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sexta-feira, 13 de julho de 2012

O folclórico “Sabará” da Paraíba

José Cosme, o “Sabará”, nasceu na cidade de Pombal (PB), mas quem o vê a primeira vez aposta que é carioca, pelo seu gingado típico de malandro. O apelido foi devido a sua parecença com um ex-jogador do Vasco da Gama, do Rio de Janeiro.

É uma das figuras mais interessante com quem se pode conversar na progressista cidade paraibana de Campina Grande, onde costuma frequentar diariamente um banco no “Calçadão” da rua Cardoso Vieira, em frente à banca da mulher que vende pamonha. O “Calçadão” da Cardoso Vieira é considerado uma espécie de “capital da república de Campina Grande.

Hoje com mais de 70 anos de idade, cabelos e sobrancelhas brancas, “Sabará” está muito diferente do ex-jogador de futebol profissional, um dos mais folclóricos e engraçados que já surgiu nos gramados da Paraíba. E “Sabará” gosta de ser reconhecido pelos torcedores mais velhos.

Como jogador defendeu as equipes do Treze, de Campina Grande, Nacional, de Patos, Nacional, de Paulistano, Campinense, de Campina Grande e União, de João Pessoa, entre outros clubes do Nordeste.

A carreira futebolística de “Sabará” foi encerrada na década de 60, quando tinha 34 anos. Mudou-se para o Bairro São José, em Campina Grande. Sua situação financeira não ficou das melhores. Garante que ganhou muito dinheiro, mas, mas também gastou com extravagâncias.

Gostava de comprar roupar caras e de fechar uma boate inteira só para ele. Mas ainda assim investiu na compra de um terreno, que é uma espécie de sítio. Hoje viúvo, tem casa, carro, muitos filhos, dizem que são mais de 12 e muitos netos.

Quando parou de jogar, foi trabalhar em uma indústria de Campina Grande e por lá ficou. Depois abriu seu próprio negócio, um bar que ele batizou com o nome de “Sabará Bar”, que se localizava no bairro do Catolé perto do estádio “Amigão”. Lá ele relembrava o seu passado de atleta, mas não gostava de pensar no que poderia ter vivido se não tivesse gastado tanto dinheiro. Preferia falar de temas mais atuais.

Fora dos gramados como atleta profissional, matava a saudade da bola jogando pelo Everton Esporte Clube, que ele ajudou a fundar e se tornou um dos melhores times amadores do futebol campinense em todos os tempos. Durante alguns anos “Sabará”' foi um dos jogadores mais populares entre os torcedores do clube. Ele ainda hoje mantém o seu jeito folclórico e engraçado. Depois, jogou alguns anos no Grêmio, de Nêgo Ribeiro, onde encerrou definitivamente a carreira.

O ex-craque marcou para sempre o seu nome na história do futebol campinense, ao marcar o primeiro gol no na inauguração do Estádio Plínio Lemos. No jogo preliminar, em que o Sport Club, da Liberdade derrotou o Flamengo, de José Pinheiro, por 2x1, “Sabará” fez o primeiro gol do Sport, com Adauto completando o marcador. Manuelzão descontou para o Flamengo. A partida principal foi disputada debaixo de muita chuva, quando o Bahia venceu o Treze por 1 x 0, gol de Juvenal II, aos 12 minutos do segundo tempo.

No futebol viveu bom e maus momentos. Foi coroado rei dos pênaltis e faltas. Ninguém superava “Sabará” nas cobranças dos pênaltis. Uma pequena corrida, a bola colocada num canto e o goleiro no outro.

Segundo contam os mais antigos, “Sabará” construiu em torno de si um rico repertório de histórias folclóricas, piadas e lendas. Nos seus bons tempos de jogador mostrou sempre um temperamento alegre, sendo uma espécie de “comediante” dos clubes em que atuou. Ele tornava as concentrações, ônibus e hotéis mais divertidos. Alegre e boêmio, não desprezava uma cervejinha. Gostava mais de seus pequenos prazeres, do que levar a sério a sua profissão. Ainda assim, por vários anos jogou no futebol profissional.

E não foi um jogador qualquer. Tinha muita categoria e versatilidade. Jogava sem problemas tanto na meia-direita, como no meio campo, ou de centro avante e até de zagueiro. Em qualquer posição que jogasse, mostrava sempre um bonito toque de classe e categoria. Em campo, não era de correr muito, mas tinha um chute rasante, certeiro e mortal. Raramente errava um passe, era criativo e de reflexos rápidos, sabia como ninguém antever a seqüência de um lance à frente dos adversários e executar as jogadas mais imprevisíveis do seu imenso repertório.

De quebra, ainda fazia gol às pampas. Decidiu muitos jogos marcando gols de faltas e de pênaltis. Não era chegado a trombadas com os zagueiros. Mesmo dono de tantas virtudes, jogava futebol apenas por divertimento. Sua principal preocupação era ganhar alguns trocados para fazer uma coisa que gostava demais, namorar e viver na boemia.

No final da década de 50 o Campinense queria contratar alguns bons jogadores do Paulistano, entre eles “Lelé”, “Zé Preto”, “Tonho Zeca” e “Sabará”, para tentar impedir mais uma conquista do rival Treze. Mas “Sabará” não foi contratado, porque os dirigentes do Campinense concluíram que ele gostava mais de namorar e ser boêmio, do que jogar futebol.

A figura de “Sabará” sempre chamou a atenção. Ele viveu de maneira extravagante e excêntrica, misturando o talento para o futebol com uma vida cheia de passagens folclóricas. Existiram muitos fatos pitorescos à sua lenda pessoal. Uns publicáveis, outros nem tanto, contados sempre com o seu autêntico sotaque de paraibano do interior. Uma das melhores histórias contadas por “Sabará” foi esta:

O Everton era um grande time, mas estava apenas no começo. Quase ninguém conhecia. O time foi convidado para um jogo na Palmeira, contra uma equipe em que jogava Gonzaga, um ex-atleta do Treze. Era um tipo arrogante, que pediu para enfrentar um time bom, pois caso contrário ia ficar feio, pois segundo ele o seu time era imbatível em seu reduto.

“Sabará” nunca foi de engolir intimidações e retrucou: “O que o seu time tem que os outros não têm?". E o adversário respondeu: "Só tem craques meu amigo". E “Gonzaga” apenas disse: “Vamos ao jogo”. No inicio a partida se mostrava tensa, o placar não saia do 0 X 0. O ex-zagueiro do Treze insistia no chutão para frente. O pior é que nada passava. O cara era intransponível. Foi quando “Sabará” pensou: “Vou mexer com esse sujeito”.

A certa altura do jogo a bola subiu e veio na direção de “Sabará”, que saltou, matou a bola no peito e a colocou no chão com classe. Olhou para o zagueiro com desprezo e disse: "Aprende comigo".

O lance que decidiu a partida ocorreu quando o volante do time de “Sabará” fez um lançamento. A bola foi em direção ao zagueiro. Gonzaga não deu o esperado chutão. Ele estufou o peito para amortecer a bola. Mas a classe não era seu forte. A bola espirrou no pé do atacante Naninho e 1 X 0 no placar. Desmoralizado o zagueiro sumiu do jogo e o time de “Sabará” goleou por 4 X 1.

Com a experiência que ganhou no futebol, “Sabará” se tornou treinador. Dirigiu a seleção Universitária da FURNE onde se sagrou tetra campeão universitário. Depois dirigiu o Socremo, de Monteiro, as categorias de base do Campinense e a escolinha da AGAPE. (Pesquisa: Nilo Dias)