Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

terça-feira, 30 de junho de 2009

O racismo no futebol (Final)

Mas a discriminação não se resume apenas ao campo de jogo. Ela é bem clara em muitas outras situações, como a distribuição salarial dos jogadores, segundo os aspectos cor/raça. Chama atenção a diferenciação nos percentuais de jogadores que recebem até 1 salário mínimo. Neste caso, 48,1% dos jogadores negros contra 33,6% dos pardos e 26,6% dos brancos. Torna-se nítido que são os negros que têm a maior tendência a ocuparem a base da distribuição salarial no futebol.

Na faixa salarial de 10 a 20 salários mínimos, encontramos 8,3 dos jogadores brancos contra 6,2% dos jogadores negros e 6,1% dos jogadores pardos. Esta diferença aumenta, ao observarmos os rendimentos acima de 20 salários mínimos. Neste temos 24,8% dos jogadores brancos contra 14,8% dos negros e 12,2% dos pardos. Diante disto fica nítido que os jogadores brancos estão situados nos estratos mais elevados da distribuição salarial.

O jornal “Folha de São Paulo” publicou em novembro do ano passado uma pesquisa que mostra com números impressionantes o tamanho do racismo no Brasil. Temos no país auto declarados: 37% Brancos, 36% pardos, 14% pretos. Embora 91% da população diga que o brasileiro é racista, apenas 3% se assume como tal.
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Pretos e pardos possuem somente 6,3 anos de estudo. Apenas 31% das pessoas no ensino superior são pretas ou pardas. Nesta cifra, 51% estão em cursos destinados a formar professores e somente 12% estão em Medicina. No ensino de elite, de 369 aprovados para Medicina no vestibular da Fuvest, só um se dizia preto.

Negros recebem 62% do salário de um branco. A mulher negra recebe somente 56 %. Dentre os 10% mais ricos, somente 22% são pretos e pardos. Dentre os 10% mais pobres, 68% são pretos e pardos. Brancos recebem, em média, R$ 977 enquanto pretos e pardos recebem R$ 506. Brancos, no mesmo emprego, ganham 11% mais que pretos e pardos. A polícia e a justiça são mais rígidas e truculentas quando se trata de pretos e pardos.

Segundo a pesquisa, o Brasil possui um racismo velado em que a discriminação se dá mais pela impossibilidade de acesso e aceitação: recusa de empregos, de namoros, de casamentos, de amizade, de cordialidade, de confiança. Ao mesmo tempo, é se mais rápido e rígido nas cobranças e nas condenações quando se tratam de pretos e pardos.

Apenas 9,7% dos médicos são pretos ou pardos. Dentre os dentistas, somente 8,6% são pretos ou pardos e dentre os advogados somente 17%. Praticamente não há padres negros nem técnicos de futebol negros no Brasil.

Historicamente, as elites brancas pensavam que países com maiorias não brancas jamais progrediriam. Embora no Brasil somente de 7 a 11% dos brasileiros participem de sindicatos e partidos políticos, as várias minorias que formam o movimento negro tem conseguido diminuir a intensidade do racismo no Brasil.

E o que existe de prático no país, para combate a essa discriminação racial e étnica? A Constituição Federal de 1988 estabeleceu, no seu Artigo 5º que "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais; XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei.

Em 5 de janeiro de 1989, foi aprovada a Lei 7.716, conhecida como "Lei Anti-Racismo" ou "Lei Caó" que trata dos crimes resultantes do prejuízo de raça ou cor. Apesar do seu nome, essa lei não representou maior avanço no campo da discriminação racial por ser excessivamente evasiva e lacônica e exigir, para a tipificação do crime de racismo, o autor, após praticar o ato discriminatório racial, declarar expressamente que sua conduta foi motivada por razões de discriminação racial. Se não o fizer, será a sua palavra contra a do discriminado.

Em vista disso, conclui-se que nada acontecerá ao jogador do Grêmio, que nega ter ofendido o jogador Elicarlos do Cruzeiro, de Minas Gerais, chamando-o de “macaco”. Em síntese, parece que o final deste acaso ficará no tradicional “dito pelo não dito.” E de sobra um clima de “guerra” para o time mineiro, no decisivo jogo de Porto Alegre, na quinta-feira (2/07). (Pesquisa: Nilo Dias)

Elicarlos diz ser vitima de racismo.Maxi Lopez, nega.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

O racismo no futebol (02)

Apenas dois técnicos não brancos dirigiram a Seleção Brasileira de Futebol. Gentil Cardoso, em 1949, quando uma seleção pernambucana representou o Brasil no Campeonato Sul-Americano Extra. O outro foi Vanderlei Luxemburgo.

