Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

terça-feira, 3 de julho de 2018

A insensibilidade do rei

Uma ausência muito sentida na Copa do Mundo da Rússia é de "Pelé", a maior estrela do futebol mundial em todos os tempos. Aos 77 anos, o "Atleta do Século" se submeteu nos últimos anos a cirurgias de coluna, fêmur e menisco, o que o obrigou a diminuir as aparições públicas. Esta é a primeira vez, desde 1958 quando era jogador, que não assiste ao maior torneio futebolístico do planeta.

O ex-camisa 10 do Santos e da Seleção Brasileira sofre há anos de dores na coluna que tem limitado seus movimentos, obrigando que se locomova com a ajuda de bengala e cadeira de rodas.

Há quem diga que "Pelé" é vitima de um castigo divino em razão de seus procedimentos nada recomendáveis com filhos, especialmente Edinho, que foi também jogador de futebol e Sandra, já falecida

A filha Sandra Regina Machado Arantes do Nascimento Felinto, 42 anos, que foi vereadora em Santos (SP) nunca obteve o reconhecimento afetivo de "Pelé", seu pai biológico. Em 1991, então com 27 anos, ela entrou na Justiça para ser reconhecida como filha mais velha do "Rei do Futebol".

Sandra foi fruto de uma relacionamento entre Pelé e a empregada doméstica Anízia Machado em 1963. Comprovada a paternidade por meio de exame de DNA, ela obteve o direito de usar Arantes do Nascimento no nome em 1996.

Toda a história entre Sandra e "Pelé" foi registrada no livro "A filha que o Rei não quis", que ela escreveu e foi sucesso de venda. Um trecho do livro diz:

Quando contava com mais ou menos sete anos de idade, minha mãe me deu ciência de que era filha de Pelé. Para mim, não fez diferença saber que era filha do Pelé. O que importava mesmo era saber eu tinha um pai!

Mas com o passar dos anos, fui me interessando por meu pai. Queria um dia poder me aproximar dele, dizer-lhe que era sua filha e receber suas calorosas boas-vindas. Queria poder abraçá-lo. Queria muito poder, como tantos outros seres humanos, ter o gosto de chamá-lo de pai!

Resolvi tomar uma iniciativa: telefonar para casa de meu pai no Guarujá. Fui atendida educadamente pela governanta. Apresentei-me como filha de Pelé. A governanta então prometeu fazer contato com ele e dar uma resposta.

Ao ligar novamente, recebi o seguinte recado: “Manda ela procurar os direitos dela. Inclusive, eu pago o advogado para ela”. Julguei que meu pai pudesse dar uma resposta diferente. Por que não me chamar para um diálogo a respeito do assunto? Além do mais, a forma como respondeu pareceu-me debochada.

Mais uma vez, minha mãe pediu que eu me afastasse de tal procura, por considerá-la inútil. Mas agora eu estava resoluta e ofendida. A sugestão de meu pai devia ser levada a sério. Eu iria então buscar os meus direitos!

Mesmo depois de haver entrado na justiça para reivindicar minha causa, continuei mantendo a esperança de que o processo não precisaria completar toda a sua jornada para que meu pai se voltasse para mim.

Em meio às inúmeras tentativas de alcançar meu pai, escrevi o seguinte artigo na seção “Ponto de vista” da revista Veja de 20 de Maio de 1992, intitulada “Pelé é meu pai”:

 “Eu sou filha de Édson Arantes do Nascimento, o Pelé. Acredito que está chegando ao fim a luta para que meu pai me reconheça. Graças à ciência, já está provado que sou sua filha. A justiça, acredito, está prestes a reconhecer essa verdade, apesar de os advogados de meu pai terem pedido a troca do juiz, que, segundo eles, seria suspeito para julgar o caso.

