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sábado, 4 de abril de 2009

S.C. Internacional, um gigante de 100 anos (5)

A partir daí é que o apelido de “Rolo Compressor”, dado por Vicente Rao ganhou fama. Os grandes clubes do eixo Rio-São Paulo apareciam com propostas milionárias, mas os jogadores recusavam-se a sair de Porto Alegre. O time mais ofensivo de todos os tempos já surgido no Rio Grande do Sul durou praticamente toda a década, e teve um sucessor, o "Rolinho", comandado pelo inesquecível técnico Teté, nos anos 1950.

Antes de se consagrar no Internacional, Teté já tinha fama no interior do Estado de bom treinador. Quando treinava o Brasil de Pelotas, Teté havia estabelecido um sistema de sinais com os jogadores. Algo como: se sacasse o lencinho da lapela, o time tinha de recuar; se vestisse o paletó, era hora de atacar; se coçasse a cabeça, devia investir pelo lado direito. Essas coisas.

Clássico da cidade. Começou o jogo, Teté estudando a movimentação inimiga, tira conclusões e aperta furiosamente o nariz. Os jogadores compreendem. Fazem o que ele pede. Mas o Pelotas é quem marca o primeiro gol. Teté levanta-se do banco e bate três vezes na testa. Os jogadores mudam de posicionamento, mas o Pelotas acaba fazendo 2 X 0. No intervalo, Teté insiste para que os jogadores cumpram à risca suas determinações.

Segundo tempo. Passados cinco minutos, Teté enfia uma mão no bolso esquerdo das calças e outra no direito do casaco. E o Pelotas enfia 3 X 0! Desolado, Teté sai do banco de reservas. Ergue os braços para o alto. Olha para o céu e brada: “tudo perdido!” E cruza os braços atrás da nuca. Desistiu. Largou.

Lá do gramado, os jogadores vêem os gestos do treinador. O que será que ele quer? Que sinal era aquele mesmo? Alguém sugere que está determinando a troca de lugar dos ponteiros. É o que fazem. Teté está arrasado. Mal enxerga o jogo. Mas a mudança dá certo. O Brasil marca um gol, outro, e mais outro, e o quarto. E vira o jogo! Teté, feliz, não entende o que aconteceu. Os jogadores, mais felizes ainda, aplaudem a genialidade do seu treinador.

Teté chegou ao Estádio dos Eucaliptos em 1950. Um dos precursores de esquemas táticos organizados com base em defesas sólidas e ataques velozes, o pelotense Francisco Duarte Júnior, o Teté, foi um dos mais importantes técnicos da história do Internacional. Trouxe vários jogadores do Rio, onde morou durante os anos 40 e conheceu Flávio Costa, treinador da Seleção Brasileira. Teté ainda foi o técnico da Seleção Brasileira na conquista da medalha de ouro do Pan-Americano de 1956, time que tinha sete jogadores do Inter.

A seleção brasileira jogou sua primeira partida em 1914, mas só ganhou seu primeiro título no exterior em 1952, o Pan-Americano do Chile. Quando uma seleção gaúcha foi designada para representar o futebol brasileiro na edição seguinte do torneio, em 1956, no México, a responsabilidade portanto era muito grande.

Mas o jovem time do Rio Grande do Sul voltou a ganhar o título para o país. Entre os jogadores, oito eram colorados. E, cumprindo o destino de grandeza do clube, sete desses foram titulares do time que ganhou o bi-campeonato para o Brasil. O técnico também era colorado, Francisco Duarte Júnior, o Teté.

Em resumo: foi uma campanha invicta de quatro vitórias e um empate, com apenas cinco gols contra e 14 a favor, um de Ênio Andrade do Renner, um de Raul Klein do Floriano de Novo Hamburgo e outros 12 de craques colorados - Larry e Chinesinho, 4 cada, Bodinho 3 e Luizinho 1.

No dia 26 de setembro de 1954 o Internacional estragou a festa de inauguração do estádio Olímpico, goleando impiedosamente o Grêmio por 6 X 2 perante 24.595 assistentes. Carlos Alberto Vigorito foi o juiz e os gols foram anotados por Sarará e Zunino para o Grêmio, e Larri (4), Jerônimo e Canhotinho para o Internacional.

