Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

domingo, 26 de fevereiro de 2017

O futebol na Era Vargas

No final da década de 1930, houve a implantação no Brasil de um regime autoritário denominado “Estado Novo”, inspirado na ditadura de António de Oliveira Salazar em Portugal. Foi implantado por Getúlio Vargas sob a justificativa de conter uma nova ameaça de golpe comunista no Brasil.

Caracterizava-se por ser um regime nacionalista, antidemocrático, corporativo, autoritário e antiliberal, que tinha algumas semelhanças com o fascismo.

O Governo pregava a construção de uma nova nacionalidade, em que às atividades físicas fossem compreendidas como fundamentais na perspectiva de criação de um “homem novo” preparado para a construção de um “Brasil novo”, forte e saudável.

Desse modo, as práticas esportivas, sobretudo aquelas de maior alcance popular deveriam estar a “serviço da pátria”. A partir desse cenário, os jogos da seleção brasileira de futebol configuraram-se como instrumentos de possibilidades de divulgação do projeto do Estado Novo. Torcer pela equipe nacional, simbolizaria torcer pela nação.

O êxito no futebol ou em outras modalidades esportivas foi amplamente explorado também, por outros países da Europa, simpáticos aos regimes de inspiração totalitária, e não apenas pela
Itália e Alemanha.

Os jogos olímpicos realizados em Berlim em 1936 revelaram essa
perspectiva. Aliás, foi exatamente na Copa do Mundo de futebol de 1934, e nos jogos olímpicos de 1936 que Itália e Alemanha, se proclamaram como “países fortes”.

Sabe-se que Benito Mussolini, presente no estádio de Roma por ocasião da final da Copa de 1934 entre Itália e Tchecoslováquia, prometeu “uma grande recompensa aos jogadores italianos se vencessem, e um terrível castigo se perdessem”.

Na Copa do Mundo de 1934, Adolf Hitler “convocou” os
atletas da Alemanha para que se dedicassem ao máximo, a fim de que eles demonstrassem, através dos esportes, a “superioridade racial” dos alemães.

Na disputa do campeonato mundial de 1938, novamente Hitler se utilizou do futebol como um instrumento de propaganda política do regime nazista. Tal como em outras circunstâncias, a prática do futebol foi objeto dos interesses políticos da Alemanha nazista.
Em 1999, Ulrich Lindner e Gerhard Fischer publicaram um livro chamado “Os atacantes de Hitler”, no qual são narradas as várias situações da relação entre futebol e nazismo na Alemanha.

Embora explorado por Hitler, como elemento de legitimidade do seu governo, o futebol alemão não conquistou a medalha de ouro, nem na olimpíada de Berlim, tampouco o campeonato de futebol
de 1938. Coube à Itália, a conquista dos dois torneios.

O Governo Vargas pregava a política de unidade nacional. E para tal usou até de cerimônias públicas para propagara essa ideia. Em uma dessas cerimônias, Vargas e alguns chefes estaduais colocaram-se em frente de uma urna prata, proferiram discursos em prol da unidade nacional, enquanto representantes de todos os Estados nela depositaram, um após o outro, punhados de terra.

Outra cerimônia, essa bem mais conhecida, foi a “das Bandeiras”, realizada na Esplanada do Russell, no Rio de Janeiro, menos de um mês depois do golpe de 10 de novembro de 1937.

Seu objetivo era propagar o artigo 2º da Constituição, que proibia o uso de quaisquer símbolos, hinos e bandeiras que não fossem os nacionais. Na ocasião as 21 bandeiras estaduais foram queimadas em uma grande pira colocada no centro da praça. 

Em seguida outras 21 bandeiras nacionais foram hasteadas em substituição àquelas, enquanto o maestro Heitor Villa Lobos regia um conjunto de várias bandas e um coro de colegiais na execução do Hino Nacional.

O futebol brasileiro, de estilo individualista e exibicionista, não se curvou à tentativa do governo de Getúlio Vargas em usá-lo como instrumento político.

A historiadora Melina Pardini lembra que, apesar de o Estado Novo – período de 1937 a 1945, em que Vargas impôs um governo autoritário – tentar concretizar o seu projeto de construir uma nação ordenada e disciplinada com o futebol, havia muitos aspectos do esporte que afrontavam esse plano.

Melina Pardini apresentou na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), da Universidade de São Paulo (USP), o estudo de mestrado “A Narrativa da Ordem e a Voz da Multidão: Futebol na Imprensa durante o Estado Novo.”

