Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

O "Veterano" de Santa Vitória do Palmar

A proximidade com Montevidéu, no Uruguai foi fator preponderante para que o futebol chegasse a Santa Vitória do Palmar, no início do século passado. O isolamento com os demais municípios brasileiros fazia com que quase nenhum tipo de entretenimento existisse por lá, a não ser carreiras de cavalos.

Ao que se sabe, ao início da década de 1900 foi fundada uma sociedade da qual não se tem maiores informações, chamada de Club Recreio Vitoriense. O jornal “República”, que era editado na cidade, tem sido fonte da história local para pesquisadores.

Já em outubro de 1910 com o nome de Sport Club Vitoriense, começaram as suas lides esportivas. O jornal “República”, em sua edição de 19 desse mês, publicou o convite para um jogo de foot-ball entre sócios do mesmo, porque ainda não existiam adversários na cidade.

O quê só veio a acontecer em 1912, com a fundação do Sport Club Rio Branco, embora se saiba que existiu na época uma outra agremiação chamada de E.C. Vencedor, da qual não existem maiores informações.

Em sua edição de 21 de abril de 1909, o jornal noticiou que na sede rural da sociedade, que se localizava possivelmente entre os estádios do Brasil e do Vitoriense, margeando a avenida Bento Gonçalves, travou-se um “match de foot-ball” entre os associados daquela entidade. E que devido ao mau tempo, pouca gente compareceu ao local.

A festa fez parte das comemorações do 1º aniversário da “Recreio Vitoriense”, fundada no dia 26 de abril de 2008. Com a presença da Banda de Música Floresta, os dois times se enfrentaram, um com camisas vermelhas e o outro com azuis, sendo este o vencedor pelo dilatado escore de 6 X 1.

Antes do início do jogo falou o presidente da entidade, senhor Sertório Rosa. Depois do “match”, sempre ao som musical, os entusiastas torcedores retornaram ao centro da cidade e às suas residências.

Foi assim o início do futebol em terras vitorienses. Sabe-se que o primeiro time de futebol realmente organizado e voltado especificamente para o futebol, foi o Club Recreativo Vitoriense, criado em data desconhecida e que depois se transformou em Sociedade Recreativa, ao que se sabe em 21 de Agosto de 1910.

O Esporte Clube Vitoriense, chamado na cidade de “Veterano”, é reconhecido como a mais antiga agremiação futebolística organizada de Santa Vitória do Palmar, e que resistiu ao tempo. A data oficial de sua fundação é 21 de outubro de 1910, quando passou a chamar-se Sport Club Vitoriense.

O primeiro presidente do clube foi o desportista Hugo de Oliveira Vasques.  Inicialmente as cores do uniforme eram outras não se sabendo a origem da mudança para verde e preto.

Nos jogos entre associados, o Sport Club Vitoriense dividia dois grupos de jogadores, um com camisas azuis e outro com camisas vermelhas, a exemplo do que ocorria quando o clube se chamava Sociedade Recreativa.

O jornal “República” também noticiou outro jogo entre associados, que teria ocorrido em 23 de agosto de 1910. O interessante foi a publicação das escalações dos dois times:

Team Azul: Alfredo Antunes - Osmã Azambuja e Francisco Costa - Manoel Machado - Hugo Vasques e Victorino Moreno - José F. Farias - Antonio Estrella e Joaquim Calvete (capitão). Team Vermelho: Annibal Polycarpo - Theobaldo Rotta e Atílio Patella - Odilon Rodrigues - Walter Vianna e Pedro Leonetti - Nicolau Rodrigues - Mario Dias - José Vitório Torino - Vicente Plastina e Faustino Oliveira (capitão).

O jogo foi realizado no campo que era usado para as carreiras de cavalos, onde hoje se localiza o Estádio do Vitoriense, na rua João Telles.

Em 1915 foi construído um pavilhão de madeira com telhado de zinco para dar mais comodidade aos torcedores, embora na época a presença de torcedores não fosse das maiores, talvez em razão do pouco tempo de atividades esportivas e falta de costume dos desportistas.

Quem guardava documentos históricos do S.C. Vitoriense era o saudoso Francisco Estrella, conhecido funcionário da Prefeitura Municipal , apelidado de “Chico Estrella”. Fitas gravadas com depoimentos seus, contando importantes momentos da vida do clube, estão desaparecidas desde o seu falecimento.

Em 2011, o Sport Clube Vitoriense tentou se profissionalizar, para disputar o Campeonato Gaúcho da segunda Divisão, conforme noticiou o jornalista Sérgio Cabral, em sua coluna “Bola Pra frente”, no jornal “Diário Popular”, de Pelotas. O que acabou não acontecendo. (Fonte: Blog “Planetsul”, de responsabilidade do professor e historiador Homero Suaya Vasques Rodrigues)

Primeira foto do Vitoriense, datada de 1010. (Foto: Arquivo do professor Homero Vasques)

segunda-feira, 22 de junho de 2015

O "violino" parou de tocar

Morreu hoje, segunda-feira, 22, Luiz Carlos Nunes da Silva, o “Carlinhos Violino”, aos 77 anos, vítima de insuficiência cardíaca. Anos antes de falecer, Carlinhos já sofria com problemas de saúde. 

A elevação da taxa de ácido úrico causou problemas de cicatrização, obrigou a amputação de um dedo do pé, gerou complicações no sistema circulatório, perda de memória e, além disso, complicações na carótida e a necessidade de colocar pontes de safena. A morte ocorreu em função desses problemas.

O velório de Carlinhos acontecerá amanhã, terça-feira, entre 10 horas e 14 horas, no Salão Nobre da sede do Flamengo, na Gávea. O clube carioca destacou no seu site oficial a perda de um dos maiores ídolos da sua história.