O ano de 1967 foi marcante na história do Internacional. Até então as atenções do futebol brasileiro praticamente se voltavam apenas para os clubes do Rio de janeiro e São Paulo. Os demais, só apareciam em raras vezes, durante um torneio nacional chamado de Taça Brasil, que começou em 1959 e terminou em 1968. O Internacional participou da edição de 1962, classificando-se em 3º lugar, atrás somente de Santos e Botafogo.

A alavanca que impulsionou o crescimento do Internacional a nível nacional foi com a modernização do Torneio Rio-São Paulo, que passou a chamar-se Roberto Gomes Pedrosa, o “Robertão” e estendido a dois clubes do Rio Grande do Sul, dois de Minas Gerais e um do Paraná. O Internacional mostrou sua força de cara, sendo vice-campeão já na primeira participação.

A consolidação nacional veio no dia 28 de maio de 1967, quando da histórica vitória de 1 X 0 sobre o Corinthians, gol de Lambari em pleno Estádio Pacaembu. Essa foi a primeira vitória de um clube gaúcho contra um paulista, em São Paulo. E com um gostinho todo especial, o Corinthians estava invicto há quinze jogos e era considerado quase imbatível.

Em 1968, o Internacional foi vice-campeão de novo. No ano seguinte, depois da inauguração do “Gigante da Beira-Rio”, o clube colorado conseguiu montar um dos mais poderosos times da história do futebol brasileiro, onde despontavam valores como Falcão e Figueroa, entre outros, que encantou o Brasil e o mundo na década de 1970. Em 1974, um feito histórico, o Internacional conquistou o Campeonato Gaúcho com uma campanha impressionante: 18 vitórias em 18 partidas.

Em 1975 a consagração: o Internacional foi o primeiro clube gaúcho a conquistar o Brasil. Depois de boas campanhas, onde aparecia sempre entre os cinco primeiros colocados, finalmente sagrou-se campeão. O título foi ganho em um jogo emocionante no Beira Rio contra o Cruzeiro de Belo Horizonte, que tinha em sua equipe craques da envergadura de Nelinho, Dirceu Alves, Piazza e Tostão. O Internacional venceu por 1 X 0, gol do zagueiro chileno Figueroa. Este gol tornou-se conhecido como “gol iluminado”, pois no exato momento nem que Figueroa subiu para cabecear a bola para a rede adversária, surgiu sobre ele um facho de luz do sol.

Em 1976, novas conquistas, o Octacampeonato Gaúcho (1969 a 1976), a maior série de títulos consecutivos de campeonatos estaduais no Rio Grande do Sul, e uma das maiores do Brasil, e o bicampeonato nacional. O Internacional bateu no Beira-Rio, o Corinthians por 2 X 0 no Beira-Rio, gols foram marcados pelo folclórico Dario, que terminou a competição como principal artilheiro, com 16 gols.

Veio o ano de 1979 e com ele uma façanha até hoje inédita no nosso futebol: o Internacional sagrou-se Campeão Brasileiro pela terceira vez, porém de forma invicta. Na partida decisiva, no Beira-Rio, vitória de 2 X 1 sobre o Vasco da Gama, gols de Jair e Falcão para o Inter, e Wilsinho para o Vasco. No jogo anterior, em pleno Maracanã o Inter já havia vencido por 2 X 0, com dois gols de Chico Spina.

O Internacional, que em 1976 foi o primeiro clube gaúcho a jogar a Copa Libertadores da América, em 1980 também foi o primeiro a chegar a uma final da competição sul-americana. Frustração da massa colorada. No primeiro jogo, no Beira-Rio, um inesperado empate de 0 X 0 com o Nacional uruguaio, que no jogo de volta venceu no Centenário em Montevidéu por 1 x 0 , gol de Waldemar Victorino.

Em 1984 o Internacional representou o Brasil na Olímpiada de Los Angeles, quando forneceu praticamente todo o time. Nove dos onze titulares da Seleção Brasileira eram jogadores colorados, que conseguiram uma inédita medalha de prata. Na fase de classificação, o Brasil venceu bem a Alemanha Ocidental, Arábia Saudita e Marrocos. No jogo contra o houve empate no tempo normal e na prorrogação, e o Brasil se classificou nos pênaltis, graças ao goleiro Gilmar Rinaldi.

