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segunda-feira, 24 de junho de 2019

Maradona, "el Pibe de Oro" (1)

Diego Armando Maradona Franco nasceu em Lanús, Argentina, no dia 30 de outubro de 1960. É considerado o maior jogador do futebol argentino de todos os tempos e um doa melhores do mundo, ficando atrás só do brasileiro Édson Arantes do Nascimento, o “Pelé”, embora seus conterrâneos não concordem com isso.

Aos nove anos, seu talento com a bola já o fazia ser a criança mais popular da favela em que morava, no subúrbio de Buenos Aires. Um colega havia sido aprovado em um teste para as categorias de base do Argentinos Juniors, e respondeu aos elogios do treinador dizendo que conhecia um garoto ainda melhor.

O treinador, Francis Cornejo, deu-lhe então 10 pesos para que pedisse a esse outro jovem para ir vê-lo. Cornejo e outros observadores do clube, incrédulos com o que viram no outro menino, foram acompanhá-lo na volta até a casa deste e, pedindo à mãe dele, conferiram sua documentação para desfazer qualquer engano plausível. Viram que Maradona realmente tinha apenas nove anos de idade.

Os pais foram então convencidos a colocar Maradona no Argentinos, clube pequeno da capital, mas famoso pelo bom trabalho que desenvolvia com as categorias de base. Com 15 anos, disputava partidas preliminares, já atraindo multidões.

Quando finalmente foi lançado entre os profissionais, não saiu mais. Demonstrava um repertório completo certeiro com a sua mágica perna esquerda: lançamentos, passes, dribles curtos, chutes certeiros de curta e longa distância, cobranças de falta e escanteios.

Aos 17 anos, recebeu a primeira convocação para a “Seleção Argentina”, da qual foi polemicamente cortado na “Copa do Mundo de 1978”.

1978 também significou o ano em que foi pela primeira vez artilheiro do “Campeonato argentino”. Em 1979, foi artilheiro tanto do “Campeonato Argentino” quanto do “Campeonato Metropolitano”, torneio que reunia os clubes da "Grande Buenos Aires" e que era na época considerado mais importante até do que o “Campeonato Nacional”. Naquele ano, foi eleito pela primeira vez o melhor jogador sul-americano.

A dose repetiu-se em 1980: Maradona foi artilheiro dos dois campeonatos e eleito outra vez o melhor jogador da América do Sul, com o adicional de ter levado o Argentinos Juniors ao vice-campeonato nacional, melhor resultado do clube até então.

O Boca Juniors, que não conseguia títulos argentinos desde 1976, resolveu ir atrás dele, no que era a realização de um sonho para o jogador: Maradona sempre fora um torcedor “Xeneize” fanático. Jamais seria esquecido, todavia, na equipe que o revelou: o Argentinos renomeou seu campo para “Estádio Diego Armando Maradona”.

E foi em um amistoso contra o Argentinos que Maradona fez sua estreia pelo Boca, marcando de pênalti, atuando pelos dois times. Parte da concordância do Argentinos em emprestá-lo estava em uma cláusula do contrato de venda em que proibia que Diego enfrentasse a antiga equipe em jogos oficiais.

Naquele ano de 1981, com o Boca, Maradona fez grande dupla com Miguel Ángel Brindisi, com os dois marcando juntos 33 dos 60 gols que reconduziram o time ao título metropolitano - a primeira conquista do clube auriazul em cinco anos. Maradona também marcou em seu primeiro Boca X River, em um 3 X 0.

Maradona chegou à Catalunha como um messias. O Barcelona vivia carência de títulos desde o final da década de 1950. Desde 1960, só conseguira vencer o “Campeonato Espanhol” em 1974. Via o rival Real Madrid se distanciar cada vez mais no ranking de vencedores e ainda sentia o Atlético de Madrid aproximando-se, com um título a menos.

Na primeira temporada, Maradona enfrentou o primeiro problema: em dezembro de 1982, sofreu de hepatite e ficou de fora dos campos por três meses. O time terminou apenas em quarto; o título de 1982–83 ficou com o Athletic Bilbao.

Na “Copa do Rei”, porém, decidiu a final contra o Real Madrid, marcando nos dois jogos da decisão e foi aplaudido de pé pela torcida do arquirrival após a vitória por 2 X 1 em pleno “Santiago Bernabéu”. Na partida de ida, no "Camp Nou", o Barcelona havia deixado o rival empatar após estar vencendo por 2 X 0.

