Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

terça-feira, 27 de agosto de 2019

Três tiros acabam com carreira promissora de jogador de futebol

O jogador de futebol de 18 anos, Leandro Augusto Soares morreu baleado em uma praça de Valparaíso de Goiás, a 38 quilômetros de Brasília. Leandro Augusto Santos Soares recebeu três tiros na tarde do dia 5 de julho deste ano.

Ele ficou cerca de meia hora aguardando socorro. Levado para o Hospital de Santa Maria, o atleta morreu logo depois, por volta do meio-dia. O suspeito de disparar contra a vítima é um soldado da Polícia Militar de Goiás, que trabalha na 33ª Companhia de Choque de Choque de Valparaíso. 

O pai do atleta e empresário, Leandro Soares Andrade, afirmou que o filho foi baleado logo após pegar uma arma de brinquedo com um amigo, a qual, segundo ele, seria entregue para outro amigo, que também estava na praça.

"Ele colocou o simulacro na cintura e atravessou a rua junto com a namorada. Assim que subiu na calçada, o policial deu o primeiro disparo nas costas dele", relatou.

Leandro afirmou que a namorada do filho, de 17 anos, tentou intervir. "Ela começou a gritar desesperada, dizendo que era arma de brinquedo e pediu para parar. Meu filho jogou a arma para traz, ela caiu no chão. Aí o policial deu um terceiro tiro na cabeça do meu filho”, disse o pai.

Segundo o delegado-chefe do Grupo de Investigação de Homicídios (GIH), Rafael Abrão, o soldado seguia para o trabalho quando passou pela praça e disse ter visto a vítima negociando o que parecia ser uma arma de fogo. O investigador contou que o policial abordou Leandro e, segundo o PM, a vítima teria tirado a suposta arma da cintura.

"Familiares alegam que ele tirou a arma, que era uma réplica, para jogar no chão e se render. Não sabemos ainda a circunstância. Fato é que ele a arrancou da cintura", explicou o delegado. O soldado, então, reagiu e efetuou três disparos. Segundo Rafael, a vítima estava acompanhada da namorada, mas ela não se feriu.

A arma do PM, de calibre 40, ficou apreendida para perícia, assim como a réplica da arma de fogo. "Vamos fazer o confronto balístico e precisamos descartar uma segunda arma”.

O policial foi ouvido na hora e, inclusive, algumas testemunhas, mas vamos aprofundar as investigações com imagens e outros relatos", destacou o delegado. A vítima foi enterrada domingo (7/7) no Cemitério Campo da Esperança, no Plano Piloto.

Procurada, a Polícia Militar repassou a íntegra da ocorrência registrada pela própria corporação. O texto informa que o militar chegava à unidade policial para trabalhar quando viu uma pessoa se aproximando de um casal na praça e passando uma arma de fogo.

Ele, então, parou o carro e começou a acompanhar a movimentação.
Segundo a ocorrência, logo depois de repassar o objeto, a pessoa que entregou a arma foi embora, e o casal seguiu caminhando.

Nesse momento, o policial fez a abordagem. Mas, conforme consta na ocorrência, "o autor levantou a blusa e colocou a mão na cintura." O policial, então, realizou três disparos.

De acordo com a PM, a vítima caiu no chão e ainda conseguiu ter forças para dizer que se tratava de uma réplica. "Em seguida, o policial pegou o objeto que se encontrava ao chão e verificou que se tratava de um simulacro de arma de fogo do tipo pistola", detalha o texto.

Com a namorada, o policial não encontrou nada. Logo depois, o militar pediu apoio da unidade policial e acionou o Corpo de Bombeiros. Ele também se apresentou à delegacia.

No texto, consta, ainda, que "pelo ocorrido, não há que se falar em Auto de Prisão em Flagrante em desfavor do agente de segurança policial, o qual, em análise inicial, parece ter agido acobertado por uma das hipóteses de excludente de ilicitude, previstas no artigo 23 do Código Penal."

A vítima teve passagem pelas categorias de base do Corinthians Paulista, nos anos de 2016 e 2017. Considerado um jovem promissor quando ainda estava no Sub-15, ele acabou deixando o clube por conta do histórico de indisciplina.

Leandro chegou ao Parque São Jorge por indicação de olheiros, devido ao destaque que estava ganhando como atacante na região norte do Paraná pelo pequeno Paraná Soccer Technical Center (Centro de Treinamento de Futebol do Paraná), conhecido pela sigla PSTC, com sede em Cornélio Procópio.

A diretoria de base do “Timão”, porém, também havia sido alertada sobre problemas extracampo que o garoto carregava consigo. Ainda assim, o clube alvinegro topou apostar no jovem atleta, levá-lo para São Paulo e fornecer alojamento, alimentação, estudos e, claro, os treinos.

Mas foi justamente o comportamento complicado fora dos gramados, combinado a uma grave lesão, que culminou na saída de Leandro do Corinthians.

Ainda no Sub-15, sofreu ruptura de ligamentos no joelho - nas categorias de base. Um dos maiores dramas que um jogador pode passar é ficar afastado de campo sem poder mostrar serviço.

Ainda assim, foi promovido ao Sub-17, mesmo machucado. O garoto era brincalhão no departamento médico, onde sempre pedia para ser filmado prometendo se recuperar logo.

Paralelamente, porém, acumulava problemas extracampo e advertências na escola por mau comportamento.  Em um dos episódios, ameaçou uma professora.

Recuperado de lesão, viveu um dos dias mais felizes de sua passagem pelo Corinthians quando, relacionado para um jogo da “Copa do Brasil Sub-17” que seria disputado na “Arena”, conheceu o “Estádio de Itaquera”.

Os casos de indisciplina, contudo, seguiam acompanhando Leandro. Por conta deles, o clube decidiu se desvincular do atleta. Fato é que saída de Leandro do Corinthians entristeceu, lá mesmo em 2017, dirigentes, comissão técnica e demais funcionários do clube que com ele conviviam.

De forma geral, ele era visto como um garoto com potencial dentro de campo. Não à toa foi contratado mesmo com histórico de indisciplina e promovido ao Sub-17 ainda lesionado.

Na relativamente breve passagem pelo Corinthians, Leandro foi colega de elenco de jovens que hoje são conhecidos pela ala da torcida que mais acompanha as categorias de base.

Nomes como Guilherme, Ronald, Du, Vitinho e Gustavo Mantuan, hoje no Sub-20 do clube e monitorados por Fábio Carille, treinavam diariamente com Leandro, que foi comandado no Parque São Jorge pelos técnicos Vinicius Marques, que segue por lá, e Marcos Soares, hoje à frente do Sub-20 do Botafogo.

Leandro jogava atualmente no Capital CF, de Guará, no Distrito Federal, que fica a aproximadamente 40 km de Valparaíso de Goiás, onde morava com o pai e foi morto.

Lá, apesar de não integrar o elenco profissional, Leandro sabia da perspectiva de, se promovido ao plantel principal, ser treinado por Waldemar Lemos, irmão de Oswaldo de Oliveira e hoje técnico da equipe de Guará.

