Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

O futebol nasceu da inspiração inglesa

Hoje quero encerrar esta série de artigos que tratam sobre as possíveis origens do futebol. Respeito qualquer teoria, mas creio que o esporte foi invenção da inspiração inglesa e nada tem a ver com esquimó, índio, chinês, japonês ou qualquer outra coisa do gênero. Pode ter acontecido que uma meia dúzia de diferentes jogos, em alguns aspectos fossem mais ou menos parecidos, e por isso classificados como raízes dele. Mas nada garante que o fato da bola ser jogada com os pés há milhares de anos tenha algo a ver com o esporte futebol.

O futebol moderno nasceu em 26 de outubro de 1863, durante uma reunião na “Freemasons Tavern", em Londres. Ali, um grupo de representantes de onze escolas e clubes estabeleceu a uniformização das regras e criou o primeiro órgão encarregado de coordenar as atividades futebolísticas: a Football Association (F.A.), que até hoje controla o futebol inglês.

O futebol já era praticado desde o século VIII nas Ilhas Britânicas, com disputas nas ruas, envolvendo povoados inteiros e pequenas cidades. Não existiam regras, quase tudo era permitido, menos assassinato ou homicídio. Até hoje o "Shrovetide Football" é praticado nos domingos de Carnaval em algumas cidades inglesas.

Os jogos entre homens casados e solteiros foi uma tradição que perdurou por muitos anos na Inglaterra. Em Inveresk (Escócia), ao final do século XVII as mulheres casadas e solteiras disputavam acirradas partidas, o que mostra que o futebol feminino não é tão novo assim.

A violência do futebol primitivo ocasionou proibições: por excesso de barulho, escândalo público, quebra de vidros de janelas, perturbação do descanso dominical e a mais famosa de todas: o decreto publicado pelo parlamento inglês, convocado por Jaime I em Perth em 1424: "That no man play at the Fute-ball" (Que nenhum homem jogue futebol).

Mas foi nas escolas que o futebol se renovou e refinou. O pedagogo Richard Mulcaster, diretor dos colégios de Merchant Taylors e St. Pauls, juntou ao esporte valores educativos positivos, como retirar os jovens da bebida e dos jogos de azar. Sem regulamentação, cada escola aplicava suas próprias regras. Apenas em 1846, em Rugby se fixaram as primeiras regras de caráter obrigatório, sendo permitido chutar a perna do adversário debaixo do joelho, mas não segurá-lo e chutá-lo ao mesmo tempo.

Na Universidade de Cambridge, em 1848, estudantes de diferentes escolas tentaram unificar as regras. A maioria era contra chutar a canela do adversário e levar a bola com a mão. A fração de Rugby saiu da reunião. Eles haviam desistido de chutar a perna do adversário, mas queriam manter o jogo com a mão e levar a bola debaixo do braço.

Essa reunião foi decisiva para a criação de um regulamento único. Em 26 de outubro de 1863 foi aprovado o estatuto da Football Association. Os pontos de discórdia, chutar a canela e levar a bola com a mão foram discutidos em detalhes. Finalmente, em 8 de dezembro daquele ano, o futebol se separou do rugby. Os defensores do rugby, em minoria queriam continuar chutando as canelas dos adversários e levando a bola com a mão.

Em 1871, a Associação Inglesa de Futebol já contava com 50 clubes. Nesse ano foi realizada a primeira competição organizada de futebol no mundo: a Copa Inglesa. O primeiro jogo internacional de futebol foi em 30 de novembro de 1872, em Glasgow, entre Inglaterra e Escócia. Como ainda não existia uma associação nacional na Escócia, o adversário dos ingleses foi o Queen's Park F.C., mais antigo clube de futebol do país.

O profissionalismo no futebol começou a ser discutido em 1879 quando o pequeno Darwen, clube de Lancashire, empatou duas vezes com o então imbatível Old Etonians. Dois jogadores do Darwen, os escoceses John Love e Fergus Suter, parecem ter sido os primeiros que receberam dinheiro para jogar futebol. Os casos se multiplicaram e em 1885, a F.A. legalizou oficialmente o profissionalismo.

