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sexta-feira, 5 de julho de 2019

A morte de um ídolo do Botafogo

Os torcedores do Botafogo, do Rio de Janeiro e de todo o Brasil receberam com tristeza a notícia da morte do ex-jogador de futebol Milton da Cunha Mendonça, conhecido apenas por “Mendonça”, aos 63 anos de idade. O óbito aconteceu na manhã de hoje e foi confirmado pela família do ex-jogador.

Ele esteve internado por dois meses em estado grave na CTI do "Hospital Albert Schweitzer”, em "Realengo" na Zona Oeste do Rio de Janeiro, depois que caiu da escada na “Estação de Trem Guilherme da Silveira”, em Bangu.

Na noite de ontem houve uma piora por conta de uma grave infecção que comprometeu o funcionamento do fígado e dos rins, ocasionando um  choque séptico, quadro que acabou não sendo revertido mesmo com o uso de antibióticos.

Mendonça, que nasceu em 23 de maio de 1956, defendeu o Botafogo entre 1975 e 1982 e, mesmo sem ganhar títulos, tornou-se ídolo da torcida alvinegra. E dizia: “Eu não sou jogador do Botafogo, eu sou torcedor do Botafogo. ”Ele também teve passagens por clubes como Grêmio, Palmeiras e Santos.

O gol mais lembrado de Mendonça ocorreu nas quartas de final do "Brasileiro" de 1981. O Botafogo encarava o Flamengo quando Mirandinha lançou o meia. Mendonça entortou Júnior e tocou na saída de Raul, decretando a vitória por 3 X 1 do Botafogo sobre o campeão brasileiro do ano anterior.

A jogada ficou conhecida como "Gol Baila Comigo" (canção interpretada por Rita Lee que, à época, também dava nome a uma novela da Rede Globo). Sobre o gol Mendonça afirmou na época: “Acho que o Júnior também nunca vai esquecer aquele dia. Tenho certeza que toda vez que deita para dormir ele pensa em mim.”

No fim daquele ano, escalado para escolher o gol mais bonito do ano, Zico, que participara da partida, pediu perdão ao compadre Júnior e escolheu o de Mendonça. Foi realmente uma pintura.

Naquela competição, o alvinegro esteve bem perto de chegar à decisão. Após vencer o São Paulo por 1 X 0, o Botafogo viu Mendonça e Gérson estenderem a vantagem do Botafogo. Contudo, após 28 minutos de intervalo, os são-paulinos viram o sonho do título acabar com a derrota para 3 X 2. Saiu de General Severiano em 1982 sem títulos de ponta, mas com um histórico de 118 gols em 342 jogos.

Mendonça era o típico meia clássico, o camisa 10 apesar de usar o número 8, e excelente cobrador de faltas. Ele chegou ao time principal do Botafogo através de Telê Santana. O mestre viu o garoto atuando nos juvenis e não teve dúvidas: o levou para atuar com os profissionais. Em entrevista ao site "Museu da Pelada", Mendonça chegou a dizer: “Não sei porque a torcida do Botafogo gosta tanto de mim. Nunca dei um título a eles.”

Assim que foi anunciada sua morte, o Botafogo prestou homenagem ao seu eterno camisa 8 nas redes sociais.

“O dia amanheceu triste. Mendonça nos deixou aos 63 anos. Ídolo, obrigado pela entrega e dedicação, respeito com a camisa, pelos gols e dribles inesquecíveis, por torcer em campo, e por enriquecer a nossa história. Você será lembrado com carinho e reconhecimento. Descanse em paz!”

A ligação de Milton da Cunha Mendonça com o futebol veio de família: seu pai, que também adotara o nome Mendonça, foi zagueiro do Bangu na década de 1950, que teve a perna quebrada por Didi, em 1951, e abandonou a carreira.

Mendonça subiu para os profissionais do Glorioso em 1975 e não demorou a se tornar ídolo e titular absoluto da equipe. Embora não tenha encerrado a seca de títulos importantes do Botafogo que já durava desde 1968, o meia logo caiu nas graças da torcida alvinegra e entrou no panteão de ídolos do clube.