Também seria colega do veterano Jobson, atacante com passagem pelo Botafogo e que também acumula diversos problemas extracampo, como suspensão por doping e prisões por acusação de estupro e descumprimento de medidas cautelares.

As semelhanças com Jobson e com a passagem pelo Corinthians vinham se repetindo. Membros da comissão técnica relataram um sumiço de Leandro nas últimas semanas.

Há cerca de um mês, ele chegou a procurar integrantes do grupo técnico recém-chegado para explicar os problemas com a comissão antiga e pedir nova chance. Ouviu reposta positiva. Poucos dias depois, porém, não apareceu para os treinos.

Ele comentava com os mais próximos que não vinha se sentindo útil e que isso o chateava. Triste, não saía de casa e apresentava "pensamentos negativos". A preocupação virou tristeza e choque.

A notícia da morte deixou funcionários arrasados. Circularam diversos boatos na região sobre o que teria ocorrido naquela manhã de sexta-feira.

Nenhum, porém, foi confirmado. Apesar de a polícia ainda não dar maiores informações além da confirmação de que um PM disparou um tiro que lhe acertou o tórax, o que se fala entre profissionais do Capital e familiares de Leandro é que ele teria levado três tiros (um deles nas costas) quando estava numa praça acompanhado da namorada e carregando uma arma de brinquedo.

Outra curiosidade sobre o Capital é que, desde novembro do ano passado, o clube tem Marcelinho Carioca como diretor. O ex-meia, hoje com 47 anos, foi ídolo quando jogador justamente com a camisa do Corinthians, ex-clube de Leandro. (Pesquisa: Nilo Dias)

Leandro, no Corinthians Paulista.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Único clube de futebol brasileiro a jogar na Coreia do Norte

Pouca gente sabe, mas um pequeno clube de São Paulo, o Atlético de Sorocaba, foi o único time brasileiro a jogar até hoje na Coreia do Norte. Poucos brasileiros têm a possibilidade de visitar a Coreia do Norte. Segundo a embaixada do Brasil em Pyongyang, apenas 65 pessoas do país entraram lá nos últimos anos.

De 2009 a 2015, o Atlético Sorocaba fez quatro viagens à Coreia do Norte. Lá, viveu o impensável: foi confundido com a seleção brasileira, viu 30 mil pessoas não conseguirem entrar em um estádio já abarrotado por outras 80 mil, levou um atleta americano na delegação, padeceu em silêncio com a arbitragem, chegou a temer reações a eventuais vitórias. Hoje, tudo que resta ao clube é a memória: o time foi fechado em 2016.

Entender como um modesto clube do interior brasileiro foi parar na Coreia do Norte leva necessariamente à figura de Sun Myung Moon, o Reverendo Moon.

Nascido em uma região do norte coreano, quando a península ainda não estava dividida, ele foi o fundador da “Igreja da Unificação”, um grupo religioso que angariou milhões de seguidores, colecionou controvérsias e teve forte presença no Brasil sobretudo nos anos 90 – adquirindo mais de 80 mil hectares de terra no interior do Mato Grosso do Sul e levando centenas de asiáticos para lá.

Moon ficou preso por cerca de um ano nos Estados Unidos, punido por sonegação fiscal, respondeu a acusações semelhantes no Brasil e foi alvo de uma CPI - encerrada com a sugestão de que o melhor para o Estado do Mato Grosso do Sul era se aliar aos empreendimentos do coreano.

Ficou famoso por promover casamentos coletivos entre seus, fiéis e se viu envolvido em boatos de que praticava lavagem cerebral e servia vinho misturado a seu sangue.

Enquanto isso expandia seus negócios, que incluíam montadoras de carros e empresas de comunicação. E, amparado por um discurso de propagação da paz, chegou ao futebol. Apaixonado pelo esporte, ele escolheu dois clubes para investir no Brasil: o Cene (MS) e o Atlético Sorocaba.

Apesar de anticomunista ferrenho, o reverendo mantinha boas relações com Kim Il-Sung, avô do atual líder Kim Jong-Un. Em 2009, com a inédita classificação da Coreia do Norte para a “Copa do Mundo”, na África do Sul no ano seguinte, Moon teve a ideia de levar o Atlético, de Sorocaba a realizar amistosos no país asiático, dentro
do que classificou como missão de paz entre os povos.

O Reverendo Moon adquiriu o clube paulista e passou a injetar dinheiro e estrutura nele. Os resultados logo apareceram. Da terceira divisão paulista em 2001, pulou para a primeira em 2003.

Foi nesse cenário que Moon montou um plano maior: usar o Atlético Sorocaba para levar o futebol brasileiro além das fronteiras mais fechadas do planeta.

O reverendo, apesar de anticomunista, tinha um canal de comunicação aberto com a ditadura norte-coreana. No começo dos anos 90, reunira-se com Kim Il-Sung – avô do atual líder do país, Kim Jong-Un.

A oportunidade de ouro surgiu em 2009. A Coreia do Norte classificara-se para a “Copa do Mundo” do ano seguinte, na África do Sul, e tinha interesse em enfrentar equipes de outros lugares do planeta.

Mas seu regime político praticamente inviabilizava a diplomacia necessária para a realização de amistosos. Com a intermediação do Reverendo Moon, porém, seria possível. E lá foi o Atlético Sorocaba.

A delegação chegou à Coreia do Norte pela China – única via aérea para o país. O avião era norte-coreano. E assustou os passageiros. Rachaduras dentro da aeronave estavam tapadas por cola em massa.

Os atletas se perguntavam, se alguém já tinha visto um avião com Durepoxi? E Sidnei Gramático, o “Passarinho”, ex-massagista do Atlético Sorocaba, contou que viu trincas, remendos com Durepoxi. E que todos ficaram muito tensos.

No aeroporto de Pyongyang, telefones e passaportes foram confiscados. De lá, o grupo rumou para o monumento em homenagem a Kim Il-Sung, onde um representante do clube depositou flores para a imagem – e o restante do grupo fez um gesto de reverência.

Nos dias seguintes, todos os passeios tiveram acompanhamento de guias definidos pelo governo. Os destinos, invariavelmente, eram pontos de celebração da ideologia norte-coreana e de culto aos líderes. A propaganda militar era permanente.

Um dia antes do jogo, os atletas foram ao estádio. E ficaram impressionados com sua imponência. Lá, treinaram sob olhares da seleção norte-coreana. Quando foi a vez de os donos da casa fazerem sua atividade, porém, os brasileiros tiveram que sair.

Mas o choque maior veio no dia do jogo. Ao se aproximar do estádio, a delegação do Atlético Sorocaba começou a perceber que aquele não seria um dia normal.

Uma multidão cercava o local e vibrava com a chegada do ônibus. Os atletas se questionavam: por que tamanha euforia? Minutos depois, ao entrar em campo e ver BRA no telão, eles entenderam o que acontecia: para o povo da Coreia do Norte, ali estava a “Seleção Brasileira”.

