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segunda-feira, 27 de julho de 2009

Clássico pernambucano completa 100 anos (Final)

O Campeonato Pernambucano começou a ser disputado em 1915. O Flamengo do Recife foi o ganhador daquele ano. A primeira decisão entre Sport e Náutico aconteceu apenas em 1951, no cinquentenário alvirrubro. O “Leão” venceu o primeiro turno e o “Timbu” o segundo. Foi preciso uma disputa em melhor de três para ver quem seria o campeão. O Náutico ganhou duas partidas e conquistou o título.

A revanche do Sport veio quatro anos depois, quando festejava 50 anos de fundação. Adelmar da Costa Carvalho, que emprestaria seu nome para o estádio, assumiu a presidência no dia 3 de janeiro. Para a diretoria de futebol, foi escalado outro empresário de grandes posses, José Rosemblit. Menos de 20 dias depois, chegava ao Recife um dos técnicos mais famosos do País, Gentil Cardoso.

Era o ponto de partida para quebrar a hegemonia do Náutico na década. Porém, o time demorou a se acertar, como previra o próprio técnico. Por conta disso teve que aguentar a gozação dos alvirrubros após um 3 x 1 em plena Ilha do Retiro, justamente na estréia de Osvaldo Baliza, ex-goleiro da seleção brasileira.

O treinador pediu paciência, principalmente pela confiança em seu setor ofensivo, comandado por Traçaia, que viria a tornar-se, mais tarde, no maior artilheiro do Sport, com 201 gols. Naninho, Gringo, Soca e Geo completavam o quinteto. A competição começou em maio, mas o jogo que deu o título ao Leão só aconteceu no dia 8 de janeiro do ano seguinte nos “Aflitos”. Foi apertado, por 3 x 2. Traçaia (2) e Naninho marcaram para o Sport. Wilton e Ivanildo descontaram para o Náutico.

Em 1966 aconteceu a maior goleada numa final do Campeonato Pernambucano na era do profissionalismo, que começou em 1937. Em 21 de dezembro de 1966, o Náutico fechou a melhor de três na final contra o Sport com um inesquecível 5 X 1, nos “Aflitos”, que valeu o até então inédito tetracampeonato. Os gols foram marcados por Lala, Miruca, Nilo, Zé Carlos e Bita. Nessa década de 60 o Náutico tinha o famoso ataque das quatro letras: Nado, Bita, Nilo e Lala.

Bita era conhecido como o "Homem do Rifle", devido ao seu poder de fogo. Ele foi o maior artilheiro da história do clube, com 223 gols. Era chamado pelos torcedores de "o homem do rifle". Ao marcar um dos gols no massacre registrado no decisivo clássico, Bita chegou a 22 tentos na competição, conseguindo a artilharia pelo terceiro ano consecutivo, marca que seria igualada apenas em 1983, por Baiano.
Bita faleceu em 1992, com apenas 50 anos de idade, deixando a família alvirrubra órfã de seu grande ídolo.

Os últimos 12 anos haviam sido os mais cruéis para a torcida rubro-negra. Afinal, eles assistiram impassíveis o Náutico ser hexacampeão e o Santa Cruz conquistar cinco títulos consecutivos - só não chegou ao hexa graças ao grande time alvirrubro de 1974. Em 1975, com a ascensão de Jarbas Guimarães a presidência, o Sport montou uma verdadeira "Seleção do Nordeste".

Foram contratados jogadores renomados na época, como Dario (o Dadá Maravilha), Tovar, Luciano Veloso, Assis Paraíba e o português Perez. Para comandar a equipe, um dos maiores conhecedores do futebol pernambucano: David Ferreira, o famoso “Duque”. Ao todo, o clube gastou o equivalente a 60 automóveis zero quilômetro. Na final do Campeonato Pernambucano - um dos mais disputados da história, pois Santa e Náutico também contavam com equipes qualificadas -, o “Leão” se deparou com o “Timbu”, nos “Aflitos”.