Chama atenção a quase ausência de técnicos negros no nosso futebol. Atualmente na Série A, do Campeonato Brasileiro parece que tem apenas Hélio dos Anjos, no Goiás. No passado não foram muitos os famosos. Talvez o primeiro técnico negro no Brasil tenha sido Gentil Cardoso. Como suboficial da Marinha, viajou pela Europa, estudando os segredos do sistema WM. Também teve Didi, que após pendurar as chuteiras, foi ser técnico. Obteve triunfos memoráveis com a seleção peruana na Copa de 70.

Valmir Louruz, que formou a dupla de zaga colorada com Scala, também foi técnico. Levou o Juventude de Caxias do Sul à conquista da Copa do Brasil de 99, façanha que garantiu o time da serra gaúcha na taça Libertadores do ano seguinte.

Apenas para ilustrar esta pesquisa, lembro alguns atos de racismo ocorridos no futebol brasileiro e mundial nos últimos anos.

Em 2001, durante um amistoso entre Polônia e Islândia, torcedores poloneses jogaram bananas no campo. Olisadebe foi o primeiro jogador negro a vestir a camisa da seleção polonesa e, apesar de ter marcado oito gols nas Eliminatórias para a Copa de 2002, foi alvo de insultos.

O atacante italiano Balotelli esteve em um evento com a seleção italiana sub-21 em Roma. Torcedores da Roma atingiram duas bananas no jogador, que foi parabenizado pelo treinador Casiraghi por não reagir e minimizar o caso.

No início de sua carreira no clube espanhol Barcelona, o camaronês Eto’o era alvejado por bananas toda vez que pegava na bola. Ele foi alvo de insultos racistas na partida entre Barcelona e Getafe, válida pelo Campeonato Espanhol. Cerca de 50 torcedores do Getafe imitavam macacos cada vez que o jogador tocava na bola.

Em 2004, os jogadores Juan e Roque Júnior foram ofendidos pela torcida do Real Madrid. Eles defendiam o clube alemão Bayer Leverkussen na Copa dos Campeões. Toda a vez que pegavam na bola, os torcedores espanhóis imitavam macacos. O Real Madrid foi obrigado a pagar 10 mil euros de multa pela agressão.

O mesmo ocorreu com o jogador Roberto Carlos, também em 2004. Toda vez que ele e os outros jogadores negros do Real Madrid pegavam na bola em um jogo contra o Atlético de Madrid, os torcedores atleticanos imitavam sons de macacos. O clube dos ofensores foi multado em 600 euros. O caso foi parar na Federação Espanhola de Futebol, pois o Atlético poderia ter sido cúmplice ao permitir que o som da torcida fosse ouvido no sistema de som do estádio.

A Nike lançou em fevereiro de 2005 uma campanha contra o preconceito no futebol. Lançada durante uma partida do Paris Saint-Germain contra o Lens, contou com a participação de jogadores como Roberto Carlos, Ronaldinho Gaúcho e Adriano. Na mesma ocasião, torcedores ergueram bandeiras com o símbolo nazista e uma faixa dizendo “Adiante, brancos”.

Também em fevereiro de 2005, o árbitro Alfonso Perez Burrull teve que interromper um jogo entre o Málaga e o Espanyol. Sempre que o goleiro do Espanyol, Carlos Kameni pegava na bola, a torcida imitava macacos.

O zagueiro Fabão acusou o atacante argentino Frontini de tê-lo chamado de Macaco durante uma partida contra seu time, o São Paulo, e o Marília.

Em fevereiro de 2005, Ronaldo “Fenômeno” perdeu a cabeça e arremessou uma garrafa de água contra três homens que o chamaram de “Negro gordo”. O incidente ocorreu numa partida do Real Madrid, na época time do craque, contra o Málaga. No dia seguinte, ele se redimiu pedindo desculpas.

O zagueiro Wellington Paulo, do América-MG, levou uma suspensão de 30 dias por cahamar o colega de time André Luiz de macaco.