O jogador Klayton contou que foi o primeiro a entrar no gramado. Espantado, ao ver tanta gente, chegou a dizer “Nossa”. O estádio estava extremamente lotado. E além dos 80 mil, que estavam dentro, ficaram 30 mil pessoas fora.

No placar eletrônico, não estava escrito Atlético Sorocaba. Estava escrito Brasil, a sigla BRA. E a torcida esperava ver algum jogador bem famoso.

O começo do jogo trouxe novos espantos para os brasileiros. Quando eles tinham a bola, a torcida silenciava por completo. Não havia vaias, murmúrios, conversas: nada. Era um bloco de silêncio impenetrável. O ambiente só mudava quando a seleção norte-coreana atacava. Aí explodia o som de incentivos ao time.

O jogo foi equilibrado, com os norte-coreanos tentando pressionar sobretudo no primeiro tempo. E enquanto a bola rolava, os brasileiros tentavam fugir de um raciocínio que os perseguia: se eles podiam vencer a partida sem colocar sua segurança em risco.

Foi um jogo complicado. A delegação tinha 30 pessoas. Ninguém tinha uma ideia muito firme do que estava se passando, do que poderia acontecer ou não.

O clima foi tenso na partida. O jogo terminou empatado por 0 X 0. Diplomaticamente, foi o resultado perfeito, embora o Reverendo Moon quisesse que o time vencesse.

Só que depois ele se contentou. E ofereceu um excelente almoço no palácio dele na Coreia do Sul e disse que foi melhor ter empatado, porque assim não haveria problema para sair.

Havia muitos militares na arquibancada. Mas, a delegação tinha a proteção da embaixada brasileira. Para sorte do clube, o então presidente Lula, em junho de 2009, havia estabelecido a embaixada brasileira em Pyongyang.

O Atlético Sorocaba saiu do Brasil em novembro de 2009. Foi até Pequim e lá conseguiu um visto de cinco dias para Pyongyang.

Todo o corpo diplomático esteve no aeroporto para receber a delegação, como se estivesse recebendo a “Seleção Brasileira”.

A grande surpresa aconteceu no dia 5, quando a equipe se dirigiu ao estádio e teve que passar por uma multidão de 30 mil pessoas, que se aglomerava do lado de fora da arena, já ocupada por 80 mil espectadores.

Foi uma grande emoção para todos os jogadores, atletas muito simples, embora alguns já tivessem passado por clubes renomados, como o Santos.

Entre as dificuldades, além do peso da responsabilidade em jogar diante dessa multidão, estava o fato de que o gramado era sintético, tipo de campo onde o Atlético, de Sorocaba nunca havia jogado.

O ex-técnico de futebol Eduardo Maragon, convidado a participar da partida contra a Coreia do Norte, deu declarações bem peculiares sobre o evento.

Disse que quando foi cumprimentar o treinador da Coreia do Norte, eles tomaram aquilo como uma ameaça. Surgiram militares de todos os lados. Não era costume deles.

O jogo chamou tanto a atenção da mídia que foi transmitindo ao vivo por várias emissoras, incluindo a televisão da FIFA.

No ano seguinte, na África do Sul, a Coreia do Norte acabou sendo sorteada para integrar o mesmo grupo do Brasil. Quando houve o jogo entre as duas seleções, os norte-coreanos perderam por 2 X 1.

No lendário jogo do dia 5 de novembro, uma das maiores surpresas foi constatar como os dois times foram apresentados no placar eletrônico: DRK (República Democrática da Coreia) X BRA (de Brasil). O Atlético Sorocaba jogou de amarelo!"

Em 2010, na segunda viagem, o Sorocaba, um amistoso comemorativo a posse do novo presidente, Kim Jong-um, o time não teve tanta sorte. Perdeu de 1 X 0, com um gol de pênalti absurdamente inexistente, marcado pelo árbitro, que era norte-coreano.

Dessa feita foi uma realidade diferente daquela experimentada em 2009. O Atlético Sorocaba não foi tratado como seleção brasileira, e o interesse no futebol parecia menor depois do fracasso do país na Copa – sobretudo pela derrota de 7 X 0 para Portugal.

Mesmo assim, cerca de 40 mil pessoas foram assistir à partida no estádio. O público parecia diferente: menos militares, mais mulheres. Mas a principal novidade estava dentro de campo.

E portava um apito. O árbitro, norte-coreano, levou o time brasileiro à loucura – favoreceu a seleção local do começo ao fim do jogo. E os visitantes tiveram que aceitar calados.

O time que enfrentou os coreanos tinha Carlos Carioca - Jamesson (Leandro Silva) - André Silva - Celso, Marcão e Assis. Fábio Baiano - Sandro e Leandro Diniz (Danilo). Adriano e Luan (Diego Ratinho).

Naquele ano, a equipe também fez mais duas partidas amistosas: em Pequim e em Khabarovsk, no Extremo Oriente russo, em 30 de dezembro, contra o SKA.

Fora do campo, toda a equipe e a comissão técnica do Sorocaba fizeram vários passeios pela cidade e seus arredores. Ao contrário do que divulgou a mídia ocidental, em momento algum o time se sentiu constrangido ou cerceado pelas autoridades norte-coreanas.

O ex-presidente do clube garantiu que conversou normalmente com as pessoas na rua, posou para fotos e, apesar do cerimonialismo típico dos orientais, sentiu-se benvindo em todas as ocasiões.

Embora falasse coreano, o dirigente procurou se fixar no esporte. Caminhou horas pelas ruas de Pyongyang sem problema nenhum. Ao chegar, representantes do governo ficaram com seu passaporte, mas conseguiu levar a máquina fotográfica.

Caminhou de duas a três horas, entrou em pequenos mercados. O brasileiro é muito bem recebido, na Rússia, na China, na Coreia do Norte.

A delegação teve pelo menos um dia de passeio dirigido, quando foram conduzidos por um ônibus e funcionários do governo que falavam espanhol.

A comitiva brasileira não teve qualquer problema com alimentação na Coreia do Norte, embora, por precaução, tivessem comprado muitos alimentos em Pequim, antes do embarque para Pyongyang.

Além disso, as compras para o lanche da tarde e da noite eram feitas nos supermercados das embaixadas, embora ninguém notasse qualquer problema de abastecimento nas lojas abertas ao público.

A terceira viagem do clube de Sorocaba para a Coréia do Norte aconteceu em 2011, desta vez sob o comando do técnico Fernando Diniz. Foram dois jogos: derrota de 1 X 0 no primeiro e empate por 0 X 0 no segundo.

Os brasileiros enfrentaram muitos jogadores que tinham disputado a Copa de 2010. Não tiveram temor algum e jogaram para ganhar. "Foi uma experiência muito interessante, em um país muito fechado, com controle sobre tudo", recordou Diniz.