Cria da casa, logo no início da carreira, em 20 de janeiro de 1954, recebeu, simbolicamente, as chuteiras do jogador Biguá, destaque do Flamengo na época e que estava encerrando sua carreira. O interessante é que ele repetiu o gesto em sua aposentadoria como atleta, passando seu instrumento de trabalho para um garoto promissor da Gávea – Arthur Antunes Coimbra, o “Zico”.

Destacou-se como um volante técnico e refinado, a ponto de ganhar o apelido de “Violino”. “Parecia que o ex-meia jogava por música”, diziam os comentaristas esportivos da época. Um dos momentos que Carlinhos mais brilhou como jogador foi no Fla-Flu decisivo do Campeonato Carioca de 1963, quando liderou o time no empate de 0 X 0 que deu o título ao Flamengo.

O jogo foi realizado no dia 15 de dezembro, no Maracanã, perante um público de 177.020 pagantes e 16.947 não pagantes, o maior em um jogo oficial entre dois clubes no futebol mundial. Mas existiram, na época, especulações dizendo que o público real foi de cerca de 200 mil espectadores.

Foi um dos poucos atletas a ganhar o “Prêmio Belfort Duarte”, oferecido aos jogadores que nunca foram expulsos de campo. Era apontado como um dos melhores da posição de todos os tempos do futebol brasileiro.

Dono de voz mansa, muita classe e aparência sempre tranquila, o “Violino” levou consigo a marca de ser um rubro-negro como poucos. Jogou no Flamengo de 1958 a 1969. Nutria uma verdadeira paixão pelo clube. Vivia o Flamengo no dia-a-dia, fosse como funcionário ou torcedor.

Como jogador, Carlinhos vestiu a camisa do Flamengo, em 517 vezes. Na condição de técnico dirigiu a equipe em 313 oportunidades, tornando-se o melhor treinador de futebol da história do clube, tendo comandando jogadores da envergadura de Zico, Bebeto, Leandro, Renato Gaúcho e Júnior. Somando tudo, como profissional rubro-negro disputou 880 partidas: 517 como jogador e 313 como técnico.

É verdade que muitas vezes foi usado como um técnico "tampão". Pela habilidade de contornar crises, ficou conhecido internamente como um “bombeiro” do clube. Porém, entre 1991-1993, começou a ganhar respeito ao trazer para a Gávea um improvável troféu de campeão brasileiro em 1992, o quarto do Flamengo.

“Violino” recebeu sua primeira oportunidade como treinador do Flamengo ao substituir Paulo César Carpegiani, em 1983. Naquele ano, Carlinhos fez parte da conquista do tricampeonato brasileiro, já que assumiu o time como interino na campanha que teria como comandante o então treinador Carlos Alberto Torres.

Sua última passagem pelo Flamengo como técnico ocorreu entre maio e outubro de 2000, época em que conquistou a Taça Rio e logo depois o bicampeonato estadual. Carlinhos chegou também a treinar o Guarani de Campinas e o Clube do Remo, do Pará. Mas a sua paixão pelo Flamengo resultou em, nada mais, nada menos, do que sete passagens pela “Gávea”.

Há quem diga que Carlinhos, e não o Andrade (com o penta do flamengo em 2009), tenha sido o primeiro negro a conquistar, como técnico de futebol, o campeonato Brasileiro. Porém Carlinhos pode ser identificado como mestiço e não necessariamente negro.

Carlinhos, mesmo sendo dono de uma qualidade incontestável, foi um dos atletas injustiçados por nunca terem tido uma sequência na Seleção Brasileira. Ele disputou somente uma partida com a camisa canarinho, talvez porque na época Santos e Botafogo cediam a maior parte dos convocados.

Foi no ano de 1964, contra a Seleção de Portugal. Nessa partida, outro rubro-negro esteve em campo junto com Carlinhos, Aírton Beleza, centroavante que fez dupla central de ataque com Pelé. A Seleção Brasileira saiu vitoriosa do Maracanã naquele dia.

Dois anos antes, nos preparativos para a Copa do Mundo de 1962, o então treinador da Seleção Brasileira, Aimoré Moreira, convocou 41 jogadores, mas destes, somente 22 foram ao Chile. A preferência para a reserva de Zito, acabou recaindo em Zequinha, do Palmeiras, ao invés dele, embora fosse a grande sensação do momento.

O ex-treinador era frequentador assíduo da sede do Flamengo, a que chamava de sua segunda casa. Em 12 de fevereiro de 2011, Carlinhos foi homenageado pelo Flamengo, com a inauguração de um busto e uma praça na sede social do Clube, no bairro da Gávea. Na inauguração, foi tomado pela emoção e transbordou em prantos.

Títulos. Flamengo, como jogador: Torneio Início do Campeonato Carioca (1959); Torneio Rio-São Paulo (1961); Campeonato Carioca (1963 e 1965); Torneio Internacional de Israel (1958); Torneio Hexagonal de Lima, Peru (1959); Torneio Internacional de Verão do Uruguai (1961); Torneio Internacional da Tunísia (1962); Troféu Naranja, Espanha (1964); Troféu Mohammed IV, no Marrocos (1968); Torneio Gilberto Alves, em Goiânia (1965) e Troféu Restelo, em Portugal (1968).

Como treinador. Pelo Flamengo: Campeonato Carioca: 1991,1999 e 2000; Taça Guanabara (1988 e 1999); Taça Rio: 1991 e 2000; Campeonato Brasileiro (1992); Módulo Verde da Copa União (1987); Taça Brahma dos Campeões Brasileiros, disputada no Paraná (1992); Troféu Eco-92, disputado no Rio de Janeiro(1992); Troféu Libertad, na Argentina (1993); Troféu Raul Plasmann, no Rio de Janeiro (1993); Torneio Internacional de Kuala Lumpur (1994); Copa Pepsi Cup'94, no Japão (1994) e Copa Mercosul (1999). (Pesquisa: Nilo Dias)


segunda-feira, 15 de junho de 2015

Morre mais um campeão mundial de 1958

Agora só restam sete campeões mundiais de 1958, ainda vivos, com o falecimento ocorrido ontem, domingo, de José Ely de Miranda, o “Zito”, aos 82 anos de idade. Ele morreu em sua casa, em Santos (SP).

