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terça-feira, 17 de março de 2015

O jogador que escapou da morte

O jogador Bernardo, do Vasco da Gama, na época com 22 anos e pai de quatro filhos - Beatriz, Enzo, Lucca e Mattheo -, certamente não vai esquecer pelo resto da vida os momentos de pavor que viveu em abril de 2013, depois de ter-se envolvido com a mulher de um traficante de drogas, do Morro da Maré, no Rio de Janeiro.

Tudo começou quando ele e os jogadores Charles, que na época jogava no Palmeiras e Wellington Silva, do Fluminense, saíram à noite para uma festa na “Favela Salsa e Merengue”. Lá o vascaíno teria se envolvido com Dayana Rodrigues, uma das várias esposas do traficante Marcelo Santos das Dores, o “Menor P”, chefe do tráfico da comunidade.

Ao ficar sabendo que os dois estavam juntos, “Menor P” ordenou que fossem sequestrados e levados ao “Morro do Timbau”, na Maré, para serem mortos. Mas Wellington Silva, nascido na favela e conhecido dos traficantes, tentou amenizar a situação.

Segundo policiais do 21ª DP de Bonsucesso, as cenas foram brutais. O casal foi levado a uma casa na “Vila do João”, onde foram amarrados com fita crepe e nus passaram por sessões de tortura com choques elétricos e espancados, com chutes e pontapés.

Armados, os traficantes estavam dispostos a matar os dois. Foi quando Wellington Silva implorou pela vida de Bernardo. Argumentou que se o jogador morresse, “Menor P” se arrependeria mais tarde, pois assim que fosse divulgada a morte de Bernardo, certamente viria a retaliação.

O “Complexo da Maré” seria invadido e ali instalada uma “Unidade de Polícia Pacificadora” e “Menor P” não teria mais como traficar no local, perdendo o controle da favela. O argumento funcionou e Bernardo foi poupado. Mas Dayana comeu o pão que o diabo amassou.

“Menor P” perderia prestígio se não reagisse. Bernardo escaparia, mas a amante, não. Dayana tomou tiros de raspão e um na perna. Teve de ser operada, passou por dois hospitais. Assustada, não quis incriminar “Menor P”. Ao depor, disse que foi vítima de bala perdida.

Bernardo nasceu em Sorocaba, interior de São Paulo. É filho do ex-jogador “Hélio Doido”, com passagens por Vitória da Bahia, Fluminense, Palmeiras e Sport. De temperamento explosivo, surgiu no Cruzeiro. Jogou até na Seleção Brasileira sub-15.

Bernardo era uma grande promessa. Mas seu ponto fraco era conhecido, o gosto pelas noitadas. Os dirigentes cruzeiristas não gostavam de suas farras e por isso decidiram que o investimento não valia a pena. Seus maus exemplos poderiam influenciar outras jovens promessas do clube. Por isso foi emprestado ao Goiás e depois ao Vasco.

No time cruzmaltino Bernardo teve um ótimo desempenho em 2011, tendo marcado 18 gols. Por isso o Vasco pagou R$ 3,5 milhões para ficar com seus direitos. Mas o arrependimento não demorou a chegar, o jogador vivia nas baladas e as cobranças da Diretoria de nada adiantaram.

Bernardo não deixou por menos, acionou o clube na Justiça, alegando atrasos nos salários. Mas acabou entrando em acordo com o Vasco e a situação foi contornada e ele emprestado ao Santos.

Na época o técnico santista era Muricy Ramalho, que gostou do meia atacante. Mas o desencanto não demorou. Bernardo fez o mesmo que Adriano no São Paulo, mais interessado na noite do que em outra coisa. E logo foi afastado do grupo. O temor do técnico era que seus maus exemplos influenciassem principalmente Neymar, a jóia do time.

E não restou outra alternativa senão devolvê-lo ao Vasco. Com apenas 22 anos, perdera totalmente a confiança dos dirigentes, que estavam outras vez atentos as suas noitadas.

Foi quando veio a contusão, tendo rompido o ligamento cruzado do joelho esquerdo, num jogo frente o Quisamã. Era o artilheiro do fraco time vascaíno com sete gols. A contusão travou a vontade de negociá-lo. O diagnóstico: seis meses sem poder jogar futebol.

A expectativa era de que só voltasse a jogar em 2014. Mas como sempre as coisas podem piorar, veio o problema coma mulher do traficante “Menor P”. De acordo com policiais, Bernardo teve motivos de sobra para comemorar. Escapou por sorte de ser assassinado. E deve agradecer isso a Wellington Silva.

Bernardo entrou na época, no seleto grupo de jogadores problemas, como Adriano, Marcelinho Paraíba e Jobson. Bons jogadores, mas problemáticos crônicos. Chegou a fazer tratamento intensivo com a psicóloga do Vasco, uma tentativa extrema de tirá-lo das farras.

Mas não deu certo. Com o vazamento da notícia de quase foi morto no morro, o jogador ficou desesperado e chegou a dizer que poderia até se suicidar. Ele, com medo de represálias por parte do traficante, dizia que nada do que foi divulgado era verdade.

Em maio de 2014, Bernardo foi emprestado ao Palmeiras até o fim do ano. Pelo acordo, o Palmeiras teria a opção pela compra de 50% do atleta, que, por sua vez, está vinculado aos cariocas até dezembro de 2015.

Mas não deu certo. No clube paulista jogou sete partidas e não fez um gol sequer. Por isso em novembro foi devolvido ao Vasco, onde se encontra até hoje, sendo titular da equipe no Campeonato Carioca. (Pesquisa: Nilo Dias)

Bernardo está de volta ao Vasco. (Foto: Divulgação)