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segunda-feira, 2 de junho de 2008

“Abelão” e Internacional: o fim de uma história de amor

Abel Carlos da Silva Braga, um carioca nascido em 1º de Setembro de 1952 termina, pelo menos por 10 meses, uma história de amor com o S.C. Internacional, de Porto Alegre, onde ganhou fama mundial ao conquistar quase tudo que um treinador de futebol profissional pode ambicionar na carreira. Antes de ir, já pensa em voltar para o Beira Rio, após os 10 meses de contrato. Uma proposta milionária e irrecusável vinda do Al-Jazira Club, equipe de Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes foi a causa do rompimento dessa união quase perfeita. Abel deve assumir o cargo de técnico do novo clube na próxima quarta-feira.

O treinador conheceu o Al-Jazira em janeiro, quando o Internacional, depois de vencer o Torneio de Dubai, fez a pré-temporada de uma semana na sede do clube que agora o contratou. O Al-Jazira é dono de uma estrutura enorme, com um moderno estádio, cinco campos de treinamentos, dois hotéis, dois ginásios de esportes, departamentos de medicina, musculação e fisioterapia, além de alojamentos e restaurantes para os jogadores, até das categorias de base.

Antes de ser técnico, Abel Braga foi jogador. Começou a carreira como zagueiro do Fluminense do Rio de Janeiro, em 1968, nas categorias de base. Em 1971, depois de ser campeão do Torneio Pré-Olímpico pela Seleção Brasileira, subiu para os profissionais, conquistando de imediato o seu primeiro título de campeão carioca, o que se repetiria nos anos de 1973, 1975 e 1976.

Embora fosse reserva no Fluminense e entrasse em campo quase sempre no segundo tempo, suas boas atuações o credenciaram a ser contratado pelo Vasco da Gama, em 1977, onde foi campeão carioca no mesmo ano. Foi no clube da Cruz de Malta que “Abelão”, como também era chamado, firmou-se como titular e foi chamado pelo técnico Cláudio Coutinho para a Seleção Brasileira.

Abel vestiu a camisa canarinho em cinco jogos, com três vitórias e dois empates e participou da Copa do Mundo de 1978. Sua primeira partida foi em 11 de dezembro de 1971 na vitória por 1 X 0 contra o Peru e a última em 25 de Maio de 1978, no empate de 2 X 2 contra a Seleção Gaúcha.

Depois do Vasco da Gama, Abel foi jogar no Paris Saint-Germain, da França, onde ficou de 1979 a 1981, ano em que foi contratado pelo Cruzeiro de Belo Horizonte. Em 1982 ainda jogou pelo Botafogo do Rio de janeiro e em 1984 pelo Goytacaz, de Campos, Rio de Janeiro, onde encerrou a carreira de jogador e iniciou a de treinador.

Em 1986 foi treinar o Rio Ave, de Portugal. No ano seguinte voltou ao Brasil para ser técnico do Botafogo, onde teve curta passagem. No mesmo ano foi contratado pelo Santa Cruz de Recife.

Em 1988 assumiu o Internacional gaúcho pela primeira vez, ficando apenas um ano. Ele treinava o time quando do clássico de número 279, chamado de o Gre-Nal do Século, com vitória colorada por 2 X 1, gols de Nilson, artilheiro do Campeonato Brasileiro daquele ano, com 15 gols, para o Inter. Marcos Vinicius descontou para o Grêmio.

Em 1989 voltou a Portugal para treinar o Famalicão, que sob seu comando voltou a 1ª divisão do futebol lusitano. Na temporada seguinte, 1990/1991 não conseguiu bons resultados, embora o time não fosse rebaixado. Em 1992 foi dirigir o Belenenses, que amargava a segunda divisão. Mais uma vez foi vitorioso e o clube voltou a Divisão Principal.

Ainda como técnico do Belenenses, Abel na temporada 1992/1993 levou o clube a 7ª posição do Campeonato Português, garantindo a permanência no cargo, mas preferiu transferir-se logo em seguida para o Vitória de Setúbal. Por conseguir excelentes resultados com clubes que se encontravam na 2ª divisão, Abel ganhou fama de bom técnico entre os portugueses.