Segundo ela, o Governo de Getúlio Vargas utilizava alguns métodos considerados eficazes, para propagar a sua ideologia através do futebol. Um deles era o controle da mídia, que só publicava o que lhe interessava.

O futebol era visto como o esporte nacional e servia de instrumento político, pois poderia ajudar na ideia de um projeto de construção de uma nação ordenada e disciplinada, embora o estilo individualista do brasileiro jogar, a chamada “malandragem”.

E isso ficou evidenciado por Leônidas da Silva, que era conhecido por “Diamante Negro”. Tratava-se de um negro, que tinha na malandragem sua maior virtude. E isso desagradava a política do “Estado Novo” que pregava a superioridade do homem branco, a disciplina e a coletividade.

Leônidas, além de um extraordinário jogador era idolatrado pela população, especialmente os mais pobres. O governo buscou formas de diminuir a popularidade do jogador, com a imprensa dizendo que ele era um “mestiço a serviço da nação”.

A pesquisadora também lembrou outros artifícios de controle do Estado Novo, como a inauguração do estádio do Pacaembu, em 1940, onde era exaltada a participação de Vargas na construção da obra.

A presença brasileira na Copa do Mundo de 1938, com uma Seleção verdadeiramente nacional, já que em 1930 e 1934 as brigas entre as Federações do Rio e São Paulo não permitiram isso, foi tratada como uma prova de unidade nacional.

E o Governo tirava proveito disso, espalhando que foi ele que propiciou a criação de uma seleção com os melhores jogadores para promover o futebol brasileiro no exterior.

Melina destacou a importância da rivalidade regional existente na época entre Rio de Janeiro e São Paulo. E isso era tão grande que até os jornais trocavam ofensas quando times dos dois locais se enfrentavam. O que acabou prejudicando a ideia governamental de união nacional através do esporte.

A pesquisadora usou como instrumentos para viabilizar seu trabalho, três jornais de grande circulação na época, “Correio Paulistano”, de São Paulo e “Gazeta de Notícias” e “Jornal do Comércio”, do Rio de Janeiro.

E ainda dois jornais esportivos, a “Gazeta Esportiva”, de São Paulo e “Jornal do Esporte” e “Gazeta Esportiva”, do Rio de Janeiro. Ela analisou todas as publicações desses jornais na época. (Pesquisa: Nilo Dias)


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Estádio Serra do Lago


Logo que cheguei em Sobradinho (DF), onde estou até hoje, morei em uma casa nas proximidades do Estádio Augustinho Lima. E criei o hábito de assistir todos os jogos do Sobradinho Esporte Clube. E fiz amizade com o presidente do clube na época, Manoel Espiridião, o “Manoelzinho”, um ex-jogador de futebol, que entre outros cubes, andou pelo América, do Rio de Janeiro.

E fui convidado a fazer parte da Diretoria, embora nunca tenha sido feita uma reunião. O Manoelzinho reinava absoluto, não ouvia opinião de ninguém. O que fazia com que cargo de Diretoria e nada fosse a mesma coisa.

Mas aproveitei o meu cargo decorativo para acompanhar o clube em seus jogos pelas cidades satélites do Distrito Federal. Viajava sempre no ônibus da delegação. E conheci muitas dessas cidades e até algumas de outros Estados, visto que o “Candangão” conta com agremiações de Goiás e até de Minas Gerais.

E em duas dessas andanças estive em Luziânia, Goiás, terra do ex-governador Joaquim Roriz. E parece que quase tudo por lá gira em torno dessa família de políticos. Joaquim foi eleito vereador e prefeito na cidade. Zequinha Roriz, seu parente, também foi prefeito por duas vezes.

E foi ele que construiu e inaugurou o “Estádio Serra do Lago”, cujo nome oficial é “Zequinha Roriz”. Tem capacidade para receber até 21.564 torcedores, 13.212, nas arquibancadas e 8.352, na geral. A “Tribuna de Honra” tem capacidade para 377 cadeiras e é totalmente coberta. É o maior estádio do Entorno do Distrito Federal e um dos melhores do Estado de Goiás.

O que impressiona é o formato das arquibancadas, que possuem 50 degraus de 80 centímetros cada. Subir aquilo, que parece um tobogã, não é tarefa fácil, ainda mais para idosos que nem eu. Mas a verdade é que lá de cima se tem uma visão magnífica do gramado.