Em abril de 2005, o zagueiro argentino Leandro Desábato xingou o atacante Grafite de “negrito de mierda”. Os times de ambos – Quilmes e São Paulo, respectivamente – jogavam uma partida pela Taça Libertadores da América. A televisão registrou o momento e, pouco depois do término do jogo, o agressor foi preso por crime de racismo. Ele pagou uma fiança de 10 mil reais e acabou extraditado do Brasil.

Poucos dias depois, em um jogo do Quilmes contra o River Plate (Campeonato Argentino), torcedores racistas ergueram faixas reiterando os xingamentos a Grafite. Uma o chamava de “Macaco” e outra de “Branca de Neve”.

Também em 2005, foi a vez do volante Tinga, que defendia o Internacional, ouvir ofensas racistas. Porém, os gritos de "macaco" não vieram de um jogador adversário, mas sim da torcida do Juventude, em um duelo no Alfredo Jaconi pelo Brasileirão. Ao contrário de Elicarlos e Grafite, Tinga não levou o caso para a polícia e preferiu deixar na mão do árbitro o relato do ocorrido na súmula da partida.

O atacante Marco Antônio, do Campinense, acusou o árbitro Genival Batista Júnior de tê-lo chamado de "negro safado" e "macaco" durante um jogo valendo pelo campeonato Paraibano, em maio de 2005. Genival se justificou dizendo ter levado uma cabeçada do jogador, mas os responsáveis pelo caso não viram nada no vídeo da partida.

Em 12 de setembro de 2005, o goleiro Felipe entrou com uma queixa por racismo contra o então presidente do Vitória, Paulo Carneiro, porque ele havia lhe chamado de “negro safado”, “preto vagabundo” e “vendido”. O bate-boca ocorreu após o empate contra a Portuguesa, em um jogo do Campeonato Brasileiro. O resultado levou ao rebaixamento do clube para a segunda divisão. Por causa do incidente, Carneiro foi afastado da diretoria.

No Sesi do Cabo (PE), nas comemorações do dia 1º de Maio de 2006, numa decisão por pênaltis, o juíz Édson da Hora expulsou um batedor, após este fazer o gol e gritar; “Pega a bola, negro safado.”

Outro caso de racismo pôde ser visto em 2006, quando o zagueiro Antônio Carlos, do Juventude, teria chamado o volante Jeovânio, do Grêmio, de macaco. O primeiro foi expulso após agredir o adversário com uma cotovelada e, ao sair de campo, teria chamado Jeovânio de "macaco" - esfregou os dedos no braço para indicar a cor do volante gremista.

Na pré-temporada do Flamengo em Teresópolis, em 2008, durante um jogo-treino contra o Huracán Buceo, do Uruguai, os jogadores rubro-negros acusaram o zagueiro Fernando Caballero de ofensas raciais. No primeiro tempo, o uruguaio se desentendeu com Toró e houve bate-boca. Ibson, defendendo o companheiro, gritou: “Não vem de racismo aqui!” Toró confirmou a ofensa ao final da partida. A palavra usada pelo uruguaio teria sido "macaco". (Pesquisa: Nilo Dias)

O caso Desábato-Grafite, teve grande repercussão.

domingo, 28 de junho de 2009

O racismo no futebol (01)

As acusações racistas que pesam sobre o jogador argentino Maxi Lopez, do Grêmio de Porto Alegre, que teria chamado o jogador Elicarlos, do Cruzeiro de Belo Horizonte, de “macaco”, trouxeram a tona um velho tema que vem acompanhando o futebol brasileiro desde os seus primórdios. O esporte, originário da Inglaterra, foi trazido para o Brasil no final do século XIX pelo jovem Charles Miller, um brasileiro de origem inglesa que voltava de seus estudos em Southampton, na Inglaterra.
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Nos primeiros anos, o futebol era praticado apenas pelas classes dominantes, excluindo os negros e os brancos pobres. Os jovens das camadas privilegiadas da população, todos de pele clara e filhos de “boas famílias”, vários de origem inglesa, doutores ou estudantes de medicina e direito, é que podiam praticar o novo esporte.

