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quinta-feira, 16 de julho de 2009

Grenal, um clássico de 100 anos (4)

Teté, o técnico do Inter, era um especialista em macumba. Na véspera do Grenal que decidiria o campeonato de 1953, o jogador Bodinho procurou o chefe para dizer que não poderia jogar, pois estava “macumbado”. Teté mandou que Bodinho ficasse quieto e chamou uma negra batuqueira de nome Geralda, bastante conhecida no clube. Os três ficaram trancados na cozinha por mais de duas horas, conversando e comendo lingüiça com farinha.

Ao final da festa, sem que nenhum ritual tivesse sido feito, disseram a Bodinho que ele estava desamarrado e poderia jogar sem problema algum. Bastante tranquilo Bodinho dormiu bem toda a noite, e no dia seguinte fez um verdadeiro Carnaval na defensiva gremista, ajuadando o Inter a se sagrar tetracampeão de Porto Alegre.

No dia 9 de maio de 1954 chegou ao Internacional o atacante Larry Pinto de Farias, vindo do Fluminense do Rio de Janeiro e que formaria ao lado de Bodinho, talvez a mais famosa dupla atacante do clube em todos os tempos. A estréia de Larry foi no Grenal 133, de caráter amistoso, disputado dia 18 de julho daquele mesmo ano no estádio dos Eucaliptos.

O Inter venceu por 3 X 1 e Larry marcou um dos gols. O atacante jamais esqueceu esse jogo, não só por que foi o primeiro que disputou com a camisa colorada, mas por um soco no queixo, que levou do zagueiro gremista Xisto, acompanhado da frase: “Toma, carioca filho da puta”.

Um ano antes, o mesmo Xisto deu um pontapé no ponteiro-direito Luisinho, do Internacional e o jogou fora do gramado. Não satisfeito, avançou até ele, apoiou a mão direita sobre sua nuca e esfregou seu rosto no chão. O árbitro Hans Lutzkat, com medo de também ser agredido, limitou-se apenas em pedir para que ele não fizesse aquilo outra vez. Xisto, tempos depois teve uma das pernas quebrada pelo jogador colorado Salvador.

Em setembro de 1954 o Grêmio inaugurava o estádio Olímpico Monumental, com capacidade para 38 mil torcedores, na época o maior estádio particular do Brasil. Um festival de futebol, com direito a banda e tudo o mais, marcou a inauguração do estádio. No primeiro jogo o Grêmio derrotou o Nacional de Montevidéu por 2 X 0. Vitor marcou o primeiro gol do novo estádio. Três dias depois o Grêmio golearia o Liverpool, também do Uruguay por 4 X 0.

A festa só seria completa se houvesse um Grenal. E este aconteceu no dia 26 de setembro de 1954. Triste recordação para os gremistas que tiveram de engolir uma goleada de 6 X 2, justamente na inauguração de sua nova casa. Esse jogo mexeu realmente com a estima dos dirigentes tricolores. Tanto é verdade, que no fascículo 4, da “História Ilustrada do Grêmio, foram escritas apenas estas lacônicas linhas, sem citar o placar do jogo: “Na terceira partida inaugural foi realizado o Grenal 153, no dia 26 de setembro. Equipe do Grêmio: Sérgio – Ênio Rodrigues e Orli – Roberto – Sarará e Itamar – Tesourinha – Milton – Camacho (Vitor) – Zunino e Torres (Delém)”.

Em 1955 o Grêmio, presidido por Luiz Carvalho contratou o seu ex-jogador Osvaldo Rolla, o “Foguinho” para ser o treinador e tentar a retomada de conquistas no futebol gaúcho. O novo preparador inovou, priorizando o preparo físico dos jogadores. Seus métodos não eram nada convencionais. Mandava os jogadores carregando outros nas costas, subirem correndo as escadarias do Estádio Olímpico. E ninguém reclamava, pois o próprio “Foguinho” também fazia o mesmo.

Naquele ano os resultados de campo ainda não foram os desejados. Chegou 1956, e com ele um novo time do Grêmio, com uma defesa bem estruturada, onde se destacava um zagueiro de nome Airton Ferreira da Silva, que veio do Força e Luz, um outro time da capital, trocado pelo pavilhão do velho estádio da Baixada.

Tendo no preparo físico sua mais eficiente arma, o Grêmio vencia seus adversários no segundo tempo. No Grenal que decidia o primeiro turno, disputado no dia 2 de setembro, aconteceu a jogada mais bonita até hoje, de toda a história do clássico. O Grêmio vencia por 1 X 0, quando Gessy lançou Juarez. O goleiro La Paz saiu para tentar a defesa e o atacante, com um leve toque o encobriu.

A bola estava quase entrando, a torcida gremista já festeja o segundo gol, quando surgiu repentinamente o zagueiro Florindo, que com um salto acrobático, de puxeta mandou a bola para escanteio. Incrédulos, os torcedores gremistas num primeiro momento ficaram calados, mas segundos depois juntaram-se aos colorados para aplaudir tão incrível jogada. O Grêmio terminou vencendo por 2 X 1.

Ao final do ano o tricolor festejava a reconquista da hegemonia do futebol gaúcho. O técnico Foguinho, responsável pela campanha vitoriosa ganhou de presente um flamante automóvel DKW Vemag. Já os dirigentes do Internacional começavam a mudar o grupo. Os melhores jogadores foram vendidos. Oreco, o craque do time foi para o Corinthians.

O que se seguiu os colorados não gostam de lembrar. O Grêmio dominou amplamente o futebol do Rio Grande do Sul até 1960, ganhando tudo. (Pesquisa: Nilo Dias)

Airton, foi o melhor zagueiro de toda a história do Grêmio. (Foto: Acervo do Grêmio F.B. Portoalegrense)