Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

O primeiro campeão de Porto Alegre

Fundado em julho de 1909, o Militar Foot Ball Club foi o primeiro time a se sagrar Campeão Municipal de Porto Alegre. O feito aconteceu em 1910, ano em que foi criada a Liga Porto Alegrense de Foot-Ball (LPAF), pelos clubes Militar, 7 de Setembro, Grêmio, Internacional, Nacional, Fussball e Frisch Auf. O Militar sagrou-se campeão citadino de forma invicta. Também conquistou o Campeonato de segundos quadros.

O time era formado por alunos da Escola de Guerra, cuja sede ficava no antigo “Casarão da Várzea”, prédio que viu nascer a Escola de Educação Física do Rio Grande do Sul, na década de 1940, por iniciativa do capitão Olavo Amaro da Silveira, que era instrutor da Escola Preparatória de Cadetes, junto com outros oficiais e civis, tornando-se o seu primeiro diretor. Hoje o prédio abriga o Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA).

A primeira partida da história do clube ocorreu em 7 de setembro de 1909, um empate sem gols contra o Internacional, no campo da Várzea, que foi utilizado pelo colorado entre 1910 e 1912, e se localizava onde hoje fica o Parque da redenção.

O primeiro time do Militar era formado por: Prado - Aché e Abacílio – Américo - Fiuza e Costa – Atahualpa – Mendes – Souza - Lima e Vasconcelos. O Militar foi o primeiro time a ser derrotado pelo Internacional. No dia 12 de outubro de 1909, o time colorado venceu por 2 X 1, tendo Benjamin Vignoles marcado o primeiro gol da história colorada.

A vida do clube da Escola de Guerra foi curta. Em 1911 a Escola de Guerra foi transferida para o Rio de Janeiro e o clube foi extinto. Alguns dos seus ex-jogadores, como o zagueiro Aché e o meia Mendes transferiram-se para o América ao chegarem no Rio de Janeiro, enquanto outros que ficaram em Porto Alegre, ajudaram a fundar o Esporte Clube Cruzeiro, que ano que vem comemorará seu centenário.

O time azul e branco da capital gaúcha foi campeão municipal nos anos de 1918, 1921 e 1929, quando também conquistou o seu único título de campeão gaúcho. Sua equipe era formada por jogadores da UFRGS e do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA).

Em 1912 foi criado o Colégio Militar de Porto Alegre, sucessor das conceituadas Escola Militar do Rio Grande do Sul e Escola de Guerra, que formavam oficiais do Exército, ocupando o velho “Casarão da Várzea”.

O Colégio Militar de Porto Alegre é conhecido como "Colégio dos Presidentes", isto porque nas suas salas já foram formados sete Presidentes da República. São eles: Getúlio Dornelles Vargas, Eurico Gaspar Dutra, Humberto de Alencar Castelo Branco, Arthur da Costa e Silva, Emílio Garrastazú Médici, Ernesto Geisel e João Batista de Oliveira Figueiredo.

Outros ex-alunos ilustres foram: Adalberto Pereira dos Santos (Vice-Presidente da República); Mário Quintana (poeta); Vasco Prado (artista plástico); Jarbas Gonçalves Passarinho ( foi presidente do Senado, em 1981, ministro do Trabalho e da Previdência, 1967 a 1969, ministro da Educação e da Cultura, 1969 a 1974, ministro da Previdência Social, 1983 a 1986 e ministro da Justiça, 1990 a 1992; Plácido de Castro, o “Libertador do Acre”, herói nacional; Armando Pereira da Câmara, filósofo,reitor da UFRGS e primeiro reitor da Pontifícia Universidade Católica (PUC); Guilherme Paraense, o primeiro medalhista de Ouro do Brasil numa Olimpíada, com tiro rápido de pistola; Carlos de Paula Couto, paleontólogo renomado; Ruy Figueira, radialista e primeiro Repórter Esso do rio Grande do Sul; Pedro Ernesto Denardin, jornalista esportivo gaúcho; Darcy Pereira de Azambuja, romancista, advogado e escritor da obra jurídica “A Teoria Geral do Estado” e Nelson Mendonça Mattos, um dos vice-presidentes do Google, em 2008.

O tradicionalismo gaúcho nasceu no “Velho Casarão da Várzea” com a criação, por iniciativa do major João Cezimbra Jacques, professor da Escola Militar, do “Grêmio Gaúcho”, em 1898, primeira entidade destinada ao estudo e ao culto das tradições rio-grandenses, motivo pelo qual foi consagrado como “Patrono do Tradicionalismo Gaúcho”.

Em um dedicado trabalho de pesquisa, realizado no bojo de um amplo projeto esportivo para o CMPA, o professor Gustavo Otto Aquere Hagen procurou e localizou nos arquivos do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, a mais antiga fotografia de uma equipe esportiva do “Casarão da Várzea”, o Militar Foot Ball Club, em lance do histórico jogo decisivo do Campeonato Porto Alegrense de 1910, que também foi a primeira competição do gênero no Rio Grande do Sul, quando o clube militar se sagrou campeão.

Uma outra foto encontrada na pesquisa é do “Casarão da Várzea”, frente a então Escola de Guerra e não onde é o HPS, como afirmam alguns autores. (Pesquisa: Nilo Dias)

O velho "Casarão da Várzea", onde foi fundado o Militar Foot Ball Club.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Um presidente macho

Osório Cardoso Villas Boas, foi o presidente mais popular de toda a história do E.C. Bahia. Nasceu em Salvador, a 7 de outubro de 1914, filho de Cícero Lopes Villas Boas e Maria Júlia Rodrigues Cardoso Villas Boas. Foi casado com a senhora Lúcia Mendonça Villas Boas, de cuja união não deixou descendentes. Faleceu em Salvador no dia 7 de janeiro de 1999, aos 85 anos de idade.

Cursou o Ginasial nos Colégio Marista e Antônio Vieira, ambos em Salvador. Foi jogador do E.C. Bahia, ingressou na Polícia Civil como inspetor de polícia em 1935, permanecendo até 1963. Depois foi secretário de Segurança.