Aquela foi a última vez em que o Atlético Sorocaba levou sua equipe profissional à Coreia do Norte. Depois, o clube só retornou ao país em 2015, mas com a equipe sub-15. E com um “inimigo” na delegação.

O meio-campista Pedro Lutti nasceu em Miami. Tem pais brasileiros e só morou em seu país de origem no primeiro mês de vida. Viajou à Coreia do Norte com documentação brasileira.

E teve que aguentar gracinhas dos colegas de time, que ficavam dizendo que iam contar que ele era americano, que não são bem vindos ao país.

O time sub-15 participou de um torneio com equipes da Coreia do Norte, Coreia do Sul, China e Croácia. Terminou em terceiro, depois de também sofrer com a arbitragem.

Em 2015, os garotos já enfrentaram restrições menores do que a dos profissionais que os antecederam. Puderam, por exemplo, entrar com telefones celulares no país – porém, não conseguiam acesso à internet.

No hotel, até descobriram um jeito de telefonar para o Brasil. Tiveram que juntar moedas quando chegou a conta, que foi complementada pela diretoria do Atlético Sorocaba. Só um dos telefonemas, de cinco minutos, custou 50 dólares.

Com a morte do reverendo Moon em setembro de 2012, a situação financeira do clube foi se agravando paulatinamente, o que obrigou o Sorocaba a se desligar da Federação Paulista.

Fora do futebol profissional desde o final de 2016, o Atlético, de Sorocaba ainda mantém um centro de treino que é considerado um dos mais modernos do país.

É uma estrutura que muito clube grande não tem: quatro campos, dois hotéis, piscina aquecida e academia em um terreno que tem até um lago. A Argélia ficou lá na Copa de 2014. Em um dos troféus que repousam no local, marimbondos iniciaram a construção de uma casa. É a imagem do abandono.

Em frente à sede do Atlético Sorocaba, a água que jorrava de uma fonte, ornada com uma pequena bola de futebol no topo, era iluminada em amarelo e vermelho – as cores da equipe. Hoje, a fonte, literalmente, secou. Está desativada – a exemplo do futebol do clube.

Por ironia, o centro do Sorocaba é utilizado hoje pelo seu maior rival na cidade, o São Bento, que subiu há pouco da série C para a B do Brasileirão. Seu técnico Paulo Roberto (de novo a ironia) era um dos jogadores do Sorocaba na lendária partida de 2009 na Coreia do Norte. (Pesquisa: Nilo Das)
Seleção da Coréia do Norte e Atlético Sorocaba, posaram juntos na foto de 2011.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Os 100 anos do Olímpico de Blumenau

No último dia 14 o Grêmio Esportivo Olímpico, de Blumenau (SC) se tornou centenário. O clube foi fundado em 14 de agosto de 1919 com o nome de Sociedade Desportiva Blumenauense. Seus fundadores foram imigrantes alemães.

Segundo relatos da época, a primeira ata do Futebol Clube Blumenauense (FCB) foi realizada no dia 14 de agosto de 1919. Na ocasião, cerca de 20 homens participaram do encontro no Hotel Guarujá, Alameda Duque de Caxias, no centro de Blumenau.

Alguns idealizadores do clube presentes foram: Emílio Hoetgebaum, Henrique Sachtleben, Paulo Grossenbacher, João Hahn, Otto Brunner, Fritz Nicolai, Arthur Petters, Paul Kielwagen, Victor Theodoro Laux, Paulo von Czekus, Hermann Scheidemantel, Ernst Willrich, Hermann Hemke, Alfredo Diebold, Arthur Bruner, Alfredo Gehrer, Otto Güse, Hermann Brandes, Andréas Hoetgebaum, Alfredo Carvalho, Manoel dos Santos e August Mausmann.

As reuniões do FCB costumavam ser realizadas em hotéis da cidade ou muitas vezes nas próprias residências de dirigentes e associados. Além das atividades esportivas, o clube realizava periodicamente bailes públicos.

Logo nos primeiros anos de fundação o FCB conseguiu um de seus mais importantes troféus: o “Campeão de Simpatia”. O antigo cinema do “Hotel Holetz” realizou em maio de 1922 um concurso para eleger o clube mais simpático de Blumenau entre os freqüentadores de suas sessões cinematográficas. O Futebol Clube Blumenauense foi então o escolhido para receber o troféu.    

A diretoria mandou construir uma pequena caixa para colocá-lo em exposição em uma das lojas da cidade, sendo esse o primeiro registro de um troféu recebido pelo clube ao longo de sua história.  

Aos poucos o futebol tomou conta de Blumenau, dando início as grandes rivalidades entre os times. Os primeiros jogos do FCB eram disputados em um terreno próximo ao campo do Brasil, pertencente então à Família Holetz.

Logo depois a “Sociedade Ginástica” emprestou o campo de exercícios, onde hoje se estende o complexo do “Conjunto Educacional Pedro II”, para as competições. 

O primeiro torneio data de 1921. A equipe do Blumenauense era formada basicamente pelos fundadores do clube e do times enfrentados destacavam-se o Caxias Foot Ball Club e o Brasil FC. A concessão do campo durou 17 anos. 

Até 1930 o FCB havia vencido nove torneios regionais. O intercâmbio não era comum, principalmente pelas dificuldades de ligação entre os municípios catarinenses. Na época o clube possuía jogadores como Kloth, Koenig, Waldemiro e Tigy.

Além do Blumenauense, existiam na cidade outras equipes, clubes esses voltados exclusivamente ao futebol: o Bom Retiro, fundado em 1926 e que mais tarde seria um dos troncos do atual Clube Blumenauense de Caça e Tiro; o Amazonas, criado entre os operários da Empresa Garcia; Victória, mais tarde Vasto Verde, no Bairro da Velha; Liberdade; o Altonense, do bairro de Altona, hoje Itoupava Seca; e o América, depois Guarani, na Itoupava Norte. 

Uma curiosidade é que o clube havia nascido com o nome de Blumenauense Football Club, mas oficialmente era Football Club Blumenauense. No estatuto de 1937 passou a denominar-se Blumenauense Sport Club e, finalmente em 1938, Sociedade Desportiva Blumenauense, seu último nome antes de tornar-se Grêmio Esportivo Olímpico, em 1944. 

O FC Blumenauense recebeu inúmeras pressões de quem não admitia que o clube se voltasse ao profissionalismo. A principal oposição era da Sociedade Ginástica, que lhe tirou o direito de usar o campo que lhe fora emprestado.

Em seguida muitos dos atletas também abandonaram a equipe. O impasse foi combatido, formando-se uma equipe de juvenis dirigida por Lindolfo Natal. Começaram a surgir atletas que mais tarde representariam verdadeiras bandeiras do clube, como Margarida, Zinkhahn, Nieksche, Wilmar da Luz e Júlio Grossenbacher.

Com o fim do campo da Ginástica para os treinos, a agora Sociedade Desportiva Blumenauense (SDB) iniciou a compra de um terreno para a construção do seu novo campo. Durante um tempo, como alternativa o clube jogava eventualmente no gramado do Brasil e nos demais clubes de Blumenau.

