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quinta-feira, 25 de agosto de 2016

O adeus a Jonas Cardoso

O rádio gaúcho e brasileiro está de luto com o falecimento ocorrido ontem (24) do diretor da Rádio Minuano, de Rio Grande, Joanes Vladimir Lázarus da Cunha Cardoso ou simplesmente Jonas Cardoso, como era mais conhecido pela sua grande legião de ouvintes.

Tinha 62 anos de idade. Os amigos mais íntimos o chamavam carinhosamente de “Carioca” ou “Sapo”. O sepultamento é hoje (25), saindo da capela A, às 11 horas.

Natural de Carazinho (RS), onde nasceu em 25 de junho de 1954, mudou-se para Rio Grande em meados da década de 1960, tendo trabalhado nas três emissoras AM da cidade, Cultura Riograndina, Cassino e Minuano, da qual era diretor nas últimas quase duas décadas.

E também nos jornais “O Tempo” e na Sucursal da Empresa jornalística Caldas Junior, junto com o também saudoso Marcos Rezende e com a amiga Iara Bandeira, da qual nunca mais tive notícias. E por fim na Assessoria de Imprensa da prefeitura de Rio Grande.

Creio que em sua última passagem pela Cultura Riograndina foi levado por mim, ao tempo que a emissora era dirigida pelo saudoso Paulo Nahuys Coelho e pertencia ao Grupo Delfim. Ele foi comentarista e repórter esportivo, além de noticiarista e apresentador de programas musicais.

Em passagem anterior pela emissora, Jonas apresentava um programa vespertino chamado "Super Som Dimensionado", isso lá pela metade dos anos 1970.

Ainda hoje pela manhã, conversando com o amigo e jornalista Willy César lembrei de um costume diário do Jonas. Todas as manhãs quando chegava na emissora, no velho prédio da Silva Paes, ao passar pelo corredor que levava aos banheiros, sempre com o jornal “Zero Hora” embaixo do braço, parava na janela do Departamento de Esportes e Jornalismo, ambos dirigidos por mim e brincando, dizia a minha esposa Teresinha Motta, que era repórter: “Terê, vou tirar um barro”. 
  
Não esqueço das idas diárias ao “Bar Minuano”, que ficava na Silva Paes esquina Andrade Neves, bem próximo da rádio, onde derrubávamos as cervejas do meio-dia e depois almoçávamos por lá. A noite o endereço era o “Bar do Beledón”, também na Silva Paes, esquina com a Praça Tamandaré.

O Beledón era um uruguaio, que preparava o melhor mocotó da cidade. Um boa praça, que depois de fechar o seu estabelecimento comercial costumava tomar a “saideira” no bar do abrigo de ônibus, na Praça Tamandaré. Ele morava no “Lar Gaúcho”, e certa vez exagerou na dose e entrou dentro do lago que existia ou existe, ainda, na Refinaria de Petróleo Ipiranga. Foi salvo por um dos guardas da indústria.

Mas essa é outra história. No "Bar do Beledón" a gente acompanhava os jornais local e nacional da TV. Na época eu estava na Zero Hora e TV Rio Grande. Era grande a concorrência com a Caldas Júnior, onde o Jonas e o Marcos Rezende trabalhavam na Sucursal.

Certa ocasião eu fiz uma reportagem exclusiva em São José do Norte, quando do resgate de um barco pesqueiro, o “Brasil Atlantic V”, que havia sido jogado na praia após um tremendo temporal na costa nortense.

Jonas e Marcos, apavorados assistiram a reportagem e só não me chamaram de santo, porque não era. Mas rivalidades jornalísticas a parte éramos todos grandes amigos.

Aos domingos o programa era diferente. A gente ia ao Clube de Regatas Rio Grande ou ao Hipódromo da Vila São Miguel, que lamentavelmente não existe mais. Quando chovia o galho era quebrado no "Restaurante Tamandaré", frente a praça de igual nome.

Vez por outra nos aventurávamos a locais mais longe do centro da cidade, como o “Bar Gato Preto”, passando o pórtico. E a gente não desprezava nenhuma festa, fosse longe ou perto.

Em outra oportunidade eu e o Jonas acompanhamos o nosso Rio-Grandense até São Gabriel, para o jogo decisivo pelo campeonato de Ascenso do Rio Grande do Sul. O nosso time perdeu nos pênaltis. Ao chegarmos em Rio Grande, quase ao clarear do dia, deu ainda para tomarmos a saideira no Bar do Abrigo.