Depois da Associação Inglesa de Futebol surgiram outras: na Escócia (1873); País de Gales (1875) e Irlanda (1880). Com a expansão do futebol pelo mundo surgiram outras associações: Holanda e Dinamarca (1889), Nova Zelândia (1891), Argentina (1893), Chile, Suíça e Bélgica (1895), Itália (1898), Alemanha e Uruguay (1900), Hungria (1901), Noruega (1902), Suécia (1904), Espanha (1905), Paraguay (1906) e Finlândia (1907). Quando da fundação da FIFA, em maio de 1904, sete países estiveram presentes: França, Bélgica, Dinamarca, Holanda, Espanha (representada pelo Madrid FC), Suécia e Suíça. A Associação Alemã confirmou a filiação por telegrama, no mesmo dia. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)

A mais antiga cervejaria de Londres, a “Freemasons Arm” (antigamente conhecida como “Freemasons Tavern”), localizada no número 81-82 da Long Acre Street, Covent Garden-Londres, em Londres, teve sua fachada preservada. Foi nesse local que em 1863 onze respeitáveis cavalheiros, de bigodes e barbichas, estabeleceram as regras definitivas do futebol e fundaram uma associação para cuidar de organizar e administrar o novo esporte. Sob a luz de velas e regada a cerveja e uisque, as dezessete regras do futebol finalmente surgiram. (Foto: Beer in The Evening - Londres)

cpereir disse...
olá, amigo nilo... abraços e bom divertimento com esse negócio que resolveu inventar.. hehehehe.. abraço fraterno, claudemir pereira. Ah, não esqueça de entrar na minha página: www.claudemirpereira.com.br
29 de fevereiro de 2008 15:04

A TOCHA disse...
Parabéns pelo blog. Esta ferramenta é incrivel. Faço votos pelo sucesso do seu blog. Peço permissão para adicionar o link de seu blog nos meus blogs:
www.onossojornalsg.blogspot.com
www.a-tocha.blogspot.com.
Um abraço e sucesso
29 de fevereiro de 2008 19:42

Murillo disse...
Oi, Nilo. Muito boa a iniciativa do amigo. Falar sobre a paixão nacional e falar com propriedade de quem conhece o jogo. Um texto bom de ler, enxuto, interessante e com estilo. Coisa meio rara de ver hoje em dia na profusão de jornais que existem na terra dos marechais. Só quem tem escola sabe fazer. Parabéns! Sucesso!
um abraço do amigo Murillo.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Chutar não é sinônimo de futebol

Embora também contenha todas as teorias de que o futebol teve raízes em épocas que remontam muitos anos antes de Cristo, o artigo do doutor Wilfried Gerhardt publicado na página da FIFA, na Internet (http://es.fifa.com/classicfootball/history/), está mais condizente com o razoável. Eu, pelo menos, considero que de tudo que se escreveu até agora sobre as possíveis origens do futebol o artigo dele é o que mais se aproxima da verdade. O texto está publicado em inglês, alemão, francês e espanhol, mas me dei ao trabalho de traduzi-lo e posso encaminhar via e-mail para quem tiver interesse.

Gerhardt faz considerações sobre essas manifestações que podem ter acontecido em épocas remotíssimas, mas em momento algum afirma que elas tenham alguma coisa a ver com o futebol. Também eu me dou o direito de entrar no caminho das teorias: chutar, não é sinônimo de futebol. É uma tentação que eu não sei explicar. Quase ninguém resiste a dar um bom chute até em tampinha de garrafa. E com os antigos seria diferente?

O que aconteceu na China e no Japão milhares de anos atrás está mais para ser o ancestral das lutas marciais, que do futebol. Os chineses e japoneses usavam o "Ts'uh Kúh”, e o “Kemari” como atividade recreativa para melhorar a condição física dos militares, embora fosse também um excelente sistema de autodefesa. As artes marciais tiveram uma evolução gradual derivando de técnicas milenares. Sabe-se que imigrantes chineses chegados na península coreana desenvolveram uma luta chamada “Tae Kyon”, nos séculos V e VI A.D. na dinástia de Goguryo.