Há cerca de um ano havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico (AVCH), que o manteve hospitalizado na Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) do hospital da Santa Casa, de Santos, por 32 dias, o que debilitou sua condição de saúde.

Desde agosto, o ex-jogador seguia o tratamento "Home Care", acompanhamento hospitalar a domicílio, que evita a permanência prolongada no hospital e diminui os riscos de infecções.

O velório começou às 8h (de Brasília) e foi até as13h. Na sequência, o carro que levou o corpo do ex-capitão santista passou pela Vila Belmiro, onde aconteceu uma queima de fogos. O enterro ocorreu às 16h30, em Roseira, cidade do interior paulista em que nasceu.

A ausência mais sentida foi a de Pelé, que está nos Estados Unidos e não pode dar o último adeus a “Zito”. No entanto, ele não esqueceu do ex-companheiro e enviou uma coroa de flores à família. Nela, Pelé agradeceu os ensinamentos do capitão do Santos nas décadas de 1950 e 1960: "foi como um pai para mim", estava escrito.

“Foi melhor assim para que não sofra mais, nos sensibilizávamos muito com isso. O carinho dos amigos e da família, agora, nos confortam. Os últimos momentos foram de muito sofrimento, em que vimos as dificuldades respiratórias, e ele partir, mas o que todos podem levar são as lembranças dele”, disse o filho José Ely de Miranda Júnior.

“Zito”, foi um dos principais jogadores do legendário time do Santos Futebol Clube dos anos 1960, sendo o líder da equipe. Mas sua autoridade não era contestada por ninguém, nem mesmo por ”Pelé”, o craque do time.

“Zito” era natural de Roseira (SP), onde nasceu a 8 de agosto de 1932. Iniciou a carreira pelo Esporte Clube Taubaté, atuando na posição de volante. Em 1952 foi contratado pelo Santos, onde jogou até sua aposentadoria.

Pelo Santos, Zito atuou por 15 anos, de 1952 a 1967, em 727 jogos, marcou 57 gols. No período, conquistou quatro vezes a Taça Brasil (1961,1962, 1963 e 1964), nove Estaduais (1955, 1956, 1958, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965 e 1967), duas Copas Libertadores (1962 e 1963), duas Copas Intercontinentais (1962 e 1963), quatro Torneios Rio-São Paulo (1959, 1963, 1964 e 1966) e duas Copas do Mundo FIFA (1958 e 1962).

Apelidado de "Gerente", era o líder do time dentro de campo, inclusive recebendo do técnico Lula o aval para comandar os atletas em campo da maneira que achasse melhor. Tornaram-se célebres seus gritos incentivando os jogadores a continuar marcand gols, mesmo com as partidas já decididas.

Na Seleção Brasileira foi bicampeão do mundo, tendo marcado um dos gols do Brasil na vitória de virada sobre a Tchecoslováquia por 3 X 1, na final da Copa do Mundo de 1962, no Chile. Zito” só conquistou a vaga de titular no terceiro jogo da Copa, contra a União Soviética, quando entrou no lugar de Dino Sani.

Para “Zito” a Copa de 1958 foi a mais importante conquista do futebol brasileiro, pois foi a única ganha em gramados europeus. “Nós estávamos jogando contra as principais seleções do mundo no território deles. O fato de ter sido conquistada na Europa torna essa Copa ainda mais especial. Não tenho dúvidas de que foi a principal conquista da história do futebol brasileiro”, dizia o jogador.

“Zito” contava que logo após a conquista do título, ainda na Suécia, houve uma óbvia euforia de jogadores, comissão técnica e dirigentes. No entanto, ele admitia que o grupo só percebeu a real dimensão do que aquele título significava mais tarde, na chegada da delegação ao Rio de Janeiro.

Para ele, a emoção mais forte foi na recepção da delegação no Rio. Quando chegaram ao Aeroporto do Galeão, havia uma multidão os aguardando. Foram colocados num caminhão dos bombeiros e seguiram até o Palácio do Catete. "O povo todo foi correndo atrás durante todo o trajeto. Foi algo maravilhoso, tão grande que dão dá nem para descrever", comentava “Zito”.

Depois de se aposentar dos gramados, “Zito” trabalhou como diretor do Santos e foi um dos responsáveis por revelar jovens jogadores de destaque, sendo um dos descobridores de Robinho, Neymar e Gabriel.

O camisa 10 da Seleção Brasileira postou uma foto dele com Zito em seu Instagram. "Não tenho palavras para descrever esse cara, simplesmente agradeço tudo que fez por mim, por ter acreditado e me ajudado no começo da minha carreira! Descanse em paz, fez muito por nós aqui... Obrigado ZITO!", escreveu Neymar na rede social.

O ex-volante, garantia que não ficou rico jogando futebol. E se assustava ao saber das grandes quantias que os jogadores de Seleção Brasileira ganham hoje. Em 1958, contava “Zito”, os jogadores não era estrelas, não tinham assessores, empresários, agências de marketing, nada disso. Pensava-se única e exclusivamente em jogar futebol.

Quando na Suécia, os jogadores da Seleção Brasileira tornaram-se atração em Hindas, antes mesmo de entrarem em campo. “Nós nunca tínhamos visto pessoas de pele escura antes. Eu fiquei até assustada”, lembra a moradora Eva Högberg, com uma risada.

Hindas, ou Hindås, em sueco, é um vilarejo com pouco mais de 2 mil moradores a 30 minutos de Gotemburgo. Lá, a paisagem é a mesma de 50 anos atrás. De um lado o hotel onde a Seleção Brasileira ficou hospedada. Do outro, separados apenas pela estrada, o hotel onde a Seleção Soviética ficou durante o Mundial.

