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quarta-feira, 12 de junho de 2013

O "Zequinha" agora é centenário

O Esporte Clube São José é uma espécie de segundo time de todos os porto-alegrenses e é considerado o "mais simpático de todo o Rio Grande do Sul". O "Zequinha", como é carinhosamente chamado foi fundado no dia 24 de maio de 1913, por um grupo de alunos católicos do Colégio São José, da capital do Estado, na rua São Raphael, atual avenida Alberto Bins.

Foi o irmão Constantino Emanuel, um ardoroso admirador do “cálcio” italiano que incentivou o grupo que jogava futebol no colégio, a criar um clube verdadeiro para o esporte. Por isso o nome do clube.

Entre os jovens fundadores estavam José Edgar Vielitz, Osvaldo Endler, Florêncio Wurding, Léo De La Rue, Antônio Pedro Netto (Netinho) e Arnaldo Peterlongo Ely. Todos eles faziam parte da Sociedade Juventude dos Moços Católicos, cuja sede era nos altos da ex-capela São José, localizada na rua São Raphael.

A sociedade surgira para que os alunos pudessem praticar o futebol dentro das dependências do colégio. Embora a sociedade crescesse, o grupo não podia enfrentar equipes fortes e por isso surgiu a idéia de fundar um clube de futebol.

Após celebrar a fundação, o aluno Léo De La Rue foi escolhido para ser o primeiro Presidente do clube, ficando estabelecido que cada jogador compraria seu uniforme e contribuiria com 500 réis de cota mensal, pois a participação dos sócios ainda era reduzida. O Irmão Ulrich, foi o primeiro chefe de torcida do novo clube.

O clube surgiu num momento em que o mundo vivia a terrível expectativa da primeira guerra mundial, com a Europa em polvorosa. O primeiro campo foi num local chamado "Montanha", onde hoje está localizado o Hospital Militar, na avenida Cristóvão Colombo, no bairro Floresta. O primeiro presidente foi Leo De La Rue, que dirigiu a agremiação nos anos de 1913 e 1914.

Nas décadas de 1930 e 1940, a agremiação teve dois bons times, o de 1937 e o de 1948. Estas equipes por pouco não conseguiram o título de Campeão da Cidade de Porto Alegre. Em 1937 tinha um elenco de alta qualidade técnica, porém sucumbiu diante do Grêmio na melhor de três jogos. No primeiro, o tricolor venceu por 2 X 1. No segundo, triunfo do São José por 3 X 2, mas, no terceiro, o Grêmio demonstrou seu maior poder e conseguiu a vitória por 2 Xa 0, conquistando o título.

Em 1948, o time alcançou novamente o vice-campeonato de Porto Alegre. O campeão desta vez foi o Internacional, que conseguiu maior número de pontos que o Zequinha e o Grêmio. Muitos antigos torcedores do São José consideram o elenco vice-campeão de 1948 o melhor já visto na história do clube.

Atualmente o São José tem a sua sede na Zona Norte de Porto Alegre, onde se localiza o Estádio do Passo da Areia, que foi modernizado e recebeu gramado sintético, que foi vistoriado e aprovado pela FIFA. O futebol é a principal atividade esportiva do clube desde a sua fundação, mas também disputa competições de Basquete e Bocha. O São José está há 10 anos seguidos participando do Campeonato Principal de Futebol do Rio Grande do Sul.

Antes de ocupar a sede atual, o “Zequinha” andou por vários locais, até que em 1939 conseguiu adquirir o terreno no Passo da Areia. O estádio foi inaugurado em 24 de maio de 1940, com o jogo Grêmio Portoalegrense 3 X 2 São José. As arquibancadas de madeira da época não existem mais.

Hoje o estádio possui três arquibancadas nas duas laterais e uma atrás do gol da avenida Assis Brasil, todas cobertas, que abrigam cerca de 10.000 torcedores. Essa nova estrutura foi inaugurada em março de 2006 e conta com seis camarotes, oito cabines duplas fixas, uma sala de imprensa e outra para entrevistas, quatro vestiários para jogadores e um para arbitragem.

A sede possui ainda salão de festas para 300 pessoas, churrascaria com capacidade para receber 120 pessoas, ginásio, piscina e quadras sintéticas de futebol para aluguel, estrutura que a maioria dos clubes do interior não possuem. Para prática esportiva, oferece escolinhas de hockey, futsal, vôlei, basquete e patinação. Na alta temporada disponibiliza a hidroginástica. Como atividade cultural conta com o DTG Gaúchos do São José, invernada adulta do clube.