O Náutico buscava o bicampeonato comandado por Jorge Mendonça no ataque. O jogo entrou para a história como um dos mais conturbados em razão da polêmica arbitragem de Sebastião Rufino, que não marcou dois pênaltis a favor do time da casa e ainda anulou um gol legitimo do alvirrubro. O Sport venceu por 1 X 0, gol de Assis, que penetrou na área e deu um leve toque, deslocando o goleiro Neneca. Foi o 20º título estadual do Sport, que acabou com a gozação dos rivais, que já chamavam o rubro-negro de “Leão XIII" (se perdesse, seriam 13 anos sem ganhar nada).

Outra partida que entrou para a história do “Clássico dos Clássicos” aconteceu em 14 de outubro de 1977, no estádio do Arruda. O Náutico, para ser campeão, precisava ganhar a terceira partida da melhor de três não só no tempo normal, mas na prorrogação também. Draílton fez 1x0 para o Timbu ainda nos 90 minutos, mas o drama se estendeu.

Naquele tempo, não havia disputa de pênaltis, e o jogo só acabava quando alguém fizesse um gol. E coube a Mauro Madureira, do Sport, balançar as redes, no terceiro tempo da prorrogação, após 158 minutos de jogo, já na madrugada do dia seguinte.

Em 2001, o Sport, que fora 5º colocado no Brasileiro contava os dias para sagrar-se hexacampeão pernambucano. Na penúltima rodada do primeiro turno, uma vitória sobre o Náutico, na Ilha do Retiro, deixaria o time muito próximo de conquistar uma vaga na final do Estadual. Mas numa quarta-feira à noite, em 16 de maio, mais de 28 mil torcedores assistiram aquela que é apontada como a grande vitória “timbu” sobre os leoninos nesta década.

Comandado por Muricy Ramalho, o Náutico conseguiu a vitória com um gol antológico do volante Adílson. O jogador - que sempre foi contestado nos Aflitos - cobrou uma falta da intermediária, acertando o ângulo do goleiro Neneca. A vitória por 2 X 1 recolocou o Náutico na briga pelo título. Posteriormente, o “Timbu” faturou o primeiro turno e o título pernambucano. Logo no ano do seu centenário.

Em 1977, surgiu no Sport um jovem jogador de 18 anos, de nome Roberto Almeida Nascimento. Devido o empenho com que disputava as jogadas, os torcedores logo o apelidaram de “Roberto Coração de Leão”. Com ele o Sport ganhou três campeonatos pernambucanos, 1977, 1980 e 1981. Roberto chegou a vestir a camisa da Seleção Brasileira.

O campeonato de 1981, foi na verdade, um supercampeonato, o único do Sport. No terceiro jogo do triangular, em 6 de dezembro, já com o Santa eliminado, Sport e Náutico disputaram o agora centenário clássico na Ilha do Retiro, com 37.332 torcedores. Lotação máxima. Isso porque a Ilha era bem menor que hoje. Sequer existiam os tobogãs atrás dos gols. Em um jogo que passou ao vivo para o Recife (algo raro na época), Roberto e Denô, a grande dupla de ataque do Sport nos anos 80, marcaram os gols da vitória por 2 x 0, garantindo o bicampeonato estadual.

No Brasileirão as centenárias agremiações também já se encontraram. Em 1987, ano em que foi campeão nacional, o Sport ganhou por 1 X 0. Depois bateu o Guarani de Campinas e conquistou o mais importante título de sua história. No ano seguinte, junto com o bugre campineiro, representou o país na Taça Libertadores da América. Porém, foi o Náutico o primeiro clube pernambucano a disputar a Libertadores, isso em 1968.