Essas arquibancadas foram construídas através do nivelamento feitos na própria "serrinha", o que proporcionou um desnível das cabines de transmissão de rádio e televisão até o gramado.

O apelido “Serra do Lago” foi escolhido em concurso público promovido pela Secretaria de Desporto e Turismo. Cerca de 700 pessoas votaram, sendo que 170 optaram por “Serra do Lago”. Ainda teve gente que sugeriu “Gigante da Serrinha”, “Serra do Ouro” e “Rorizão”. A moradora Cilene Augusta de Souza ganhou o prêmio de CR$ 500.000,00.

O estádio conta com oito vestiários, dois para clubes visitantes e dois para agremiações locais, um para árbitros, um para gandulas, um para o Departamento Médico e um para almoxarifado e rouparia, todos com estacionamento privativo.

Foi a Polígono Engenharia e Construções Ltda a empresa que construiu o estádio. Cerca de 200 homens trabalharam durante oito meses na obra, que consumiu 33 mil sacos de cimento e 200 toneladas de ferro.

O estádio tem amplo espaço para os blocos das bilheterias, sanitários, lanchonetes, cabines de rádio e televisão e estacionamento para 1.300 veículos.

A primeira vez que estive no “Serra do Lago” estava acompanhado do saudoso amigo “Marrom”, uma espécie de torcedor símbolo do Sobradinho, que era “pandeirista” de primeira.

Chegamos bem antes do jogo e aproveitamos para dar uma volta nas proximidades do estádio. E encontramos um bar onde aproveitamos para derrubar umas loiras geladas, pois estava calor e ninguém é de ferro.

O jogo de inauguração do estádio foi entre Luziânia X Botafogo, do Rio de Janeiro, disputado dia 13 de dezembro de 1992, assistido por um grande público, calculado em 10 mil pessoas, inclusive com torcedores vindos de cidades vizinhas.

Foi uma grande festa, que teve até desfile das equipes mirins (escolinhas), descidas de paraquedistas de Brasília, discursos, chuva forte e muitas homenagens.

O Luziânia surpreendeu e venceu o jogo por 1 X 0, com gol marcado por Rogerinho, aos 36 minutos da primeira etapa, o primeiro na história do “Serra do Lago”.

O árbitro do jogo foi Dario Souza Campos, auxiliado por Antônio Vidal e Filomeno Dourado. A renda somou Cr$ 135.113.000,00 e o público pagante foi de 6.755 pessoas.

Foram expulsos de campo os jogadores Nélson, Vivinho e Marcão, todos do Botafogo.

Luziânia: William Stain - Marcelo Roriz – Gilmar - Eduardo Gaúcho e Marquinhos. Luciano - Carlos Alberto e Zé Carlos. Zé Vieira (Ed Carlos) - Marcelo Cruz e Rogerinho (João Cortes). Técnico: Sidney Nascimento.

Botafogo: Zé Carlos – Marcão – André - Rogério Pinheiro e André Duarte. Pingo - Djair e Macalé. Vivinho - Bob (Marcelo Carioca) e Nélson. Técnico: Joel Martins.

A inauguração dos refletores aconteceu em 15 de junho de 1993, no jogo Luziânia X Goiás, válido pelo Campeonato Goiano, que terminou empatado em 0 X 0.

A Associação Atlética Luziânia foi fundada no dia 20 de janeiro de 1995, com a finalidade de participar do Campeonato Brasiliense de Futebol Profissional, sendo campeã em 1914 e bi em 2016. O símbolo do clube é a igreja do Rosário. (Pesquisa: Nilo Dias)

O "Serra do Lago" é um bonito estádio. (Foto: Divulgação)

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

O lado sujo do futebol

Hoje em dia, quando suborno, propina, compra de resultados e uma infinidade de situações escabrosas envolvendo o futebol brasileiro, nos dá uma idéia de que é resultado dos tempos modernos, em que a corrupção se mostra presente em praticamente toda a sociedade brasileira.

Mas não é bem assim. Já ao final da década de 1920 nos deparamos com a primeira suspeita de suborno em nosso futebol. Aconteceu no Rio de Janeiro, em 1929 quando o proprietário do Café Estrela d’Alva foi preso em flagrante, ao tentar subornar três jogadores do América, Sobral, Joel e Pennaforte, à véspera de um jogo final contra o Vasco da Gama.