Em 1960 aconteceu a fusão entre o São José e o Clube de Regatas Almirante Barroso. O novo clube ganhou o apelido de "Zé Barroso". O uniforme tinha camiseta com listras largas azuis e brancas. Foi nessa época que o clube conquistou um dos maiores títulos da sua história, a Copa Governador do Estado, em 1971.

Em 1981, treinado por Vasques, o São José foi campeão da “Segundona Gaúcha”, o que garantiu o direito de participar do Campeonato Gaúcho da Divisão Especial de 1982. Enfrentando dificuldades de toda ordem, o time não conseguiu se manter na elite e foi rebaixado.

Em 1996, voltou a Primeira Divisão depois de uma parceria com o Renner. Durante esta parceria, o São José usou um uniforme em vermelho e branco como o velho clube do Estádio Tiradentes. Em 1998, num lance de marketing ousado, o São José contratou o centroavante Careca, ex-São Paulo e Napoli para atuar em alguns jogos do Gauchão.

As principais conquistas do São José: Vice-Campeão do Citadino de Porto Alegre (1937 e 1948); Campeão da Copa Governador do Estado, com o nome de Associação Atlética Almirante Barroso-São José (1971); Campeão do Torneio de Acesso (1963); Campeão da Segunda Divisão do Campeonato Gaúcho (1963 e 1981); Vice-Campeão da Segunda Divisão Gaúcha (1996). Está na elite do futebol gaúcho desde 1999. Sua melhor colocação na primeira divisão foi um 4º lugar em 2010.

A nível nacional o São José participou do Campeonato Brasileiro da Série C nos anos de 1997, 1998, 2001 e 2003 e da Série D em 2009. Em 2007 e 2008 jogou a Copa São Paulo de Futebol Junior.

Em 2007 o clube ousou novamente e contratou o goleiro Danrlei, ex-Grêmio. Em 2008 trouxe o atacante Fabiano, ex-jogador do Internacional. Em 2010 o clube conseguiu realizar a melhor campanha de sua história no Campeonato Gaúcho da Divisão Principal, se classificando em quarto lugar e garantindo vaga para o Campeonato Brasileiro da Série D e para a Copa do Brasil. E ainda teve o goleador do “Gauchão”, Jefferson, com 13 gols.

Nesses 100 anos de história, o São José teve em suas fileiras importantes jogadores, tais como: Luiz Luz (Grêmio e Seleção Brasileira - Década de 20), Ruaro (foi para o Inter - década de 20),

Bodinho (ex-Internacional), Carlos Luis Medeiros Vasques ( ex-Internacional), Cassiá ( ex-Grêmio e Coritiba), Carlos Miguel, ex-Grêmio e Inter), Claudio Mineiro (ex-Internacional), Dorinho ( ex-Internacional), Luiz Carlos Winck ( ex-Internacional), entre outros. Também teve como treinadores Ênio Andrade e Foguinho e o preparador físico Gilberto Tim (ex-Internacional e Seleção Brasileira)

Um feito do São José entrou para a história, foi o time sul-americano de futebol a viajar de avião. A FIFA registrou a excursão inédita do “Zequinha” a Pelotas em 1927, num hidroavião da Varig, modelo “Dornier Wal”, de nome “Atlântico”.

A Varig não era ainda a empresa respeitada que foi depois e tinha apenas esse aparelho, que fazia a linha regular Porto Alegre/Pelotas/Rio Grande, que havia entrado em operação em fevereiro daquele ano. A viagem aconteceu no domingo, 5 de junho, e o vôo teve como comandante Rodolfo Cramer.

A ideia de viajar de avião, conforme relatório de João Leal da Silva, tesoureiro do São José, na época, partiu do diretor de futebol Edgar Vielitz e do secretário Moisés Antunes da Cunha, quando o time voltava de bonde do bairro Menino Deus, onde havia vencido o Futebol Club Porto Alegrense, por 3 X 1, pelo campeonato da cidade, no dia 3 de maio.

Tudo estava acertado para a viagem, o E.C. Pelotas aceitou pagar a hospedagem e as despesas com o avião. O São José ainda disputou duas partidas pelo campeonato, perdendo para o Grêmio e Internacional. Dois dias antes da viagem, o secretário Moisés Antunes seguiu de vapor para acertar alguns detalhes.