O Brasil chegou a grande final, depois de eliminar a forte seleção da Itália. Na decisão a França levou a melhor, por 2 X 0, gols de François Brisson e Daniel Xuereb. O Brasil levou para a Los Angeles estes jogadores: Gilmar Rinaldi – Ronaldo – Pinga - Mauro Galvão - André Luís – Ademir – Dunga - Gilmar Oliveira – Silvinho – Tonho – Kita - João Marcos - Luís Carlos Winck – Davi - Paulo Santos - Chicão e Milton Cruz, que foram dirigidos tecnicamente por Jair Picerni.

Já gozando de merecido destaque fora do país, o Internacional foi convidado a participar do Troféu Joan Gamper, em Barcelona. E lá mostrou seu poderio, ao eliminar o poderoso Barcelona de Maradona e companhia. No jogo final levantou a taça depois de derrotar o Manchester City, da Inglaterra, por 3 X 1. De sobra, naqueles anos 80 o Inter ainda foi tetracampeão gaúcho, de 1981 a 1984. No âmbito nacional, em 1984 ganhou o Torneio Heleno Nunes e por duas vezes consecutivas, 1987 e 1988, chegou as finais do Campeonato Brasileiro.

A década de 1990, não foi nada boa, salvo o ano de 1992, quando o Internacional conquistou a Copa do Brasil, derrotando no jogo final ao Fluminense do Rio de Janeiro. O gol do título foi marcado pelo zagueiro Célio Silva, num polêmico pênalti aos 42 minutos do segundo tempo, que até hoje é motivo de choro para os cariocas. Nessa década, o Internacional ainda foi campeão gaúcho quatro vezes 1991, 1992, 1994 e 1997.

Depois de uma boa campanha no Campeonato Brasileiro de 1997, onde terminou em terceiro lugar, o Internacional passou por um dos mais delicados momentos de sua história em 1999, quando quase caiu para a Segunda Divisão nacional. O sufoco só acabou no último jogo, quando o capitão Dunga marcou um gol ao apagar das luzes sobre o Palmeiras de Luiz Felipe Scolari, no Beira-Rio, mantendo o time na elite do futebol brasileiro. Nessa década o Internacional deixou de liderar o ranking de pontos do campeonato brasileiro, nacional, posição que manteve por 24 anos seguidos, de 1975 até -1998.

Uma nova ameaça de rebaixamento fez os colorados tremerem em 2002. Outra vez o risco de queda para a segundona só teve fim apenas na rodada final. Foi uma tarde nervosa de domingo, pois desta feita o jogo era fora de casa, em Belém do Pará, contra o Paysandu, que era quase imbatível em seus domínios. Mas o Internacional venceu por 2 X 0, gols do saudoso Maicon Librelatto e Fernando Baiano Depois, o Internacional recuperou a hegemonia do futebol gaúcho, ganhando quatro estaduais consecutivos 2002, 2003 (no centenário do Grêmio), 2004 e 2005.

Em 2006, as coisas não pareciam ser muito favoráveis ao Internacional, que já havia perdido o Campeonato Gaúcho para o Grêmio. Mas muitas alegrias estavam reservadas ao torcedor colorado. O time, que tinha no comando o técnico Abel Braga, surpreendeu o país ao sagrar-se campeão da Copa Libertadores, no dia 16 de agosto de 2006, quando mais de 57 mil torcedores lotaram o Beira-Rio para verem o empate de 2 X 2 contra o São Paulo.

Os gols do Inter foram marcados por Fernandão e Tinga, enquanto Lenílson e Fabão marcaram para o São Paulo. O Inter jogou desde os 27 minutos do segundo tempo com um jogador a menos, depois que Tinga foi expulso por comemorar o gol. No primeiro jogo, disputado no Morumbi, em São Paulo, o Internacional havia vencido por 2 X 1, com dois gols de Rafael Sóbis, que teve magnífica atuação. (Pesquisa: Nilo Dias)

Teté foi um dos melhores técnicos da história do Internacional.