O grupo de atletas que possuía também projetou-se positivamente na cidade, alcançado logo em seguida prestígio a nível estadual e enfrentando os mais diversos times de Santa Catarina e de outros estados.

A organização futebolística recebia novos moldes na região, com a criação em 1941 da Liga Blumenauense de Futebol (LBF), uma instituição que tratava do futebol na cidade. A nova entidade surgiu do idealismo dos desportistas Capitão Nilton Machado Vieira, Benjamin Margarida e Willi Pawloswky, e o 1º presidente Alfredo Campos, um dos fundadores do Brasil FC, e mais tarde prefeito da cidade. 

No primeiro campeonato, o de 1941, o Brasil Futebol Clube foi o Campeão Catarinense de Futebol, título conquistado também no ano seguinte, em 1942.
 
Em 1943 o time da Sociedade Desportiva Blumenauense disputava o título da Liga Blumenauense de Futebol com outras sete equipes: Brasil (mais tarde Palmeiras), América (hoje Guarani EC), Bandeirantes (Brusque), Timboense, Indaial, Concórdia (Rio do Sul) e Tupy, de Gaspar. 

Sob o comando do técnico Manoel Pereira Júnior e o Tenente Hernandez na preparação física dos atletas, o Blumenauense organizou uma equipe formada por Waldir, Arthur e Arécio, Piska, Hini e Generoso, Iço, Willy, Bodinho, Pie e Abreu.

A SDB conquistou o título da LBF, vencendo os 15 jogos disputados, marcando 77 gols, tendo sofrido apenas 16. O Blumenauense teve ainda o goleador do campeonato, Abreu, com 22 gols, seguido por Bodinho, com 20.  

A campanha de 1943 começou com o Bumenauense levantando o título deste Torneio. Em 11 de abril, o time iniciou a primeira partida goleando de 6 X 1 sobre o Bandeirantes. Em 26 de abril outro placar: 5 X 1 sobre o América; em 2 de maio vencendo o Indaial por 3 X 2. Finalmente chegou o primeiro clássico da cidade, com o Blumenauense enfrentando e vencendo por 7 X 2 o Amazonas no dia 6 de junho. Já no dia 20 a maior goleada, 11 X 1 sobre o Tupy de Gaspar.

Os placares dilatados eram uma constante nos jogos que o Blumenauense disputava. Um exemplo disso foi o jogo contra o Timboense, quando no final a equipe de Blumenau venceu por 8 X 1.   

Em 1943 o Blumenauense também sonhava em ver seu futebol campeão do estado. Esse sonho parecia que se tornaria realidade depois de duas vitórias sobre o Brusquense: 2 X 1, em Brusque; e 5 X 3, em Blumenau, embora o time do Avaí, adversário finalista daquele ano, tivesse a vantagem do mando de campo na segunda partida.

No primeiro jogo a equipe da Blumenauense cedeu o empate de 2 X 2 em pleno Estádio da Baixada, sendo derrotado pelo adversário no Estádio Adolfo Konder, da Federação Catarinense de Desportos, por 5 X 0. 

Mesmo derrotado, o clube contentou-se com o vice-campeonato de 1943, pois conseguia firmar-se entre os grandes times do estado. Nesta época também o clube despedia-se da denominação de Sociedade Desportiva Blumenauense, passando a ser em 1944 Grêmio Esportivo Olímpico.

Diante desse disposto foi baixado pelo Conselho Nacional de Desportos, uma deliberação de número 5.342, em 2 de março de 1943, “alterando denominações que derivassem de nomes de Nações, Estados, Regiões ou Municípios”.

Através de circulares expedidas pelo Conselho, veio uma determinação à direção da Sociedade Desportiva Blumenauense  em que dizia: “A palavra que qualificar o nome de uma associação desportiva, não pode mais derivar dos vocábulos, Brasil, Nação Estado, Território ou Município, que são privativos, respectivamente do CND (Conselho Nacional de Desportos), das Confederações, Ligas e centros classistas desportivos.

Não pode a agremiação mesmo incorporar ao seu nome a palavra Brasil, salvo autorização do CND, e parecer homologado pelo Ministro da Educação e Saúde”.

Após a determinação, dirigentes de clubes de Blumenau entraram em um período de discussões das suas novas denominações. O Recreativo Brasil aproveitaria sua localização, a Alameda Duque de Caxias, para passar a denominar-se Palmeiras EC; o América, da Itoupava Norte, para se tornar Guarani EC; enquanto que a Sociedade Desportiva Blumenauense passaria a Grêmio Esportivo Olímpico.

Já o Amazonas manteve o nome, tirando apenas o “s” e depois passando um período de inatividade. Só retornou após a Guerra, quando novamente não observava-se denominações conforme a deliberação governamental.

O nome Grêmio Esportivo Olímpico foi uma idéia que encontrou simpatia entre os desportistas, porque o clube havia surgido de uma Sociedade de Ginástica Olímpica, e lembraria sempre a extinta Sociedade Ginástica, já então adormecida e paralisada pelo temor de influências alemãs e nazistas.

A reunião de aprovação da denominação coincidiu com a eleição da nova diretoria, a primeira da nova fase do clube, cujo primeiro ato foi a consagração do nome Grêmio Esportivo Olímpico. 

O presidente José Ribeiro de Carvalho foi mantido no cargo, e os demais membros foram os seguintes: Tenente Domingos Costa Hernandez (vice-presidente); Manoel Pereira Júnior (secretário geral); Wilmar da Luz (primeiro secretário); Werner Eberhardt (segundo secretário); Frederico Kretzmann (primeiro tesoureiro); Herbert Wehmuth (segundo tesoureiro); e Nicolau Pederneiras, Victor Krepsky, e Guilherme Pawlowsky Júnior (Willy) na Direção Esportiva. A comissão de sindicância (conselho fiscal) ficou formado por Arthur Rabe Júnior, Otto Abry, Augusto Reichow, Henrique Rieschbieter e Willy Belz.

Em poucos dias a cidade toda tomou conhecimento através da imprensa da grande transformação ocorrida nos clubes de Blumenau. O desaparecimento do nome Sociedade Desportiva Blumenauense entristeceu muitas pessoas, que durante anos aprenderam a amá-la. Porém ao Grêmio Esportivo Olímpico era reservado um grande futuro.

No ano de 1944 chegaria novamente a vez de o rival do Olímpico, chamando-se agora Palmeiras EC, chegar à decisão estadual contra o Avaí. Apesar dos esforços do Palmeiras o time, que tinha Teixerinha como o seu maior astro, acabou perdendo, sendo goleado por 11 X 1. 

A partir de então o jejum branco-grená persistiu durante cinco anos. Em 2 de dezembro de 1944, o “Estádio da Alameda” foi palco para o eterno inimigo quase ceder ao Olímpico mais um título, com um empate em 2 X 2 diante do Guarani (ex-América). No entanto a equipe da casa perdeu por 5 X 2. 

