone foi, porém, a primeira contratação que o time fez de um jogador que previamente atuava em um clube sul-americano. Foi vista já na época como a primeira grande transferência internacional do clube.

O uruguaio chegou no ano de 1926 e estreou em amistoso contra o Osasuna ganho por 5 X 1. Não marcou gols, mas foi bastante elogiado, com a revista “Fútbol Association” relatando que “Hector terminou nos dando um curso do que deve ser um meio-campista. 

Vimos um jogador completo, de excepcionais faculdades, de agudíssima percepção do jogo, magistral como complemento do ataque e efetivo na colocação defensiva. O clube campeão ganhou um grande elemento".

Porém, como chegou após o período de inscrições nas competições oficiais, só poderia inicialmente jogar amistosos. Ao todo, entrou em campo só nove vezes. Em 21 de março é que foi liberado pela “Real Federação Espanhola de Futebol” para atuar oficialmente em jogos competitivos, após entraves no envio de documentos requisitados perante a associação uruguaia.

Recebeu então uma oferta de 50 mil pesetas para assinar contrato de cinco anos. Scarone, porém, preferiu voltar, gerando versões de que seria boicotado por Josep Samitier, algo desmentido por ambos.

O uruguaio sempre justificou que o que o afastou foi o temor de não disputar as “Olimpíadas”seguintes, pois o torneio proibia atletas profissionais. Àquela altura, o Barcelona tornara-se um clube profissional, enquanto o futebol uruguaio ainda era oficialmente amador:

"Eu pensava na minha pátria, que logo viriam as “Olimpíadas” e que deveria vestir a camisa celeste. Pensei no Nacional, clube do meu coração, e decidi não assinar", explicou Scarone em depoimento registrado no “Libro de Oro de Nacional”.

A decisão aumentou sua popularidade no Uruguai. Ainda assim, o célebre goleiro Ricardo Zamora chamou Scarone de "o símbolo do futebol". Décadas depois, a primeira "peña" (torcida organizada) oficial do Barcelona em Montevidéu, criada em 2008, recebeu o nome de “Héctor Scarone”, em evento com participação de um sobrinho-neto do craque.

Scarone voltou ao Nacional em 1926, a tempo de ser convocado à vitoriosa “Copa América” daquele ano, da qual foi também vice-artilheiro. Ainda em virtude do cisma encerrado em 1925, não houve em 1926 um campeonato uruguaio oficial, segundo o clube.

Em 1927, integrou outra excursão vitoriosa, dessa vez às Américas Central e do Norte, marcando 22 gols em 18 jogos. Dois deles vieram em duas partidas contra a "Seleção Mexicana" (vitórias de 3 X 1 e 9 X 0) e outros dois, em vitória de 8 X 1 sobre a "Seleção Espanhola".

Desde 1924, o Nacional, porém, só voltaria a ser campeão em 1933, nem sempre por falta de méritos: não houve campeonato em 1930 em função da primeira “Copa do Mundo”, realizada no Uruguai e para a qual o clube foi base da seleção, com quatro titulares na decisão e nove convocados, que seriam respectivamente cinco e 10 se o goleiro Andrés Mazali não fosse previamente afastado uma semana antes da estreia, por indisciplina ao abandonar a concentração de oito semanas.

Em 1928, além de novo título olímpico, Scarone voltou a enfrentar o Barcelona. Fez o último gol da vitória por 3 X 0 no “Estádio Gran Parque Central”. Depois da “Copa do Mundo FIFA” de 1930, já tendo mais de 30 anos, foi contratado pela Internazionale, na época chamada "Ambrosiana", sendo colega de Giuseppe Meazza, que sobre Scarone comentaria ser "o maior jogador que vi".

Marcou sete vezes na temporada 1931-32, incluindo contra Lazio (os dois em triunfo de 2 X 0) e a campeã Juventus; o time de Milão terminou em sexto, mas a dois pontos do terceiro lugar.

