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sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A indignação de um povo

O artigo abaixo foi copiado do blog "Supremacia Colorada - O Blog do Torcedor do Inter‏nacional". Ele traduz perfeitamente toda a indignação que os torcedores do glorioso S.C. Internacional e todo o povo do Rio Grande do Sul sentem em relação a famigerada Rede Globo de Televisão, que tanto mal já fez e continua a fazer ao nosso país, e especialmente ao povo que reside fora do eixo Rio-São Paulo.

Na última quarta-feira, quando o S.C. Internacional, defendendo o futebol de nosso país, e como o primeiro e único clube a chegar na final da Copa Sulamerica,a Rede Globo desrespeitou todo um povo ao trocar o jogo por um filme de quinta categoria. Por isso a atualidade do ótimo texto que publicamos abaixo, merece ser lido por todos.

Discriminação pura e simples

Por Tiago Vaz

A Globo não passou o jogo do Internacional para todo o país. Sequer transmitiu em Santa Catarina, Estado em que há muitos colorados. Também não deve ter passado a partida para o oeste do Paraná, e nem para Mato Grosso, Rondônia e Mato Grosso do Sul, onde há muitos colorados. Parece que a Band não transmitiu o jogo para São Paulo. O argumento das emissoras, como sempre, seria a disputa pelo Ibope. Times do Rio Grande do Sul dariam pouca audiência fora do Estado. Por isso a opção por não transmitir a partida seria justificada. Afinal, os patrocinadores querem audiência.
O argumento, no entanto, é absurdamente falso, e isso por uma simples razão.

As grandes emissoras não fazem esse juízo sobre o impacto da audiência quando quem está jogando é um time de Rio ou São Paulo. Entre tantos exemplos, posso dar o de Palmeiras e Argentino Juniors. A Globo passou o jogo para os Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde o interesse pela partida era baixíssimo. Se o critério para decidir pela transmissão é a audiência, deveriam ter passado um filme para esses Estados.

Os exemplos são inúmeros. A Globo cansou de transmitir partidas de Palmeiras e Botafogo na série B do Brasileiro para os Estados do sul. Transmitiu a final da Copa do Brasil entre Corinthians e Sport para todo o país, até para o Rio Grande do Sul, sem fazer a tal análise da audiência.

Em suma, para os gaúchos e para outras regiões onde os times de Rio e São Paulo não tem maioria de torcida, as emissoras nacionais simplesmente impõem a transmissão das partidas, inclusive de clubes com torcidas mais localizadas, como Fluminense, Santos e Botafogo. Já quando jogam clubes de fora do eixo Rio-SP vem a suposta "análise" da audiência.

Portanto, o que há é pura e simples discriminação. Se as emissoras nacionais querem provar o contrário, então que nunca mais passem para o Rio Grande do Sul jogos de equipes de outros Estados. Aí sim até poderei ter alguma consideração sobre o argumento por elas utilizados.

Para as emissoras situadas de Rio e SP o Rio Grande do Sul não é Brasil. É como se fosse uma espécie de Alaska para os EUA. Algo isolado e distante. E para "integrá-los" à nação brasileira é preciso um esforço civilizatório e uniformizador. Por isso passam jogos das equipes do centro para a província. Colocam o Corinthians goela abaixo dos gaúchos, ao passarem a final da Copa do Brasil, mesmo sabendo que o time paulista é odiado pela maioria dos torcedores de Grêmio e Inter.

Essa discriminação explícita, demonstração de absurdo xenofobismo, causa reações sérias. A mídia tem um papel importante na sociedade, e suas ações podem gerar efeitos positivos ou negativos. No Rio Grande do Sul, a mídia nacional exacerbou o sentimento comum nos gaúchos de que são discriminados. Daí para surgir uma afirmação cada vez maior da "nacionalidade" gaúcha foi um passo. Eis a razão do grito "ah, eu sou gaúcho". Eis a explicação da torcida do Inter ter cantado o hino do Rio Grande do Sul quando o time chegou do Japão em 2006. A discriminação midiática só acentua uma visão até certo ponto separatista, senão na organização política, mas ao menos no sentimento.

Outra conseqüência triste dessa discriminação é o sentimento em relação à seleção brasileira. Para muitos gaúchos, como o Rio Grande do Sul é discriminado no futebol, logo o selecionado feito pela CBF, representante do interesse dos clubes do eixo Rio-SP, é uma equipe que representa unicamente o interesse central. Então, qual a razão para torcer pela seleção?

Faz muitos anos que eu perdi a vontade de torcer para a seleção. A última Copa que me lembro de ter torcido para o Brasil foi em 90, quando fiquei triste com aquele gol de Caniggia. Em 94 minha paixão pela seleção brasileira já tinha sumido. Daí em diante assisto, quando assisto, friamente aos jogos. Não há diferença entre ver um jogo do Brasil e um da Espanha, por exemplo. Não consigo mais torcer e ficar feliz com as vitórias do Brasil. Perder ou vencer não faz mais diferença. Vejo as partidas apenas quando há um interesse futebolístico relevante. Amistosos só quando realmente não tenho nada para fazer.

Quem sabe a mídia nacional não regionaliza totalmente a transmissão. Sabem quantos jogos do Figueirense passaram para Santa Catarina? Nenhum. Hoje o desrespeito é demais. Uma regionalização maior poderia diminuir o sentimento de que somos discriminados. E quem sabe muita gente poderia voltar a ter uma relação de amor com a seleção, que gradualmente poderia ser considerada de todos, e não do eixo Rio-SP.Talvez até eu pudesse comemorar os gols de Luiz Fabiano. Por enquanto, comemoro mesmo são os gols de Alex e Nilmar. Para mim a seleção joga de vermelho. E só.

O S.C. Internacional, para nós, gaúchos, vale muito mais que a famigerada Rede Globo (Foto: Divulgação)