Mas, logo teve início o processo de apropriação popular do futebol. Moleques e malandros começaram a bater bola ao ar livre, onde quer que fosse possível. A bola podia ser feita com um maço de folhas de jornal enfiadas numa meia, de jornal amarrado com barbante, ou, simplesmente, tomava-se uma laranja, uma abóbora, uma lata velha amassada ou uma chapinha de cerveja.

Arthur Friedenreich, um mulato de olhos verdes, filho de alemão e mulata brasileira foi o primeiro ídolo do futebol brasileiro. Não porque tivesse marcado o gol da vitória do Sul-Americano de 1919. A popularidade de Friedenreich se devia, talvez, mais ao fato de ele ser mulato, embora não quisesse ser mulato. Ele mantinha uma luta íntima para parecer branco. Entre outras coisas, chegava atrasado nos jogos e se escondia no vestiário, tentando alisar e prender seus cabelos crespos com brilhantina, para não ser visto pela multidão como um mulato.

O jogador Hércules se casou com uma associada branca do Fluminense e a diretoria do clube proibiu o ingresso de atletas nos quadros sociais da entidade. Hércules tinha de saber qual era o seu lugar - lugar de empregado, lugar de mulato, lugar de crioulo. Mas Hércules se deu bem na vida: ao pendurar as chuteiras, em 1946, era dono de casas e terrenos em São Paulo.

O Fluminense, de resto, ganhou o apelido de "pó-de-arroz" em conseqüência de um caso exemplar de racismo, hoje célebre. Para poder jogar no time, sem aparecer como preto diante da multidão que lotava os estádios, o jogador Carlos Alberto tinha de disfarçar a cor da pele. De colocar a máscara branca. Para isso, cobria o brilho negro mestiço de seu rosto com espessas camadas de pó-de-arroz.

O jornalista Mário Filho, em seu livro “O negro no futebol brasileiro”, conta com riqueza de detalhes toda a trajetória negra em busca da inclusão no esporte de origem inglesa. Ele define algumas datas como importantes nesse contexto: 1900 até 1910, a elitização; de 1910 a 1930, a exclusão de negros. E a partir de 1930, a ascensão social dos negros.

Não pretendo contar aqui em detalhes a história do negro no futebol brasileiro. A intenção é apenas mostrar que o racismo nunca saiu de campo, nesses 115 anos de existência do esporte em nosso país.

Um fato curioso é que após as pressões para popularizar o "foot-ball", os negros passaram a ser aceitos sob certas circunstâncias nada desportivas. Era comum os árbitros liberarem atos violentos, como fortes entradas dos jogadores brancos nos negros, sendo que a recíproca quando feita era advertida com séria reprimenda, inclusive expulsão de campo.

O Vasco da Gama foi o primeiro clube a eleger um presidente não-branco na história do futebol carioca. Numa época em que o racismo dominava o esporte, Cândido José de Araújo, um mulato que não dispensava a elegância de um cravo branco na lapela, fez uma gestão exemplar, apresentando o Vasco como um clube aberto e sem preconceitos.

Dois clubes cariocas reivindicam o pioneirismo na aceitação de negros em suas equipes: Vasco da Gama e Bangu. Mas, na verdade, não foi nenhum deles que primeiro abriu as portas para atletas negros, e sim o Guarany F.C. da cidade gaúcha de Bagé.
A primeira liga de futebol na Bahia, fundada em 1904 era chamada de "liga branca". Em 1912, conflitos geraram nova liga, a "liga democrática", que supostamente permitiria a participação de atletas negros.

O jogador carioca Manteiga abandonou o América (RJ) em 1922 para se estabelecer no futebol baiano, onde havia um cenário bem menos racista que o da cidade do Rio de Janeiro. Ele dizia que “na Bahia estava em casa", enquanto “no Rio tinha de andar quase fugido". Existem indícios de ser Salvador a cidade pioneira no Brasil no acesso franco de negros à liga de futebol principal.

Em Porto Alegre existiu entre 1915 e 1930 a Liga Nacional de Futebol Porto Alegrense, pejorativamente conhecida (e divulgada na imprensa "branca") como Liga da Canela Preta, a liga dos negros. Em 1922, a liga "branca" criou sua segunda divisão e nela abriu oportunidades para jogadores e clubes negros, fato que originou uma lenta e gradual decadência da Liga da Canela Preta.

