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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Dois clubes que valorizam mulheres

Atlético Mineiro e Danúbio, do Uruguai, decidem amanhã a noite (12), 19h30min, no Estádio Independência, em Belo Horizonte, quem avança para a etapa seguinte classificatória para a fase de grupos da Copa Libertadores da América.

O Atlético leva a vantagem de poder empatar em 0 X 0 e 1 X 1 para seguir adiante, pois no jogo de ida, em Montevidéu, empatou em 2 X 2.

Antes do confronto, um fato interessante chama a atenção e até serviu de matéria especial do jornalista Thiago Madureira, para o site Super Esportes: Os dois clubes valorizam mulheres como símbolos. As histórias de Alice Neves e María Lazaroff.

Tanto Atlético quanto Danúbio tiveram em seus primórdios a presença feminina, o que sem dúvida significa um importante elo entre eles.

Ninguém desconhece que o ambiente futebolístico é machista, por isso chama atenção o fato de duas mulheres terem contribuído para o crescimento des dois clubes do Brasil e Uruguai.

No Atlético, a senhora Alice Neves, mãe de Mário Neves, um dos fundadores do clube, foi a primeira grande atleticana da história. E María Mincheff de Lazaroff foi quem deu o nome de Danubio ao clube, além de ser mãe de alguns dos precursores da equipe.

Mesmo em um esporte dominado pelos homens, as mulheres foram atraídas e demonstraram paixão pelo futebol ainda no início do século XX.

É claro que elas não entravam em campo e nem jogavam, ficavam distantes da bola, pois o futebol naqueles distantes tempos era praticado somente pelos homens. Mas els assistiam os jogos, gostavam do esporte e ajudavam como podiam nos bastidores.

O trabalho de mestrado do historiador Raphael Rajão Ribeiro, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) conta como foram os primeiros anos do futebol em Belo Horizonte, que fora recém-fundada (1897).

Esses foram os anos vividos por Alice e outras mulheres que ajudaram a escrever a história do Atlético, clube que foi fundado em 1908.

Como se percebe, o futebol no Atlético, desde seus primeiros tempos, teve a capacidade de atrair a presença feminina, mesmo que a sociedade ainda fosse marcada pelo machismo.

Apesar do ambiente não muito propicio às mulheres, o afeto familiar possibilitava a frequência das meninas e das mulheres, assim como suas participações na vida dos clubes.

Dona Alice, aproveitando o fato de ser mãe de um dos fundadores do clube, Mário Neves, teve nas mãos a tarefa de organizar a primeira torcida feminina do Atlético.

Essa história pode ser encontrada com detalhes no site do clube. Senão, vejamos: "A primeira torcida organizada que se conhece foi fundada em Belo Horizonte, ainda em meados da década de 1920.

Dona Alice Neves, mãe de Mário Neves, um dos fundadores do clube, uniformizava e costurava bandeirinhas para que a equipe de futebol contasse com o apoio da sua torcida feminina”.

Na inauguração do “Estádio Antônio Carlos”, em 1929, o hino original do Atlético foi cantado pela primeira vez. 

A participação destacada de dona Alice Neves na fundação do clube, é contada pelo escritor Ricardo Galuppo, no livro "Raça e amor: a saga do Clube Atlético Mineiro vista da arquibancada".

Mário Neves não foi apenas um dos fundadores do Atlético. Desde o inicio mostrou interesse para que a ideia vingasse. Tanto é verdade, que depois da reunião inaugural, os encontros de atleticanos passaram a ocorrer na casa dele, na rua dos Guajajaras, 317, no quarteirão entre a avenida João Pinheiro e a rua da Bahia.

Graças a essas reuniões na sua casa é que Alice Neves teve a chance de entrar definitivamente na vida do clube. Sem ela, o sonho da rapaziada dificilmente teria ido adiante, ressalta Galuppo, no livro.

Ela era conhecida como Dona Alice, e desde cedo foi tratada como a madrinha, visto que “fabricou” o primeiro uniforme e a primeira bandeira do Atlético.

