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segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Morre o mais vitorioso presidente do Vasco da Gama

Morreu hoje (5) o ex-presidente do Vaso da Gama, do Rio de Janeiro, Antônio Soares Calçada, aos 96 anos de idade.  De origem portuguesa, foi um dos dirigentes mais emblemáticos da história do clube da “Cruz de Malta”. Além de ser presidente de honra,  deixou como legado o fato de ter sido o mandatário mais vitorioso do clube.

Entre 1983 e 2000 no poder, o clube foi campeão da “Copa
Libertadores”, conquistou três “Campeonatos Brasileiros”, uma “Copa Mercosul” e sete “Campeonatos Estaduais”.  Seu sucessor no clube foi também o já falecido Eurico Miranda.

Calçada estava internado em um hospital na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, tratando de uma infecção abdominal. Em 10 de julho ele teve de ser internado pela primeira vez, mas como apresentou melhora deixou a unidade no dia 19 de julho, porém, teve uma recaída e voltou à UTI na última terça-feira (30).

Em seu site oficial, o Vasco soltou uma nota lamentando a morte do ex-presidente. O clube também decretou luto de três dias. "O Club de Regatas Vasco da Gama lamenta profundamente o falecimento nesta segunda-feira (05/08) do ex-Presidente da Diretoria Administrativa e Presidente de Honra do Clube, Antônio Soares Calçada, vítima de complicações causadas por uma infecção abdominal".

Antônio Soares Calçada era português, nascido em Vila da Feira, Distrito de Alver, em 16 de abril de 1923. Chegou ao Brasil ainda garoto. Sua ligação com o Vasco teve início em 1942, quando ingressou como sócio do clube.

Logo ocupou seu primeiro cargo: tornou-se diretor do “Departamento de Tênis de Mesa”, na administração de Otávio Menezes Póvoa. Além disto, foi vice de futebol nas gestões de Cyro Aranha, Manuel Castro Filho, Artur Rodrigues Pires e João Silva.

Em 1982, Antônio Soares Calçada alcançou o principal posto no Vasco. Com a chapa "Vasco da Gama", venceu ao histórico presidente Agarthyno da Silva Gomes, que teve uma de suas gestões marcadas pelo título brasileiro de 1974.

No poder a partir de 1983, Calçada manteve “Roberto Dinamite” como principal jogador do elenco, que tinha jovens como Acácio, Donato, Geovani e Mauricinho, e atletas mais experientes como Roberto Costa, Elói e Daniel González. No ano seguinte, o time chegou à decisão do “Campeonato Brasileiro”, mas perdeu para o Fluminense.

Em 1985, a equipe não teve bom rendimento na  “Copa Libertadores”. Porém, durante o ano viu o surgimento de um atacante promissor: no amistoso diante do Nova Venécia, Romário marcou seus primeiros gols. Mesmo assim, no fim do ano, Calçada foi reeleito em pleito contra Eurico Miranda.

A partir de 1986, Calçada uniu-se com o até então adversário político Eurico Miranda, que passou a ser seu vice de futebol. No ano seguinte, o mandatário saboreou o seu primeiro título no clube.

Com um gol de Tita, que fora contratado naquele ano, o Vasco sagrou-se campeão carioca em 1987, batendo o Flamengo por 1 X  0. Comandada por Sebastião Lazaroni, a equipe que tinha a dupla Romário e Roberto Dinamite como destaques, contou ainda com Dunga, Mazinho e Paulo Roberto.

No ano de 1988, Calçada voltou a ser reeleito, contando com a base da equipe campeã do ano anterior. Após uma estreia com revés para o Flamengo, o “Cruz-Maltino” fez mais uma grande campanha no “Carioca”.

Além de vencer dois dos três turnos, a equipe foi novamente campeã sobre o Flamengo, com direito ao célebre gol de “Cocada”. Naquele ano, o Vasco ainda fez uma "quina": emplacou cinco vitórias seguidas sobre o maior rival.

Em 1989, Calçada, ao lado de Eurico Miranda, "atiçaram" a rivalidade entre Vasco e Flamengo. Aproveitando que Bebeto estava com sua situação contratual indefinida com o rubro-negro, o Cruz-Maltino fez uma negociação cautelosa e conseguiu que o craque fosse para São Januário.

Com Bebeto como referência e artilheiro, a repatriação de Tita e contratações como Luiz Carlos Winck, Quiñonez, Zé do Carmo e Marco Antônio Boiadeiro, o clube sagrou-se campeão brasileiro. No Morumbi, coube a Sorato garantir a conquista com o gol da vitória por 1 X 0 sobre o São Paulo, consagrando também jovens como Bismarck e William.

Depois desta conquista, o dirigente, que foi reeleito em 1991, voltou a ver o Vasco campeão em 1992, meses após a equipe ver o título brasileiro escapar por tropeços na fase final.

Em um Estadual com Maracanã interditado, o “Gigante da Colina”, que tinha “Roberto Dinamite” em seu último ano na carreira, as revelações Edmundo, Valdir, Leandro Ávila e Carlos Germano e nomes como Bismarck, Luisinho, Jorge Luís e William, foi campeã invicto em dois turnos. No jogo do título, Valdir garantiu a vitória por 1 X 0 sobre o Bangu.

Mesmo perdendo “Roberto Dinamite”, Edmundo e Luiz Carlos Winck, o “Cruz-Maltino” alcançou o bicampeonato carioca no ano seguinte. Com Valdir como co-artilheiro, com 19 gols, ao lado de Ézio, do Fluminense e a afirmação de nomes como Pimentel, Gian e Yan, a equipe sagrou-se campeã de forma dramática.