Em 1945 mais uma amarga derrota na decisão contra o Palmeiras. Além do placar de 4 X , o Olímpico perdeu dois pênaltis, quando poderia virar uma partida em que jogava melhor. O mesmo ocorreu em 1946, com o jogo realizado em 12 de janeiro de 1947.

O clássico final foi vencido pelo Olímpico, mas sua campanha não havia correspondido à altura, de maneira que o placar de 3 X 2 conseguido foi apenas para cumprir a tabela. 

 novo nome parecia ter trazido um feitiço para o clube da “Alameda Rio Branco”. Sua diretoria procurava de todas as formas achar um porquê dos insucessos obtidos nos três primeiros anos em que o Olímpico assim se chamava. O Palmeiras repetia novo o título, mas voltava a perder o estadual, depois de duas derrotas para o América, de Joinville. 

O Olímpico voltou a disputar o campeonato de 1948, mas novamente não conseguiu chegar ao título estadual. Esse caminho foi atingido pelo Olímpico na campanha seguinte, conseguindo trazer o primeiro título estadual para Blumenau. 

O Grêmio Esportivo Olímpico tinha retornado em 1948, disputando o Super, mas não conseguindo vencer o campeonato da Liga Blumenauense de Desportos (LBD). O presidente Arnaldo Xavier conseguira para 1949 montar uma equipe combativa, com poucos reforços de fora, mas com a garra de ex-juvenis, além da experiência de alguns remanescentes da equipe vice-campeã de 1943. 

No campeonato da LBD, que começou em 29 de maio, o Olímpico conseguiu vencer o Carlos Renaux, de Brusque, no Estádio da Baixada. No entanto foi derrotado em 5 de junho pelo outro representante de Brusque, o Paisandú por 3 X 2 no vizinho município. Jogando em Gaspar, no Estádio Carlos Barbosa Fontes, a equipe então dirigida pelo técnico José Pera venceu por 4 X 0. 

Depois de nova vitória sobre o Guarani por 5 X 2 chegou o tão esperado clássico da icdade, na época comparado com um Fla-Flu, do Rio de Janeiro, vencido pelos alvi-rubros por 4 X 2. 

Apesar da vitória sobre o Guarani por 3 X 1 no início do returno, nas duas partidas seguintes toda a fome de gols decairia para o Olímpico. Em Brusque empatou com o Carlos Renaux, em 0 X 0, e não passando pelo mesmo marcador diante do Paisandú, em plena Baixada Grená. 

Os resultados estavam difíceis e o campeonato da LBD poderia estar perdido se não fosse a má campanha dos demais concorrentes. Na partida seguinte o Olímpico voltou a vencer, mas apenas por 3 X 2 sobre o Tupy.

Perdeu na fase decisiva para o Carlos Renaux por 4 X 3. As esperanças do time foram retomadas após a vitória no “Eterno Clássico”, diante do Palmeiras por 3 X 1, com gols de Juarês, Renê e Nicolau, descontando para o alviverde o jogador Jonas.

O Olímpico recuperou o título conseguido em 1943, depois de vencer uma melhor de três com o Paisandú, de Brusque. Vencendo o campeonato da LBD, em 1949, coube ao clube o direito de disputar com as demais regiões a posição de finalista.

Como campeão do Continente contra o da Ilha de Santa Catarina, disputado entre os times Paula Ramos, Figueirense e Avaí. Naquele ano repetiu-se a história de 1943. A equipe de Blumenau era dirigida agora por Carlos de Campos Ramos, conhecido como “Leléco”. 

Para chegar ao título máximo estadual, o Olímpico teve que passar pelo Atlético, de São Francisco do Sul, campeão da Liga Joinvilense. No primeiro jogo, na Baixada, conseguiu vencer por 4 X 2, com gols de Nicolau, em 12 de março de 1950.

Uma semana mais tarde, em São Francisco do Sul, os dois adversários voltavam ao confronto, e o Olímpico acabou com o Atlético, em uma vitória de 3 X 2, gols marcados por Nicolau, Juarez e Renê. 

O próximo passo seria vencer o Juventus, de Porto União. Nos dias 26 de março e 2 de abril, ganhou por 5 X 2 em Blumenau e 5 X 1 no reduto adversário. Novamente o Olímpico voltou a decidir com o Avaí, disposto a devolver o amargor da derrota na decisão de Florianópolis, em janeiro de 1944. 

Na primeira partida os grenás fizeram 6 X 1, no dia 30 de abril, no “Estádio da Alameda”, com gols de Juares (2), Nicolau, Renê, Walmor e Testinha. Era vez agora da segunda partida. Um jogo para lotar o “Rstádio Adolfo Konder”, em Florianópolis.  

A equipe do Olímpico estava convicta que pelo menos um empate poderia conseguir em Florianópolis. Os seus jogadores não mudaram suas rotinas na semana que antecedia a grande decisão.

Além dos treinamentos alguns jogadores cumpriram normalmente seus expedientes nas empresas em que trabalhavam. A delegação blumenauense viajou, apesar de tudo desolada para Florianópolis, pois recebeu a notícia de que a brilhante equipe italiana do Torino, detentor do “Scudetto” base da Seleção da Itália, a “Squadra Azurra”, havia morrido em um acidente aeroviário. 

Hora da decisão. Florianópolis havia preparado uma enorme festa, que iniciou no momento em que os jogadores avaianos entraram em campo. Depois do festivo ingresso da equipe da casa no gramado, sob vários foguetes, entrou o Olímpico vaiado. Um minuto de silêncio em homenagem aos jogadores do Torino. O público proporcionou a renda recorde de Cr$ 20.000,00.  

O Avaí parecia ter entrado mais disposto, mas logo o Olímpico impôs seu jogo. A zaga, formada por Aducio Vidal e Arécio, se impôs logo na marcação dos atacantes do time da capital. No primeiro ataque, aos 7 minutos, o Olímpico marcou o primeiro gol da tarde.

“Testinha” conseguiu um bom arremesso contra a meta defendida pelo então melhor goleiro do estado, Adolfinho, com Juarês completando. O mesmo atacante, em questões de minutos alterou o placar, em jogada pessoal, driblando o goleiro adversário. A sorte do Olímpico estava praticamente decretada, de maneira que seus jogadores procuravam apenas administrar a vantagem. 

O Avaí chegou a descontar através de Jair, aos 19 minutos, em uma falha impressionante de Oscar. A equipe da capital, logo em seguida chegou a empatar aos 28 minutos, mas o árbitro, Arthur Lange, da Liga Joinvillense, anuloi alegando irregularidade. 

O Avaí tentou de qualquer maneira chegar à igualdade no marcador. Porém, aos 38 minutos, em uma jogada de Renê, o Olímpico marcou novamente através de “Testinha” de cabeça. Apesar da boa vantagem o jogo não estava terminado.