Como o avião não podia levar todos os atletas, Odorico, Monteiro, Berlina e Benedito foram com o secretário e ficou combinado que haveria troca na volta, para que todos tivessem a oportunidade de sentir a sensação de voar. Aconteceram dois problemas na semana que antecedeu a viagem: o tempo estava chuvoso e o controle do peso.

A Varig, que tinha sua sede na Casa Bromberg, solicitou o peso exato de todos os jogadores, para obter o melhor desempenho do hidroavião – na sexta-feira o “Atlântico” viajou para o Rio de Janeiro, retornando no sábado. No domingo, pela manhã o avião levaria o E.C. São José a cidade de Pelotas, retornando na segunda-feira.

Tudo pronto, o comandante Rodolfo Cramer verificou que havia peso em excesso, porque os sobretudos não estavam incluídos. Ficou a pergunta, como resolver este impasse? Houve alguns protestos, pois ninguém queria ficar fora da viagem. O presidente Waldemar Zapp pediu para tirarem uma foto de todo o grupo, pois queria uma lembrança, em caso de acidente.

O comandante Cramer então combinou que se o avião decolasse sem problemas, a viagem seguiria com todos os passageiros. Pontualmente às 10h15min, decolou após duas tentativas, do aeroporto fluvial da Ilha Grande dos Marinheiros. O motor roncou, deu solavancos, pulava como um sapo, fazia um barulho infernal, mas decolou e deixou as águas do Guaíba para trás. O “Atlântico”, enfim, estava no ar e chegou no horário pré-visto, depois de duas horas e meia de viagem.

Depois desta epopeia, O E.C. São José voltou a viajar de avião em 1959, para jogar contra o 14 de julho, na cidade de Passo Fundo, onde venceu por 2 X 1, conforme relato do conselheiro Manoel Rubi da Silva, que era supervisor de futebol, na época.

Em 1998, já com um avião moderno, com toda a segurança e conforto viajou para o Estado do Paraná, para disputar uma partida de futebol pelo campeonato brasileiro da Série “C”.

Os nomes que ficaram na história do E.C. São José foram os passageiros Carlos Albino (chefe da delegação), João Leal da Silva (tesoureiro) e os jogadores: Álvaro Kessler, Antônio Netto, Dirceu, Alfredo Cezaro, César Cezaro (Pinho); Nicanor Leite (Nona), Clóvis Carneiro Cunha, Walter Raabe e o goleiro Bagre (Alberto Moreira Haanzel).

A viagem transcorreu sem problemas, exceto por dois jogadores, Antônio Netto e Bagre, que viajaram no porão do avião, porque só havia nove poltronas. Porém, garantiram lugar na volta porque os irmãos Cezaro enjoaram muito e prometeram jamais viajar de avião. A promessa, no entanto, só durou durante o vôo.

Pela viagem à Pelotas a Varig recebeu 2 contos e 500 mil réis, sendo que o preço individual, de ida e volta de uma viagem, daquele tipo custava 350 mil réis. Mesmo assim o preço, para a época, não foi considerado barato, porque o dólar estava valendo 8 contos e 500 réis.

O São José rivaliza com o Cruzeiro a condição de terceira força do futebol de Porto Alegre, por isso pode ser considerado o seu maior rival. O jogo entre ambos fói apelidado de “Zé-Cruz”.

A mascote do São José é a figura de um simpático e velho santo em homenagem ao padroeiro da escola, que dá nome ao clube. Os arquivos da agremiação não registram o autor do antigo desenho, mas a mascote se encaixou bem no espírito do clube de origens católicas.

Um dos grandes orgulhos do Esporte Clube São José é o seu Departamento de Veteranos, que é o mais antigo do gênero em atividade no país, sendo que nunca sofreu interrupções. Fator importante do Departamento de Veteranos é que dele saem a maioria dos presidentes do clube.

Mesmo sendo considerado um clube pequeno, o São José tem suas torcidas organizadas, que acompanham o clube em suas viagens pelo estado e fora dele: “Os Guaipecas”, que tem como mascote o “Muttley”, popular cão dos desenhos animados. Nos jogos em casa, localizam-se perto da cerca. E “Os Farrapos”, composta por um grupo de jovens que aderiram a ideologia barra brava de torcer. É a maior torcida do São José em atividade. (Pesquisa: Nilo Dias)

Delegação "Zequinha", minutos antes do embarque no hidro-avião "Atlântico", a primeira aeronave da Varig.