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terça-feira, 23 de julho de 2019

O rádio esportivo brasileiro está de luto

Morreu hoje aos 78 anos de idade o conhecido jornalista esportivo Juarez Soares Moreira que lutava contra um câncer no intestino e no reto, porém a causa da morte foi  um infarto fulminante após sofrer duas paradas cardíacas.

Nasceu em São José dos Campos (SP), na região do Vale do Paraíba, no dia 16 de julho de 1941. Era casado com a também jornalista Helena de Grammont, irmã de Elaine de Grammont, vítima de um assassinato passional ocorrido em março de 1981 pelo ex-marido, o cantor Lindomar Castilho.

Um dos mais completos jornalistas esportivos do Brasil, China (como ficou conhecido pelos mais próximos) teve experiência em diversos segmentos da comunicação.

A primeira oportunidade na profissão surgiu praticamente por acaso. No colégio São Joaquim, onde estudava na cidade de Lorena, era amigo de Sabará, que fazia sucesso cantando na Rádio Cultura local.

Certo dia, Juarez perguntou ao amigo se poderia lhe ajudar a fazer um teste na emissora. A resposta foi positiva e dias depois, aos 17 anos, Juarez fazia sua primeira narração esportiva.

A vida seguiu sem grandes mudanças até Juarez ficar sabendo de um teste que a rádio Difusora realizaria em São Paulo. Embora seja necessário dizer que naquele tempo, seu sonho era vir para capital apenas para estudar Filosofia ou História. Juarez passou no teste, mas voltou a Lorena antes de saber o resultado.

Quando o pessoal da Difusora me achou, eu estava trabalhando novamente na Cultura de Lorena. Convidaram-me para ser repórter. Aceitei na hora", recorda Juarez.

A estreia aconteceu no dia 16 de agosto de 1961, na partida em que o Hepacaré, de Lorena, bateu o Estrela da Saúde por 1 X 0, com um gol de Tijolinho. Começava efetivamente uma carreira que ganhou mais corpo quando Pedro Luís, um dos maiores locutores esportivos de todos os tempos, desembarcou na Difusora.

Pedro fez questão de reunir os maiores nomes de então, mas fez uma exigência: narrar na Rádio Tupi, pertencente ao mesmo grupo de comunicações. Surgia a equipe 1040, que fez história no rádio brasileiro.

Atuou como repórter na Rede Globo na década de 1970 até o início dos anos 80, participando da cobertura da emissora na Copa do Mundo de 1982, na Espanha e nessa época também foi locutor das Rádios Globo e Excelsior.

Trabalhou muito tempo na TV Bandeirantes na equipe de Luciano do Valle, onde foi demitido por politizar seus comentários. De 1995 a 1998, esteve na equipe esportiva do SBT. Apesar de ter começado a carreira como narrador, ganhou fama e respeito como repórter e comentarista.

Torcedor confesso do Corinthians, fez também parte da equipe de esportes da Rádio Record e do programa “Debate Bola”, comandado na TV Record por Milton Neves.

O comentarista Osmar Oliveira, já falecido, contou uma história acontecida com Juarez em um jogo, que ele não recordava qual, em que o repórter teve uma disenteria volumosa e teve de correr para o banheiro. O narrador Pedro Luiz o chamava insistentemente cada vez que a bola ia pela linha de fundos e nada de Juarez responder.

Foi quando o cara que ajudava a puxar os fios ouviu os chamados, pegou o microfone lascou: "O licutor (locutor) foi cagar e já volta".

Foi filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT) por 21 anos, legenda pela qual foi eleito vereador em 1988 como o 6.º vereador mais votado da cidade e o terceiro melhor do PT, com quase 40 mil votos.

Além de segundo-secretário do Sindicato dos Jornalistas durante a presidência de Gabriel Romeiro, também foi Secretário dos Esportes da cidade de São Paulo, no governo de Luiz Erundina. Como secretário, conseguiu trazer a Fórmula 1 de volta para o autódromo de Interlagos que havia perdido anos antes para o autódromo de Jacarepaguá.

Desfiliou-se do PT em 2003 e em junho do mesmo ano ingressou no PDT, sendo candidato a vice-prefeito na chapa de Paulo Pereira da Silva nas eleições de 2004, mas a chapa não obteve sucesso amargando a 5.ª colocação com 86.549 votos (1,4% dos votos válidos).

No governo de José Serra a frente da Prefeitura de São Paulo, Juarez Soares foi secretário-adjunto da Secretaria do Municipal do Trabalho, mas pediu exoneração no início de 2006, quando o jornal Folha de São Paulo publicou uma denúncia de nepotismo contra Soares, que mantinha a filha e o genro empregados na secretaria onde trabalhava.

Juarez Soares foi comentarista da Rádio Transamérica, que o demitiu em janeiro de 2016. Foi comentarista de futebol na RedeTV! até 5 de abril de 2019, quando foi demitido. Também em 2019, voltou ao rádio esportivo como comentarista do programa “Capital da Bola”, pela Rádio Capital.

É de Juarez Soares a frase, "Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa".

O Santos Futebol Clube emitiu nota oficial lamentando a morte do radialista: "Lamentamos o falecimento do jornalista Juarez Soares, que dedicou boa parte de sua vida ao jornalismo esportivo. Força à família neste momento". (Pesquisa: Nilo Dias)