O jornal “O Globo”, edição de 29 de novembro de 1929 noticiou que foram os próprios atletas que tomaram a iniciativa de comunicar o fato a Polícia. O comerciante foi preso ao entregar 20 contos de réis.

Mas nem precisava ter ocorrido a tentativa de suborno, visto que o Vasco ganhou de goleada, 5 X 0. Ao final do jogo muitas suspeitas recaíram sobre os jogadores americanos, Floriano e Osvaldinho, mas não foram levadas adiante por falta de provas.
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Bem antes disso teve outro caso, quando da tentativa de se estabelecer uma competição envolvendo os campeões carioca e paulista. A primeira edição foi em1914, entre Paulistano X América, campeões de 1913.

O América tinha em seu grupo os jogadores uruguaios, A. e J. Bertoni, que eram irmãos e haviam sido protagonistas do primeiro caso de “falso amadorismo”, segundo disseram os jornalistas Tomás Mazzoni e Rubens Ribeiro.

A primeira partida foi realizada no dia 24 de maio de 1914, no Velódromo, e o Paulistano venceu por 3 X 2. O jornal carioca “O Imparcial”, no dia seguinte ao jogo levantou a suspeita de que os dois uruguaios tinham sido subornados pelo Paulistano.

O clube paulista reagiu, acusando o América de ser responsável pelos boatos. Este, por sua vez, não aceitou a acusação. Como consequência os dois romperam relações, e a segunda partida não foi realizada, e o título não foi ganho por ninguém.

Por via das dúvidas, o América afastou os uruguaios sob a justificativa de “disciplina de ordem interna”.

Os dois jogadores foram trazidos para o Brasil em 1912, por iniciativa do S.C. Americano, de São Paulo. Com eles o time ganhou no mesmo ano o título paulista de forma invicta.

Outras denúncias mais recentes de subornos no futebol. O jornal “O Liberal”, de Belém do Pará, em sua edição de 12 de novembro de 2003 publicou matéria em que o ex-presidente do Paysandu, Miguel Alexandre Pinho, contou que o clube bicolor subornou árbitros para conquistar o Campeonato Paraense de 2000 e os brasileiros da Segunda Divisão de 1991 e 2001.

Miguel Pinho disse que o árbitro Wagner Tardelli esteve envolvido no esquema do “Parazão” de 2000, tendo dirigido o primeiro jogo da final frente o Castanhal. O “Papão” venceu por 1 x 0 com um gol de pênalti, nos acréscimos. No lance seguinte Edil quase empatou, carimbando a trave. Tardelli teria dito a Miguel que se fosse gol ele teria anulado.

Também contou ter havido esquema para beneficiar o Paysandu no clássico contra o Remo, em que este precisava vencer por dois gols e ganhou por 1 X 0, mas teve um gol legítimo de Robinho anulado pelo bandeirinha.

O ex-presidente do Paysandu se incluiu entre os cartolas que praticavam suborno. Ele revelou que tentou subornar Mário Fernando, ex-goleiro de Paysandu, Remo e Tuna, quando o jogador atuava por um time pequeno (Sport Belém ou Pinheirense), mas não teve êxito. Segundo Pinho, Mário Fernando não quis conversa.

Sobre os dois títulos da Série B conquistados pelo Paysandu em 1991 e 2001, Miguel Pinho afirmou com todas as letras que o clube bicolor se beneficiou de fortes esquemas. Citou o árbitro baiano Manoel Serapião Filho, referindo-se a ele como “Serapapão”.

No jogo contra o ABC, Serapião realmente “fez chover”. Anulou um gol legal do ABC, marcado por Rildon, e, de quebra, permitiu que o jogo chegasse ao final sem o mínimo de segurança. “Existem dois tipos de torcida, a pacífica e a aguerrida. A do Paysandu é pacífica”, justificou Serapião, para dar continuidade à partida, vencida pelo Paysandu por 3 X 1.

Na década de 40, o São Cristóvão tinha um goleiro que, quando queria, pegava até pensamento. Mas do ponto de vista da honestidade não era lá muito confiável. Na véspera de um jogo contra o Botafogo, que precisava vencer para continuar na disputa do título com o Flamengo, ele teria se oferecido ao presidente botafoguense, João Lyra Filho (que na época também era ministro), para amolecer o jogo. Indignado, o dirigente recusou a oferta, considerando-a um insulto.