Os guerreiros de Hwarang, da Dinastia de Silla eram famosos em toda a Coréia por dominarem as técnicas do “Tae Kyon”, que significa "a arte de chutar". O “Tae Kyon”, como uma arte que desenvolve a capacidade de chutar com eficiência foi originária do novo “Taekwondo” e exportada para a China e Japão, desenvolvida e adaptada pelo “Kung Fu” através de chutes abaixo da linha da cintura. Mais tarde toda essa técnica foi para o Japão no desenvolvimento do “Karatê”.

Wilfried Gerhardt estava mais do que certo ao escrever que as manifestações primitivas que alguns dizem ser precursoras do futebol, aproximavam-se mais de lutas coletivas do que qualquer outra coisa. Os jogadores precisavam lutar com todo o corpo, movimentando também pernas e pés pela posse da bola em um grande tumulto, geralmente sem regras. Desde o começo, se considerava como extremamente difícil dominar a bola com os pés, o que exigia certa habilidade.

Não vou me alongar nesse aspecto, até porque o nosso assunto é futebol. Mas dá uma perfeita idéia de que os antigos estavam mais para se aperfeiçoar em lutas do que outra coisa. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Será que os chineses foram mesmo os precursores do futebol? (Foto: Agência Minutos 90 - Espanha)

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Museu alemão rastreia as origens do futebol

Quem realmente inventou o futebol: os nativos americanos? Os índios sul-americanos? Foram os mexicanos, os chineses, os japoneses ou os esquimós? O Museu de Etnologia de Hamburgo (Völkerkundemuseum), Alemanha é uma entidade das mais respeitáveis no mundo e está empenhada em responder a essa pergunta que tanto intriga os historiadores: quem realmente inventou o futebol? O esporte tem alguma relação com alguns jogos que eram praticados desde a antiguidade? Para isso o Museu vem rastreando as raízes do esporte.

Uma exposição chamada “"Fascinação Futebol", exibe tudo o que já foi apurado até hoje. Imagens coloridas de bolas, roupas, chuteiras e outros equipamentos mostram o esporte antigo que teoricamente deu origem ao futebol moderno. A forma mais primária de um jogo com bola é geralmente associada a um jogo chinês chamado "Ts'uh Kúh”, criado há 4.700 anos para ensinar os soldados sobre a cooperação e vigilância. A exposição mostra um exemplo disso.

"Fascinação Futebol" fala de bolas de pedras de 6 mil anos desenterradas no sudoeste dos Estados Unidos que são similares às usadas hoje por nativos norte-americanos em dois tipos de jogos parecidos com o futebol. A exibição mostra um par de chuteiras pretas e vermelhas que foram usadas no Japão do século 7 por imperadores, cortesãos e samurais no jogo “kemari”. Nesse jogo o objetivo era se movimentar o menos possível e as solas das chuteiras não deveriam ser mostradas.

A exposição também detalha um jogo mexicano chamado “Ulama”, de 1500 A.C., sendo que uma versão dele ainda é jogado hoje em dia. Os jogadores têm que chutar a bola por anéis de pedra com seus quadris.

Um crânio e presas de morsa decoram a parte que explica como os esquimós acreditam que as Luzes do Norte brilham quando seus ancestrais estão jogando futebol com um crânio. Esquimós normalmente gostam de jogar em campos de gelo em temperaturas de 50 graus Celsius negativos e tradicionalmente recebem convidados desafiando-os para um jogo. O primeiro jogo de futebol intercontinental aparentemente aconteceu na Groenlândia em 1586, entre o explorador inglês e sua tripulação e os habitantes de Godthab.

Uma das partes mais atraentes mostra as origens do "calcio storico", de Florença, um jogo que apresenta similaridades com o rúgbi moderno e tem sido disputado desde o século 16.

Apesar de os ingleses terem criado à primeira associação de futebol em Londres, em 1863, a Escócia é apresentada como um berço do futebol moderno. A exposição utiliza várias peças do museu do futebol escocês de Glasgow. Os registros mostram que um jogo aconteceu em Aberdeen em 1633, incluindo goleiros e marcação homem a homem.