No interior do Rio Grande do Sul também foram criadas ligas exclusivas de negros. Em Pelotas a Liga José do Patrocínio e em Rio Grande, a Liga Rio Branco, todas exclusivas para atletas negros, em modelo semelhante ao encontrado nos EUA até 1960 e África do Sul na vigência do apartheid, quando a discriminação racial assumia forma aberta institucional.

Em 1950, quando a Seleção Brasileira perdeu o Mundial para o Uruguai, os negros do time foram massacrados pela imprensa e pela opinião pública e considerados os culpados pela derrota. Os mais execrados foram o goleiro Barbosa, o zagueiro Juvenal e o lateral Bigode. Barbosa carregou consigo até a morte, em 2000, a culpa de supostamente ter falhado no gol de Ghiggia, que deu o título aos uruguaios. “No Brasil a pena máxima é de 30 anos. Eu já cumpri 50”, dizia, amargurado, pouco antes de morrer. (Pesquisa: Nilo Dias)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

No ano do centenário o “Leão do Sul” voltou a rugir

O centenário do Barra Mansa Futebol Clube, da cidade de Barra Mansa (RJ) passou quase despercebido pela grande imprensa brasileira, que sabidamente volta seus olhos apenas para os clubes do Rio de Janeiro e São Paulo, esquecendo os demais. O chamado “Leão do Sul” chegou a marca centenária o ano passado. O clube foi oficialmente fundado em 15 de novembro de 1908, com o nome de Barramansense e camisas nas cores azul e branca. Em 10 de outubro de 1915, mudou a denominação para Barra Mansa Football Club, que permanece até hoje.

A história oficial mostra que o futebol profissional foi implantado no Brasil a partir de 23 de janeiro de 1933, mas alguns historiadores tem outra versão: teria sido o Barra Mansa o primeiro clube a profissionalizar o futebol no Brasil, isto por volta de 1911. O período de profissionalização do clube se manteve até a década de 60. A partir daí, o clube passou a participar de torneios amadores e, em raríssimas vezes, montou times profissionais, que acabaram desfeitos.

Em dezembro de 1915, o Leão do Sul recebeu em casa o Atlhetic, do Rio Janeiro, para uma partida amistosa. Toda a movimentação do jogo foi descrita no extinto jornal local, “Cartão Postal”. O resultado frustrou aos torcedores, pois os visitantes venceram por 3 X 2, num confronto muito disputado, realizado sob temporal.

O Barra Mansa formou com: Quinzinho - Walter e Penna – Guimarães - Fernando e Soares - Samuel - Theophilo – Ismar - Heitor e Lourenço. O Atlhetic com Uimbyrê - Alvez e Rabello – Dualco - Paiva e Hugo – Adhemar – Cyro – Ruy - Renato e Albino. Os gols foram anotados por Cyro, Ruy e autor desconhecido, para os visitantes. Guimarães e Walter marcaram para o Barra mansa. Juiz, Francisco Leite.

O melhor momento do Barra Mansa aconteceu quando foi dirigido pelo rico empresário sírio Espiridião Geraidini, que não mediu esforços para formar times de ponta. Pelos quadros do Leão do Sul passou gente como o filho ilustre da cidade Jair da Rosa Pinto, na época conhecido como “Jajá de Barra Mansa”, um dos mitos do futebol brasileiro.

Jair começou a carreira no Barra Mansa F. C. e apesar da imprensa o chamar de “Jajá de Barra Mansa”, foi em Quatis que o craque nasceu. Surgiu no Esperança, time de peladas, de onde se transferiu para o Barra Mansa. Em 1938 foi para o Madureira, onde formou com Lelé e Isaías, o trio que ficou conhecido como “Os Três Patetas”. Em 1943, seus dribles e lançamentos impecáveis levaram-no para o Vasco. Lá, foi campeão invicto em 1945. Em 1947, foi vendido ao Flamengo, time onde fez 62 gols em 87 jogos. Em19 49, após desentendimentos com dirigentes rubro-negros, o Palmeiras adquiriu seu passe.

Foi nesse período que Jair vestiu a camisa 10 da seleção brasileira e perdeu a Copa do Mundo de 1950. Compensando, ganhou o título estadual de 1950 e o torneio Rio-São Paulo de 1951. Em 1956 foi defender o Santos e formou um ataque que tinha Dorval, Jair, Pagão, Pelé e Pepe. Na equipe santista, conquistou os campeonatos paulistas de 1956, 1958 e 1960. Em 1962, foi para o São Paulo, onde encerrou sua carreira vitoriosa.