Iniciou na política como vereador pela Câmara Municipal de Salvador em 1950. Repetiu tal façanha nas eleições de 1954, 1958, 1982 e de 1988. Foi presidente da Câmara de 1989 a 1990 e de 1991 a 1992. E prefeito interino de Salvador em 1991.

Eleito deputado estadual, esteve no cargo de 1967 a 1969, quando no dia 1º de julho foi cassado após a implantação do AI 5. Na Assembléia Legislativa da Bahia foi o 3º secretário nos anos de 1967 e 1968, e titular da Comissão de Finanças, Orçamento e Contas, em 1969 e suplente das Comissões de Economia e Finanças, em 1967 e de Constituição e Justiça, em 1969.

No E.C. Bahia foi conselheiro, vice-presidente e presidente, nos anos de 1958 a 1960 e 1961 a 1969. Foi ele que dirigiu o clube quando da conquista do Campeonato Brasileiro de 1959, primeiro torneio nacional a indicar um representante do país à Taça Libertadores da América.

Ainda trabalhou como gerente do Lloyd Brasileiro, em Salvador, no ano de 1964; subgerente do Grupo Univest, em 1970 e gerente geral da Aplitec, nos Estados da Bahia e Sergipe e assessor legislativo na Câmara Municipal de Salvador.

O nome de Villas Boas até hoje é amaldiçoado entre os torcedores do E.C. Vitória, o grande rival do Bahia, porque ele foi o responsável por colocar o futebol baiano além das fronteiras do Estado, para ser reverenciado por todo o país. O título do clube baiano foi definitivo, inquestionável, aflitivo para os rivais, que jamais poderão lhe tirar esta marca.

O livro que o ex-presidente do tricolor baiano escreveu, “Futebol, paixão e catimba”, publicado em 1973, é tido pelos torcedores rubro-negros como uma real confissão de que tenha subornado e praticado vários delitos que depõem contra o futebol baiano.

O livro de Osório conta episódios que marcaram o imaginário do povo de sua época. Como nem todas as histórias mostravam um lado positivo do Bahia, o livro foi censurado durante muito tempo pela direção do clube.

Teve um "causo" em que um presidente do Vitória mandou desenhar e fixar na parede do vestiário do seu time, um cartaz com os jogadores rubro-negros vestidos de mulher. Depois atribuiu a autoria disso ao presidente do Bahia, Osório Villas Boas, na tentativa de provocar o brio dos atletas de seu time. Esses "causos" e muitos outros estão no livro.

Algumas pessoas, mesmo sem ao menos ter visto a capa do livro, acusam o velho Osório de praticas como se tivesse feito uma confissão efetiva.

Em um dos episódios mais curiosos do livro, o “cartola” explica o “mata-mata” contra o Sport, no caminho para o título da Taça Brasil. Era uma melhor de três jogos. No primeiro confronto, em Salvador, o Bahia venceu por 3 X 2. No segundo, na Ilha do Retiro, com João Havelange na tribuna de honra, o “Leão” aplicou 6 X 0. Aí, ele narra a história até a vitória na “negra”, por 2 X 0, na Ilha. Basta dizer que, na véspera do jogo, o dirigente pagou várias rodadas de cerveja para os jogadores do Sport. O time entrou em campo cambaleando e deu no que deu.

Por sua vez Osório mandou deixar no placar o resultado do jogo anterior, para mexer com os brios dos seus jogadores. A partir daquele momento o Bahia seguiu em frente para se tornar o primeiro campeão da Taça Brasil, em 1959.

No tempo em que Osório Villas Boas presidiu o Bahia, vivia-se uma época romântica do futebol brasileiro, que era mais apaixonante. Nossos dirigentes eram ingênuos, comparados aos de hoje. O Bahia ganhou dois campeonatos brasileiros, lutando contra tudo e contra todos. Mas tinha a sua frente um “presidente macho”, que enfrentava arbitragens e dava moral aos jogadores que atuavam com raça e responsabilidade.

O Bahia não esqueceu seu grande presidente, e lhe fez justiça dando ao moderno Centro de Treinamento o nome de Osório Villas Boas. O complexo esportivo, apelidado de “Fazendão” foi construído em 1979, na gestão do presidente Fernando Schimidt e ocupa uma área de 120.000 m². O CT dispõe de quatro campos de treinamentos, sendo três com medidas oficiais, além da sede administrativa do clube, hotelaria das divisões de base, sala de imprensa, etc.

Outra passagem bastante interessante aconteceu quando o Bahia excursionava pela Europa, em 1957. O “Tricolor de Aço” encontrava-se na Escócia, onde segundo Osório estão os juízes mais “ladrões” do mundo. O dirigente baiano contou que já tinha sido informado com antecedência sobre o comportamento desses árbitros. O Flamengo, quando jogou em Glasgow teve em 15 minutos de jogo quatro jogadores expulsos, e em conseqüência levou 9 X 2.

Também está no livro um diálogo que Osório teve com Vicente, um jogador de defesa, por vezes até desleal: “Presidente, se o Flamengo tomou nove gols, vamos levar 30”, disse Vicente. “Jogue manso”, limitou-se Osório a aconselhar. O mesmo conselho foi dado aos demais jogadores baianos: “Joguem manso, mas não acovardados”.

Foram dois jogos do Bahia na Escócia, ambos contra o Abderdeen, um em Glasgow, a capital escocesa, e outro em Aberdeen, cidade-sede dodversário. O Bahia perdeu os dois jogos, por 3 X 2 e 2 X 0.

Num desses amistosos, o árbitro roubou tanto, que Villas Boas chegou a correr ao seu encalço, a fim de dar-lhe um esculacho, no que foi acompanhado por Octávio, um membro da delegação que fazia as vezes de intérprete. O presidente teria dito: “Octávio, meu irmão, diga a esse ladrão que estou xingando ele, a mãe, o pai, o avô. Diga que se ele continuar a roubar eu tiro o time de campo”.