Após uma vitória por 2 X 0 no jogo de ida e uma derrota por 2 X 1 no segundo jogo, o Vasco alcançou o título com o empate em 0 X 0 na decisão.

Em 1994, Calçada teve um novo feito como presidente: levou a equipe a seu primeiro e único tricampeonato carioca. Com um time reforçado pelo craque Dener e pelo zagueiro Ricardo Rocha, o Vasco teve um início promissor na competição.

Mesmo abalado pela morte do camisa 10, Dener, devido a um acidente automobilístico, o Vasco voltou a se firmar e sagrou-se campeão com uma vitória por 2 X 0 sobre o Fluminense, com dois gols marcados pelo jovem Jardel. No mesmo ano, conseguiu mais uma vez sua reeleição.

Após dois anos marcados por entressafras, idas e vindas de jogadores e brigas políticas, Calçada conseguiu um grande feito: no início de 1997, a Conmebol reconheceu a conquista do Campeonato Sul-Americano de Clubes de 1948 como título continental. Graças a esta atitude, o Vasco teve direito a disputar a edição da ”Supercopa Libertadores”.

Além disto, o Vasco alcançou um patamar ainda maior dentro de campo. Capitaneado por Edmundo, que já estava vendido à Fiorentina, da Itália e com reforços pontuais como Mauro Galvão, Evair e Válber, o time, que mantivera no elenco nomes como Felipe, Juninho, Ramón e Pedrinho, foi campeão de maneira irrepreensível.

Após ter sido líder de ponta a ponta, o Vasco chegou ao topo do país com dois empates sem gols diante do Palmeiras.

Reeleito para o cargo em 1997, o dirigente teve a missão de conduzir o Vasco no ano do centenário do clube. Contando com o aporte financeiro do “Bank of America”, o clube montou uma sucessão de esquadrões.

Foram contratados jogadores como Donizete, Luizão, Vagner, Sorato e Mauricinho para o decorrer da temporada e o time alcançou mais feitos. Além de um novo título carioca, Calçada era o presidente no ano do maior título da história: a “Copa Libertadores”. Porém, o sonho do “Mundial Interclubes” esbarrou na derrota para o Real Madrid.

Em 1999, no entanto, o dirigente logo voltou a comemorar pelo clube. Tendo Guilherme, Donizete e Juninho como destaques e em reforços como Paulo Miranda e Zé Maria, o Vasco iniciou o ano campeão do “Torneio Rio-São Paulo”, derrotando o Santos nas duas partidas da final.

No mesmo ano, os dirigentes ainda repatriariam Edmundo e depositariam as fichas na contratação de Viola, mas o time se despediu cedo no “Brasileiro”.

O ano de 2000 começou de maneira empolgante para o clube: em uma "cartada", da qual o presidente foi crucial, Romário, dispensado do Flamengo, retornou à “Colina” para a disputa do” Mundial de Clubes” em janeiro.

Tendo também como novidades a ascensão de Hélton e as chegadas de Jorginho e Júnior Baiano, o clube foi à decisão no Maracanã, mas amargou a derrota nos pênaltis para o Corinthians.

Passadas as frustrações das finais do “Torneio Rio-São Paulo” e “Campeonato Carioca”, o Vasco teria um fim de ano para não esquecer. Com novidades como Clébson, Juninho Paulista e Euller, o “Cruz-Maltino” foi crescendo no decorrer da “Copa Mercosul” e da “Copa João Havelange” e chegou à decisão em ambas.

Diante do Palmeiras, o time alcançou a '"Virada do Milênio", no jogo em que obteve uma histórica virada de 3 X 0 para 4 X 3 em pleno “Parque Antarctica”.

Já na final turbulenta na “Copa João Havelange”, Calçada conseguiu seu último título como presidente. Com a vitória por 3 X 1 sobre o São Caetano, o mandatário conquistou seu terceiro e último título brasileiro.

Além de conquistas no futebol, Antônio Soares Calçada foi vencedor em outras modalidades: obteve o bicampeonato da “Liga Sul-Americana de Basquete” e o tricampeonato estadual de Remo.

Mesmo tendo deixado a presidência a partir de 2001, sequer se candidatou em 2000, na eleição vencida por Eurico Miranda, Calçada se manteve ligado ao Vasco. Além de ser um dos beneméritos, tornou-se presidente de honra do clube. Em 2014, ele deu nome ao ginásio poliesportivo localizado em São Januário.

Lúcido até o fim de sua vida, Antônio Soares Calçada mostrou-se ativo até no pleito que culminou na eleição de 2017. Ele tornou-se vice de Júlio Brant assim que a chapa entre Brant e Campello se rompeu, mas foi derrotado por Alexandre Campello.

No início de julho deste ano, as complicações abdominais chegaram a levá-lo para o CTI. Após chegar a ficar estável, Calçada voltou ao CTI e, desta vez, não resistiu.

Títulos ganhos como Presidente do Vasco da Gama:

Campeão da Taça Libertadores da América (1998); Campeão da Copa Mercosul (2000); Campeão Brasileiro de Futebol (1989, 1997 e 2000); Campeão Estadual de Futebol (1982, 1987, 1988, 1992, 1993, 1994 e 1998); Campeão da Liga Sul-Americana de Basquete (1999 e 2000); Campeão Sul-Americano de Clubes de Basquete (1998 e 1999); Campeão Brasileiro de Basquete (2000); Campeão Estadual de Basquete (1983, 1987, 1989, 1992, 1997 e 2000); Campeão Estadual de Remo (1998, 1999 e 2000. (Pesquisa: Nilo Dias)