Mesmo que muitas dessas coisas nada tenha a ver com o futebol moderno, é inegável que se trata de um trabalho da mais alta qualidade e que merece ser visto. Não sei se a exposição "Fascinação Futebol" esteve alguma vez no Brasil. Se não esteve, seria ótimo que a própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF), ou outra entidade a trouxesse para ser vista nas principais cidades brasileiras. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)

Funcionários do Museu Etnológico de Hamburgo cuidam dos últimos detalhes da exposição 'Fascinação Futebol', que narra a história do esporte em aproximadamente mil metros quadrados. Na foto, um dos objetos expostos: o relógio do estádio Hampden Park, da equipe escocesa Queen's Park FC, de Glasgow. (Foto: DW-WORLD.DE)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Quem garante as origens do futebol?

Confesso que não acredito nessa história de que o começo do futebol remonta a centenas de anos antes de Cristo. Eu até gostaria de saber como os pesquisadores chegaram a conclusões que fogem a razão. Eu li o livro “Memórias de uma bola de futebol”, do escritor paulista Renato Pompeu. Um ótimo livro, por sinal. A bola é a personagem central dele.

O autor mistura fatos reais e teóricos. Começa com as primeiras lembranças da bola, no círculo ártico, há 20 mil anos. Um casal de esquimós siberianos, vestidos com couros de rena, chutava uma bola para afastar o frio congelante. Não explica do que era feita essa bola. Como teoria, tudo bem.

São muitas as versões que pretendem contar a história do futebol. O Dr. Wilfried Gerhardt, ex-chefe de imprensa da Federação Alemã de Futebol (DFB), publicou em 1979, originalmente pela FIFA News um artigo que tem servido de pano de fundo para aqueles que buscam na antiguidade respostas para muitas perguntas.

Na antiga China, três mil anos antes de Cristo era praticado o "Ts'uh Kúh”, que consistia num jogo em que uma bola de couro com plumas e pêlos tinha de ser lançada com os pés a uma pequena rede, com uma abertura de 30 a 40 centímetros, fixada a largas varas de bambu. Esse jogo servia de treinamento militar e exigia habilidade, destreza e técnica.

E o que dizer do “Kemari” japonês, uma outra forma de jogo, que foi mencionado pela primeira vez há 500 ou 600 anos, e que é praticado até hoje? Wilfried Wilfried Gerhardt explica que se trata de um exercício cerimonial, que exige certa habilidade, mas não tem caráter competitivo como o jogo chinês e não representa nenhuma luta pela posse da bola. Em uma superfície relativamente pequena, os jogadores passam a bola, sem deixa-la cair no chão.

O que pensar do "Epislcyros" grego, do qual se sabe relativamente pouco, e do "Harpastum" romano? No jogo romano era usada uma bola pequena. Duas equipes jogavam em um terreno retangular, com linhas de marcação e divididos por uma linha média. A bola tinha que ser lançada detrás da linha de marcação do adversário. Os componentes de uma equipe tinham diferentes tarefas táticas e o público os incitava, com gritos, em suas jogadas e resultados.

Este esporte foi muito popular entre os anos 700 e 800. Os romanos introduziram o jogo na Bretânia, porém é muito duvidoso que possa ser considerado como o precursor do futebol, ou igual ao "Hurling", que era muito popular entre a população celta e que se pratica, até hoje em Cornwell e na Irlanda.

Eu devo concordar com o jornalista alemão, quando não deixa dúvidas de que o jogo que conhecemos hoje com o nome de futebol teve origem na Inglaterra e Escócia. A historia moderna do futebol comporta 145 anos de existência. Começou em 1863, quando na Inglaterra foram separados os caminhos do "rugby-foot ball" e da "associação football" e se fundou a associação de futebol mais antiga do mundo: a "Foot ball Association". Continuarei a escrever sobre o tema, que me parece muito interessante. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
(Kemari ainda é praticado no Japão (Foto: Tripod)