No dia seguinte, o goleiro fechou o gol e o jogo terminou empatado. Ao cruzar com João Lyra, teria comentado, ironicamente: “Tá vendo, doutor? É o que dá bancar o honesto. Se o senhor tivesse me ouvido, agora não estaria aí desse jeito, com cara de perdedor arrependido.”

Em São Paulo, ficou famoso o caso do zagueiro corintiano Jaú, que em 1932 teria sido "cantado", como se dizia à época, para facilitar uma vitória do então Palestra Itália, atual Palmeiras. Além de não aceitar o suborno, Jaú armou um encontro para que a pessoa que tentou suborná-lo fosse apanhada em flagrante.

Daquele episódio, restou uma triste e preconceituosa brincadeira entre os torcedores dos dois times, registrada por João Máximo na primeira edição de seu livro “Gigantes do Futebol Brasileiro”, no perfil do ex-craque palestrino Romeu Pellicciari: "Quem é rico compra, quem é pobre se vende".

Também nos anos 40, havia um árbitro argentino que andou apitando jogos do Campeonato Carioca e não pensava duas vezes antes de se vender. Tanto que na semana de um clássico contra o Fluminense o pessoal do Botafogo soube que ele havia "fechado negócio" com o Tricolor. Chamado, o juiz confirmou, mas de dispôs a mudar de lado caso cobrissem a proposta que lhe havia sido feita, o que foi acertado na hora.

No dia do jogo, o Fluminense fez o primeiro gol. O juiz argentino arranjou um pênalti para o Botafogo, que empatou. O Flu passou de novo à frente, e de novo o juiz deu um pênalti, que o Botafogo voltou a converter. Mas não teve jeito, porque no último minuto o Fluminense acabou fazendo o gol da vitória.

"Maldita hora em que troquei o certo pelo duvidoso", teria confessado o juiz a seus amigos de bar. "Esse time do Botafogo é tão incompetente que não consegue ganhar nem jogo comprado..." (Historinhas de suborno – de Celso Unzelte)

Nem o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, escapou das nuvens negras que pairam sobre o futebol. Ele, junto de mais seis cartolas ligados a Fifa, foram presos em 2015 pela Polícia da Suíça a pedido da justiça dos Estados Unidos sob a acusação de corrupção e diversos outros crimes.

Os suspeitos foram detidos num hotel em Zurique, sob suspeita deterem recebido propina sobre  a votação para escolha das sedes das Copas de 2018 e 2022.

Os outros dirigentes detidos na Suíça, além de Marin, foram Jeffrey Webb (Ilhas Cayman), presidente da Concacaf; Eugenio Figueredo (Uruguai),ex-presidente da Conmebol;  Julio Rocha (Nicarágua), presidente da Federação Nicaraguense; Costas Takkas, braço-direito do presidente da Concacaf; Rafael Esquivel, presidente da federação da Venezuela e membro do Comitê Executivo da Conmebol; e Eduardo Li, presidente da Federação da Costa Rica.

Contar histórias de clubes, juízes, dirigentes e jogadores envolvidos em situações de suborno, certamente daria um grosso livre. Ficam as situações contadas acima, apenas como registro de que nem só de santos vive o futebol, de ontem e de hoje. (Pesquisa: Nilo Dias)

Nem o ex-presidente da CBF, José Maria Marin escapu da sujeira no futebol. (Foto: Divulgação)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Tragédias do futebol

Foram muitas as tragédias verificadas em estádios de futebol no decorrer dos anos. A maior delas até hoje envolveu um jogo entre Peru X Argentina, pelas eliminatórias da Copa do Mundo , no Estádio Nacional de Lima.

O jogo se transformou no motim oficial de futebol mais mortal da história. Depois de um gol do Peru ser anulado pelos árbitros, os torcedores ficaram violentos, o que levou a polícia a intervir com gás lacrimogêneo para tentar dominar a revolta. No final, 318 pessoas morreram, ao tentarem escapar da cena pelas saídas do estádio que estavam fechadas.

Num jogo entre as equipes do Accra Hearts of Oak, de Acra, contra o Assante Kotoko, de Kumasi, clubes de Gana, disputado no  Estádio Accra, em maio de 2001, ocasionou a morte de mais de 120 pessoas.