Mal começou a segunda temporada e, num jogo contra o Athletic, sofreu uma entrada desleal do adversário Andoni Goikoetxea e fraturou o tornozelo esquerdo. O astro levou 106 dias para retomar o futebol.

Quando voltou, conduziu a equipe ao caminho do título. No entanto, por um ponto, a taça ficou com o Athletic. Ambos os times decidiram também a “Copa do Rei”, e um novo dia ruim contra a equipe basca (que vencia por 1 X 0) fez Maradona surtar. Ele protagonizou uma briga generalizada entre os jogadores.

Maradona, que já não tinha um relacionamento bom com a diretoria do Barcelona, foi praticamente descartado por ela após receber uma suspensão de três meses em razão da confusão.

E então foi aceita a oferta do pequeno Napoli, da Itália. Desgostoso com o que julgou como falta de esforço do clube em defendê-lo nos tribunais, Maradona acatou a transferência, encerrando um ciclo de dois anos de altos e baixos no “Camp Nou”.

O atleta declarou em sua autobiografia, “Yo Soy Diego”, que o presidente Josep Lluís Núñez tinha inveja de sua popularidade e foi o principal responsável direto por sua saída do Barcelona.

No livro, Maradona também apontou a coleção de fatores que o impediram de triunfar no clube espanhol: desde a hepatite e lesões e até gostar mais de Madrid.

Ele também revelou que foi na “Catalunha” que começou seu relacionamento com as drogas. Aceitou a proposta do Napoli pois também estava arruinado financeiramente. Chegou a doar a casa que tinha em Barcelona para pagar suas dívidas.

Embora tradicional, a equipe napolitana era minúscula. Seus troféus resumiam-se a títulos nas divisões inferiores e a duas conquistas na "Copa da Itália".

Maradona foi logo amado e venerado como um rei, chegando de helicóptero a um “Estádio San Paolo” tomado por torcedores que ainda custavam a acreditar.

Ele, curiosamente, poderia ter chegado antes ao time: o clube o havia sondado em 1979, quando ainda estava no Argentinos Juniors, mas recusara a proposta na época. "Para mim, Napoli era apenas uma coisa italiana, como pizza", comentou.

Na primeira temporada, o clube ficou apenas em oitavo, mas somente 10 pontos atrás do campeão Verona. Na segunda, a de 1985–86, conseguiu um terceiro lugar. Sua terceira temporada começou com ele já consagrado em todo o planeta, com a conquista da “Copa do Mundo de 1986”.

Em setembro, porém, surgiu a primeira grande polêmica extracampo: sua ex-empregada doméstica, Cristina Sinagra, denunciou que Maradona era o pai do filho que ela teve. 

A paternidade foi confirmada posteriormente na justiça. O filho, Diego Sinagra (também conhecido como Diego Armando Maradona Jr.), jamais foi assumido e os dois só teriam seu primeiro encontro em 2003.

Ainda assim, na temporada 1986–87 Maradona deu ao Napoli seu primeiro título na "Serie A", sobre a poderosa Juventus. A festa terminou completa no clube e na vida pessoal: paralelamente, o Napoli foi também campeão da “Copa da Itália”, e nasceu sua filha Dalma (batizada com o mesmo nome da mãe de Diego).

Na temporada seguinte, Maradona, com 15 gols, alcançou a artilharia do campeonato. O vice-artilheiro foi "Careca", com 13. O bi, porém escapou por três pontos: o título ficou com o Milan.

Na temporada 1988–89, o campeonato italiano foi surpreendentemente para a Inter de Milão, com a perseguição única do Napoli (único time na reta final com chances de tirar o título da Inter) terminando em vão.

O consolo ficou por conta da “Copa da UEFA”: Maradona liderou o Napoli na campanha rumo ao primeiro título continental do clube. Nos mata-matas finais, o clube passou pela rival Juventus e pelo Bayern Munique até chegar na decisão, contra o Stuttgart.

Os alemães foram vencidos no embalo da dupla de Maradona com "Careca": ambos marcaram na vitória de virada no jogo de ida, em Nápoles, e seguraram o empate na Alemanha Ocidental. Paralelamente, naquele ano ele casou-se em um estádio fechado com a namorada de infância, Claudia Vilafañe, e nasceu Gianinna, sua segunda filha.