Após uma temporada em Milão, passou duas no Palermo. Em ambas, o clube da Sicília lutou para não cair. O uruguaio contribuiu com quatro gols na de 1932-33 (incluindo contra Torino e a própria "Ambrosiana") e nove na de 1933-34 (incluindo outro sobre o ex-clube). 

A passagem de Scarone pela Itália não chegou a ser brilhante, mas, para a sua idade avançada e lesões, foi considerada digna.

Scarone voltou uma vez mais ao Nacional em 1934. Passara a ser ponta-direita. O clube foi campeão na última rodada, em clássico com o Peñarol no qual o empate em 1 X 1 favoreceu os tricolores, que conseguiram o resultado mesmo jogando a última meia hora com dois jogadores a menos, expulsos.

Também foi em 1934 que o campeonato válido por 1933 foi finalizado, mas Scarone não pôde ser inscrito para os jogos finais. A temporada válida por 1934 foi a última em que jogou oficialmente pelo Nacional, ainda que prosseguisse jogando esporadicamente amistosos pelos tricolores. Em 1939, chegou a jogar pelo Montevideo Wanderers.

Scarone estreou pela Seleção Uruguaia em 1917 e a defendeu até 1930. Totalizou 70 jogos e 31 gols oficiais (e 52 no total), que fizeram dele o maior artilheiro da “Celeste” até 2011, quando foi superado inicialmente por Diego Forlán; atualmente, está abaixo também de Edinson Cavani e Luis Suárez.

Ainda assim, detém uma média de gols que dificilmente será superada por eles. 22 dos seus 31 gols oficiais vieram em jogos válidos pela “Copa América”, pelo futebol nos “Jogos Olímpicos” (quando estes eram a principal competição mundial desse esporte) e pela “Copa do Mundo FIFA”.

Estreou em 2 de setembro de 1917, data de vitória por 1 X 0 sobre a Argentina pela “Copa Newton”. Meses depois, participou junto com o irmão Carlos Scarone (que defendia a seleção desde 1909) da “Copa América” daquele ano, a primeira realizada no Uruguai.

O país venceu e Héctor foi vice-artilheiro com três gols, incluindo um na vitória por 4 X 0 sobre o Brasil e o do título, o único na vitória por 1 X 0 na rodada final contra a Argentina. Héctor terminou eleito o melhor jogador do torneio.

Na edição seguinte, a de 1919, os irmãos perderam para o Brasil, que sediava pela primeira vez a competição. Ainda assim, foi a muito custo e ameaçando os anfitriões, que só conseguiram garantir a conquista após 90 minutos regulamentares e duas prorrogações de meia hora cada uma, em uma das partidas mais longas da história do futebol, com Arthur Friedenreich marcando no minuto 122 o único gol.

O goleiro brasileiro Marcos Carneiro de Mendonça declararia ter feito "a defesa de sua vida" em lance de Héctor Scarone nessa partida.

Na “Copa América” de 1920, somente o irmão Carlos jogou. Nenhum deles esteve na de 1921, nem na de 1922, o último ano de Carlos Scarone pela seleção. Nessas edições, o Uruguai foi campeão apenas na de 1920.

Héctor Scarone voltou a participar na edição de 1923, marcando um gol, no 2 X 0 sobre o Paraguai. O Uruguai voltou a ser campeão. A edição também qualificava para as “Olimpíadas de 1924”.

A principal referência ofensiva do Uruguai nas “Olimpíadas de Paris” foi Pedro Petrone, artilheiro da competição. Mas Scarone também entrou nas estatísticas daquela edição, marcando em cada jogo até a final e ficando em terceiro na artilharia.

Fez o segundo no 7 X 0 na estreia contra a Iugoslávia; novamente o segundo no 3 X 0 na segunda rodada, contra os Estados Unidos; os dois primeiros no 5 X 1 sobre a anfitriã França, nas quartas-de-final; e o gol da vitória de virada, a nove minutos do fim, no 2 X 1 contra os Países Baixos, na semifinal - um gol polêmico, feito de pênalti no qual a bola batera na realidade no braço de Scarone e não no de um oponente.