Jonas também foi atleta. Excelente goleiro de futebol de salão, defendeu por muitos anos o time do Bossa Nova, clube riograndino de futebol de salão que se sagrou campeão estadual em 1974. Depois jogou no Rio-Grandense futebol de salão, que era dirigido pelo saudoso Bento Castelã.

E também brincava no time do "Bar Minuano", onde eu também jogava e o pessoal me chamava de “Geraldão”, em referencia ao atacante que na época jogava no Internacional, de Porto Alegre. Modéstia a parte, eu era um artilheiro nato.

Na década de 1960, antes de se mudar para Rio Grande, Jonas já atuava como goleiro de futebol de salão e de campo em sua terra natal, Carazinho.

O amigo comum, jornalista Willy César escreveu em sua página no Facebook:

“Aprendi a gostar do Jonas, ouvindo seus programas em rádio, no início dos anos 1970. Lembro de uma parada de sucessos aos sábados, à noite, na Rádio Cultura Riograndina, programa que simplesmente adorava, na inocência dos meus 14 anos. Foi um dos meus ídolos do rádio.

Quis o destino que nos tornássemos amigos e colegas de profissão, no rádio e no jornalismo. Trabalhamos em rádio, no mesmo momento, ele na Cassino, depois na Minuano; eu na Rádio Universidade FM, atual Furg FM.

E entre os anos de 1997 e 2001, atuamos juntos no Gabinete de Imprensa, da Prefeitura Municipal de Rio Grande, como repórteres. Foi um aprendizado muito bom para ambos.

Com ele, aprendi muitos macetes do fazer jornalístico dentro da Prefeitura, situação familiar a ele. Eu dei algumas dicas como escrever em computador, pela primeira vez na vida dele, e dali, deslanchou.

Entrevistei-o na Rádio da Furg, em 1992. Voz linda, perfeita. Ele contou passagens de sua vida como goleiro de futebol de campo e salão. Atuando no Bossa Nova, como goleiro, foi campeão estadual de futsal. Também revelou detalhes incríveis de sua vida de radialista e jornalista. Esta gravação está no Museu da Comunicação "Rodolfo Martensen"/Furg.

Como delegado regional dos jornalistas de Rio Grande, tive a incumbência de montar o processo para obtenção de registro de jornalista profissional, que lhe foi entregue em 1993, embora já atuasse desde os anos 1970.

Foi um exemplo para todos nós. Quando apareceram dois cânceres na garganta, livrou-se deles, um após o outro, mas perdeu a voz. Lutou como um leão, submeteu-se a um transplante de rim, fez diálise, até a hora da morte. Há poucos dias, teve uma perna amputada, mas já pensava em adquirir prótese mecânica. Continuava lutando pela vida.

Como excelente goleiro que foi, defendeu-se das envenenadas "bolas" da morte, matando-as no osso do peito algumas vezes, partida que só perdeu agora, deixando-nos tristes e melancólicos. Foi um bravo, um guerreiro incansável, exemplo que serve a todos os seus familiares, e aos seus amigos e colegas, que com ele aprendemos e juntos crescemos na profissão de radialistas e jornalistas.

Muita luz na reentrada celestial, parceiro Jonas Cardoso. Abraços carinhosos aos irmãos e sobrinhos”.

A última vez que vi o Jonas foi em 2011, em uma bonita festa na Pizzaria Passione, na avenida Domingos de Almeida, em Rio Grande, organizada pelo Willy César e o Célio Soares, em minha homenagem, com a presença de amigos da imprensa e do F.B.C. Rio-Grandense.

Também foi a última vez que vi o amigo comum Ney Amado Costa. Havia uma particularidade entre eu o Jonas e o Ney. Os três torcíamos pelo Rio-Grandense e pelo Internacional, de Porto Alegre. Mais pelo colorado riograndino, é claro.

Conto essas historinhas para lembrar da grande amizade que nos uniu por mais de 40 anos. Tempo bom que não volta mais. Mas fica a lembrança que nada pode apagar. Que descanse em paz. (Texto: Nilo Dias)

Eu e Jonas, no Bar Minuano, em 2011. (Foto: Meu arquivo pessoal(

Time do Bossa Nova, campeão estadual, com Jonas no gol. (Foto: Arquivo de Claudio Carvalho de Moura)