Não por caso, seu retrato está ao lado de monstros sagrados do “Glorioso”, como Garrincha, Nilton Santos, Didi, Jairzinho, Heleno de Freitas e muitos outros, no lindo painel pintado bem em frente à sede de General Severiano.

Além de ter o “Torneio Início de 1977” como seu único título oficial, o armador deixou lembranças de gols e de boas atuações para os botafoguenses. Ao lado de nomes como Paulo César Caju, Rodrigues Neto e Dé, Mendonça fez parte da equipe que obteve uma invencibilidade de 52 jogos entre 21 de setembro de 1977 e 16 de julho de 1978.

Após deixar o Botafogo, Mendonça atuou por duas temporadas na Portuguesa. Além de jogar com atletas como Roberto César e Edu Marangon, o meia teve no “Canindé” outro colega que ganhou renome: o então meio-campista "Tite", que se destacou marcando gols e, décadas depois, se tornou o treinador da “Seleção Brasileira”.

Em seguida, foi negociado para o Palmeiras, onde novamente conviveu com o desafio de quebrar uma seca de títulos. A equipe não era campeã desde 1977. Mendonça participou do elenco que levou o “Verdão” à final do “Paulistão" de 1986. 

Mas a equipe, que tinha nomes como Mirandinha e Éder Aleixo, viu seu sonho frustrado com a derrota por 2 X 1 para a Inter de Limeira, no Morumbi.

No ano seguinte, desembarcou na “Vila Belmiro”, com a responsabilidade de ser o camisa 10 do Santos. Atuando ao lado de nomes como Rodolfo Rodríguez e César Sampaio, conquistou o “Torneio de Marselha” em uma excursão com a equipe na Europa.

Saiu ao fim de 1988, também sem títulos de ponta, mas deixando seu futebol elegante e uma tarde emblemática para os corações santistas lembrarem: em um clássico diante do Palmeiras, Mendonça marcou dois gols de voleio.

Em seu currículo, o meia ainda teve clubes como a Inter de Limeira (no qual atuou no ano em que a equipe voltou à elite do "Brasileirão"), Al-Sadd (Qatar) e um breve e afetivo retorno ao Bangu, equipe no qual iniciara sua trajetória.

Em 1991, Mendonça acertou sua transferência para o Grêmio, mas guardou uma lembrança cruel: além de perder espaço, o "Tricolor" gaúcho não engrenou no “Brasileirão” e amargou a queda para a “Série B”.

Depois, o meia colecionou passagens pelo Internacional, de Santa Maria (RS), Fortaleza, América (RN), até pendurar suas chuteiras no Barra Mansa (RJ).

Após deixar os gramados, o ex-jogador teve de conviver com a luta contra o alcoolismo. Sem a rotina dos treinos, o hábito de Mendonça beber foi se acentuando, a ponto de ele deixar de fazer suas refeições para consumir bebida alcoólica.

O vício já culminara em um quadro gravíssimo: com sérias lesões hepáticas, Mendonça foi internado na UTI, com risco de morte. O ex-jogador contou com a amizade de Adílio, ex-meia do Flamengo, na luta contra o álcool: graças ao rubro-negro, o meia botafoguense foi internado em uma clínica de reabilitação no Rio de Janeiro em 2017.

À época, Mendonça recebeu visitas e ajuda do ex-jogador Wilson Gottardo. Além disto, o ex-dirigente do Botafogo, Carlos Augusto Montenegro, e o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, foram visitá-lo na clínica de reabilitação durante os 40 dias em que ficou internado. No entanto, o ex-meia teve constantes recaídas de sua dependência de bebida alcoólica. 

Em maio de 2019, Mendonça passou por um novo drama: ao cair de uma escada na estação de trem na "Estação Guilherme da Silveira", teve um ferimento profundo causado por um vergalhão e sofreu outras duas fraturas.

Assim que o acidente ocorreu, foi removido para o "Hospital Albert Schweitzer" e submetido a uma cirurgia de emergência, pois perdera muito sangue. (Pesquisa” Nilo Dias)