O intérprete não cumpriu a ordem, sob a alegação de que aprendera inglês na gramática, e nela não tem xingamentos. Osório, roxo de raiva revidou: “Se você não sabe xingar em inglês, pra que diabo veio pra cá?”

Em matéria publicada pela revista “Placar”, foi destacada a vivacidade do dirigente baiano Osório Villas Boas, contra a falsa malandragem do presidente do Santos F.C., Atiê Jorge Cury, antes da grande final.

O Santos, achando que o titulo seria decidido em dois jogos acertou uma excursão pelo exterior para após a decisão da Taça Brasil. O clube paulista era poderoso, tinha Pelé e surgia como o grande favorito da competição. Entretanto, já no primeiro jogo realizado na Vila Belmiro, o Bahia mostrou que não estava para brincadeiras.

O Santos fez 2 x 0 logo ao início do jogo. Foi quando veio a reação que ninguém esperava. O Bahia venceu por 3 X 2, com um gol de Alencar marcado em cima da hora. O segundo jogo foi em Salvador. E Pelé estava num dia de genialidade e estragou a festa baiana. O Santos venceu por 2 X 0.

O Santos negou-se a jogar a terceira partida em Salvador e exigiu campo neutro. A CBD atendeu. O confronto decisivo foi marcado para o dia 30 de dezembro, mas o clube paulista alegou que não tinha datas disponíveis. Mas a CBD manteve o jogo para a data programada. Foi então que o presidente do Bahia, Osório Vilas Boas entrou na jogada, mostrando toda a sua malandragem e sabedoria.

Psicologicamente, seu time não estava nada bem depois da derrota em Salvador. A temporada do Santos no exterior iria desgastar a equipe paulista. O Bahia teria tempo para se refazer. Por isso, concordou com o Santos e fez a CBD aceitar uma outra data: 29 de março, no Maracanã.

Enquanto o Santos se arrebentava na Europa, jogando um dia sim outro não, o Bahia se preparava para a decisão. Na volta do clube da Vila Belmiro, Pelé teve que ser operado das amígdalas e ficou de fora da final. Entre os baianos, o treinador Geninho teve que retornar ao Rio de Janeiro por problemas particulares. Assumiu Carlos Volante.

Na noite de 29 de março de 1960, o Maracanã recebeu um bom público, quase todo torcendo pelo Bahia que entrou em campo com Nadinho – Beto – Henrique - Vicente e Nezinho - Flavio e Mário – Marito – Alencar - Léo e Biriba. O Santos jogou com Lalá – Getulio – Mauro - Formiga e Zé Carlos - Zito e Mário – Dorval – Pagão - Coutinho e Pepe. O carioca Frederico Lopes foi o juiz.

O Santos fez X 0 através de Coutinho. O Bahia empatou com Vicente, em cobrança de falta da intermediária. Os baianos dominavam o jogo e os santistas demonstravam um cansaço, com pouca disposição para disputar as bolas divididas. No primeiro minuto do segundo tempo, Léo marcou o segundo gol do Bahia. O Santos entrou em desespero. Coutinho tentava romper a defensiva dos baianos, mas tinha a marcação de Vicente em todas as partes do campo.

O treinador Lula ainda tentou com Tite no lugar de Pagão, mas não deu certo. Aos 24 minutos, o juiz expulsou Getulio. Formiga reclamou exageradamente e também foi expulso. Aos 32 minutos, Coutinho agrediu Nezinho e foi colocado para fora. Vicente deu um soco em Coutinho e também foi obrigado a sair.

Perdido por dois, perdido por mil, os santistas resolveram parar os baianos no pau. A policia entrou em campo e esfriou os ânimos. O juiz Frederico Lopes expulsou outro santista. Dorval deu um tapa em Henrique e também saiu mais cedo. Aos 37 minutos, o Bahia sacramentou o titulo assinalando o terceiro gol.

A festa já tinha começado na Bahia de todos os Santos. Era também a vitória da malícia de Osório Vilas Boas que se impunha contra a pretensão de Atiê Jorge Cury. O dirigente do Santos, antes da decisão, havia enviado um telegrama ao San Lorenzo de Almagro, da Argentina, propondo datas e locais para os dois jogos pela Taça libertadores. Só que o San Lorenzo jogou mesmo foi contra o Esporte Clube Bahia, o campeão da primeira Taça Brasil.

Campanha do 1º campeão brasileiro: 14 jogos, 9 vitórias, 2 empates, 3 derrotas, 26 gols marcados, 17 sofridos : Bahia 5 X 0 CSA / Bahia 2 X 0 CSA / Bahia 0 X 0 Ceará / Bahia 2 X 2 Ceará / Bahia 2 X 1 Ceará / Bahia 3 X 1 Sport / Bahia 0 X 6 Sport / Bahia 2 X 0 Sport / Bahia 1 X 0 Vasco / Bahia 1 X 2 Vasco / Bahia 1 X 0 Vasco / Bahia 3 X 2 Santos / Bahia 1 X 2 Santos / Bahia 3 X 1 Santos. (Pesquisa: Nilo Dias)

O pol~emico livro de Osório Villas- Boas.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Os campeões esquecidos (Final)

Paralelamente aos jogos do campeonato da Liga, a Associação Pernambucana de Esportes Atléticos também programou seus jogos com times suburbanos, o que dividiu o público. A briga durou seis messes, e quando terminou, a competição já se encontrava no turno final. Mesmo assim Sport e América dela tomaram parte, embora não tivessem chances de chegar ao título. O Peres não voltou, e seu presidente, João Duarte Dias, declarou pelos jornais que tinha sido traído.

Quem terminou beneficiado com a briga e as ausências de Sport e América, favoritos ao título foi o Torre. O “Madeira Rubra” acabou sendo o campeão de 1926, o primeiro da sua existência, conquistado a 2 de janeiro de 1927, nos Aflitos, quando derrotou o América por 2 X O, com gols de Péricles e Piaba. O árbitro foi o dirigente tricolor, Carlos Rios, arranjado de última hora, uma vez que o escalado, Renato Silveira, também dirigente (Sport), não apareceu no estádio.