Mas não é necessário o exame de DNA ou a decisão do juiz para que eu tenha essa certeza. Para mim, que esses anos todos tenho tentado encontrá-lo, há muito tempo que não existe qualquer sombra de dúvida, e os exames só fizeram confirmar o que eu já sabia. Pelé é meu pai e vai me reconhecer. Se a ciência não for o bastante, e a própria justiça me falhar, ainda assim ele fará o reconhecimento. Mesmo que procure se enganar, no fundo do coração ele me reconhecerá"(...)

Mas "Pelé" foi insensível. Obrigado pela Justiça reconheceu que Sandra era sua filha, mas não lhe deu o que ela mais queria, o carinho de pai. Nem mesmo quando estava no leito de morte vítima de um câncer, "Pelé" foi duro: não a visitou e nem mesmo foi ao seu enterro, limitando-se a enviar uma coroa de flores em nome de sua empresa.

Não são poucas as pessoas que condenam "Pelé" pela sua insensibilidade neste caso. Na verdade não precisava nem ter feito o exame de DNA, a mulher era quase uma cópia feminina do pai.

Os dois filhos de Sandra Arantes do Nascimento Felinto, vão receber pensão do avô. Segundo a colunista Mônica Bergamo, do jornal "Folha de S. Paulo", o ex-atleta terá que pagar mensalmente, após decisão judicial, sete salários mínimos - aproximadamente R$ 5 mil - para cada um.

Os tormentos de "Pelé" não se limitaram a filha Sandra. Edinho, cria do primeiro casamento do "Rei", ao contrário de Sandra que foi sempre uma mulher honesta e trabalhadora, sendo inclusive vereadora em Santos, só tem dado dores de cabeça ao pai.

Recentemente ele foi preso pela quinta vez. Antes, ele já fora detido outras quatro vezes. Está condenado a 33 anos de prisão por ligação com o tráfico de drogas. Antes, Edinho foi detido outras quatro vezes. A primeira prisão de Edinho aconteceu em 2005.

O ex-goleiro foi detido com outras 17 pessoas pela “Operação Indra”, realizada pelo Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc), acusado de ligação com uma organização de tráfico de drogas comandada por Duarte Barsotti de Freitas, o “Naldinho”.

Após seis meses em prisão provisória, foi solto com liminar em habeas corpus concedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Em janeiro de 2006, ele teve a prisão decretada com o aditamento da denúncia, que passou a incluir o crime de lavagem de dinheiro. Edinho obteve o direito de permanecer em liberdade.

Em fevereiro do mesmo ano, o Ministério Público o denunciou por lavagem de dinheiro. O ex-jogador voltou a ser preso, 47 dias após conseguir a liberdade. Depois disso, a Justiça mantinha a decisão de negar os pedidos de liberdade, mas acabou concedendo um habeas corpus formalizado pela defesa e de Edinho.

No dia 30 de maio de 2014, o ex-goleiro do Santos Futebol Clube foi condenado pelos crimes de lavagem de dinheiro e associação ao tráfico de drogas após decisão da juíza Suzana Pereira da Silva, auxiliar da 1ª Vara Criminal de Praia Grande.

Edinho foi preso no dia 7 de julho por não ter apresentado seu passaporte à Justiça, uma das exigências para permanecer em liberdade até a decisão final da Justiça. O advogado Eugênio Malavasi conseguiu um novo habeas corpus para que o cliente pudesse responder em liberdade.

Em novembro do mesmo ano, o ex-goleiro foi detido no Fórum de Praia Grande, após cumprir a medida cautelar que exigia que ele comparecesse mensalmente em juízo e registrasse sua rotina. Edinho foi solto no dia seguinte. A Justiça acatou o pedido de habeas corpus impetrado pela defesa.

Em 25 de fevereiro deste ano, o ex-goleiro voltou a ser preso. Ele conseguiu autorização para responder em liberdade dias depois.


Edson Cholbi Nascimento nasceu em Santos, São Paulo, dia 27 de agosto de 1970. Desde então, ele teve de conviver com a realidade de não ser apenas im menino, mas o filho do maior jogador de futebol que o mundo conheceu.

