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quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Estudiantes, o time de “Los Professores”

O adversário do S.C. Internacional de Porto Alegre na final da Copa Sul-americana, que tem o primeiro jogo marcado para esta noite, é um clube de muita tradição na Argentina e em todo o Continente. Fundado em 4 de agosto de 1905, o já centenário Club Estudiantes da cidade de La Plata, na província de Buenos Aires, nasceu de uma dissidência no outro clube da cidade, o não menos tradicional Gimnasia y Esgrima. Alguns associados do clube não estavam satisfeitos com a preferência dada para atividades sociais e esportes de salão e não ao futebol. E os descontentes se uniram e partiram para a fundação de uma outra agremiação que atendesse seus interesses.

Fundaram, assim, o Club Estudiantes de La Plata, que em seus primeiros anos de existência só aceitava em suas fileiras pessoas jovens com estudo comprovado. Essa exigência, curiosamente beneficiou o rival Gimnasia, que tinha origem elitista na época e acabou se tornando mais popular ao ganhar torcedores nos bairros operários de La Plata, como Berisso e Ensenada. Hoje, o Estudiantes tem uma grande torcida, muito maior que a do seu arqui-rival, ficando atrás somente de: Boca Juniors, River Plate, Independiente, Racing Club, San Lorenzo, de Almagro e Rosário Central, de Córdoba.

Nos primeiros anos do século XX, o futebol já despertava grande paixão na Argentina. Equipes como o Lomas Athletic, Quilmes Athletic, Belgrano, Lobos, San Isidro, Porteño, Reformer, Barracas, San Martín, Nacional e Argentinos de Quilmes, se enfrentavam em sucessivos torneios organizados pela Associação Argentina de Futebol, cujo ganhador habitual era o Alumni.

O primeiro título do Estudiantes foi conseguido no ano de 1908, quando sagrou-se campeão da quarta divisão, vencendo o River Plate na partida final por 3 X 1. Em 1911 chegou a primeira divisão derrotando o Club Atlético Independiente por 3 X 0, em uma campanha com 13 vitórias, 4 empates e apenas uma derrota, com 49 gols a favor e 14 contra.

Em 23 de novembro de 1913, o Estudiantes conquistou o seu primeiro campeonato da primeira Divisão, depois de uma campanha quase inacreditável: 14 vitórias em 18 partidas. O título deu o direito do clube, disputar a Copa Rioplatense, contra o campeão uruguaio, o River Plate de Montevideo. O Estudiantes levou a taça ao derrotar o adversário por 4 X 1. Entretanto, pesquisas recentes dizem que tal partida nunca ocorreu.

Em 1929, o título ficou com o Gimnasia, igualando o feito de “Los Professores”, como o Estudiantes também é conhecido. A conquista dos rivais serviu para causar uma grande frustração entre os adeptos do Estudiantes. Mesmo com o passar dos anos o título do Gimnasia em 1929, continuava engasgado no torcedor. Esse episódio foi fundamental para alimentar o nascimento de um dos maiores clássicos do futebol argentino: Estudiantes X Gimnasia.

O Estudiantes nos dois primeiros campeonatos profissionais que disputou ganhou 36 partidas, empatou 12 e perdeu 20. Marcou 184 gols e sofreu 114. Os principais jogadores desta equipe foram os goleiros Scandone, Latorre Lelong e Capuano; os defensores Nery, Rodríguez, Viola, Raúl e Roberto Sbarra: os volantes Usienghi, Pérez Escalá, Riolfo; e o ataque Lauri, Scopelli, Zozaya, Manuel Ferreira e Guaita. Também atuaram Comasco, Tellechea, Padrón, Appolito, Sabio, Juariste, o uruguaio Castro, Areco e Estevarena. Em 1931 esta equipe goleou por 7 X 0 o Chacarita, 5 X 2 o Independiente, 5 x 2 o Ferro, 5 x 1 o Argentinos, 8 x 0 o Lanús, 6 X 1 o Atlanta, 8 X 0 o Ferro, 6 X 3 o Racing, 4 x 1 o campeão Boca Juniors e em 1932, 6 X 1 no rival Gimnasia.

A linha atacante do Estudiantes era denominada “Los Profesores” (todos jogaram na Seleção Argentina. Scopelli e Manuel Ferreira disputaram a Copa do Mundo de 1930): Miguel Ángel Lauri, “Flecha de Oro”, Alejandro Scopelli, “el Conejo”, Alberto Zozaya, “Don Padilha”, Manuel Ferreira, “el Piloto Olímpico” (por ter sido atacante central nos Jogos Olímpicos de Verão de 1928, em Amsterdam quando a Argentina foi vice-campeã) e Enrique Guaita, “el Índio”.

Dois jornalistas esportivos da época, Félix Daniel Frascara e Diego Lucero, consideraram “Los Professores” como a primeira grande expressão da arte coletiva dentro de um campo de futebol. Este é considerado um dos quintetos mais célebres do futebol profissional na argentina, comparável com o Independiente de 1939 (Maril, De la Mata, Erico, Sastre e Zorrilla) e com “La Máquina do River” (Muñoz, Moreno, Pedernera, Labruna e Loustau).