O time do Torre, que se sagrou campeão tinha: Valença - Aquino e Pedro Barreto – Arnaldo - Hermes e Dantas – Osvaldo – Piaba – Péricles - Policarpo e Galvão. Esse onze interrompeu um predomínio de 10 anos de Sport e América, únicos campeões pernambucanos, desde 1916. Muito embora alguns afirmassem que o Torre não teve méritos na conquista do título, a verdade é que armara um bom time. Seu primeiro grande passo foi tirar do Sport Club do Recife um dos melhores atacantes da Região, o artilheiro Péricles.

Em 27 de novemro de 1927 o Torre aplicou a maiorgoleada da história do futebol pernambucano ao ganhar nos segundos quadros do Equador, um time do bairro do Arruda, por 27 X 0. O Equador jogou com 7 apenas e e seu goleiro deixava a bola passar propositalmente. Nesse mesmo dia o Equador levou 8 X 0 nos primeiros quadros e 4 X 0 nos terceiros.

Na noite em que o time se filiou a Liga o dirigente do Equador, Pedro Franciscode Souza, conhecido como “Seu Souza” ofereceu uma festa de arromba no Bar Aurora, que foi até de manhã.

Se alguém colocou dúvidas sobre o mérito do Torre na conquista do campeonato de 1926, em 1929 o “Madeira Rubra” não deu margem a qualquer questionamento, sagrando-se campeão de forma invicta, tendo batido Santa Cruz, Náutico, América e empatado apenas duas vezes com o Sport. O campeonato teve oito equipes participantes e foi disputado no sistema de pontos corridos, com jogos de ida e volta.

Em 1930, quando da revolução que depôs o presidente Washington Luiz e colocou Getulio Vargas no poder, Recife ficou em polvorosa. O governador Estácio Coimbra teve que fugir para não ser preso e Carlos de Lima Cavalcanti, seu opositor, ligado aos revolucionários, assumiu o Governo de Pernambuco.

Em conseqüência o campeonato foi paralisado, pois não havia condições de sua continuidade. O líder era o Torre. O presidente da LPTD, Renato Silveira, convocou uma assembléia geral para dar por encerrado o certame. A reunião aconteceu na noite de 12de dezembro, sendo um documento assinado pelos representantes dos times disputantes, exceto Torre e Encruzilhada:

“Os abaixo firmados, representantes dos clubes filiados, Sport, América, Náutico, Íris, e Santa Cruz, reunidos aos 12 dias do mês de outubro de 1930, sob a presidência do Sr. Renato Silveira, presidente da LPDT, atendendo às circunstâncias especiais criadas pelos acontecimentos imprevistos que sacudiram o País, anormalizando a vida esportiva do Estado e tornando materialmente impraticável o prosseguimento do campeonato de 1930, resolveram acordar que seja o mesmo encerrado, considerando-se vencedores do campeonato deste ano os quadros dos clubes colocados em primeiro lugar na contagem dos pontos dos jogos já aprovados, sugerindo-se à diretoria da Liga instituir prêmios especiais para os citados vencedores”. O Torre foi assim proclamado campeão de 1930.

No campeonato de 1931 quando de um jogo entre Náutico X Torres, se o clube vermelho e branco empatasse ou perdesse para o Torre, quem se beneficiaria seria o Sport, que se credenciaria a um jogo extra contra o “Madeira Rubra”, e o vencedor decidiria o titulo contra o Santa cruz. O Náutico, mesmo sem chances de ser campeão venceu por 1 X 0 e tirou o rival da disputa.

Mas o jogo não saiu na data em que deveria, visto que dirigentes do Náutico mandaram serrar as traves do Estádio dos Aflitos, à véspera do embate. Isso, na tentativa de deixar o jogo para depois que as partidas restantes do campeonato fossem disputadas, como era praxe. Mas a Liga mandou jogar no domingo seguinte.

A direção do Náutico justificou o problema com as traves, como resultado da má conservação com a parte que se encontrava enterrada, que estaria caromida pela umidade. E pela proximidade do horário do jogo, não houve tempo hábil para a recuperação.

Os clássicos do Bairro da Torre tinham nomes pitorescos. Clássico da Paixão: era o nome dado ao jogo entre Torre Sport Club X Íris Sport Club. O jogo recebeu este nome porque o primeiro jogo disputado entre ambos foi no dia 5 de março de 1920, uma Sexta Feira da Paixão, no Campo do Alagado da Torre, com empate em 1 X 1.

Em toda a história Torre e Iris disputaram um total de 28 jogos. O Iris venceu 9 e o Torre 16, havendo 3 empates. As maiores goleadas foram: Iris 5 X Torre e Torre 8 X 0 Iris. O último “Clássico da Paixão” foi disputado no dia 12 de abril de 1939, no Campo da Fábrica, com vitória do Torre por 3 X 0.

Clássico Guerreiro era o nome do clássico entre Torre Sport Club X Israelita Sport Club, fundado no dia 8 de setembro de 1922 por um grupo de alunos do Colégio Israelita do Recife.

“Clássico dos Maestros” era o nome dado ao jogo entre Torre Sport Club X Santa Maria Athletico Club, outro clube também já extinto.

O Santa Maria Athletico Club foi fundado no dia 21 de novembro de 1906 por um grupo de alunos do antigo colegio Santa Maria, do bairro da Torre. O primeiro esporte que o clube praticou foi o remo, mais tarde o pólo aquático e o boxe foram agregados. O futebol só veio a ter espaço no ano de 1910, mas de forma amadora. O Santa Maria nunca disputou um Campeonato Pernambucano de Futebol.

O Santa Maria Athletico Club foi o primeiro clube de pólo aquático do Recife e o primeiro clube do bairro da Torre a ter uma sede, que se encontrava na rua Dom João VI. clube chegou a ser considerado a terceira força do remo pernambucano, superando os tradicionais Clube Internacionaldo recife e a Academia deCadetes da Marinha, ficando somente atrás dos até então imbatíveis Clube Náutico Capibaribe e Sport Club do Recife.