Após a conquista, os uruguaios deram uma volta completa no campo, andando pela pista lateral e acenando para a plateia, inaugurando o gesto que ficaria conhecido como "volta olímpica", repetido por eles nas duas conquistas mundiais seguintes e posteriormente adotado por todos os países. Ainda em 1924, Scarone e a “Celeste” também ganharam a “Copa América” daquele ano.

O Uruguai ausentou-se da “Copa América” de 1925, voltando a participar do torneio na edição de 1926, da qual Scarone terminou campeão e na vice artilharia, com seis gols. Cinco deles foram na Bolívia, um recorde individual em uma só partida na competição.

Essa marca de cinco gols em um só jogo de “Copa América” ainda não foi superada, sendo posteriormente igualada pelos argentinos Juan Marvezi em 1941 (6 X 1 no Equador) e José Manuel Moreno em 1942 (12 X 0 no Equador); e pelo brasileiro Evaristo de Macedo em 1957 (9 X 0 na Colômbia).

Na edição de 1927, o Uruguai foi vice-campeão. Scarone teve a artilharia da competição, com três gols, marcando os dois gols uruguaios na derrota de 3 X 2 para a campeã Argentina na rodada final; seu segundo gol empatou em 2 X 2 a 11 minutos do fim, mas pouco depois o colega Adhemar Canavesi marcou contra. O vice-campeonato, porém, bastou para qualificar a “Celeste” às “Olimpíadas de 1928”.

Nos Jogos de Amsterdã, Scarone fez menos gols que em Paris, três, mas todos decisivos: o primeiro na vitória por 2 X 0 para eliminar ainda na fase inicial os anfitriões Países Baixos, cuja torcida passaria a vaiar e torcer contra os uruguaios; o último da “Celeste” na vitória por 3 X 2 sobre a Itália na semifinal; e o gol do título, no 2 X 1 sobre a rival Argentina, em notável chute de longa distância, a 40 metros do gol adversário.

Naquelas “Olimpíadas”, Scarone ausentou-se de algumas partidas por lesões, sendo substituído por Héctor Castro, que, embora tenha marcado no 4 X 1 sobre a Alemanha, sempre voltava à reserva assim que Scarone se recuperava.

Haviam sido necessárias duas partidas contra os argentinos após o empate na primeira, em que Castro jogou em seu lugar. Para a segunda, porém, o capitão José Nasazzi preferiu “El Mago”.

Tornou-se famoso o grito proferido por Nasazzi de "tua, Héctor!", quando Scarone recebeu passe de René Borjas para marcar o gol do ouro. A frase viraria no Uruguai sinônimo de uma entrega adequada para um companheiro ficar em condições de definir, sendo usada para além do âmbito esportivo.

Scarone esteve pela última vez na “Copa América”, edição de 1929, mas não jogou nenhuma partida e o Uruguai ficou em terceiro. Ao todo, marcou 13 vezes na competição, números que fazem dele o terceiro maior artilheiro da história do torneio, ao lado dos argentinos Gabriel Batistuta e José Manuel Moreno e dos brasileiros Jair da Rosa Pinto e Ademir de Menezes.

Na altura de 1929 Scarone era o maior artilheiro - apenas posteriormente é que foi igualado pelos outros quatro e superado por Severino Varela, Teodoro Fernández (que somaram 15) e os recordistas Zizinho e Norberto Méndez (17). Naquele mesmo ano, o país bicampeão olímpico foi escolhido por aclamação para sediar no ano seguinte a primeira “Copa do Mundo FIFA”.

Scarone não se fez presente na estreia, contra o Peru, em função de outra lesão. Tal como nas “Olimpíadas de 1928", Héctor Castro o substituiu, inclusive marcando o gol da vitória. Mas, também como em 1928, Castro voltou à reserva diante da recuperação de Scarone.

A partida, que inaugurou oficialmente o “Estádio Centenário”, foi vista com decepção por público e crítica após vitória magra por 1 X 0 contra uma seleção criada apenas três anos antes.

