Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

sábado, 21 de abril de 2018

Campeão sem precisar jogar

Há exatos 114 anos ocorreu um dos episódios mais estranhos da história do futebol: um clube se sagrar campeão sem precisar jogar uma partida sequer. Foi na Espanha. O Athletic Bilbao ganhou a segunda edição da “Copa do Rei”, em 1904. Já havia vencido a primeira um ano antes.

E isso lhe garantia o direito automático de disputar o título contra a equipe que chegasse a final, depois de passar por adversários representativos de cada uma das regiões espanholas.

Além do Athletic, do país Basco, inscreveram-se o Espanhol, de Barcelona, representando a Catalunha, e dois clubes de Madrid - Espanhol e o Madrid Moderno. Primeiro, teria que se decidir qual o clube que representaria a região da capital, que disputaria o triangular com os bascos e os catalães.

Mesmo em cima da hora a organização decidiu aceitar as inscrições de mais dois clubes madrilenos: Moncloa e Iberia. Com isso foi preciso alterar o calendário, porque haveria mais jogos a fazer para apurar o representante de Madrid no triangular.

A edição do ano anterior, organizada pelo Madrid Foot-Ball Club, tinha decorrido sem qualquer problema, mas em 1904 coube à Associação Madrilena de Futebol a responsabilidade da competição. E o caos se formou.

A final estava marcada para o dia 28 de março, na prática, ainda antes de o torneio começar. E como se a confusão não bastasse, o Espanhol, de Barcelona decidiu sair fora. O vencedor do troféu seria conhecido num jogo entre o Athletic Bilbao e o representante de Madrid.

Foram espalhados cartazes pela capital espanhola anunciando o torneio, que decorreria no hipódromo. Haveria uma tribuna para o rei e restantes figuras proeminentes, além de que seriam colocadas 5 mil cadeiras à volta do campo para os espectadores que pagassem 25 cêntimos pelo lugar.

A 13 de março a bola finalmente começou a rolar, para decidir quem representaria Madrid no jogo final. O Moncloa goleou o Iberia por 4 X 0, no único jogo em que aparentemente não houve qualquer problema.

Em 19 de março, Espanhol, de Madrid e Madrid Moderno realizaram o segundo jogo e começou a confusão. Houve um empate de 5 X 5 e com isso a necessidade de desempate. Mas os times não se acertaram em relação a data desse novo encontro.

O Espanhol queria jogar no dia seguinte, mas o Madrid Moderno não aceitou, alegando que as regras proibiam que se jogasse uma nova partida com menos de 48 horas de antecedência.

O Espanhol não quis nem saber e no dia seguinte entrou em campo. Mas o Madrid Moderno não apareceu. E o que aconteceu? O presidente da Associação Madrilena, organizadora da competição, e que era também o presidente do Espanhol, decidiu que sua equipe fora vencedora do jogo, por falta de comparência do adversário.

Claro que o Madrid Moderno protestou, afirmando que o presidente da Associação lhes tinha garantido que não haveria jogo nesse dia, mas de nada adiantou.

Nessa altura do campeonato sobraram as equipes do Espanhol e do Moncloa para a decisão. Apenas uma delas passaria para a fase seguinte, disputando o troféu com o Athletic.

O jogo foi marcado  para o dia 27 de março de 1904. O Espanhol vencia o Moncloa por 1 X 0 quando o jogador Hermúa, caiu em campo com fratura da tíbia e do perónio. O árbitro suspendeu o jogo.

No dia seguinte, houve uma reunião e o Espanhol foi apontado como o outro finalista. A questão é que 28 de março era a data para a qual estava marcada a final com o Athletic e, oficialmente, esse jogo não chegou a ser adiado.

No dia 28, os bascos apresentam-se para jogar, mas o Espanhol não, obviamente. Assim sendo o Athletic auto proclamou-se vencedor e regressou a Bilbao, levando a taça.

A Associação então resolveu marcar a final para dia 29, mas não avisou os bascos, que até já tinham deixado Madrid. Nesse dia 29, o Espanhol apresentou-se em campo, mas o Athletic já nem estava em Madrid e, claro, não compareceu. 

Assim sendo, o Espanhol foi proclamado vencedor, exigindo aos bascos que lhes entregassem o troféu, coisa que não aconteceu.

Sucederam-se protestos de todos os clubes envolvidos no torneio, acusando a Associação Madrilena de Futebol de falta de organização e dizendo que o Espanhol nem sequer deveria ter sido finalista, uma vez que não ganhou nenhum jogo, empatou um e não terminou o outro.

Finalmente, e assoberbada com tanta confusão, a organização decidiu, já em abril, atribuir a “Copa do Rei” aos bascos, na qualidade de vencedores do ano anterior. E o incível, sem precisar jogar uma única vez. (Pesquisa: Nilo Dias)

Athletic Bilbao, campeão da “Copa do Rei” de 1904.