Outros jogos famosos da época: “Clássico Simpático”, entre Tramways Sport Club X Íris Sport Club, amos do Bairro da torre. Por terem boas relações as equipes acabaram sendo chamados de times irmãos ou clubes simpatizantes.

“Clássico Azul e Branco”, era o nome dado ao jogo entre Iris Sport Club X Israelita Sport Club, oas dois também do bairro da Torre. As diputas entres as equipes recebeu esse nome por causa das cores de ambos, azul e branco. O “Clássico Azul e Branco” era visto como o segundo maior clássico do bairro, perdendo somente para o “Clássico Bairrense”, entre Torre e Tramways as duas maiores potências do local.

O Torre conquistou estes títulos. Estaduais: Campeonato pernambucano (1926, 1929, invicto e 1930). Vice-Campeonato Pernambucano: (1924, 1925, 1927 e 1928). Torneio Início: (1922 e 1929). Outras conquistas: Liga Desportiva da Torre (1911); Liga Suburbana: (1915, 1919, 1920 e 1921); Copa Torre: (1921, 1926, 1928, 1929, 1930, 1932, 1940 e 1942); Taça Maviavel do Prado - Ao vencedor da “Melhor de Três” entre Náutico X Torre (1930); Taça “A Província” - Temporada Baihana - Associação X Torre (1922); “Taça Maternidade”, oferecida pela Liga Pro-Mater (1919); “Taça Macth de Luta Romana - Floriano x Goldstein”, ao vencedor da preliminar Torre X Sport (1928). Outras Taças: “Taça
entregue pelo CRB pela excursão em Maceió (1923) e “Taça entregue pelo CSA”, por outra excursão em Maceió (1928). (Pesquisa: Nilo Dias)

Torre Sport Club, campeão pernambucano de 1926.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Os campeões esquecidos (I)

Três clubes que hoje não existem mais, tiveram papel importante na história do futebol pernambucano: Sport Club Flamengo, Torre Sport Club e Tramways Sport Club. Os três foram campeões estaduais, e até invictos, nas primeiras décadas e juntos somam seis títulos e muitas histórias.

O Sport Club Flamengo foi fundado no dia 20 de abril de 1914 na cidade do Recife. A escolha do nome surgiu porque a maioria dos fundadores torcia para o Clube de Regatas Flamengo, do Rio de Janeiro. O Flamengo foi o primeiro campeão estadual de Pernambuco, em 1915, de forma invicta, quando derrotou na partida final, jogada em 12 de dezembro, ao Sport Club Torre, por 3 X 1.

A competição foi promovida pela Liga Sportiva Pernambucana. A disputa pelo título foi em formato de triangular e o Flamengo, além de ter batido o Torre, superou também o Santa Cruz. O time campeão era formado por: Luiz Cavalcante – Albuquerque e Francisco Alves – Frederico – Ruy e Abdon – Farias – Parcy – Taylor - Gastão e Waldemar.

O jornal “Diário de Pernambuco”, em sua edição de 14 de dezembro de 1915, noticiou a conquista flamenguista:

"Encerrou-se anteontem, com a vitória do Sport Club Flamengo contra o Torre Sport Club, o campeonato da Liga Sportiva Pernambucana, instituído para o football. Depois de uma série de matchs emocionantes, que trouxeram em constante delírio o público esportivo do Recife, teve o Flamengo coroado os seus esforços e firmada a sua força dentre os seus dignos adversários nas lutas pacíficas do esporte. O Flamengo do Recife quis ser o êmulo do seu congênere do Rio, e vencendo a tática do Santa Cruz e a tenacidade do Torre, soube guardar para si os louros da vitória - e as "louras medalhas".

O Flamengo pernambucano ainda conquistou a “Taça Casa Amarela” em 1929 e o “Torneio de Verão da Cidade do Recife”, em 1939. O clube participou de 34 edições do certame Pernambucano. De 1915 a 1938, 1940 a 1947 e se despediu da competição no ano de 1949.

O Tramways Sport Club, levava o nome da companhia elétrica inglesa “Pernambuco Tramways and Power Company Limited”, que foi concessionária dos serviços elétricos e de bondes do Estado durante 50 anos (até 1962). Como o próprio nome indicava, o Tramways era patrocinado pela empresa inglesa, que foi responsável pela transição dos bondes puxados por burros para os elétricos, na primeira metade do século 20. Daí, a equipe de futebol também ser conhecida como os “Elétricos”.

O clube é até hoje o único, bicampeão invicto da história do Campeonato Pernambucano. O Tramways Sport Club disputou a elite do futebol pernambucano por sete anos.

Quando começou a disputar a elite do futebol pernambucano os seus principais jogadores eram funcionários da empresa, casos de Domingos, Furlan e Rubinho, que despachavam no Escritório Central, que ficava na esquina da Rua Aurora com a Princesa Isabel. O ponteiro Olivio era da Seção de Energia. O goleiro Zé Miguel trabalhava a noite, como chefe de quarto do Departamento de Luz. Sopinha, Guaberinha, Paisinho e Faustino exerciam outras funções na empresa.

Nos anos de 1936/1937, o Tramways Sport Club dominou o futebol pernambucano. O tricolor transviário, que tinha às cores branco, azul e vermelho, não perdeu um único jogo nesses dois anos em que se sobressaiu ao chamado “Quarteto de Ferro” da época: Sport, Náutico, Santa Cruz e América.

Em 1997 o médico cardiologista e nas horas vagas também escritor, Rostand Paraíso, lançou o livro “Esses Ingleses”, no qual comenta a presença e a influência inglesa no Recife.

Ele destaca na obra que na época o profissionalismo ainda não tinha se consolidado em Pernambuco, e a maioria dos jogadores não tinham contrato e em consequência nada ganhavam para defender seus clubes. Mas no caso dos do Tramways, a situação era diferente. Muitos de seus jogadores atuavam em troca de emprego na empresa, o que se caracterizava como uma espécie de amadorismo marrom. Recebiam salários, não pelo futebol, mas pelas funções que exerciam na empresa.