De frente para ambos a bela paisagem do lago Västra Nedsjön. Não é preciso ir longe para encontrar quem tenha convivido com os brasileiros naquele mês de junho de 1958. Lars Hedenström, que era vizinho do hotel dos soviéticos e responsável pelo campo do IFK Hindas, conta que vinha gente de longe somente para ver os brasileiros.

Ele guarda até hoje um álbum com as fotos que tirou, não apenas dos brasileiros, mas de outros astros como o goleiro soviético Lev Yashin. Nelas, é possível ver uma Hindas que se parece muito com a atual. O hotel em que os brasileiros se hospedaram, hoje abriga apenas conferências. Foi ampliado, mas a fachada é quase a mesma. A cor também mudou. Hoje é creme, em vez do vermelho do passado.

Com a morte de “Zito” sobe para 15 o número de campeões mundiais de 1958, que já nos deixaram: Zózimo (1977),  Garrincha (1983), Oreco (1985), Castilho (1987), Didi (2001), Mauro (2002), Dida (2002), Vavá (2002), Joel (2003), Orlando (2010), De Sordi (2013), Djalma Santos (2013), Gilmar (2013), Nilton Santos (2013) e Bellini (2014).

Da Seleção Campeã do Mundo de 1958, apenas sete jogadores ainda estão vivos. São eles Dino Sani, Moacir, Pelé, Zagallo, Mazzola, Zito e Pepe. Desse grupo, 14 participaram do bicampeonato no Chile: Castilho, Gilmar, Bellini, Djalma Santos, Nilton Santos, Didi, Zagallo, Zózimo, Garrincha, Pelé, Mauro, Zito, Vavá e Pepe.

Entre os campeões de 1962, e que não disputaram o Mundial de 1958, dois jogadores já morreram: Jurandir e Zequinha. Também já nos deixaram os dois técnicos que deram os primeiros títulos e que colocaram o Brasil junto com Uruguai e Itália, até então os únicos com dois títulos mundiais: Vicente Feola (em 1958) e Aymoré Moreira (em 1962).

O primeiro jogador brasileiro campeão do mundo a morrer foi o lateral esquerdo Everaldo, tricampeão no México, em 1970, e que foi vítima de um acidente automobilístico, em 1974. Daquela seleção, também já nos deixaram o goleiro Félix, que foi titular na Copa, e o zagueiro reserva Fontana. (Pesquisa: Nilo Dias)


terça-feira, 9 de junho de 2015

Um colecionador de recordes

Agustin Gaínza, apelidado de “Piru”, é considerado o melhor ponteiro-esquerdo da história do futebol espanhol. Nasceu em Basauri, Vizcaya, em 28 de maio de 1922. Também era conhecido como o “Gamo Dublin", apelido que lhe foi dado pela imprensa irlandesa, após um jogo contra a Seleção Espanhola.

Começou a carreira em 1938, quando era jovem e trabalhava numa fábrica. Foi convidado e aceitou jogar no Athletic, de Bilbao. Contam que Gaínza era um menino bastante apático, que não era muito chegado ao futebol.

Mesmo assim jogava de ponteiro esquerdo, para não ter que correr muito. E foi dessa maneira que começou a carreira que o tornaria o melhor na posição, em toda a história do futebol espanhol.

Com apenas 17 anos jogou sua primeira partida pela equipe de cima do Athletic. Foi em Mendizorroza, contra o Alavés. Dai por diante foi alternando partidas no time de aspirantes e nos titulares, até se consolidar como um grande jogador na temporada 1941-1942. Sua qualidade e carisma o tornaram capitão do time por vários anos.

No clube de Bilbao, único em que jogou, conquistou dois campeonatos espanhóis (1942-1943 e 1955-1956), e sete Copas do Rei (1943, 1944, 1945, 1950, 1955, 1956 e 1958), sendo o jogador espanhol que mais vezes ganhou esse troféu e jogou mais finais, um total de nove.

Gaínza era o capitão e a alma da equipe, que era irresistível. De todas as Copas conquistadas, uma delas, a ultima, de 1958, teve um significado especial. Na final, conhecida como a de "los once aldeanos", o Athletic ganhou do Real Madrid, de Di Stéfano, em Chamartín (Antigo Estádio do Real Madrid, construído em 1924), numa partida memorável e heróica, sobre todos os aspectos.

A Federação havia se negado a permitir que o jogo se realizasse em campo neutro. O Athletic ganhou por 2 X 0, com gols de Arieta e Mauri. Di Stéfano foi literalmente anulado por Etura, e como o próprio craque argentino reconheceu, o Athletic foi um justíssimo vencedor.

Além disso foi Gaínza quem marcou mais gols em uma só partida da Copa do Rei, oito contra o Celta, de Vigo, que terminou numa goleada histórica de 12 X 1. 

E também foi o jogador do Athletic, de Bilbao que mais atuou em jogos da Primeira Divisão, um total de 381. Ele marcou 120 gols com a camisa do time basco. Na “Copa do Rei”, a outra grande competição espanhola, ele jogou 99 vezes, recorde até hoje não superado, e marcou 29 gols.

Antes de conquistar a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, a melhor classificação da Espanha na competição tinha sido em 1950, quando foi quarta colocada. No time estavam Zarra e Gaínza, que foram companheiros no Athetic, que na época possuía um grande time.

De todas as partidas que Gaínza jogou pela Seleção da Espanha, se destacam duas: um amistoso contra a Irlanda, quando ganhou o apelido de "El Gamo de Dublín", e sobretudo a partida frente a Inglaterra, na Copa disputada no Brasil, em 1950, quando deu um passe de cabeça para Zarra marcar o gol contra a Inglaterra, que classificou a “Fúria” para disputar a fase final, perdendo frente o Brasil.

Tanto Zarra, como Gaínza, foram escolhidos para a Seleção ideal daquele Mundial. Ao todo, Agustin Gaínza vestiu a camisa da Seleção Espanhola em 33 oportunidades, marcando 10 gols.