No final do jogo a torcida do Assante Kotoko, que perdia por 2 X 1,  começou a atirar garrafas e outros objetos no campo. A polícia respondeu jogando bombas de gás lacrimogêneo. O pânico tomou conta e aconteceu um tumulto que ocasionou as mortes. Essa foi a quarta tragédia fatal relacionada a futebol em solo africano em um mês.

Nem todas as catástrofes esportivas são causadas por torcedores. Em 1988, quando começou a cair granizo durante uma partida no estádio nacional de futebol em Katamandu, Nepal, os torcedores correram em busca das saídas para evitar serem apedrejados.

Das oito saídas disponíveis, a multidão de 30 mil pessoas só pode acessar uma para escapar, resultando na morte de 93 torcedores por sufocamento ou esmagamento.

Em 1996, a partida de qualificação para a Copa do Mundo entre Guatemala e Costa Rica se tornou mortal depois que milhares de torcedores que haviam comprado ingressos falsos tentaram forçar a entrada ao estádio na Cidade da Guatemala.

Sem nenhum lugar para ir, e cercadas por torcedores raivosos que se tornaram violentos, cerca de 80 pessoas foram sufocadas ou esmagadas até a morte no tumulto.

Em fevereiro de 2012 o que deveria ter sido um jogo de futebol normal em Port Said, no Egito, entre o time local Al-Masry e o Al Ahli, do Cairo, acabou em desastre, depois de uma briga que tirou a vida de mais de 70 pessoas e feriu pelo menos mais 1.000.

A tragédia abalou a nação politicamente frágil, que culpou pelo tumulto o governo, as forças de segurança, o conselho da federação de futebol e os próprios torcedores. Revoltas no futebol do Egito estão entre as mais violentas da história.

Nos momentos finais de um jogo entre o FC Spartek e o HFC Haarlem, no Estádio Luzhniki, na Rússia, em 1982, os torcedores que estavam amontoados em uma seção do estádio com saída única devido a uma frequência menor do que a esperada, começaram a deixar o local com a vitória de 1 X 0 de seu time.

Quando a equipe do Spartek marcou o segundo gol, alguns torcedores tentaram voltar para o jogo, sem espaço para tanto. A emoção do gol, a estreiteza da saída e a falta de visibilidade da via do estádio para o exterior criaram uma situação de pânico em que até 340 pessoas teriam morrido (embora o número oficial de mortes permaneça em 60 e poucas), de acordo com o The Guardian.

Em 1985, no Estádio Heysel, na  Bélgica, o jogo final da Taça dos Campeões Europeus entre Juventus e Liverpool causou tantos danos que, na sequência, os clubes ingleses de futebol foram proibidos de competir na Europa continental por pelo menos cinco anos.

A tragédia começou quando fanáticos torcedores de futebol britânicos tentaram forçar seu caminho para a área do estádio onde se situava a torcida italiana, antes do apito inicial. Ambos os lados já haviam assediado um ao outro atirando projéteis no campo.

Quando os torcedores britânicos atacaram, os do Juventus foram encurralados contra um muro de concreto. Alguns tentaram escalar o muro para fugir, enquanto outros foram esmagados. O muro finalmente desmoronou sob a força dos torcedores.

No final, 39 pessoas morreram, além de ocorrerem cerca de 600 lesões corporais. As equipes ainda entraram em campo, apesar da tragédia, com o Juventus saindo à frente do Liverpool com um resultado de 1 X 0.

Também vale a pena lembrar de mortes trágicas ocorridas em campos de futebol, envolvendo jogadores e outras pessoas com algum relacionamento nos jogos.

As mortes de Marc Vivien Foe, Miklos Feher, Antônio Puerta, Serginho e Piermario Morosini provocaram discussões em torno do tema e trouxeram imagens terríveis para todos os torcedores.

Em 1985, o coração de Jock Stein, treinador irlandês, não aguentou a emoção da partida de sua seleção contra o País de Gales, na rodada final das Eliminatórias da Copa, e parou de bater ainda no estádio Ninian Park, em Cardiff.

A primeira morte que se tem notícia acontecida devido a acidentes no gramado foi a de William Cropper, em 1889. Ele, que atuava pelo Staveley e também jogava cricket, colidiu com o joelho de Dan Doyle, jogador do Grimsby Town. A colisão resultou em uma ruptura intestinal e o jogador morreu ainda nos vestiários, nos braços de um companheiro de equipe.