Os “Elétricos” participaram de seis edições do Campeonato Estadual, de 1935 a 1941. O primeiro título, ganho em 1936, foi tumultuado. Quando faltavam 16 partidas para o fim da competição, os clubes e a Federação Pernambucana de Desportos resolveram encerrar o campeonato. Com sete pontos na frente de Náutico e Santa Cruz, o Tramways foi declarado campeão. Sua última partida foi contra o Sport, a quem venceu por 3 X 2, com dois gols de Sopinha e um de Olívio. Foram 11 vitórias e dois empates.

Mas ficou uma dúvida: mesmo com a superiodade demonstrada, alguns dirigentes adversários duvidavam que o Tramways teria condições para chegar ao título, caso o campeonato tivese continuidade normal.

No ano seguinte, para dizimar qualquer dúvida o time dos “Elétricos” realizou uma campanha ainda mais arrebatadora. Foram 14 vitórias e apenas um empate, 64 gols marcados e 16 sofridos. No último jogo do campeonato, uma vitória de 5 X 2 sobre o Sport mostrou toda a superiodade da equipe. Os gols foram marcados por Olívio, Navarra, Alcides, Quetreco e Sopinha.

O time campeão pernambucano de 1937 tinha: Zé Miguel - Domingos e Ernesto - Guaberinha - Paizinho e Furlan – Alvides – Omar – Sopinha - Quetreco e Olívio.

Muitos dos jogadores que atuaram pelo Tramways, também vestiram as camisetas de times de bairros, que disputavam o Campeonato da Liga Suburbana, que era muito forte na época. Casos de Zé Miguel, Olívio, Paisinho e Quetreco.

Mas para chegar ao bi-campeonato estadual, o Tramways precisou tirar do Santa Cruz os players Zezé, Júlio Fernandes e Alcides Cachorrinho, que marcou 56 gols pelo clube “Elétrico”, sendo o maior artilheiro da equipe na história da competição. Como não faltava dinheiro, o técnico Joaquim Loureiro veio de São Paulo para armar a equipe.

Em 1941 o Tramways disputou o seu último Estadual. No livro “O Gol de Haroldo”, lançado em 2001, o escritor Haroldo Praça explicou como aconteceu o fim do tradicional clube. “Não obstante reunir bons jogadores e armar equipes destacadas, o “Elétrico” foi vitimado por moléstia incurável: clube de dono, Antônio Rodrigues de Souza, diretor da empresa britânica, responsável pelo investimento na montagem dos times de 1936/1937, começou a entrar para a história como mais uma aparição brilhante efêmera.”

O Tramways conquistou 6 vezes a Copa Torre (1934, 1935, 1936, 1937, 1938, 1939) e tinha o Torre Sport Club como seu maior rival, ambos do bairro da Torre, que disputavam o chamado “Clássico Bairrense”.

Já o Torre Sport Club, foi fundado no bairro da Torre, em Recife, no dia 13 de maio de 1909. Era o time do governador do Estado, Estácio Coimbra, e seus dirigentes eram da Antiga Fábrica de Tecelagem da Torre. O local foi no século XVI um engenho de açúcar de propriedade de Marcos André Uchoa. A denominação Torre vem da torre da capela da propriedade, onde hoje é erguida a Matriz da Torre.

Seus torcedores o chamavam de “Madeira Rubra”, porque era uma equipe dificil de ser batida e pela corvermelha de seu uniforme. O mascote do time era o "Pica-Pau". Durante o seu periodo de atividade conquistou três campeonatos estaduais, nos anos de 1926, 1929 (invicto) e 1930. O Torre disputou 26 edições do Campeonato Pernambucano, nos anos de 1915 a 1940.

O clube participou do primeiro campeonato promovido pela Liga Sportiva Pernambuca, tendo o Flamengo se sagrado campeão de 1915. O campeonato teve Torre, Flamengo, América, Centro Sportivo do Peres e Coligação Sportiva Recifense.

Também conquistou o Torneio Início (1922 e 1929), a Liga Desportiva da Torre (1911), a Liga Suburbana (1915, 1919, 1920, 1921) e a "Copa Torre" (1921, 1926, 1928, 1929, 1930, 1932, 1940 e 1942).

No ano de 1925 o Torre, que havia sido vice-campeão no ano anterior, organizou um torneio chamado “Trófeu Torre Sport Club”, que seria disputado em uma única partida contra o Flamengo. A equipe do Torre venceu o jogo por 3 X 1, com dois gols de Junqueira, e sagrou-se campeão.

No início de 1926 o ambiente esportivo pernambucano estava bastante agitado. Os presidentes de Sport, América e Peres, respectivamente, Roberto Rabello, José Fernandes Filho e João Duarte Dias, em manifesto publicado nos principais jornais comunicaram terem se desfiliado da Liga Pernambucana de Desportos Terrestres e fundado a Associação Pernambucana de Esportes Atléticos.

No documento, os clubes dissidentes denunciavam a existência de um plano, entre Santa Cruz, Náutico, Flamengo e Torre, com a participação do presidente da Liga, Cícero Brasileiro de Melo, que fora recentemente eleito, para colocá-los à margem da política interna da entidade, pois enquanto os quatro clubes denunciados tiveram, cada um, dois diretores na composição da nova diretória, dos denunciantes, apenas América e Sport com um cada e o Peres sem participação.

Em nota no “Jornal do Commercio”, edição de 1º janeiro, a LPDT explicou que tudo fora feito para evitar a crise, “conseqüência funesta”, enfatizava, salientando que Sport e América, haviam declarado por ocasião da eleição, conforme constava da ata, que não aceitariam nenhum cargo eletivo na nova diretoria. Quanto ao Peres, a LPDT dizia ser um clube em situação irregular, sem sede e sem time, existindo somente, mercê do oxigênio que lhe soprava o Sport, para dar-se ao luxo de ter um representante em duplicata. (Pesquisa: Nilo Dias)

Os campeões esquecidos (I)

Três clubes que hoje não existem mais, tiveram papel importante na história do futebol pernambucano: Sport Club Flamengo, Torre Sport Club e Tramways Sport Club. Os três foram campeões estaduais, e até invictos, nas primeiras décadas e juntos somam seis títulos e muitas histórias.