Logo em seguida ao terceiro gol, Niltinho quase marcou para o Avaí, mas Aducci colocou a mão na bola. O técnico Avaiano, Oswaldo Meira, determinou a cobrança através de Bentevi, mas o goleiro Oscar defendeu. 

Na segunda etapa o jogo caiu de ritmo. No início algumas boas jogadas do Avaí, que até aos 20 minutos foi perdendo o domínio de jogo, com o zagueiro Aducci presente junto com Arécio, constituindo-se ao lado de Juarês na melhor figura do jogo. 

Finalmente o Olímpico acabou com todas as esperanças da equipe da Capital aos 20 minutos do segundo tempo, em mais uma boa triangulação de “Testinha”, Renê e Juarês, completando a goleada de 4 X 1 no campo adversário.

Finalmente uma equipe de Blumenau, depois de várias lutas travadas ao longo de três décadas conseguiu um título estadual. O Olímpico consegue o empate em Florianópolis e trás o título a Blumenau. 

Os campões de 1949: Oscar Meyer: goleiro; Aducio Vidal (Aducci): zagueiro;  Arécio Ávila dos Santos: zagueiro; Arthur Jaeger: zagueiro; Curt Jaeger: zagueiro e meia-esquerda; Amauri Pacheco (Pachequinho): meia-direita; Honorário Meyer: centro-médio; Jalmo Hipólito da Silva: meia-esquerda; Eli Rosa (“Testinha”): ponta-direita; Nicolau dos Santos: meia-dreita; Juares Teixeira: centro-avante; Walmor Belz: meia-esquerda; Moacir Massita Werner: meia-esquerda; Reenê Mapelli: ponteiro direita; Genézio da Silva (“Cabeleira”): ponta-direita; Waldir Luz: goleiro; Técnicos: José Pera até o final do Campeonato da LBD e Carlos de Campos Ramos (“Leleco”) a partir da melhor de três contra o Paisandú, na decisão do campeonato regional até a final diante do Avaí; Presidente: Werner Eberhardt .

Ficha do jogo final:

Gols: Juarês (7 e 9 minutos do 1º tempo), “Testinha” (38 minutos do 1º tempo), Juarês (20 minutos do 2º tempo) e Jair (19 minutos do 1º tempo). 
Arbitragem: Arthur Lange. 
Renda: Cr$ 19.751,00 
Adolfinho – Honduras – Danda – Guido – Boos – Jair –Bentevi – Britinho - Niltinho e Saul. Técnico: Oswaldo Meira. 
Olímpico: Oscar – Aducco – Arécio – Pachequinho – Honório – Jaeger – Testinha – Nicolau – Juarês - Walmor e Renê. Técnico: Carlos de Campos Ramos (“Leleco”).  (Pesquisa: Nilo Dias)

Time campeão de 1949

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

O primeiro negro a jogar no futebol brasileiro

O primeiro negro a jogar futebol por um clube brasileiro foi Jorge Araújo Miguel do Carmo, pela Associação Atlética Ponte Preta, time de Campinas, no interior de São Paulo. Não só foi jogador (posição centre-half), como fundador e diretor do cube. Seu nome está na ata de fundação. Essa história de pioneirismo começou em 11 de agosto de 1900.

Miguel do Carmo, apelidado de “Migué“,  nasceu em 10 de abril de 1885 em Jundiaí, também no interior paulista, três anos antes da abolição oficial da escravatura no Brasil, com a Lei Áurea, em 1888. Aos 15 anos de idade, junto com outros garotos e rapazes do bairro da Ponte Preta, fundou o clube com o mesmo nome.

O batismo do clube não tem relação com os negros presentes em sua criação, mas sim com o bairro onde o time nasceu, chamado Ponte Preta graças à ponte da linha férrea, de madeira escura, que cortava o local.

A linha do trem, propositadamente, separava os bairros operários como o da Ponte Preta, do centro e da elite. A maioria dos moradores negros da vila eram funcionários da ferrovia. Foi por ali que o futebol chegou à cidade, por meio de um imigrante escocês chamado Thomaz Scott, engenheiro da Companhia Paulista de Estradas de Ferro.

A proximidade com os imigrantes permitiu aos negros da região que o preconceito fosse deixado de lado no momento de participarem das partidas disputadas nos campos improvisados.

O bairro da Ponte Preta era na época morada de população operária, formada basicamente por chacareiros, artesãos e ferroviários. Era natural, então, que a maior parte dos entusiastas que participaram das primeiras atividades da agremiação estivesse nessa camada de trabalhadores braçais.

Miguel era ferroviário, trabalhava como segundo fiscal de linha da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, em Campinas, e seria só mais um dos que se empolgaram com o futebol, esporte que havia chegado recentemente ao país, não fosse pela cor da sua pele.

A situação era impensável naquele fim de século. Os times que jogavam futebol no Brasil eram de clubes da elite branca. Alguns deles, inclusive, tinham regras que proibiam explicitamente a presença de negros em seus quadros. Arthur Friedenreich, um dos maiores atletas da era amadora do futebol, era filho de pai alemão e mãe negra, alisava os cabelos crespos antes de entrar em campo.

O berço pontepretano foi decisivo para que jogadores negros tivessem oportunidade de defender as cores do time de Campinas logo nos primeiros anos de sua existência, quando essa interação racial era proibida em outras associações esportivas.

Miguel do Carmo se casou, teve 10 filhos, mas morreu jovem, aos 47 anos, em 1932, depois de passar por uma cirurgia no estômago. Além disso, pouco se sabe a respeito dele.  

Por muito tempo acreditou-se que Francisco Carregal havia sido o primeiro negro a atuar em um time do futebol nacional, ao defender o Bangu em 1905. 

Porém, o historiador e professor da PUC-Campinas José Moraes do Santos Neto defende que o pioneirismo é de Miguel do Carmo, da Ponte Preta. Até hoje, o Vasco da Gama e Bangu, times do Rio de Janeiro, disputam o pioneirismo da democracia racial no futebol que, de fato, é da Ponte Preta.

De acordo com o livro "O Negro no Futebol Brasileiro", do jornalista Mário Filho, publicado em 1947, em 1923, o Vasco chocou o Rio ao vencer Flamengo, Botafogo e Fluminense, clubes da elite carioca, e conquistar o campeonato local com um time formado, principalmente, por negros e mulatos.

Mas, antes disso, em 1905, o Bangu foi o primeiro clube a aceitar um jogador negro, o apoiador Francisco Carregal.

Miguel do Carmo, entretanto, jogou pela Ponte Preta até 1904, quando foi transferido pela Companhia Paulista para Jundiaí, como conta o historiador José Moraes dos Santos Neto, responsável pela pesquisa que pretende realinhar a cronologia da participação de negros no futebol.

Quando começou busca documental dos primeiros tempos da Ponte Preta, se sabia das escalações dos times, mas ninguém tinha conhecimento de quais os atletas eram brancos ou negros.

Houve então, uma verdadeira investigação, família por família. Mas foi encontrado apenas um documento de Miguel do Carmo: uma carteira de registro, com foto, de seu emprego como ferroviário.