O jornal “El País” chegou a escrever que "os Deuses estão cansados!". Scarone voltou à titularidade na partida seguinte e o Uruguai bateu por 4 X 0 a Romênia, marcando todos os gols nos primeiros 35 minutos. Scarone fez o segundo deles, aos 24 minutos.

O "eterno reserva" Castro voltou a jogar a final da “Copa”, na qual faria o último gol, apenas porque outro titular, Peregrino Anselmo, se machucou na semifinal.

A decisão, contra a rival Argentina, teve duas viradas no placar: o Uruguai abriu 1 X 0, mas terminou o primeiro tempo perdendo por 2 X 1. Scarone sobressaiu-se especialmente na jogada do gol do empate, aos 13 minutos do segundo tempo: dominou a bola fora da área, pela meia-esquerda, marcado por dois adversários, mas sendo capaz de rolar a bola para José Pedro Cea ao vê-lo livre pelo centro.

Cea marcou de carrinho e acabou recebendo o apelido de “El Empatador Olímpico”. Adiante, a “Celeste” anotou 3 X 2 aos 23 minutos da segunda etapa, passando a ser bastante pressionada e só conseguindo garantir a conquista ao marcar o quarto (com Castro concluindo contra-ataque) já no penúltimo minuto.

A final, travada em 30 de julho, foi seu último jogo pelo Uruguai. Dos titulares campeões, somente Scarone havia nascido ainda na década de 1890. Além dele, o outro único jogador vencedor de “Copa do Mundo FIFA” nascido naquela década foi o colega Domingo Tejera, participante somente da estreia contra o Peru.

Scarone foi o primeiro técnico do Millonarios, de Bogotá no período conhecido como "Eldorado Colombiano", quando o campeonato da Colômbia, desfiliado perante a FIFA, tornou-se um atrativo polo de jogadores de todo o mundo, incluindo europeus.

O clube, a contar com Alfredo Di Stéfano, Adolfo Pedernera, Néstor Rossi e outros, foi a grande força nacional daquele período, conseguindo resultados expressivos também fora do país, como na vitória sobre o Real Madrid nas comemorações dos 50 anos da equipe espanhola.

“El Mago”, ex-jogador do Barcelona, treinou o próprio Real Madrid posteriormente, sendo presentado com um anel com a insígnia do clube, o qual passou a sempre carregar consigo. Outra versão aponta que na realidade tal anel seria do Barcelona, e que Scarone não teria deixado de usa-lo mesmo enquanto treinava o Real.

Como treinador ou como aposentado, Scarone gostava de demonstrar suas habilidades; um dos exercícios era, em tempos em que era comum o travessão em treinamentos ser segurado, além das duas traves laterais, por uma terceira ao meio para impedir que ele se curvasse, arredar a trave "central" (todas eram de madeira naquela época) para um dos cantos - Scarone então mirava a bola com precisão no espaço oco que deixava entre a trave lateral e a trave que havia sido deslocada para perto deste.

Sofreu, porém, a tragédia de perder seu filho único, que fraturou um membro enquanto praticava “Rugby Union”, não foi devidamente engessado e acabou sofrendo uma embolia que chegou ao coração.

Títulos. Competições nacionais: Campeonato Uruguaio: (1916, 1917, 1919, 1920, 1922, 1923, 1924 e 1934 - todos pelo Nacional); Competições internacionais pela Seleção Uruguaia. Copa do Mundo FIFA (1930 - 1 gol); Campeonato Olímpico: (1924 e 1928); Campeonato Sul-Americano: (1917, 1923, 1924 e 1926); Torneios internacionais pelo Club Nacional. Copa Ricardo Aldao ou Campeonato Rio-Platense (contra o campeão argentino): (1916, 1919 e 1920).

Foi eleito pela “Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol”, em rankings alusivos ao século XX, como o 21º melhor jogador sul-americano e o 40º maior jogador do mundo. (Pesquisa: Nilo Dias)