O dia 25 de julho não está restrito apenas ao clássico. Esse dia parece não fazer bem ao Sport. Em 2000, o time perdeu a oportunidade de voltar ao torneio internacional após 12 anos, quando na decisão da extinta Copa dos Campeões, perdeu para o Palmeiras por 2 X 1.

Grandes jogadores participaram do clássico nesses 100 anos de história. Pelo Sport, Marcilio de Aguiar (talvez o mais completo jogador pernambucano de todos os tempos), Pacoty, Raul Betancor, Ademir Menezes, Elo do Amparo, “Queixada”, Traçaia, Zé Maria, Almir ”Pernambuquinho”, Ribamar, vavaá “Peito de Aço”, Manga, Raul Bettancourt, Djalma, Juninho Pernambucano e Leonardo. No lado do Náutico, os irmãos Carvalheira, Ivson, Orlando “Pingo de Ouro”, Manoelzinho, Bita, Marinho Chagas, Baiano, Nivaldo, Bizu, Kuki, entre outros.

De acordo com o Ibope e a revista “Lance!”, o Sport é o dono da maior torcida do Nordeste, ocupando a 15º colocação nacional. Já o Náutico, tem a terceira maior torcida de Pernambuco e ocupa a 22º posição no ranking da CBF.

A história do jogo entre Sport X Náutico está contada em todos os detalhes no livro ”Clássico dos Clássicos – 100 anos de história” de autoria dos pesquisadores José Lucídio de Oliveira, Carlos Celso Cordeiro e Roberto Vieira, lançado na última sexta-feira (17/07), no salão nobre da Federação Pernambucana de Futebol (FPF). A obra compreende toda a história do clássico, desde o primeiro jogo, até o último, o de número 512, em 19 de abril de 2009, que, embora terminado em 0 X 0, sacramentou o título do Sport de tetracampeão pernambucano.

O curioso é que o livro tem capa dupla, uma alvirrubra e uma rubro-negra e conta com os prefácios dos jornalistas Juca Kfouri e Celso Unzelte e as apresentações dos jornalistas Fernando Menezes, do “Jornal do Commercio”, e Lenivaldo Aragão. Já as orelhas foram escritas pelo pesquisador social Túlio Velho Barreto e pelo ex-goleiro do Sport e escritor, Valdir Appel.

A publicação aborda as 50 melhores vitórias de Sport Recife e Náutico quando se enfrentaram, 25 de cada clube. Curiosidades e estatísticas também compõem a obra, que é um documento muito valioso na história do futebol não só pernambucano, como nacional. A edição é limitada, apenas 500 exemplares.

Principais títulos do Náutico. Campeonato Pernambucano: (1934, 1939, 1945, 1950, 1951, 1952, 1954, 1960, 1963, 1964, 1965, 1966, 1967, 1968, 1974, 1984, 1985, 1989, 2001, 2002, 2004); Tetracampeão do Torneio Norte-Nordeste: (1952, 1963, 1964 e 1965) e vice-campeão da Taca Brasil (1967),

Principais títulos do Sport. Campeonato Brasileiro: (1987); Campeonato Brasileiro Série B: (1987 e 1990); Copa do Brasil: (2008); Copa Norte-Nordeste: (1968); Copa Nordeste: (1994, 2000. Campeonato Pernambucano: (1916, 1917, 1920, 1923, 1924, 1925, 1928, 1938, 1941, 1942, 1943, 1948, 1949, 1953, 1955, 1956, 1958, 1961, 1962, 1975, 1977, 1980, 1981, 1982, 1988, 1991, 1992, 1994, 1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2003, 2006, 2007, 2008 e 2009). (Pesquisa: Nilo Dias)

Sport, campeão brasileiro de 1987. (Foto: Acervo do Sport Club Recife)
Náutico, bicampeão pernambucano, 2001/2002. (Foto: Acervo do Clube Náutico Capibaribe)

OBSERVAÇÃO: O clássico disputado ontem na Ilha do Retiro, terminou empatado em 3 X 3.