Além dessas, há poucas informações sobre o meio-campista. A notícia de que seria o primeiro negro do futebol brasileiro mexeu com os fanáticos ponte-pretanos, que passaram a vasculhar publicações antigas à procura de novos dados sobre o jogador.

Existe, inclusive, a suspeita de que outros jogadores daquele time de 1900 fossem descendentes de africanos. Caso de Alberto Aranha. Haviam duas famílias Aranha em Campinas, uma no bairro Ponte Preta, de negros, e outra no Cambuí, região nobre.

Ele pode ter sido parente de Benedicto Aranha, um contador negro que atuou no clube a partir de 1908.

A falta de certeza se dá pela pouca documentação encontrada. Os jornais ignoravam o novo esporte. A imprensa só começou a cobrir o futebol em 1908, quando houve uma tentativa frustrada de criação de uma liga competitiva.

Relegado até agora, Miguel do Carmo não muda o meio ou fim de uma história que inclui Leônidas e Pelé. Mas dá a ela um novo início.

Em Campinas não havia uma sociedade tão elitista e fechada como nos clubes sociais de São Paulo e do Rio, conta o diretor e curador do Museu Afro Brasil, Emanoel Araújo. “A cidade tinha uma comunidade negra muito grande", contou.

Isso, porém, não evitou que a equipe da Ponte Preta fosse hostilizada por conta da grande presença de negros e mulatos no time e entre os torcedores. Nos estádios em que o time se apresentava como visitante pelo interior do Estado, era comum ser recebida com os gritos de "macacos" e "macacada".

A torcida, entretanto, preferiu transformar as ofensas em apelido e adotou a macaca como mascote do clube. Entre os torcedores da Ponte existe de tudo: mulheres, crianças, negros e mulatos.

Houve uma mistura entre a elite e o povão, uma quebra da hierarquia social. Na hora do gol, o médico abraça o cara que construiu o consultório dele, diz o historiador. "Essa é uma característica do futebol que é ainda mais marcante na Ponte."

A Ponte Preta pretende capitalizar com o reconhecimento do que chama de "primeira democracia racial", por aceitar jogadores negros em seus quadros desde os jogos iniciais de sua história de 119 anos.

Em 2003 foi enviada uma carta à Fifa, informando a entidade sobre a participação de Miguel do Carmo no time formado após a fundação da equipe, em 1900.

Em um dos trechos do dossiê enviado à Fifa, Santos Neto cita o time formado no Bairro da Ponte Preta, em Campinas. Leia trecho abaixo:

“(…) Os meninos e rapazes jogadores de futebol eram brancos, negros e mulatos. Entre os jovens tínhamos quatro negros e dois mulatos, mas um deles se tornou jogador do primeiro time da Ponte Preta após sua fundação em 1900, seu nome era Miguel do Carmo.

Em 1900 esses rapazes resolveram fundar um time de futebol, para tanto contaram com o apoio do alemão Theodor Kutter, do austríaco Nicolau Burghi, do brasileiro descendente de alemães Hermenegildo Wadt e do brasileiro Capitão João Vieira da Silva.

O objetivo era fundar uma associação sem preconceito de raça ou religião para praticar o futebol . Em 11 de agosto de 1900 é fundada a Associação Atlética Ponte Preta (…)”.

A entidade respondeu com carta assinada pelo então chefe de relações públicas Federico Addiechi, mas reconhecendo a Ponte Preta apenas como “um exemplo de igualdade, fraternidade e não-discriminação, através de seu time de futebol por mais de um século”.

O clube voltou a procurar a entidade que comanda o futebol mundial em busca do reconhecimento oficial e foi instruído a montar um dossiê completo sobre o jogador para que os documentos pudessem ser avaliados.

O clube tenta viabilizar isso financeiramente. Uma das ideias é que um livro seja escrito sobre a história, o que facilitaria o financiamento através de lei de incentivo à cultura. Os dirigentes acham importante ser reconhecido por isso, pois beneficiaria muito a marca Ponte Preta.

A justa homenagem ao primeiro negro do Brasil a jogar num time de futebol, inaugurando assim a primeira Democracia Racial, está também cristalizada na venda de camisas personalizadas com o nome de Miguel do Carmo.  

Em 2014, em comemoração aos 114 anos da Ponte Preta, Geraldo do Carmo, filho de Miguel do Carmo, recebeu o título de “Cidadão Pontepretano”, em nome do pai, que tem o rosto estampando em selo.

No Jardim Garcia tem uma escolinha que leva o nome de Geraldo do Carmo, que foi zagueiro do Guarani, nos anos 50. Ele foi o único dos filhos de Miguel que jogaram futebol profissionalmente. Seus netos, Gabriel e Lucas tentaram seguir a carreira do avô e do bisavô, mas não tiveram êxito.

Geraldo ficou marcado pela sua passagem pelo Guarani, nos anos 50. Ele contou que havia acertado, em uma sexta-feira, com o Moyses Lucarelli, então homem forte do clube, para jogar pela Ponte Preta.

Mas no dia seguinte, o Guarani apareceu na sua casa e o contratou para resolver os problemas defensivos. No domingo, entrou em campo. Mas na estreia seu time perdeu por 10 X 0.

A mãe de Gabriel e Lucas, a jornalista Raquel do Carmo, acompanha a luta do filho e do sobrinho, enquanto busca resgatar a memória do avô, que ela nem chegou a conhecer – Miguel do Carmo morreu quando Geraldo, pai de Raquel, tinha apenas 5.

Um grupo de torcedores costuma levar faixas ao estádio Moisés Lucarelli com o inscrito: “Primeira democracia racial no futebol brasileiro – Miguel do Carmo – Ponte Preta”. Até música o jogador ganhou, um lundu com baião composto por Jorge Araújo: “Sem preconceito a Ponte iniciava / Em sua camisa já brilhava / O preto e o branco com amor”.

O título de time mais antigo é polêmico. O clube, fundado em 11 de agosto de 1900, intitula-se o mais antigo do Brasil. Considera o fato de nunca ter paralisado o futebol, o que diz ter acontecido com o Rio Grande, criado 23 dias antes. Os gaúchos negam a interrupção do esporte, e isso é verdade, o clube nunca deixou de praticar o esporte.

Em seus 119 anos de história, a Ponte Preta nunca conquistou um título importante. Mesmo assim, mantém uma das mais apaixonadas torcidas de São Paulo. E, hoje, seus seguidores exaltam, orgulhosos, o fato de o clube ter sido o primeiro a romper com o racismo no futebol brasileiro. “Esse troféu ninguém nos tira”, afirma o fonoaudiólogo Carlos Burghi, descendente de fundadores da Ponte.

A partir de meados da década de 10, a Ponte passou a ser denominada a “Veterana”, porque, entre os muitos clubes que surgiram na virada do novo século em Campinas, foi o único que sobreviveu e, até por isso, acabou sendo o mais antigo. (Pesquisa: Nilo Dias)