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terça-feira, 6 de maio de 2008

O futebol veste rosa

O recente escândalo envolvendo o jogador Ronaldo Fenômeno fez ressurgir a polêmica da existência de gays no mundo do futebol. É claro que ninguém está jogando no atleta a pecha de homossexual, muito pelo contrário. Ronaldo sempre foi um mulherengo inveterado e conquistou algumas das mulheres mais bonitas do mundo. Agora, ao que parece ele passou por aquilo que se chama de “hora boba”, ao ir para um quarto de motel com três homossexuais.

Neste artigo quero mostrar alguns fatos que a imprensa dificilmente comenta. São verdadeiros tabus. Será mesmo que procede aquele velho e surrado ditado que diz ser o futebol um esporte só de machos? Grosso modo, sim, mas a história está mudando. Já temos o futebol feminino, que cada vez mais se firma em todo o mundo. E o futebol disputado por gays dá seus primeiros passos.

Mas não vai ser uma tarefa fácil, o machismo ainda predomina. Todos devem estar lembrados do caso que envolveu o jogador Richarlyson, do São Paulo Futebol Clube que entrou com uma ação na Justiça contra o dirigente José Cyrillo Júnior, da Sociedade Esportiva Palmeiras que durante uma entrevista na TV Record o chamou de homossexual.

O juiz de Direito Manoel Maximiano Junqueira Filho, encarregado de julgar o caso, emitiu uma sentença negando o andamento da ação. E disse com todas as letras que “gays não podem praticar o futebol, que é um jogo viril, varonil, não é para homossexuais”. E mais adiante escreveu: “Não sou contra que gays joguem futebol, mas que formem seus times e iniciem uma federação só deles”.

Depois, em entrevista ao programa "Fantástico" da TV Globo, o jogador negou que seja homossexual e disse que pretendia casar. Ele contou também que, caso fosse gay, não teria nenhum problema, já que só deve satisfações à família.

A televisão deu ênfase o ano passado a “Copa do Mundo de Futebol de Gays e Lésbicas”, disputada pela primeira vez na América do Sul. Buenos Aires, na Argentina, foi escolhida como sede, por ter sido a primeira cidade da região a aprovar, no ano 2000, a união civil entre pessoas do mesmo sexo.

A competição, que é promovida pela homossexual “International Gay and Lesbian Football Association”, uma versão da heterossexual Fifa, teve a participação de equipes de 14 países e foi realizada entre os dias 23 e 29 de setembro, sem a presença brasileira. Nenhuma equipe de lésbicas foi inscrita no torneio, por falta de patrocinadores. O time argentino do “Los Dogos (DAG)” foi o campeão, vencendo na partida final o time inglês do “Yorkshires Terriers F.C.”, por 1 X 0, com gol de um jogador brasileiro.

Entre os times participantes estavam o “Uruguai Celeste”, o “Chile Gay Deportes”, a “Seleção Inter México de la Diversidad”, o venezuelano “Ávila Futbol Club”, “Yorkshires Terriers F.C.” da Inglaterra, “Nuova Kaos Milano”, da Itália e os americanos “New York Ramblers”, “San Francisco Spikes”, “Philadelphia Falcons” e o “Federal Triangles Soccer Club”, além do campeão “DAG”, de Buenos Aires. As copas anteriores foram realizadas em Londres, que será sede do evento este ano, Sidney e Boston.

O “New York Rambles”, dos Estados Unidos, fundado em 1980 é considerado o primeiro time de homossexuais da história. Depois dele teria vindo o “Kamalions”, criado por jovens homossexuais de Bilbao, capital do País Basco.

Em todo o mundo, aumenta o número de times gays. No México foi realizado o “1º Campeonato Gay de Futebol”, com a participação de cinco equipes: “El Clan”, “Fashion Team”, “The Fucker”, “Fuerza G” e “Tu Mamá”. Os juízes e bandeirinhas também eram gays.

