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segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O meio-campo dos sonhos

Eu lembro bem da dupla Caçapava e Birinha, no meio-campo do G.E. Brasil, de Pelotas, com certeza a melhor que foi formada em toda a história do clube e do futebol gaúcho. Era, por assim dizer, a dupla dos sonhos de qualquer time. Naquele tempo às meias-canchas eram compostas por somente dois jogadores, ao contrário de hoje quando as equipes colocam até cinco jogadores no setor.

Ubirajara Machado Ferreira, o “Birinha”, é natural de Passo Fundo onde nasceu em 21 de julho de 1941. Começou a carreira nas categorias de base do Brasil. Mesmo baixinho e franzino, conseguiu um lugar no time profissional em 1958, estreando num clássico Bra-Pel, o mais importante do interior do Estado.

O time que o Brasil montou naqueles anos era quase imbatível: Geóvio – Adílson – Osvaldo - Joceli e Bahia - Caçapava e Birinha – Edi – Raimundo - Ênio Souza e João Borges. Tinha ainda Canário, Pintinho, Patucci, Naninho e Cói. Sem dúvida um elenco de respeito.

O goleiro Geóvio tinha mãos enormes. Ênio Souza um artilheiro nato, sempre certeiro nos cabeceios. Joceli, o “Pão de Milho”, zagueiro que dizia: "Jogo é jogo e treino é jogo também". Mas o motor do time era mesmo o meio-campo formado por Caçapava e Birinha. E o técnico era Paulo de Souza Lobo o “Galego”. Precisa dizer mais alguma coisa?

Eu vi muitas partidas dessa verdadeira máquina de jogar futebol. Na época eu era narrador de futebol na Rádio Tupancy, ao lado do inesquecível amigo Antônio Carlos Alves. Os repórteres eram Sérgio Oliveira e Dinei Avelar, que depois se tornou o melhor plantão esportivo que Pelotas já teve. Sérgio e Dinei foram "crias" minhas no rádio.

Em 1967, depois de grandes atuações no “xavante” pelotense, “Birinha” foi vendido para o Juventude, de Caxias do Sul, onde ficou até 1970 e formou outra grande meia-cancha com Nezito, que também jogou no Pelotas ao lado de seu conterrâneo Puccinelli.

Nesse mesmo ano treinou no Corinthians, de São Paulo, Flamengo, do Rio de Janeiro e Cruzeiro, de Porto Alegre, sendo contratado pelo Metropol, de Criciúma (SC), onde ficou por pouco tempo.

Em 1970 “Birinha” voltou a Pelotas para defender o G.A. Farroupilha. Em 1972, estava de volta ao Bento Freitas, onde havia começado a carreira de futebolista, para jogar mais três temporadas e pendurar as chuteiras. A formação “xavante” era bem diferente daquela de quando saiu do clube em 1967.

Coincidentemente, seu último jogo com a camisa rubro-negra foi um clássico Bra-Pel. Birinha jogou mais de 300 partidas pelo Brasil, marcou 64 gols e ganhou 14 títulos. Depois de deixar os gramados, não se afastou do futebol, sua grande paixão. Em 1976 iniciou uma carreira de treinador, comandando o elenco “xavante” em 26 jogos. Foi a sua única experiência como técnico.

Birinha elegeu Paulo de Souza Lobo, o “Galego”, como o melhor técnico que conheceu. Na sua posição gostava muito de João Severiano, o “Joãozinho”, do Grêmio e Tupanzinho, ex-Bagé, Guarany, e Palmeiras. O jogador que melhor lhe marcou foi Cléo, que jogou no Pelotas e Grêmio.

O seu gol inesquecível foi marcado na partida Internacional 1 X 2 Brasil, quando da primeira vitória rubro-negra no Beira Rio, em Porto Alegre. Quando garoto o seu ídolo nos gramados era Negrito.

Sérgio do Amaral Meirelles, o “Caçapava”, companheiro de “Birinha” no meio-campo do Brasil, nasceu em Caçapava do Sul, no dia 8 de fevereiro de 1939, e faleceu em 1 de março de 1995, em Porto Alegre. Era um centro-médio de técnica apurada e passe perfeito, daqueles que podia chamar a bola de “tu”.

Começou a carreira profissional no E.C. 14 de Julho, de Santana do Livramento, onde foi campeão da cidade. Em 1961 foi contratado pelo G.E. Brasil, de Pelotas, onde ficou até 1966, ano em que foi para o Grêmio Portoalegrense.

No ano seguinte sagrou-se hexacampeão gaúcho pelo tricolor do Olímpico. Depois voltou a Pelotas, dessa feita para vestir a camisa do grande rival do Brasil, o E.C. Pelotas, onde jogou por quatro temporadas, encerrando a carreira. Era irmão de Darlam, meia-atacante que jogou no Internacional e Flamengo, de Caxias do Sul. (Pesquisa: Nilo Dias)

Ubirajara Machado Ferreira, o “Birinha”.  (Foto: Arquivo do atleta)