O ataque do Athletic foi um dos melhores da Espanha em todos os tempos: Iriondo, Venâncio, Zarra, Panizo e Gaínza, que levaram a agremiação nos anos 50 a escrever as mais brilhantes páginas de sua longa historia. Panizo foi o primeiro a chegar dos "cinco magníficos".

Uma temporada depois do final da famosa equipe de “los once aldeanos”, Gaínza decidiu pendurar as chuteiras, sendo o último a retirar-se daquela mítica dianteira, atuando como ponteiro de outra magnifica geração do Athletic, composta entre outros por Carmelo, Garay, Mauri, Maguregui, Arieta e Uribe. Foram 20 anos vestindo a camisa vermelha e branca, dando um exemplo de amor a um clube.

Em 1953, recebeu a "Medalha do Mérito Desportivo", da Real Federação Espanhola de Futebol (R. F. E. F). Encerrou a carreira no final da temporada 1958-1959, tornando-se treinador, tendo trabalhado no Athletic Bilbao de 1965 a 1969, levando o clube a jogar a "Taça UEFA" e duas finais da "Taça Nacional".

Depois de abandonar o cargo de treinador, continuou ligado ao Bilbao como consultor e olheiro. Seu trabalho era avaliar jovens talentos. Foi quando se tornou grande amigo de Javier Clemente Lázaro, um treinador e ex-futebolista espanhol.


No “Dia de Reis”, de 1995, Gaínza morreu de um infarto fulminante, em sua casa de Basauri. Mais de três mil pessoas foram ao seu funeral e muitas não puderam entrar na Igreja. Na cidade em que nasceu, uma das principais ruas leva o seu nome. Ainda hoje detém vários recordes, que são difíceis de superar. (Pesquisa: Nilo Dias)


segunda-feira, 8 de junho de 2015

O centenário E.C. São Lourenço


Ao final do século 19, com toda a certeza, o futebol já era praticado em terras de São Lourenço do Sul pela criançada. E quem sabe até por jovens. Mas era jogado de forma desorganizada, sem nenhuma aplicação de regras.

A partir do inicio do século XX é que o esporte ganhou mais adeptos. Mas somente em 1913 - há quem diga que foi em 1908 - que o futebol na localidade foi organizado, com a fundação do Sport Club São Lourenço.

Todos os documentos oficiais encontrados até hoje, indicam que o clube foi fundado no dia 18 de março de 1913. Porém, ficou uma duvida no ar, já que o jornal “A Tribuna”, em sua edição de 7 de setembro de 1939, na página 12, na secção “A Tribuna Desportiva”, publicou um histórico sobre o clube, onde citou a data de 18 de março de 1908, como sendo a verdadeira de sua fundação.

É claro que pode ter ocorrido um erro de imprensa, muito embora as datas diferentes não apontem para isso. Sendo correta a publicação, o clube teria sido fundado cinco anos antes da data considerada oficial.

Essa tese é reforçada pela descoberta de um “Diploma de Sócio Honorário do Sport Club São Lourenço”, confeccionado na Litografia R. Strauch, na cidade de Rio Grande, e concedido em 10 de janeiro de 1925 ao coronel Américo Ferreira da Silva – então intendente municipal.

O diploma é assinado pelo presidente do clube, na época, José Antônio Vieira, pelo secretário Alberto F. Hadler e pelo thesoureiro Albino Schreiner Filho.

O que chama a atenção é que o diploma mostra claramente, no centro de uma coroa de louros, as palavras: “Fundado em 1908”. Isso certamente dá a entender que o clube na realidade foi fundado cinco anos antes do que se pensava e é comemorado, o que o tornaria mais velho que o Sport Club Internacional, de Porto Alegre e F.C.B. Rio-Grandense, de Rio Grande, por exemplo.

Mesmo que se mantenha o 18 de março de 1913 como a data oficial da fundação, isso em nada desmerece a história gloriosa do clube, que faz parte da seleta relação de centenários do futebol brasileiro. E o torna o mais antigo de São Lourenço do Sul e um dos mais antigos do Rio Grande do Sul.

O que se sabe com certeza, é que os seus fundadores foram os desportistas José Antônio Vieira, Octacílio Fiorame, Theodoro Brauner Sobrinho, Américo Soares Ferreira, Lothario Facundo da Silveira e Olímpio Macarthy. A senhorita Ondina Fiorame foi sua primeira rainha.

O interessante é que desde a fundação o agora E.C. São Lourenço ocupa o mesmo endereço, um quarteirão inteiro que pertencia à firma rio-grandina “Anselmi & amp”. O terreno foi adquirido por José Antônio Vieira, em nome do clube, no dia 25 de agosto de 1920.

O jornal “O Tempo”, que era editado na então Vila de São Lourenço, na edição que circulou três dias após a compra da área, noticiou que o terreno adquirido, localizado entre as ruas Pinheiro Machado, Deodoro, Garibaldi e Estero Belac, há anos vinha sendo ocupado pelo clube.

Na condição de proprietário o S.C. São Lourenço tratou de cercar a área, sendo o campo inaugurado em 17 de dezembro de 1933, na administração do presidente Fábio Bueno. O padrinho foi o Sport Club Marítimo, com seus primeiro e segundo times.

Na partida preliminar houve um empate sem gols. Apitou o jogo o senhor Carlos Schmidt, de Pelotas. Já o encontro principal terminou com a vitória do S.C. São Loureço, por 3 X 0. O time local mandou a campo as seguintes formações.

Aspirantes: Hugo – Arturzinho e Teodoro – Baiano – Oscar e Marinônio – Joãozinho – Lourenço - ??? - Dorneles e Heitor. Titulares: Antônio Cury – René Laforet e Juvenil Brauner – Olegário – Arno e Hugo Wienke - capitão Pinheiro - Nede e Pedro Tomaschewski. Na reserva ficaram: Geraldo, Sylvio Vieira, Armando, Jordão e Eloy, cujos sobrenomes não puderam ser confirmados, o que seria importante para a história esportiva lourenciana.