Ainda nos primórdios do futebol, alguns jogadores morreram de uma forma inusitada: contraindo tétano. Foi o caso de James “Daddy” Dunlop, que em 1892 pisou em um pedaço de vidro.

Outros jogadores lesionaram-se durante partidas e devido às lesões contraíram tétano que os vitimou. Foi o que aconteceu com Joe Powell (1896), James Collins (1900) e Tom Butler (1923).

Essa morte não foi durante a partida, mas foi no centro do gramado do Estádio Parque Central, em Montevidéu, local onde foi disputada uma das duas partidas inaugurais da Copa do Mundo de 1930, entre EUA e Bélgica.

Abdón Porte era um meio-campista talentoso, que venceu a Copa América de 1917, com o Uruguai. No ano seguinte, ele seria reserva do Nacional, clube em que jogava, mas não aceitou a notícia de forma feliz.

Após uma vitória sobre o Charley, em 4 de março de 1918, jogadores e dirigente se reuniram na sede do clube para comemorar a vitória. Porte foi até o Parque Central, chegou ao círculo central do gramado e atirou contra seu coração, tirando a própria vida.

Diversos atletas foram vitimados por raios durante partidas. O primeiro caso que se tem notícia foi o de Tony Allden, do Highgate United, durante um jogo das quartas de final da FA Cup de amadores, contra o Enfield Town.

Em 1984, Erik Jongbloed, filho de Jan Jongbloed, goleiro vice-campeão mundial em 1974 e 1978, teve o mesmo fim, assim como os colombianos Hernán Gaviria (que disputou a Copa de 1994) e Giovanni Córdoba, ambos do Deportivo Cali, em treinamento da equipe no ano de 2002.

Em 1998, uma curiosa notícia surgiu em um jornal da República do Congo, o L’Avenir, e repercutiu no mundo todo, inclusive em sites como a BBC e a CNN. Então, acredita-se que tenha realmente acontecido. Como havia uma guerra civil no leste do país, onde aconteceu a partida, não há confirmação oficial do fato.

Em uma partida entre as equipes do Bena Tshadi e Basanga, um raio teria matado todos os 11 jogadores do Tshadi. Porém, a nota original do jornal fala em “pelo menos 11 mortos, entre 20 e 35 anos, durante o jogo” e ainda que “os atletas do Basanga sobreviveram à catástrofe intactos”.

Portanto, diferente do que sempre foi publicado na mídia, pode sim ter havido mortos do Bena Tshadi, mas aparentemente nos 11 mortos havia também expectadores. Cerca de 30 outros expectadores foram atendidos também.

Sempre se diz que o pênalti é a pena máxima do futebol. No caso de um goleiro argentino, essa também foi sua pena fatal.

Em 24 de abril de 1992, Vicente Vásquez, goleiro do Chacarita Garuhapé, tinha contra ele um pênalti em uma liga local argentina. Vásquez acertou o canto e defendeu a penalidade, com a bola batendo em seu peito.

Porém, o arqueiro nunca conseguiu comemorar. Seu coração não deixou, e Vásquez faleceu em campo, vitimado por uma parada cardiorrespiratória.

Se já falamos em defesa de pênalti, temos que falar também da emoção do gol. Ao marcar contra o Mohun Bagan, o brasileiro Cristiano Júnior, do indiano Dempo Sports, levou uma forte pancada do goleiro adversário Subrata Paul.

Seu time venceu o jogo e conquistou a Copa da Federação de 2004 (2×0), mas Cristiano perdeu a vida ainda em campo. A autópsia apontou um ataque cardíaco. O goleiro adversário, responsável pelo choque, foi suspenso por apenas dois meses.

O croata Goran Tunjíc, do Mladost Buzin, sofreu um infarto e caiu morto no gramado na partida contra o Hrvatski Sokola, em 2010, em campeonato de quinto nível do futebol local.

Trata-se de mais um caso trágico, mas que não se destacaria das outras, não fosse por um pequeno detalhe: o árbitro da partida teria dado cartão amarelo ao jogador, quando este já estava praticamente morto, por simulação.

Essa é a história oficial. Alguns repórteres foram tentar confirmar a informação no clube alguns dias depois do ocorrido e os dirigentes informaram que o lance se deu longe do árbitro e que o cartão não teria sido mostrado. De qualquer forma, a história entra na lista das mais curiosas. (Pesquisa: Nilo Dias)

Na tragédia do Egito, familiares buscavam notícias. (Foto: Revista "Veja")