Além de grandes êxitos na era amadora, como no campeonato de 1930, quando levaram o Estudiantes ao vice-campeonato com 27 vitórias, 2 empates e 6 derrotas, os cinco “Professores” fizeram história no início da era profissional da Argentina, quando o quinteto foi desfeito com a saída de 3 integrantes para o futebol europeu.

A estréia do Estudiantes no futebol profissional argentino aconteceu em 1º de junho de 1931, com uma vitória diante do Talleres por 3 X 0. Nesse jogo Alberto Zozaya marcou o primeiro gol da era profissional do futebol argentino. Ainda em 1931 a linha atacante do Estudiantes marcou um recorde histórico: 103 gols em 34 jogos, sendo 16 a mais que o campeão Boca. Ficou em terceiro lugar no campeonato com 44 pontos, logo atrás do San Lorenzo de Almagro
com 45 e o Boca Juniors com 50.

Em 1938 surgiu no Estudiantes um dos maiores goleadores da história do futebol argentino, Manuel Peregrina, “El Payo”, que marcou 221 gols com a camisa “pincharrata”, transformando-se no maior goleador da história do clube e no quarto do futebol argentino em todos os tempos (231 gols, 10 anotados pelo Huracán). Jogou no Estudiantes até 1956 com uma temporada pelo Huracán em 1953. A partir de 1942 fez uma dupla de ataque brilhante com Ricardo "el Beto" Infante. Pelegrina se destacava pelo chute potente, Infante pela habilidade. “El Payo” jogou algumas partidas pela seleção argentina. Infante disputou a Copa do Mundo de 1958 pela seleção de seu país.

Na década de 1960 o Estudiantes explodiu para a glória. Conseguiu formar uma equipe fabulosa, que encantou torcedores da Argentina, da América e do mundo inteiro. O vermelho, branco e preto das camisas do Estudiantes, assustava os adversários. Foi campeão argentino em 1967, com jogadores sensacionais como Verón (o pai do atual capitão do time), Bilardo (que viria a ser técnico da seleção argentina), e tantos outros. O treinador da equipe era o lendário Osvaldo Zubeldía. Com tantos craques no time, não foi difícil ganhar também a Copa Libertadores da América em 1968, 1969 e 1970, tornando-se o primeiro tri-campeão do torneio.

Nesses anos de ouro, venceu na decisão timaços da época, como o Palmeiras (1968), o Nacional do Uruguai (1969) e o Peñarol, também do Uruguai (1970). O Estudiantes, não tomava conhecimento dos adversários e os esmagava um a um. O grande momento do clube aconteceu em 1968, depois de vencer pela primeira vez a Libertadores. Credenciado a disputar a Copa Intercontinental, o Estudiantes venceu na Argentina o Manchester United, dos craques Bobby Charlton e George Best, por 1 X 0. Na Inglaterra, houve empate de 1 X 1. Verón marcou o gol argentino e garantiu a festa.

Na década de 1980 o Estudiantes voltou a formar um time forte, talvez sem o mesmo brilho do elenco da década anterior, mas aguerrido ao extremo. Em 1982 e 1983, conquistou o bi-campeonato nacional e por pouco não ganhou também a Copa Libertadores de 1983. Chegou as semi-finais daquele ano numa chave com Grêmio e América de Cali. No penúltimo jogo empatou com o Grêmio em 3 X 3, em La Plata, depois de estar perdendo por 3 X 1 e ter vários atletas expulsos. E isso foi fatal no jogo seguinte, contra o América, na Colômbia. A equipe sentiu a falta dos titulares suspensos e não saiu do empate, resultado que eliminou o clube da competição.

Os anos que se seguiram não foram bons. Até pela segunda divisão o time de La Plata andou. Em 2006, houve a reação, com a reconquista do campeonato argentino, com uma histórica vitória sobre o Boca Juniors, em plena “Bombonera”. Na Libertadores, o Estudiantes fez grandes partidas, mas acabou eliminado pelo São Paulo, nos pênaltis. Naquele ano já poderia ter ocorrido um confronto com o Internacional, adversário desta noite, para decidir a competição. O clube gaúcho foi campeão continental e do mundo.

Os títulos mais importantes da história do Estudiantes são: Copa Libertadores da América (1968, 1969 e 1970), Copa Intercontinental (1968), quatro camepeonatos argentinos e uma Copa Interamericana. Os torcedores do Estudiantes de La Plata são chamados de “pincharratas” e o clube de “Pincha” ou “tricampeões”, uma referência aos 3 títulos consecutivos da Libertadores da América. Originalmente o clube dedicava-se quase que exclusivamente ao futebol, mas na atualidade pratica tambeém outras modalidades esportivas como basquetebol, tênis, handebol, golf, nataçaão e hockey.

Uma curiosidade: Verón, que é filho do maestro Verón, do lendário Estudiantes da década de 1960, é hoje o grande nome da equipe. Ele surgiu em um momento de dificuldade, sendo um dos responsáveis pela volta do Estudiantes a primeira divisão, em 1995. Depois, transferiu-se para a Europa e foi grande destaque da seleção argentina. Agora, de volta às origens, Verón é a grande esperança de novas glórias para “Los Professores) (Pesquisa: Nilo Dias).

"Los Professores", o maior ataque de toda história do Estudiantes (Foto: Acervo do Club Estudiantes)