O E.C. São Lourenço quase sucumbiu em razão de forte crise financeira, ocorrida em 1935. Só conseguiu voltar em 1939, depois que foi eleita uma Diretoria, tendo a frente o presidente Guido Weymar.

Completaram a Diretoria: Presidente de Honra, Capitão Leônidas Ribeiro Marques, prefeito municipal; Vice-Presidente, Dario Brauner; 2o Vice-Presidente, Ignácio Crespo; 1º Secretário, Antônio Cury; 2º Secretário, Antônio Jesus dos Passos; Tesoureiro, Pamphilio Friedo Stenzel; 1º Orador, doutor Pio Soares Ferreira; 2º Orador, Darcy Di Calafiori; Capitão-Geral, Plinio Brauner; Adjunto, professor Armando das Neves; Guarda-Esporte, Sylvio Vieira e Adjunto, René Laforet.

Era intenção da nova Diretoria construir um muro de alvenaria em volta do campo e um pavilhão coberto. Uma grande campanha teve início, e já em abril desse ano o desportista Américo Ferreira da Silva doou mil telhas francesas para a cobertura da obra que, então, se iniciava.

A euforia dos dirigentes e torcedores era quase indescritível. O jornal “A Notícia”, edição de 15 de abril, chegou a noticiar que o clube pensava em construir também, quadras de tênis em suas instalações, o que causou merecidos aplausos, especialmente do sexo feminino.

A inauguração do pavilhão pioneiro deu-se com muita festa no dia 25 de dezembro de 1939, com a presença do padrinho Esporte Clube Pelotas, da vizinha cidade. Nessa ocasião o estádio já estava totalmente cercado com muros, duas faces com alvenaria e duas com tábuas. O gramado obedecia às regras internacionais de futebol.

Na noite de 20 de agosto de 1948, aconteceu a festiva inauguração de mais um notável melhoramento na sede do clube, a reforma da bonita, moderna e confortável arquibancada coberta, que levou o nome de “Pavilhão Doutor Pio Soares Ferreira”.

O corte da fita inaugural foi realizado pelo doutor Pio Ferreira. Uma placa de mármore – oferecida pelo sócio Pio Sotero de Quevedo – fixada na obra, dizia: “Pavilhão Dr. Pio S. Ferreira”.

Diretoria da época: Presidente, Pedro Tomaschewski; Vice-Presidente, Hilmar Berwaldt ; Tesoureiro, Manoel Balreira Vargas; Diretor de Patrimônio, Alexandre Berwaldt; Orador, doutor Álvaro de Carvalho e Presidente de Honra, Pamphilio Friedo Stenzel.

O pavilhão tinha 12 espaçosos camarotes, que garantiam uma panorâmica visão de todo o campo. As arquibancadas possuiam assentos de madeira sobre os degraus de cimento. A escadaria era de concreto armado, tudo devidamente pintado.

A associação futebolística vermelha e branca era motivo de orgulho para todos os seus associados. Os consecutivos presidentes revezavam-se em realizações. Jamais, em toda sua história, o Esporte Clube São Lourenço havia experimentado tantas melhorias. A equipe principal, dificilmente perdia um jogo mesmo jogando fora de casa e em cidades vizinhas.

Em que pese a participação social importante, a atividade principal do clube era a esportiva e, dentro dela, o futebol preponderava. O Esporte Clube São Lourenço chegou ao auge no ano de 1943, quando se sagrou vice-campeão estadual de amadores, tendo na presidência Sinibaldo Russo.

Naquela época São Lourenço e Grêmio, e também, durante poucos anos, o Mocidade, disputavam a liderança do futebol em São Lourenço do Sul. E até os anos de 1970 ainda foram realizados jogos entre a dupla principal.

No entanto, já na década de 1960, o clube vermelho e branco dava os primeiros sinais de que estava enfraquecido. Isso, no entanto, não condizia com suas tradições gloriosas. Uma tentativa de reerguimento estava por acontecer.

Chegou até a ser planejada a construção de um ginásio coberto. Era presidente Divino Meyer e o clube comemorava 60 anos de fundação. Porém, passaram-se 10 anos e nenhuma ata encontrada, sabendo-se que o sonho da grande obra havia sido desfeito.

Nesse meio tempo, no entanto, surgiu, de novo, um movimento que deu uma “sacudida” no clube. No ano de 1979, um grupo de torcedores, empenhou-se em restaurar o campo de futebol, que a tempos estava inativo.

E, a 2 de dezembro daquele ano, após várias semanas de atividades na reconstrução do estádio, em especial na restauração dos muros, foi realizada uma intensa programação, com jogos de futebol.

Seguiu-se a inauguração, às 12 horas, de uma churrascaria a qual foi dada o nome de “Nedilande Vargas Corrêa”, tendo sido a fita desatada pela sua viúva, Rose Mari Lobato Corrêa e pelo então presidente do São Lourenço, Mário Luiz Corrêa.

Mas a tentativa de movimentar o mais antigo clube de futebol da
cidade, mais uma vez não deu certo. Até que em uma reunião ocorrida no dia 10 de abril de 1983 na churrascaria do clube, em que esteve presente o prefeito Ruhd Hübner, foi eleita uma nova Diretoria, com a responsabilidade de recuperar o E.C. São Lourenço.

O presidente eleito, Mário Luís Vieira, conseguiu reunir em sua diretoria grandes baluartes do clube, assim como novos nomes que então surgiam. E o trabalho deu frutos.

Por ocasião das comemorações do centenário do município, em 1984, o clube da “Baixada Rubra”, como era conhecido, levantou vários títulos em diversas modalidades, especialmente programadas para aquelas festividades.

Naquele ano foi campeão no futebol de campo (citadino e veteranos), futebol de salão, tênis (masculino individual, classe A), bolão masculino e voleibol feminino, quando era presidente, ainda, Mário Luiz Vieira.