O Sport Club Flamengo foi fundado no dia 20 de abril de 1914 na cidade do Recife. A escolha do nome surgiu porque a maioria dos fundadores torcia para o Clube de Regatas Flamengo, do Rio de Janeiro. O Flamengo foi o primeiro campeão estadual de Pernambuco, em 1915, de forma invicta, quando derrotou na partida final, jogada em 12 de dezembro, ao Sport Club Torre, por 3 X 1.

A competição foi promovida pela Liga Sportiva Pernambucana. A disputa pelo título foi em formato de triangular e o Flamengo, além de ter batido o Torre, superou também o Santa Cruz. O time campeão era formado por: Luiz Cavalcante – Albuquerque e  Francisco Alves – Frederico – Ruy e Abdon – Farias – Parcy – Taylor - Gastão e Waldemar.

O jornal “Diário de Pernambuco”, em sua edição de 14 de dezembro de 1915, noticiou a conquista flamenguista:

"Encerrou-se anteontem, com a vitória do Sport Club Flamengo contra o Torre Sport Club, o campeonato da Liga Sportiva Pernambucana, instituído para o football. Depois de uma série de matchs emocionantes, que trouxeram em constante delírio o público esportivo do Recife, teve o Flamengo coroado os seus esforços e firmada a sua força dentre os seus dignos adversários nas lutas pacíficas do esporte. O Flamengo do Recife quis ser o êmulo do seu congênere do Rio, e vencendo a tática do Santa Cruz e a tenacidade do Torre, soube guardar para si os louros da vitória - e as "louras medalhas".

O Flamengo pernambucano ainda conquistou a “Taça Casa Amarela” em 1929 e o “Torneio de Verão da Cidade do Recife”, em 1939. O clube participou de 34 edições do certame Pernambucano. De 1915 a 1938, 1940 a 1947 e se despediu da competição no ano de 1949.

O Tramways Sport Club, levava o nome da companhia elétrica inglesa “Pernambuco Tramways and Power Company Limited”, que foi concessionária dos serviços elétricos e de bondes do Estado durante 50 anos (até 1962). Como o próprio nome indicava, o Tramways era patrocinado pela empresa inglesa, que foi responsável pela transição dos bondes puxados por burros para os elétricos, na primeira metade do século 20. Daí, a equipe de futebol também ser conhecida como os “elétricos”.

O clube é até hoje o único, bicampeão invicto da história do Campeonato Pernambucano. O Tramways Sport Club disputou a elite do futebol  pernambucano por sete anos.

Quando começou a disputar a elite do futebol pernambucano os seus principais jogadores eram funcionários da empresa, casos de Domingos, Furlan e Rubinho, que despachavam no escritório central, que ficava na esquina da Rua Aurora com a Princesa Isabel. O ponteiro Olivio era da seção de energia. O goleiro Zé Miguel trabalhava a noite, como chefe de quarto do departamento de luz. Sopinha, Guaberinha, Paisinho e Faustino exerciam outras funções na empresa.

Nos anos de 1936/1937, o Tramways Sport Club dominou o futebol pernambucano. O tricolor transviário, que tinha às cores branco, azul e vermelho, não perdeu um único jogo nesses dois anos em que se sobressaiuao chamado “quarteto de ferro” da época: Sport, Náutico, Santa Cruz e América.

Em 1997 o médico cardiologista e nas horas vagas também escrito, Rostand Paraíso, lançou o livro “Esses Ingleses”, no qual comenta a presença e a influência inglesa no Recife.

Ele destaca na obra que na época, o profissionalismo ainda não tinha se consolidado em Pernambuco, e a maioria dos jogadores não tinham contrato e em consequência nada ganhavam para defender seus clubes. Mas no caso dos do Tramways, a situação era diferente.  Muitos de seus jogadores atuavam em troca de emprego na empresa, o que se caracterizava como uma espécie de amadorismo marrom. Recebiam salários, não pelo futebol, mas pelas funções que exerciam na empresa.

Os “Elétricos” participaram de seis edições do Campeonato Estadual, de 1935 a 1941. O primeiro título, ganho em 1936, foi tumultuado. Quando faltavam 16 partidas para o fim da competição, os clubes e a Federação Pernambucana de Desportos resolveram encerrar o campeonato. Com sete pontos na frente de Náutico e Santa Cruz, o Tramways foi declarado campeão. Sua última partida foi contra o Sport, a quem venceu por 3 X 2, com dois gols de Sopinha e um de Olívio. Foram 11 vitórias e dois empates.

Mas ficou uma dúvida: mesmo com a superiodade demonstrada, alguns dirigentes adversários duvidavam que o Tramways teria condições para chegar ao título, caso o campeonato tivese continuidade normal.

No ano seguinte, para dizimar qualquer dúvida o time dos “Elétricos” realizaram uma campanha ainda mais arrebatadora. Foram 14 vitórias e apenas um empate, 64 gols marcados e 16 sofridos. No último jogo do campeonato,uma vitória de 5 X 2 sobre o Sport, mostrou toda a superiodade da equipe. Os gols foram marcados por Olívio, Navarra, Alcides, Quetreco e Sopinha.

O time campeão pernambucano de 1937 tinha: Zé Miguel - Domingos e Ernesto - Guaberinha - Paizinho e Furlan – Alvides – Omar – Sopinha - Quetreco e Olívio.

Muitos dos jogadores que atuaram pelo Tramways, também vestiam as camisetas de times de bairros, que disputavam o Campeonato da  na Liga Suburbana, que era muito forte na época. Casos de Zé Miguel, Olívio, Paisinho e Quetreco.