Sua mãe foi a primeira esposa do Rei, Rosemeri dos Reis Cholbi. O menino, um dos seis filhos reconhecidos pelo jogador, nasceu um pouco mais de um mês depois que Pelé conquistou sua terceira Copa do Mundo, no "Estádio Azteca", na Cidade do México. 

A relação entre Rosemeri Cholbi e Pelé se tornou difícil quando em 1993 um teste de DNA demonstrou um comportamento infiel do jogador. Havia tido uma filha com Anizia Machado, a faxineira da casa onde moravam. Era Sandra, já falecida. Quando "Pelé" foi jogar no Cosmos, em Nova Iorque, seus pais já haviam se separado.

Ele e a irmã foram criados por uma mãe solteira num apartamento pequeno, tudo por causa do escândalo extramatrimonial em que seu pai se envolveu. Edinho quase não via "Pelé". 

O fato de ser um jogador de futebol não justificava sua ausência na vida do filho, mas foi o que aconteceu. Só se viam em alguns aniversários ou em outra ocasião especial, uma ou duas vezes por ano.

Para Edinho foi muito decepcionante crescer sem a figura paterna. E confessava abertamente que não amava seu pai, porque ele fazia sua mãe chorar e, por isso, era o vilão, o homem mau. Sua inserção social também foi difícil.

Passou pelo basquete, beisebol e futebol. Depois, quando foi para Nova Iorque e mudou de escola, aproveitou o clima e andou de patinete e praticou hockey no gelo.

Aos 19 anos foi jogar futebol no Santos, o time onde"Pelé" brilhou. Os jornalistas na época diziam que ele estava no cube apenas por ser filho de "Pelé" e que sua estatura não era considerada adequada para um goleiro. 

Ficou no Santos apenas uma temporada, para logo depois ir para a Portuguesa. Suas habilidades como goleiro não eram muito notáveis e, por isso, foi pulando de clube em clube.

Aos 29 anos, a carreira na qual tinha apostado e na qual seu pai havia triunfado, começou a descarrilar. Edinho abandonou o futebol em 1999 depois de ter jogado uma temporada no Ponte Preta, de Campinas. 

Antes de se afastar do futebol, o filho do astro tivera problemas por ter participado de um racha em Santos, em outubro de 1992, que causou a morte de uma pessoa inocente.

Nessa corrida clandestina também estava um amigo seu, Marcilio José Marinho de Melo. Eles competiam dirigindo seus carros em alta velocidade naquele outubro de 1992. O carro que Melo dirigia atropelou um transeunte que passava pelo local, Pedro Simões Neto, de 52 anos, que morreu no ato.

A Justiça considerou os dois culpados, ainda que Edinho não estivesse conduzindo o carro que impactou a vítima. A pena imposta foi de seis anos de prisão por homicídio. O juiz baseou sua decisão no fato de que ambos estavam cientes de que um racha pelas ruas de Santos poderia causar a morte de alguém. 

A pena sancionada foi para um regime semiaberto: permitia que saíssem durante o dia para trabalhar, mas exigia que permanecessem no presídio durante as noites. 

Edinho sentiu a pressão por ser filho de Pelé pela primeira vez quando chegou ao Brasil. Teve que aprender a viver à sombra do ídolo do país. De um dia para o outro, ele virou “o filho de Pelé”, algo de que havia escapado em sua infância devido à ausência do pai e ao fato de não morar no Brasil. 

"Pelé" esta com 77 anos de idade e não consegue mais andar. Para se locomover precisa da ajuda de uma bengala e de uma cadeira de rodas. O ano passado ele fez uma cirurgia do quadril.

Muitos lamentam a situação do “rei”. Mas há também quem ache que Edson Arantes do Nascimento está pagando pelo que fez com a filha, Sandra Arantes, que nunca reconheceu e não visitou nem no leito de morte, quando ela já estava com o câncer bem avançado. (Pesquisa: Nilo Dias)