1989–90 chegou e o argentino novamente conduziu o Napoli ao "scudetto", com dois pontos de vantagem sobre o Milan

Na "Copa", Maradona liderou uma Argentina esfrangalhada ao vice-campeonato, mas eliminando a Itália nas semifinais, aumentando o rancor do resto do país. Ele, ligado por provas robustas com a “Camorra”, a máfia napolitana, foi suspenso do futebol por 15 meses. Entrou em depressão e, no mês seguinte, em abril, sob efeito de drogas,foi  preso em Buenos Aires pela polícia no bairro de "Caballito".

Maradona, decidido a deixar o Napoli, protagonizou uma batalha judicial que durou 86 dias. A liberação foi brecada pelo presidente do clube, que estava brigado com o argentino. 

Após intervenção da FIFA, Maradona conseguiu se desligar do Napoli e acertou um retorno à Espanha, agora como jogador do Sevilla, na época comandado por Carlos Bilardo, seu ex-técnico na Seleção.

Sua estadia no clube andaluz não durou mais que a temporada 1992–93, onde foi apenas razoável. Acertou outro regresso, desta vez ao país natal, contratado pelo Newell's Old Boys.

Mesmo recuperando a forma, durou menos ainda na equipe de Rosário: uma sucessão de lesões musculares provocou o término de seu contrato, após apenas cinco jogos oficiais e alguns amistosos, um deles, curiosamente, contra o Vasco da Gama, do Rio de Janeiro.

Deprimido, Maradona afundou  cada vez mais nas drogas. Em fevereiro de 1994, irritado com o assédio da mídia, atirou com uma espingarda de ar comprimido em jornalistas que faziam plantão em frente à sua casa.

Acima do peso e desmotivado, a impressão geral era a de que ele abandonaria a carreira antes da "Copa do Mundo de 1994". Conheceu então um fisiculturista em Buenos Aires que prometeu deixá-lo em forma novamente.

A promessa foi cumprida, mas um novo antidoping durante a "Copa" desmascarou que, por trás do milagre, estava a proibida substância "Efedrina", uma droga usada para emagrecer. A FIFA terminou por puni-lo com outros 15 meses de banimento.

Sem poder jogar, Maradona passou rápido como diretor-técnico do pequeno Textil Mandiyú. Em poucas semanas, porém, abandonou o cargo do time de Corrientes. Assumiu como treinador do Racing, mas em março do ano seguinte saiu.

Com o fim da punição, ele voltou ao seu amado Boca Juniors, comprado por 10 milhões de dólares pelo "Grupo Eurnekian", que em troca teve os direitos televisivos sobre 11 partidas. 

O retorno, iniciado em jogo contra o Colón, foi estampado até em seus cabelos: Maradona descoloriu uma faixa do lado superior direito, simbolizando a faixa dourada do uniforme boquense.

O Boca não ganhava títulos argentinos havia cinco campeonatos – o último fora o “Apertura de 1992”. Com Maradona e Caniggia em grande parceria, o clube conseguiu confortável liderança no “Apertura 1995”.

O clube deixou o título escapar para o Vélez Sarsfield e terminou apenas em quarto. A edição do torneio foi mais lembrada por uma goleada de 4 X 1 sobre o River Plate em que a afinada dupla Caniggia e Maradona se beijaram na boca, em comemoração após o terceiro gol do atacante loiro.

Maradona faz sua última partida profissional, justamente em um Super clássico no “Monumental de Núñez”, em 25 de outubro. Jogou o primeiro tempo da partida e foi substituído pelo jovem Juan Román Riquelme. O Boca venceu por 2 X 1.

Enquanto jogador, Maradona foi reverenciado como uma divindade em seu país natal, sendo criada inclusive uma igreja dedicada a ele. Reunia inteligência, vontade e talento, com dribles, habilidade para mudar drasticamente sua velocidade e dar giros surpreendentes.

Seu grande momento no futebol foi na “Copa do Mundo de 1986”, que de acordo com uma opinião popular difundida em seu país, foi ganha inteiramente por ele, chamado de “El Pibe de Oro”.

Maradona foi casado durante vários anos com Cláudia Villafañe, de quem se divorciou de forma litigiosa. As duas filhas do casal, Dalma e Gianinna, ficaram do lado da mãe e não aceitaram o novo relacionamento do pai.

Maradona tem mais três filhos, Diego Sinagra fruto de um caso extra-conjugal quando jogava na Itália; Jana, de um outro relacionamento fora do casamento na década de 1990; e Dieguito Fernando nascido em 2013 filho de Verónica Ojeda. (Pesquisa: Nilo Dias)

Maradona no Napoli, da Itália.