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quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Pode estar surgindo um novo fenômeno no futebol

Quem sabe não está surgindo no futebol paraguaio um novo fenômeno futebolístico. Trata-se de Fernando Ovelar, de apenas 14 anos de idade, o jogador mais jovem a fazer um gol no Campeonato da Primeira Divisão do país.

O seu feito correu o mundo, ao marcar o primeiro gol da partida disputada no Estádio Defensores del Chaco, em 4 de novembro deste ano, que terminou empatada em 2 X 2. Foi a sua segunda partida pelo Cerro Porteño, Ovelar não apenas foi titular no clássico contra o Olímpia como abriu o placar.


Dezesseis minutos levaram todos esses olhos concentrados na pelota que rodava pela grama do estádio Defensores del Chaco. Nas arquibancadas soavam cânticos enquanto nas ruas já não circulava nenhum carro, quando um passe de Juan Aguilar atravessou a defesa do Olímpia e encontrou Ovelar dentro da área.

Ovelar chegou à bola como uma locomotiva, deu uma cavadinha de canhota que a fez passar por cima do goleiro, que, caído no gramado, presenciou um feito notável. O “garoto histórico”, como foi batizado pela imprensa local, marcou o gol que cravou seu nome na história do futebol paraguaio.

Assim, ele tornou-se o mais jovem a marcar no clássico paraguaio, superando o atual corinthiano Sérgio Diaz, que em maio de 2015, anotou aos 17 anos, um mês e 28 dias, também pelo Cerro Porteño. 


E também o ex-atacante do Olímpia Gustavo Neffa, que havia anotado com 15 anos, 8 meses e 16 dias, em 1987. Também é o mais novo a disputar o clássico paraguaio e o segundo do mundo a marcar em uma liga de primeira divisão, atrás apenas do armênio Armen Ghazaryan, (14 anos, 7 meses e 15 dias). Ovelar jogou 63 minutos e teve outras duas chances de gol.

Ninguém imaginava que um "mita'í" (garoto, no idioma guarani, a língua mais popular do Paraguai) poderia demonstrar tanta personalidade diante de jogadores experientes, a maioria com o dobro de sua idade.

Somente seu treinador tinha alguma noção do que ele era capaz. O espanhol Fernando Jubero, que agora dirige o Cerro Porteño, foi quem tomou a decisão de lançá-lo a campo.

Formado em psicopedagogia, Jubero se tornou treinador profissional no Paraguai, onde já dirigiu os quatro principais times do país: Guarani, Olimpia e Libertad, antes de chegar este ano ao Cerro. Na rodada anterior, Jubero lançou Ovelar já como titular no empate em 1 X 1 com o 3 de Febrero.

No Paraguai exige-se que os clubes contem com pelo menos um jogador sub-19 em cada partida. Algo que, segundo Jubero, coincide com a intenção da equipe de mesclar jogadores rodados a outros pratas da casa, que vistam a camisa e representem com orgulho o Cerro Porteño. 

Barcelonês de alma paraguaia, Jubero já comandou Guaraní, Olímpia e Liberdad, revelando sempre novas promessas e deixando boas impressões. O técnico, ex-observador de jogadores do Barcelona, descobriu o jovem Ovelar jogando na seleção sub-15. 

Ele me surpreendeu. É um jogador muito maduro para sua idade. Por isso o chamei para trabalhar no plantel principal”, conta o “professor”, como lhe chamam no Paraguai. Quando decidiu subir o garoto, foi a sua casa para conversar com sua família.

Jubero, que não em vão foi também professor primário, detalhou os planos para o jovem: é obrigatório dar prioridade aos estudos, tem que desfrutar do futebol como fez até agora e deve trabalhar com humildade porque “muitos chegam e poucos se consolidam”. 

