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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A bola perdeu um amigo

Primeiro foi Nilton Santos, agora Pedro Rocha que nos deixa. Em poucos dias o futebol perdeu dois de seus grandes nomes. Nilton Santos foi da “Seleção Brasileira” e Pedro Rocha da “Celeste Olímpica”. Dois grandes amigos da bola.

O ex-jogador uruguaio, que foi ídolo no São Paulo F.C. na década de 1970, morreu ontem (02/12) em sua casa, na capital paulista, um dia antes de completar 71 anos de idade. Ele padecia de atrofia do mesencéfalo, um mal que afetava seus movimentos e a fala, mas não a compreensão e a memória. Pedro Rocha passava os dias em casa, ao lado da mulher Mabel, fazendo fisioterapia e recebendo assistência médica.

Pedro Virgílio Rocha Franchetti nasceu no dia 3 de dezembro de 1942, na cidade de Salto, Uruguai e se consagrou como um dos melhores camisas 10 do mundo. Escreveu seu nome na galeria de craques de dois dos principais times do continente, o Peñarol e o São Paulo.

Era chamado de “El Verdugo”, apelido dado pelos torcedores do Peñarol, em razão da grande quantidade de gols que marcou contra o rival Nacional. Era o “matador”, com sua categoria, chute forte e cabeçadas arrasadoras.

Forte e elegante, chegou ao São Paulo no dia 15 de setembro de 1970, aos 28 anos de idade, depois de terem sido contratados Gerson “Canhotinha de Ouro” e Toninho "Guerreiro", para compor um dos mais fortes meios de campo da história são paulina.

O tricolor paulista não ganhava nada há 13 anos e a diretoria resolveu partir para a formação de um time forte, ao mesmo tempo que concluía as obras do estádio do Morumbi. Os primeiros jogos de Pedro Rocha com a camisa do São Paulo foram desanimadores. Até a saída de Gerson do clube, fez tão somente 13 gols em 59 partidas.

Em 1972 tudo foi diferente e o artilheiro uruguaio marcou 25 gols em 56 partidas, um desempenho notável que o consagrou como o primeiro jogador estrangeiro a ser o artilheiro de um Campeonato Brasileiro. Ele fez 17 gols, dividindo a artilharia com Dario, do Atlético Mineiro.

Seu companheiro de São Paulo, Peñarol e Seleção Uruguaia, Pablo Forlán, chegou a dizer que Pedro Rocha foi o melhor jogador uruguaio dos últimos 50 anos. Edson Arantes do Nascimento, o “Pelé”, também era fã de Pedro Rocha. Para o “rei”, ele foi um dos cinco melhores jogadores do mundo, na época.

A descrição de Rocha como jogador, beirava a perfeição. Ele caminhava com a bola, lançava o centroavante e continuava a correr, até recebê-la de volta. Aí tocava para um dos pontas e se deslocava em direção a área, confundindo os defensores que não sabiam a quem marcar, facilitando seu cabeceio.

Em outras ocasiões, quando não tinha como dar o passe, costumava segurar a bola até poder desferir um chute forte de 30 metros de distância. No final da Copa América de 1967, vencida pelo Brasil, era Pedro Rocha o cobrador de faltas pelo lado esquerdo de campo. Geralmente ele colocava a bola no canto esquerdo do goleiro adversário.

Pedro Rocha era uma pessoa educada, quieto, não se prestava para muitas brincadeiras e tinha como “hobby” jogar sinuca. No “pano verde” era praticamente invencível, jogava como ninguém. Diziam que ele era “um gênio da bola", dentro de campo ou numa mesa de sinuca.

Pedro Rocha vestiu a camisa do São Paulo 393 vezes e marcou 119 gols. Ficou no clube do Morumbi por longos sete anos, saindo em 1977 depois de se desentender com o técnico Rubens Minelli. No clube das três cores ganhou um Campeonato Brasileiro e dois estaduais.

No Peñarol, de Montevidéu, clube que o revelou para o futebol, Rocha foi três vezes campeão da “Taça Libertadores da América” e duas vezes da “Copa Intercontinental de Clubes”, antes de se transferir para o São Paulo. Cada vez que ele entrava em campo a torcida amarela e preta uruguaia cantava: “Rocha, meu bom amigo, esta campanha queremos estar contigo. Estaremos de coração. Essa torcida quer te ver campeão”.

Entre seus maiores feitos, destaca-se o fato de ser o único jogador uruguaio até hoje a disputar quatro Copas do Mundo, 1962, 1966, 1970 e 1974.

A carreira vitoriosa de “El verdugo” não lhe garantiu uma aposentadoria tranquila. Depois de deixar os gramados tentou a carreira de treinador, tendo dirigido o Internacional, Ponte Preta e Portuguesa de Desportos, sem obter sucesso. Aí partiu para outra aventura, ser dono de uma casa de Bingo, que também não deu certo.

Passou a viver com uma aposentadoria que não chegava a R$ 2 mil. E com os graves problemas de saúde que enfrentou nos últimos anos, a coisa só piorou. O São Paulo inicialmente ajudou no tratamento médico, mas tempos depois suspendeu o apoio. E o prometido amistoso em sua homenagem nunca saiu.

Segundo seu filho Pedrinho Rocha, ex-jogador de futebol (atuou nos juniores do Palmeiras e São Paulo, depois foi para o Uruguai, onde jogou no Peñarol e hoje é treinador), dois médicos amigos ajudavam Rocha. Um deles também se responsabilizava pela fisioterapia que o ex-jogador fazia. Queixa-se de que o São Paulo não fez por ele o que deveria ter feito. Ajudou um pouco, mandou um médico, e só.

Equipes que atuou: Peñarol (1959 - 1970), São Paulo (1970 - 1977), Coritiba (1978), Palmeiras (1979), Bangu, Deportivo Neza, do México, Monterrey, do México (1980) e Al-Nassr, da Arábia Saudita (1980).

Títulos conquistados. Campeonato Uruguaio (1959, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965, 1967 e 1968); Taça Libertadores da América (1960, 1961 e 1966); Taça Intercontinental de Clubes (1961 e 1966); Recopa Sul-Americana (1969); Campeonato Paulista (1971 e 1975); Campeonato Brasileiro (1977) e Campeonato Paranaense (1978). Gols marcados. Peñarol (81 gols em 159 jogos); São Paulo (119 gols em 393 jogos) e seleção do Uruguai (17 gols em 52 partidas).

Prêmios individuais: Melhor jogador do Campeonato Sul-Americano, atual Copa América (1967); Bola de Prata, Revista Placar (1973) e 38º Melhor futebolista Sul-Americano do Século XX, escolhido pela International Federation of Football History & Statistics - IFFHS (1999).

Pedro Rocha virou parte de um livro, “Tricolor Celeste”, de autoria do jornalista Luis Augusto Simon, onde é descrita a trajetória de quatro jogadores uruguaios que vestiram a camisa do São Paulo F.C.: Pablo Forlán, Dario Pereyra, Diego Lugano e Pedro Rocha.

Pena que nunca tenha sido Campeão do Mundo pela “Celeste”, o que o equipararia a outros monstros sagrados do futebol uruguaio, como Juan Schiaffino, Obdulio Varela, Hector Scarone e José Leandro Andrade. Mas, a exemplo desses, foi um grande craque.

O jornalista Juca Kfouri, em seu blog, escreveu hoje uma frase que resume toda a carreira de Pedro Rocha: “A bola perdeu mais um de seus melhores amigos em todos os tempos”. (Pesquisa: Nilo Dias).

 Pedro Rocha e Pelé. (Foto: Divulgação)