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sexta-feira, 20 de abril de 2012

O príncipe do futebol cearense

João Erivaldo Queiroz Damasceno, ou simplesmente Damasceno, nasceu em Fortaleza (CE), no ano de 1933. Foi um zagueiro que mesclava habilidade e vigor na marcação dos atacantes adversários. Rapaz pobre, morador do subúrbio de Fortaleza, começou a carreira futebolística jogando pelo Atlético Cearense, do Bairro Montese. Em 1951, quando tinha 18 anos de idade foi levado para o Ceará, pelo técnico João Brega, mais conhecido pelo apelido de “Jombrega”, que o viu jogando no campo do Colégio Piamarta.

Tão logo chegou ao “Vovô”, já ganhou a posição de titular e se consagrou como um dos destaques do time, jogando ao lado de Alexandre Nepomuceno, o famosos “Filé de Gia”, outro ídolo histórico do Ceará. Os dois jogavam por “procuração”. Um sabia onde o outro estava, mesmo sem se verem. Formavam o par perfeito dentro de campo. Damasceno jogava de zagueiro ou de centromédio.

O time do Ceará era muito bom. Lá estavam, entre outros, William, lateral-direito de largos recursos técnicos; os maranhense Dico, no Maranhão conhecido como "Dico Camaroeiro" e e Carneiro, o segundo maior lateral-esquerdo do futebol brasileiro em todos os tempos. Superado apenas por Nilton Santos. Infelizmente, a mídia brasileira nuna se interessou em conhecer Damasceno, Carneiro, Hamilton, Pipiu e Roberto Rebouças.

Nos 10 anos em que vestiu a camisa preta e branca, Damasceno teve a oportunidade de jogar contra grandes figuras do futebol brasileiro como Zagallo, Didi, Garrincha, Mengálvio, Coutinho, Pepe, Dorval e até Pelé, em quem enfiou bola pelo meio de suas pernas e saiu indiferente à fama de que gozava aquele infernal jogador. Sempre salientava que os mais perigosos atacantes da região foram Gildo e Mozart, que eram terríveis e deixavam qualquer defesa azucrinada.

O Clube de Regatas Vasco da Gama, então com um grande time formados por jogadores que haviam disputado a Copa do Mundo de 1954 e até outros da derrocada brasileira de 1950, excursionava pelo Norte-Nordeste e acertou jogo amistoso contra o Ceará, no estádio Presidente Vargas.

O narrador baiano Ivan Lima, com o objetivo de motivar os torcedores criou o "duelo dos melhores" e os protagonistas eram Damasceno, pelo Ceará e Danilo Alvim, pelo Vasco da Gama. Quem vencesse ficaria com o "título" de Príncipe do Futebol. Damasceno deu um verdadeiro nó em Ipojucã e depois em Delém e o Ceará conquistou uma vitória por 1 X 0, gol assinalado por Guilherme, então atuando de centroavante.

A partir dali Damasceno ficou conhecido - pelo menos para os cearenses - como o "Príncipe do Futebol". Pelé já era o Rei.O certo é que a coisa funcionou e o apelido pegou e acompanhou o jogador por toda a sua vitoriosa carreira. No ceará foi bicampeão estadual, 1957/1958.

Em 1960, Damasceno foi contratado pelo Náutico, de Recife, onde permaneceu até 1963. No clube alvirubro ganhou dois títulos de campeão pernambucano, em 1960 e 1963. Depois de ter fraturado a clavícula esquerda, fez um acordo com a equipe “Timbu”, que só concordou em liberá-lo após se comprometer a voltar a Fortaleza, ou seja, não queriam que ele defendesse o Sport ou o Santa Cruz.

Em 1963 voltou ao futebol cearense, dessa vez para jogar pelo Ferroviário, onde encerrou a carreira em 1967, aos 36 anos. Depois de deixar os gramados ensaiou uma carreira de treinador, tendo dirigido as equipes do Tiradentes, Guarani de Sobral, Salgueiro e seleções de Maracanaú, Juazeiro e Tauá.

Em 1972, quando dirigia o Guarani, de Sobral levou para o clube o atacante Geraldino Saravá, que é até hoje o maior artilheiro da história do estádio “Castelão”. Era um jogador que não tinha muita qualidade técnica, todavia conseguia finalizar a gol como poucos. Chutava de qualquer maneira e os goleiros tinham imensas dificuldades para defender seus arremates.

Foi por conta de uma injustiça cometida ao seu grande amigo, o ex-zagueiro Pedro Basílio, que Damasceno resolveu deixar de ser técnico. Ele ficou desolado com a profissão após ver Basílio ganhar um turno invicto à frente do Fortaleza e, após perder a primeira partida do returno, ser dispensado.

Na sua brilhante carreira, o príncipe Damasceno guarda com orgulho o único reconhecimento recebido em toda a carreira, o troféu “Personalidades Esportivas Flávio Ponte”, ganho em 10 de dezembro de 2001.

Apesar da fama, o legendário jogador praticamente não ganhou nada com o futebol. Conseguiu se aposentar graças a ajuda de um amigo do INSS, ao completar 65 anos. Na sua época de atleta, a situação era terrível. Não tinha nenhum tipo de documentação.

A casa onde morava, no Bairro Vila União, foi construída na década de 80 - muito tempo depois dele abandonar a carreira - com a ajuda da família. Damasceno faleceu na manhã do dia 12 de outubro de 2008, aos 75 anos de idade, de causa não revelada. O ex craque deixou 12 filhos e sete netos de dois casamentos. (Pesquisa: Nilo Dias)