Também voltou a tona a idéia da construção do ginásio de esportes coberto, além da construção da sede social, pista de atletismo, um restaurante e sala de jogos. Mas faltava o principal: verba.

Cerca de três anos depois, os associados foram surpreendidos com a possibilidade de haver uma permuta entre o município e o Esporte Clube São Lourenço, envolvendo um terreno de sua propriedade, com frente para a rua Mariz e Barros, para que ali pudesse ser construída a nova Estação Rodoviária de São Lourenço do Sul.

Os associados do clube já conheciam a planta da tão sonhada sede social, o que entusiasmou uma comissão representativa, para que fossem feitas as tratativas da permuta sugerida pela Prefeitura Municipal.

Em Assembléia Geral realizada no dia 7 de junho de 1990, o prefeito municipal doutor Sérgio Renato Becker Lessa, propôs a desapropriação da área referida, pelo valor de Cr$ 3.500.000,00 (três milhões e quinhentos mil cruzeiros), comprometendo-se a municipalidade de construir a nova sede social do São Lourenço, dentro do restante patrimônio existente.

Obra que deveria ter seu início imediato e terminada tão logo quanto possível, de acordo com um anteprojeto que deveria ser aprovado por ambas as partes. Proposta que foi aceita por unanimidade.

A obra, que resultou na sede atual, levou cerca de um ano e meio para ser concluída, entre julho de 1990 e janeiro de 1992. A inauguração aconteceu em sessão solene, no dia 8 de fevereiro de 1992, com a presença da diretoria, autoridades, simpatizantes e convidados.

Constava o grande prédio de dois andares, de um salão de festas, duas cozinhas, duas copas, quatro banheiros, bar, e dependências completas para duas saunas (uma seca e outra a vapor), tudo devidamente mobiliado, bem como de todos os eletrodomésticos necessários, prontos para serem usados.

Usaram da palavra na ocasião o presidente do clube, engenheiro agrônomo Sérgio Wienke; o prefeito municipal doutor Sérgio Renato Becker Lessa; Pandiá Pereira Cardoso e Isaac Nementhala Curi.

Desde 1995, o E.C. São Lourenço vem realizando, em promoção conjunta com a Prefeitura Municipal, o “Baile do Vermelho e Branco”, sempre algumas semanas antes do período momesco, para a escolha da Rainha Municipal do Carnaval.

Títulos conquistados pelo E.C. São Lourenço. Campeão municipal (1941, 1942, 1943, 1944, 1946, 1947, 1948, 1949, 1950, 1951, 1952, 1953, 1954, 1955, 1962, 1964, 1965, 1968 e 1983, em comemoração ao “Centenário do Município”).

Foi vice-campeão estadual em 1943, com apenas quatro derrotas em todo o campeonato, mesmo jogando em Caxias, com o Abramo Eberle, que era um time “amador-disfarçado” (5 X 2 para o São Lourenço), Santa Cruz e Cruz Alta.

O São Lourenço perdeu em Porto Alegre para o Cruzeiro, que era formado quase todo por profissionais. (Fonte: Livro “São Lourenço do Sul - Radiografia de um Município das Origens ao Ano 2000”, de autoria do médico e escritor Edilberto Luiz Hammes – Devidamente autorizada a publicação)

Esta é a foto mais antiga do E.C. São Lourenço. (Foto: Acervo fotográfico do clube)

segunda-feira, 1 de junho de 2015

“Mocinho”, o quebrador de canelas

Antônio Bezerra, o “Mocinho”, foi um dos primeiros vilões do futebol catarinense. Natural de São Francisco do Sul (SC), onde por tradição os moradores costumam ser mais conhecidos por seus apelidos, que mesmo pelos nomes, ganhou fama de homem mau nos campos de futebol.

“Mocinho” deu inicio a carreira de futebolista no Ypiranga Futebol Clube, de sua cidade natal, em 1924, atuando como ponta-esquerda. Era um jogador que tinha na velocidade a sua principal virtude.

Entre os anos de 1925 e 1928 destacou-se em diversos jogos amistosos, tendo inclusive marcado gols diante dos poderosos América, de Joinville e Hercílio Luz, de Tubarão, que foram derrotados por 3 X 0 e 3 X 2, respectivamente, em jogos bastante tumultuados.

O Ypiranga, de São Francisco do Sul era um clube de origem humilde, composto basicamente por trabalhadores do porto, e seus jogadores não tinham a polidez dos clubes da elite. Por isso “Mocinho” sentia-se a vontade para jogar pesado, sem ser repreendido.

Neste cenário, os jogos entre Ypiranga e clubes como América e Caxias, de Joinville, geralmente acabavam em confusão, e o pivô delas era sempre o mesmo: “Mocinho”, mais conhecido por “quebra-canelas”.

Em 1928 ele resolveu trocar de posição, deixando de ser ponteiro-esquerdo e passando a atuar no meio-campo. Com isso começou a arrumar ainda mais encrencas, pois agora tinha a função de marcar.

Em 8 de Setembro, num jogo em que o Ypiranga venceu o Britânia, de Curitiba por 1 X 0, depois de incomodar tanto o jogador Basani, acabou levando um pontapé e uma bofetada.

Ao revidar na mesma intensidade, deu inicio a uma batalha campal que só terminou após a intervenção dos presidentes dos clubes e da Policia, que com muito custo, conseguiram fazer com o que o jogo fosse terminado, bem como as festividades que o sucederam.

Ainda nesse ano integrou a Seleção Catarinense, que em 4 de Novembro perdeu para os paranaense por 8 X 0, em jogo valido pelo Campeonato Brasileiro de Seleções.

Em 1929 “Mocinho” quase não apareceu no cenário futebolístico catarinense, com discretas atuações nos gramados. Mas em 1930 descontou o tempo perdido, despontando com força total, dessa feita vestindo a camisa do Lauro Muller Futebol Clube, de Itajaí, clube que reunia operários de uma fábrica de tecidos e que era respeitado em razão da hostilidade com que recebia seus adversários no campo da Vila Operária.