O clube já possuiu grande rivalidade com a Associação Atlética Barbará, da mesma cidade, e os jogos entre essas duas equipes já foram consideradas o "clássico" da cidade. Esta rivalidade diminuiu com a decadência que os clubes enfrentaram na década de 80, em especial o Barbará que ainda hoje sofre para se reerguer.

Ultimamente a rivalidade maior do Barra Mansa é com o Volta Redonda Futebol Clube, da vizinha cidade. Nas vezes em que se enfrentaram, o clima de animosidade entre os clubes foi evidente, bem diferente da cordialidade existente entre Barbará e Barra Mansa.
Outro clube rival do Barra Mansa é o Fênix Futebol Clube, também de Barra Mansa, fundado em 2005. Os dois times se encontraram na primeira fase da “Terceirona” Carioca.

Principais conquistas: Campeão Fluminense de Futebol (1953 e 1953, supercampeonato); Campeão Carioca , Grupo B da 1ª Divisão (1995); Campeão do Torneio Início do Campeonato Fluminense (1953); Campeão da Copa Vale do Paraíba (1953, 1958 e 1965); Vice-campeão Carioca da 2ª Divisão (1993 e 1996); Vice-campeão Fluminense (1955); Vice-campeão do Supercampeonato Fluminense (1955); Vice-campeão da Copa Vale do Paraíba (1967 e 1968); Vice-campeão da Copa Zico, Copa da Integração (2001); Semi-finalista do Torneio do Interior (1995).

O centenário do clube mereceu muita festa, o ano passado: Sessão Solene na Câmara de Vereadores, com entrega de diplomas a ex-jogadores, ex-presidentes, imprensa e colaboradores. Entre os jogadores homenageados estavam o mais antigo do clube, Silas Silva, 80 anos e Rubens de Souza, o Rubinho, 78 anos. Foram realizados jogos de futebol no Estádio Prefeito Ismael de Souza, no bairro Colônia Santo Antônio, reunindo atletas de todas as idades.

A festa teve seu auge com um churrasco, onde estiveram presentes a diretoria do clube, colaboradores, os ex-jogadores Joãozinho, Adilson, Zezé, Getulinho, Pedal, Paulinho Cupim, Luis Amaral, Chiquinho, ex-presidentes, autoridades políticas, imprensa e torcedores do clube. Na ocasião, o presidente Celestino Rezende, à frente do Leão do Sul desde março do ano passado, lembrou que o Barra Mansa ressurgiu e já participou da Terceira Divisão do Campeonato Estadual de 2008.

Os jogos do “Leão do Sul” apresentaram estes resultados: Barra Mansa 2 X 1 Cidadania; Paraíba do Sul 0 X 0 Barra Mansa; Barra Mansa 1 X 1 Fênix; Campo Grande 1 x 0 Barra Mansa; Cidadania 0 X 2 Barra mansa; Barra Mansa 1 x 0 Paraíba do Sul; Fênix 0 X 1 Barra Mansa; Barra Mansa 1 x 2 Campo Grande; Várzea 2 X 2 Barra Mansa; Sampaio Corrêa 0 X 0 Barra Mansa; Barra Mansa 5 X 0 Várzea; São João da Barra 3 X 0 Barra Mansa e Barra Mansa 5 X 3 Sampaio Corrêa.

O time não obteve a classificação, mas a boa campanha deixou a certeza de que muitas vitórias estão por acontecer. É o renascimento de um dos grandes clubes do passado, que ressurgiu no ano do seu Centenário.

O clube não participava de qualquer competição desde 2001. Mas antes, entre as décadas de 20 e 60, era tido como um furacão nos gramados, vencedor de vários títulos. Entre eles, o de campeão fluminense de 1953, organizado pela extinta Federação Fluminense de Desportos. Já nos anos 70 e 80, o clube passou totalmente em branco. Sua última participação em competições foi na Copa Zico, em Resende, cidade vizinha, já com uma equipe amadora. O torneio reuniu outras equipes do Sul do Estado, além do CFZ (do próprio Zico, representando a capital), único time profissional a participar.