Depois de cinco anos em solo português, Abel retornou ao Brasil em 1994 para assumir o comando do Internacional de Porto Alegre, pela segunda vez, ficando até o fim do ano. Em 1995 foi para o Vasco da Gama, onde durou apenas dois meses, sendo demitido em razão dos maus resultados da equipe no Campeonato Carioca. Depois de um bom período de férias foi trabalhar em 1997 no futebol paranaense. Primeiro contratado pelo Atlético Paranaense, onde foi campeão em 1998. Depois, no Coritiba, ganhando o título estadual de 1999. E no mesmo ano treinou o Paraná Clube.

O Vasco, que o havia demitido em 1995, não passava por bom momento e logo após a derrota no Mundial de Clubes, o chamou de volta para assumir a equipe temporariamente, pois a intenção era contratar Oswaldo de Oliveira, o que aconteceu logo em seguida. Apesar da boa campanha no Campeonato Carioca de 2000, Abel foi dispensado e ficou dois meses esperando uma boa proposta, o que aconteceu em julho do mesmo ano, quando foi contratado pelo Olympique, de Marselha, França. Mas não durou muito no clube francês, sendo mandado embora quatro meses depois.

Em novo retorno ao Brasil foi treinar o Atlético Mineiro, em 2001. Em 2002 voltou ao Atlético Paranaense. No mesmo ano foi para o Botafogo, pela segunda vez, mas como o time era muito fraco, depois de três meses pediu demissão. Em 2003 assumiu a Ponte Preta com o objetivo de manter o clube na 1ª divisão do Campeonato Brasileiro, objetivo que foi alcançado.

Já bastante valorizado, “Abelão” foi para o Flamengo em 2004. O clube carioca tinha como projeto disputar à Copa Libertadores da América, do ano seguinte. O Flamengo ganhou o Campeonato Carioca e chegou à final da Copa do Brasil contra o Santo André, de São Paulo. Depois de empatar o primeiro jogo por 2 X 2 , no estádio do adversário, foi derrotado em pleno Maracanã por 2 X 0, perdendo assim a chance de conquistar o título e a projetada vaga para a competição continental. Abel disse depois do jogo que essa foi a maior derrota na sua carreira.

Abatido pelo fracasso, e depois de ficar parado por seis meses, em 2005 Abel voltou ao clube onde começou a carreira de jogador, o Fluminense, completando assim o ciclo dos quatro grandes do Rio de Janeiro. No tricolor foi mais uma vez campeão carioca e de novo finalista da Copa do Brasil. E nova desilusão, derrota para o Paulista de Jundiaí, São Paulo. Mas o técnico permaneceu no cargo para o Campeonato Brasileiro. Depois de uma campanha boa, o time caiu de produção na reta final e ficou na quinta colocação, uma abaixo da zona da Copa Libertadores da América. Na Copa Sul-Americana, o Fluminense parou nas quartas-de-final.

Chegou o ano de 2006 e sua terceira passagem pelo Internacional. Fim da fama de pé frio e início de uma nova era, com vitórias e títulos importantes: Vice-Campeão Brasileiro, campeão da Copa Libertadores da América e Campeão Mundial de Clubes FIFA. Com as conquistas, Abel foi mantido no cargo. Com a venda dos jogadores mais importantes o time já não rendeu mais o mesmo futebol de antes. Resultado: no Campeonato Gaúcho não passou da primeira fase e na Taça Libertadores foi eliminado na primeira fase e Abel deixou o comando técnico colorado.

Para o cargo foi contratado o técnico Alexandre Galo, que dirigia o Sport Recife. Mas não teve sorte. Depois de uma campanha ruim no início do Campeonato Brasileiro acabou demitido. Abel Braga, que havia recusado propostas vindas do exterior e ainda do Cruzeiro e Atlético Mineiro acabou voltando ao Internacional pela quarta vez, quatro meses após ter sido demitido. Evitou o rebaixamento do time e ganhou o Torneio de Dubai, no início deste ano, e o Campeonato Gaúcho. O final da história todos os colorados já conhecem. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Abel Braga, em 20 anos dirigiu o Internacional por quatro vezes (Foto: Site do S.C. Internacional)