“Os estudos têm que andar ao lado do futebol. Se deixar a escola, eu deixo de contar com ele. A educação é fundamental para um jogador de sua idade. Primeiro a pessoa, depois o atleta. Expliquei a sua mãe e o jogador entendeu tudo. São gente trabalhadora, com valores”, relatou sobre o encontro.

O atleta nasceu em 6 de janeiro de 2004, em Assunção, capital do Paraguai. O seu futebol parece que não surge por acaso. Está no sangue da família. Ele é neto do ex-zagueiro Gerónimo Ovelar, defensor paraguaio das décadas de 1970 e 1980, que jogou pelo Cerro Porteño entre 1976 e 1981 e foi campeão da Copa América de 1979 com a seleção paraguaia, na última vez que levantou a taça continental.


Se há um dia tenso em Assunção é quando Cerro Porteño, “o ciclone” do bairro operário, e Olímpia, o "Rei de Copas”, se enfrentam no superclássico do Paraguai. Ônibus lotados até o teto de torcedores com tambores e bandeiras atravessam o centro histórico que em qualquer outro domingo estaria em silêncio. Ambos os clubes arrastam 40 mil pessoas ao estádio e a quase todo o resto do país que acompanham o jogo em rádio ou televisão.

Fernando Ovelar já é o principal destaque do time Sub-15 do Cerro e da Seleção Nacional da categoria. No seu time, chamou a atenção do técnico Fernando Jubero, um espanhol especialista em revelar jogadores, que trabalhou como observador internacional no Barcelona e, depois, passou por diversos países buscando talentos para a Aspire Academy, do Catar.


Pelo mundo afora se conta como poucos os jogadores que debutaram profissionalmente tão cedo. “Pelé”, por exemplo, começou no Santos, já mostrando seu lado de goleador, marcando um gol na goleada de 7 X 1 sobre o Corinthians, de Santo André, em setembro de 1956, quando contava com apenas 15 anos e 10 meses de idade.

Maradona era apenas um mês mais velho quando fez seu primeiro jogo profissional pelo Argentinos Juniors, em outubro de 1976. Parceiro de ataque de “Pelé” no Santos, Coutinho começou ainda mais cedo: aos 14 anos e 11 meses, apenas um pouco mais velho que Fernando Ovelar, já atuava ao lado de adultos.

Começar cedo a carreira não é garantia de sucesso para ninguém. Está ai o exemplo de do boliviano Mauricio Bldivieso, até hoje o jogador mais jovem a disputar um jogo de primeira divisão na América do Sul.

Lançado por seu pai e treinador em um jogo do Aurora, quando tinha 12 anos, em julho de 2009, três dias antes do seu 13º aniversário. Depois de rodar por outros clubes do país, Baldivieso hoje atua no San José, também da Primeira Divisão boliviana.

No Peru, Fernando Garcia tinha 13 anos e 11 meses quando debutou pelo Juan Aurich, em junho de 2001. Encerrou a carreira no Alianza Atletico, depois de rodar por clubes do país, sem muito sucesso.

No futebol africano, o togolês Souleymane Mamam é conhecido como o jogador mais jovem a disputar uma partida de eliminatórias de Copa do Mundo, ao entrar em campo contra Zâmbia com 13 anos e 310 dias, em maio de 2001.

A convocação de Mamam sugeriu, naturalmente, que ele já atuava ainda mais novo em sua cidade natal, Lomé. No entanto, há suspeitas de que o registro de nascimento do jogador tenha sido adulterado, o que deixa no ar a controvérsia sobre a real idade da sua estreia.

O caso mais famoso de jogador jovem que não teve o sucesso esperado na carreira é do ganês naturalizado americano, Freddy Adu. Tratado como uma joia nos Estados Unidos, Adu estreou no DC United em abril de 2004, com 14 anos e dez meses.

Com passagem por outros 12 clubes, incluindo o Bahia, em 2013, Adu joga atualmente, aos 29 anos, no Las Vegas Lights, de uma liga secundária dos Estados Unidos. (Pesquisa: Nilo Dias)