Através o Projeto de Lei 1581/2008, de autoria da deputada estadual Inês Pandeló, o Barra Mansa Futebol Clube foi considerado patrimônio cultural e esportivo do Estado do Rio de Janeiro, para fins de tombamento de natureza imaterial. A parlamentar salientou que o Barra Mansa Futebol Clube é o mais tradicional clube de futebol do município de Barra Mansa, sendo considerado o primeiro time profissional de futebol de todo o país. Suas tradicionais cores, o azul e o branco, são as mesmas que ostentam a bandeira do estado do Rio de Janeiro. (Pesquisa: Nilo Dias)

Barra Mansa F.C. em 1968. Em pé: Agostinho - Wilson - Roberto Bocão - Ênio - Luiz Carlos - Canário e Café. Agachados: Tarugo - Doca - Mário - Maurinho e Bira. (Foto: Acervo do Barra Mansa Futebol Clube)

terça-feira, 2 de junho de 2009

O “Galo Azul” comemorou 100 anos

Quando o futebol começou a ser praticado no Brasil, as empresas ferroviárias paulistas tiveram uma participação importante na difusão do novo esporte. Muitas foram as equipes fundadas pela influência dos trilhos, entre elas a tradicional Ponte Preta de Campinas (1900), Pirassununguense (1907), Ferroviária de Araraquara (1950), Noroeste de Bauru (1910) e o já centenário Rio Claro Foot-Ball Club, da cidade de Rio Claro, fundado no dia 9 de maio de 1909, entre outras.

Conta o jornal “Alpha”, de Rio Claro, edição de 19 de maio de 1909, que foram quatro os fundadores do clube, o professor Joaquim Arnold e três empregados da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, Bento Estevam de Siqueira, Constantino Carrocine e João Lambach. Eles se reuniram na avenida 8, número 2, para fundação do clube que hoje é o terceiro mais antigo do Estado de São Paulo em atividade, ficando atrás apenas de Ponte Preta e Pirassununguense. Esses apaixonados desportistas sonhavam em transformar Rio Claro na capital do futebol.

A primeira diretoria do Rio Claro Foot-Ball Club estava assim constituída: Presidente, Celso de Lima; Secretário, José da S. Franco; Tesoureiro, Américo Mendes ; Procurador, Adelino de Oliveira ; Capitão, Fulgêncio de Godoy ; Vice-capitão, José Antonio Braga e Fiscais de Campo, Bernardino Brandão e Augusto Bull. Nos primeiros anos pós fundação, o Rio Claro realizou seus treinos e jogos no campo do Grêmio Recreativo dos Empregados da Companhia Paulista de Estradas de Ferro.

Um dos feitos mais memoráveis da história do clube aconteceu no dia 20 de setembro de 1914, quando enfrentou de igual para igual o S.C. Germânia, campeão paulista de 1906. O resultado de 1 x 1 fez com que o prestígio do rio Claro aumentasse consideravelmente. Em razão disso o time principal foi convidado para jogar em São Carlos, na inauguração do Ideal Club, recém fundado conforme noticiou o jornal "O Alpha", de 27 de setembro de 1914.

O mesmo jornal noticiou dias depois que o Rio Claro, jogando no gramado do Grêmio goleou impiedosamente o Club Vitória, da capital, por 8 X 0,. Os destaques do time foram João Gemignani e Nenê Marinho. Parque do Grêmio era o nome dado pelos diretores do Grêmio da Companhia Paulista para o espaço onde ficava o campo, o mesmo local que existe até hoje. A venda de bebidas era feita na área social, num local apelidado de “Botequim do Quintal.

Com a criação da Liga Oeste de São Paulo em 1915, também conhecida como Liga Regional D’Oeste, o Rio Claro participou pela primeira vez de uma competição oficial. A performance do time foi apenas regular, alternando bons e maus resultados. Foram adversários o Ideal Club de São Carlos, White Team de Campinas, Araraquara College, A.A. Bebedourense e Jaboticabal Atlético.

Em 1916 o Rio Claro disputou apenas partidas amistosas, mas contra equipes mais categorizadas. No dia 19 de março, em Rio Claro, empatou com o Paulista F.C. de Jundiaí por 3 x 3. Em 30 de abril foi até Ribeirão Preto e derrotou o Comercial por 2 X 0. No dia 27 de agosto, por ocasião ada inauguração de uma arquibancada no campo do Grêmio, recebeu e derrotou por 1 X 0, a A.A. das Palmeiras, campeão paulista da 1ª divisão de 1915 pela APEA, uma das entidades que organizava o campeonato estadual.