Em 23 de fevereiro de 1930, quando derrotou o Caxias por 3 X 2, em jogo amistoso, o Lauro Muller conseguiu uma proeza quase inacreditável, machucar sete jogadores adversários e não ser punido com nenhuma expulsão. O “Jornal de Joinville” narrou bem o que aconteceu:

“Os laurenses organizaram um ataque, mas o Caxias defendeu. Cylo atacou e Eurico defendeu, quando “Mocinho” lhe deu uma violenta entrada. Mesmo contundido jogou até o fim. Dorotávio chutou forte e Chiquito, ao tentar defender fez gol contra, Lauro 1 X 0. O Caxias foi ao ataque e Lemos empatou, 1 X 1.

“Mocinho”, com raiva, machucou Lemos que teve de ser substituído por Andrade. Este jogou apenas cinco minutos e saiu machucado, também por “Mocinho”. O Lauro Muller teve um escanteio, Paulo cobrou, Candinho defendeu, mas Dorotávio fez Lauro 2 X 1.

“Mocinho”, que nem touro enfurecido, atacou de raiva, violentíssimo e o alvejado pela sua ferocidade foi Raul Schmidlin, que levou duas pancadas na boca do estômago. Na segunda, Schmidlin revidou e foi agredido por alguns brutamontes.

“Mocinho” mostrou ser um elemento sem caráter e sem educação esportiva. Serenados os ânimos, Dario fez penalti e "Marinheiro" empatou em 2 X 2. “Mocinho” e sua sinistra sina de machucar, deu seguidas entradas violentas. Começou o segundo tempo, o Caxias atacou e o Lauro defendeu.

O jogo perdia em beleza devido a “Mocinho”, que machucou José, mas este continuou em campo. Em seguida “Mocinho” agrediu Cyrillo que se lesionou. O jogo virou uma verdadeira tourada.

Vendo em “Marinheiro” a principal estrela da defesa caxiense, “Mocinho”, depois de várias tentativas o machucou, sendo que este foi levado a uma pharmácia ondedepois de medicado regressou ao Hotel.

Depois de bons lances ocorreu um penalty de Chiquito que Dario cobrou e errou. Foi quando começou uma chuva torrencial. Em um ataque o Lauro fez 3 X 2, e pouco depois o jogo acabou.

Apesar de tudo, o juíz Emilio Sada foi muito criterioso e imparcial. Esperamos que o Lauro Muller não apoie o jogo violento de “Mocinho”. O Caxias agradeceu a Pharmácia Santha Terezinha por ter tratado de “Marinheiro”.

Mas nada aconteceu com “Mocinho”, que seguiu atuando normalmente pelo Lauro Muller, pois se tratava de um de seus principais jogadores. Já havia se tornado famoso em todo o Estado. 

Naqueles tempos o Lauro Muller enfrentava em igualdade de condições os principais clubes de Joinville, Florianópolis e Blumenau, a quem vencia com frequência.

Em Outubro de 1930, a desgraça marcou encontro com “Mocinho”. Convocado pelo Exército para lutar no “Movimento Libertador”, que conduziu o ditador Getúlio Vargas á presidência do Brasil, quando servia em Florianópolis foi atingido por uma granada que lhe arrancou o braço direito.

A população de Itajaí se comoveu com o ocorrido. O Clube Náutico Marcilio Dias e o Lauro Muller Futebol Clube organizaram jogos para arrecadar fundos, para ajuda-lo na recuperação. Talvez para qualquer outro, a perda de um braço significasse o fim de uma carreira futebolística.

Mas para “Mocinho” não foi assim. No inicio de 1931, ele estava de volta ao posto de titular do meio-campo do Lauro Muller. E da mesma maneira de antes, não dispensando uma boa briga, estivesse ou não dentro de campo.

Prova disso, que em 14 de junho de 1931, quando assistia a um jogo entre Brusquense e Lauro Muller, em Brusque, se envolveu em uma confusão que por muito pouco não terminou em tragédia, conforme noticiou o jornal “O Libertador”:

“No final, quando os nossos rapazes preparavam-se para o regresso, houve uma desavença entre o "chauffer" João Pereira e um dos rapazes visitantes. Houve a intervenção de três outros presentes que o referido "chauffeur" tentou agredir a faca, tendo conseguido ferir de leve o nariz de um deles.

Foi quando surgiu Antônio Bezerra, mais conhecido por “Mocinho”, que foi em socorro de um irmão, a quem Pereira também tentava ferir. “Mocinho”, que só tem o braço esquerdo, pois que o direito perdeu durante a revolução com a explosão de uma granada, entrara em luta armado de bengala, sendo esfaqueado pelo alludido "hauffer", recebendo dois ferimentos, sendo um no braço esquerdo e outro no ventre.

O criminoso refugiou-se num hotel, sendo afinal preso, bem como o seu primeiro contendor. “Mocinho”, cujo estado não é grave, que ahi fora assistir o match, acha-se internado no Hospital de Azambuja, daquella cidade”.

Em Julho, mesmo ainda machucado pelas facadas, “Mocinho” voltou a jogar no time principal do Lauro Muller, que nesta ocasião, preparava-se para a disputa do Estadual de 1931, campeonato este, que após muita confusão por parte da Federação, terminou somente em janeiro de 1932, com o titulo sendo homologado a ele, devido a desistência do Athletico Catharinense.

Embora não fosse mais titular do time, “Mocinho” fazia parte do grupo. Deste modo, colocou o seu nome no rol dos jogadores campeões do Estado.

A partir de 1933 seu nome deixou de figurar no noticiário esportivo. O que fez de sua vida dai para frente não se sabe com certeza, embora existam evidencias que tenha iniciado a carreira de Delegado de Policia na cidade de Penha. (Pesquisa: Nilo Dias)

"Mocinho" topava qualquer parada.  (Foto: Cacellain)