O livro de Galuppo conta que o Atlético foi o primeiro clube brasileiro a ter uma torcida organizada e quem a criou foi Dona Alice, ainda no início do século XX.

Alice costumava ir de casa em casa pedir autorização aos pais para que permitissem as suas filhas, algumas delas, irmãs dos próprios fundadores, integrarem o grupo. E nesse trabalho conseguiu reunir 50 moças.

Já a importância de María Mincheff de Lazaroff ao Danubio foi tão grande, que o estádio do clube leva o seu nome. Essa história teve inicio quando ela deixou a Bulgária e chegou ao Uruguai na tentativa de uma vida melhor, nas primeiras décadas do século XX.

Era mãe de três filhos, Miguel, Juan e Apostol, que não demoraram a fazer amizades e jogarem em um time de futebol chamado “Tigre”, na região de Curva de Maroñas, em Montevidéu, onde moravam.

Mas nenhum deles simpatizou com o nome do time. Em vista disso resolveram marcar uma reunião que aconteceu na casa da mãe deles, Maria, para a esolha de um outro nome.

Bulgara que era, dona Maria quis homenagear sua terra com o nome de Maritza, um rio que corta Grécia, Bulgária e Turquia. Era onde ela lavava roupas na infância.

Por sorte, o nome não foi aceito, até porque parecia muito feminino para um time de homens. Maria, que era fascinada por rios insistiu, mas agora com outra ideia: Danubio.

Danubio é o segundo maior rio da Europa em extensão, atrás apenas do Volga. A nascente se localiza na Floresta Negra, na Alemanha.

O encontro com o mar ocorre na Romênia. Ao todo, o rio corta dez países. O nome foi aprovado sem nenhuma objeção.

Passaram-se muitos anos. Em maio de 2017, veio a homenagem. Em uma assembleia extraordinária, os sócios decidiram rebatizar o nome do estádio para “Jardines del Hipódromo - María Mincheff de Lazaroff”. Este é o primeiro estádio com nome de mulher no futebol uruguaio e um dos raros no mundo.

No Brasil apenas seis estádios tem nomes de mulheres:

Estádio Municipal Maria de Lourdes Abadia (Abadião), em Ceilândia (DF), homenagem a ex-administradora da cidade.

Estádio Maria Lamas Farache (Frasqueirão), em Natal (RN), pertencente ao ABC. A homenageada, junto de seu marido Vicente Farache, são considerados dois esteios da história abecedista.

Vicente foi ponta direito na primeira conquista estadual, mas anos depois se aposentou e assumiu um posto de dirigente e sua mulher incorporou o ABC a sua vida, também.

Estádio Municipal Maria Tereza Breda, em Olímpia (SP). O benfeitor das obras do estádio foi Natal Breda, que em troca do custeio solicitou que o estádio deveria ter o nome de sua esposa, Maria Tereza.

Estádio Otacília Patrício Arroyo, em Monte Azul Paulista (SP), pertencente ao Atlético Monte Azul. O estádio já foi chamado de “Ninho do Azulão”, mas em 2010, o presidente do clube, Ricardo Céster Arroyo, propôs a mudança para homenagear sua avó que havia morrido com 100 anos de idade em 2005.

A família Arroyo foi responsável pela doação das terras onde o estádio está localizado.

Estádio Municipal Flávia Blante de Oliveira (Bacurauzão), em Manicoré (AM). Dos estádios listados é o único que não consta no CNEF. Não foram encontradas informações sobre quem é a homenageada.

Estádio Emília Mendes Rodrigues (Ninho da Águia), em Imbituba (SC), pertencente ao Imbituba Futebol Clube. Emília é mãe de Roberto Rodrigues, empresário que fundou a equipe em 2009. 

O clube, aliás, em seu primeiro ano de atividade fez uma parceria com o CFZ, nome no qual foi incorporado. O estádio também não está listado no CNEF, mas deve voltar a receber partidas nesse ano com a volta do clube para a disputa da terceira divisão. (Pesquisa: Nilo Dias)