No dia 25 de dezembro, o Rio Claro deu um presente de Natal aos seus torcedores, levando até Rio Claro nada mais, nada menos, que o poderoso S.C. Corinthians Paulista. Com o campo completamente lotado, o time campeão paulista daquele ano pela LPF, a outra entidade que organizava o campeonato, venceu o amistoso por 3 X 2. O Rio Claro formou com: Tarante - Oscar e Ribeiro - João Gemignani - Lydio Camparoto e Collabone - Dario - Bento, Tonico, Nenê e Coli. O Corinthians Paulista jogou com: Casemiro- Fulvio e Casemiro II – Pollici – Plinio e César – Américo – Constantino – Amilcar - Marconi e Néco.

Em 1931, o Rio Claro inaugurou o seu próprio estádio, moderno para a época, no mesmo terreno onde hoje funciona o Espaço Livre. Em 16 de março de 1940, a praça de esportes ganhou um sistema de iluminação, que foi inaugurado num jogo contra a Ponte Preta, quando o Rio Claro conquistou a Taça Doutor Francisco Penteado. Ainda em 1940, o Rio Claro participou da fundação da Liga Municipal de Futebol de Rio Claro, sendo campeão do primeiro certame organizado pela nova entidade, no mesmo ano.

Em 1973 foi oficialmente inaugurado o atual estádio municipal Doutor Augusto Schmidt Filho, na época chamado estádio Doutor Álvaro Perin, com capacidade para 10.000 pessoas sentadas e considerado um dos melhores do interior paulista. O Rio Claro utiliza o estádio prioritariamente e por tempo indeterminado.

O Rio Claro é chamado de “Galo Azul” por sua entusiasmada torcida. O apelido se originou de uma verdadeira disputa de “galos” com o velho rival, Velo Clube, que era conhecido como “Galo Vermelho”, por causa de suas cores oficiais. A rivalidade entre ambos era tão grande que o Rio Claro também adotou um galo como mascote, mas com as cores azul e branco. Outros apelidos do clube são “Azulão” e " Aguinha", pois seu campo beirava as margens do córrego do Servidão.

Nessa sua centenária trajetória o Rio Claro conquistou importantes títulos. Pela Associação Paulista de Sports Athléticos (APEA): Campeão Regional (1931, 1935, 1936 e 1937); Pela Federação Paulista de Futebol (FPF): Vice-campeão paulista da 3ª Divisão (1971); vice-campeão paulista da 2ª Divisão (1973 ); Vice-campeão da Série B2 (2001); Campeão Paulista da Série B1 (2002); Acesso para a Série A2 (2005); Vice-campeão da Copa Federação Paulista de Futebol (FPF)valendo classificação para a Série C do Campeonato Brasileiro (2005). Apesar do acesso, o Rio Claro não disputou a Série C, ficando a vaga com o Grêmio Barueri; Acesso para a Série A1 (2006) e conquista da vaga para a série C do Campeonato Brasileiro (2007).

O clube é dono de um moderno centro esportivo, que conta com um conjunto aquático denominado “Clube Águas do Rio Claro”, que é administrado em parceria com a Tigre S.A. Tubos e Conexões. Trata-se de uma grande área de lazer, em um terreno de 25.000 m², que possui piscinas infantis e para adultos, vestiários masculino e feminino, quatro mini-campos de futebol, uma quadra de areia e uma poliesportiva. Conta ainda com bar social, quatro quiosques com churrasqueira, playground, ambulatório, saunas masculina e feminina e área de evento coberta.

O plano de expansão do complexo esportivo prevê a construção de novos espaços destinados a outras modalidades esportivas, além do futebol. Este trabalho já começou a render seus primeiros frutos, com alguns atletas da equipe de tênis de mesa aparecendo entre os 10 melhores do Brasil. O time de basquetebol infanto-juvenil também vem se destacando nas competições da categoria. (Pesquisa: Nilo Dias)

Time do Rio Claro, campeão regional de 1931. (Foto: Memorial do Rio Claro Futebol Clube)