No Brasil, país do futebol, o fenômeno ainda é tímido. Mesmo sem ter participado de nenhuma “Copa do Mundo Gay”, existiu aqui até pouco tempo um clube relativamente organizado, o “Rozas Futebol Clube” (é com z mesmo), do Rio de Janeiro, fundado em 1998 pelo piauiense Raimundo Pereira, cantor, ativista e goleiro do time. O nome foi uma homenagem aos homossexuais marcados na Alemanha nazista com o triângulo rosa.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a perseguição nazista também teve como alvo os homossexuais. Eles eram marcados com um triângulo rosa e mandados para campos de concentração. Por esse motivo, o triângulo rosa se tornou um dos símbolos do movimento ativista gay. O time do “Rozas” participou de uma “Olimpíada Gay” e foi mostrado em um documentário da rede de tevê inglesa, BBC.

Os atletas do time costumavam entrar em campo com maquiagem forte, peruca, cílios postiços, batom, muito blush, uniforme pink, dando gritinhos e cantando “Hey, Hey, Hey, o mundo é gay que eu sei”. Um dos jogadores do “Rozas”, o auxiliar de enfermagem e cabeleireiro, Sérgio Santana, o “Kayka Sabatella”, era a grande atração nos jogos, ao correr sem sutiã, sacudindo os seus 400 milímetros de silicone em cada seio, num corpo de 115 quilos. “Kaika”, fora das quadras é a famosa “Rainha Momo Le Boy”.

Todos os jogadores do time trabalham em profissões convencionais, como auxiliar de enfermagem e cabeleireiro, mas à noite “soltam a franga” em boates gays como transformistas ou “drag queens”. “Kayca” quer retomar as atividades do grupo em breve. Flamenguista doente, já fez parte da torcida organizada “Fla Gay”. Mas parou de ir aos estádios porque sofreu ameaças de homofóbicos de vários times.

Em Lorena (SP), é disputado anualmente o “Futgay”, uma partida de futebol com o objetivo de arrecadar brinquedos para o Natal das crianças, numa promoção da Prefeitura Municipal e de quatro cabeleireiros da cidade: Beto, Rodrigo, Rinaldi e Gigi. No ano passado o jogo foi apitado pelo árbitro catarinense Clésio Moreira dos Santos, o popular “Margarida”, profissional conhecido no mundo futebolístico, que garante não ser gay, apenas representa um personagem. Ele é casado e tem filhos.

Mas existiu um verdadeiro “Margarida”. Foi o árbitro carioca Jorge José Emiliano dos Santos, falecido de AIDS, em 21 de janeiro de 1995, aos 41 anos. Homossexual assumido e folclórico, “Margarida” costumava peitar os jogadores metidos a “machões”. Sempre arrumava um jeito de mostrar o cartão amarelo para Renato Gaúcho nos jogos do Campeonato Carioca. E segundo as más línguas, sempre o fazia de um jeito um pouco mais carinhoso.

Em várias cidades é disputado um outro tipo de “futgay”, apenas de brincadeira. É o caso do bairro de São Francisco, em São Sebastião (SP), onde há 20 anos moradores e turistas se reúnem na praia vestidos de mulheres, para divertidas disputas futebolísticas. A edição deste ano aconteceu em 1 de janeiro, com muita animação.

Não podemos esquecer das torcidas “coloridas”. No Brasil, muitos times têm torcidas gays, que brigam para provar qual é a mais numerosa, a mais antiga ou a mais animada. A “Cru-Gay”, do Cruzeiro (MG), clama ser a mais antiga. Mas tem a “Flu-Gay”, do Fluminense (RJ), “Coligay”, do Grêmio (RS), “Timbugay”, do Náutico (PE) e “Galo-Gay”. A “Fla-Gay”, do Flamengo (RJ), também clama ser a primeira torcida homossexual do Brasil. Surgiu nos anos 70 e deixou de existir depois de muito apanhar de outra torcida do mesmo time, a “Torcida Jovem”. Texto e pesquisa: Nilo Dias)

Atletas do "Rozas" Futebol Clube (Foto: Divulgação)

Horácio disse...
Oi Nilo: Tudo bem? è bom lembrar que aqui no RS, na cidade de Santa Maria, tem a "Maré Vermelha" que faz o maior "auê" nas partidas do Inter-SM. Horácio Gomes
7 de maio de 2008 17:15