Mas para chegar ao bi-campeonato estadual, o Tramways precisou tirar do Santa Cruz os players Zezé, Júlio Fernandes e Alcides Cachorrinho, que marcou 56 gols pelo clube “Elétrico”, sendo o maior artilheiro da equipe na história da competição. Como não faltava dinheiro, o técnico Joaquim Loureiro veio de São Paulo para armar a equipe.

Em 1941 o Tramways disputou o seu último Estadual. No livro “O Gol de Haroldo”, lançado em 2001, o escritor Haroldo Praça explicou como aconteceu o fim do tradicional clube. “Não obstante reunir bons jogadores e armar equipes destacadas, o “Elétrico” foi vitimado por moléstia incurável: clube de dono, Antônio Rodrigues de Souza, diretor da empresa britânica, responsável pelo investimento na montagem dos times de 1936/1937, começou a entrar para a história como mais uma aparição brilhante efêmera.”

O Tramways conquistou 6 vezes a Copa Torre (1934, 1935, 1936, 1937, 1938, 1939) e tinha o Torre Sport Club como seu maior rival, ambos do bairro da Torre, que disputavam o chamado “Clássico Bairrense”.

Já o Torre Sport Club, foi fundado no bairro da Torre, em Recife, no dia 13 de maio de 1909. Era o time do governador do Estado, Estácio Coimbra, e seus dirigentes eram da Antiga Fábrica de Tecelagem da Torre. O local foi no século XVI um engenho de açúcar de propriedade de Mrcos André Uchoa. A denominação Torre vem da torre da capela da propriedade, onde hoje é erguida a Matriz da Torre.

Seus torcedores o chamavam de “Madeira Rubra”. Durante o seu periodo de atividade conquistou três campeonatos estaduais, nos anos de 1926, 1929 (invicto) e 1930. O Torre disputou 26 edições do Campeonato Pernambucano, nos anos de 1915 a 1940.

O clube participou do primeiro campeonato promovido pela Liga Sportiva Pernambuca, tendo o Flamengo se sagrado campeão de 1915. O campeonato teve Torre, Flamengo, América, Centro Sportivo do Peres e Coligação Sportiva Recifense.

Também conquistou o Torneio Início (1922 e 1929), a Liga Desportiva da Torre (1911), a Liga Suburbana (1915, 1919, 1920, 1921) e a Copa Torre (1921, 1926, 1928, 1929, 1930, 1932, 1940 e 1942).

No ano de 1925 o Torre, que havia sido vice-campeão no ano anterior, organizou um torneio chamado “Trófeu Torre Sport Club”, que seria disputado em uma única partida contra o Flamengo. A equipe do Torre venceu o jogo por 3 X 1, com dois gols de Junqueira, e sagrou-se campeão. 

No início de 1926 o ambiente esportivo pernambucano ficou bastante agitado. Os presidentes de Sport, América e Peres, respectivamente, Roberto Rabello, José Fernandes Filho e João Duarte Dias, em manifesto publicado nos principais jornais comunicam terem se desfiliado da Liga Pernambucana de Desportos Terrestres e fundado a Associação Pernambucana de Esportes Atléticos.

No documento, os clubes dissidentes denunciavam a existência de um plano, entre Santa Cruz, Náutico, Flamengo e Torre, com a participação do presidente da Liga, Cícero Brasileiro de Melo, que fora recentemente eleito, para colocá-los à margem da política interna da entidade, pois enquanto os quatro clubes denunciados tiveram, cada um, dois diretores na composição da nova diretória. E dos denunciantes, apenas América e Sport com um cada e o Peres sem participação.

Em nota no “Jornal do Commercio”, edição de 1º janeiro, a LPDT explicou que tudo fora feito para evitar a crise, “conseqüência funesta”, enfatizava, salientando que Sport e América, haviam declarado por ocasião da eleição, conforme constava da ata, que não aceitariam nenhum cargo eletivo na nova diretoria. Quanto ao Peres, a LPDT dizia ser um clube em situação irregular, sem sede e sem time, existindo somente,mercê do oxigênio que lhe soprava o Sport para dar-se ao luxo de ter um representante em duplicata.

Sport Club Flamengo, o primeiro campeão pernambucano de futebol, título conquistado em 1915.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O paraguaio Bria

Modesto “Cachito” Bria, que foi jogador e técnico de futebol, nasceu em Encarnación, Paraguai, no dia 3 de Agosto de 1922 e faleceu no Rio de Janeiro, em 30 de Agosto de 1996. Em sua carreira só defendeu dois clubes, o Nacional, de Assunción e o Flamengo, além da Seleção de seu país. Graças a suas grandes atuações pelo clube paraguaio, chamou a atenção do rubro-negro carioca.

Quem o levou para o Flamengo foi o narrador e compositor Ary Barroso, que era rubro-negro fanático. Para não chamar a atenção dos dirigentes do Nacional, Ary viajou para o Paraguai em vôo fretado. Quando eles se deram conta já tinham perdido a sua grande promessa.

Seu primeiro jogo com a camisa 5 do Flamengo foi um clássico Fla-Flu, disputado em 12 de setembro de 1943, que terminou empatado em 2 X 2. Disputou 369 jogos pelo Flamengo e marcou 8 gols, segundo o “Almanaque do Flamengo”, de Roberto Assaf e Clóvis Martis. Foi o estrangeiro que mais vezes atuou pelo clube.

Ele foi parte importante daquele histórico time, que conquistou o primeiro tri-campeonato carioca, em 1942, 1943 e 1944, que até hoje provoca choro nos vascaínos. Volante de estilo clássico, Bria foi o ponto de equilíbrio de uma linha média que contava ainda com Biguá e Jaime, trio que foi fundamental na conquista do primeiro Tri-Campeonato Carioca da história do clube. Aquele time fabuloso formava com Jurandir - Newton e Quirino – Biguá - Bria e Jaime de Almeida – Tião – Zizinho – Pirilo - Perácio e Vevé.

Em 1953, Bria pendurou as chuteiras, mas seguiu ligado às cores vermelha e preta, tendo sido treinador do clube em quatro períodos. O primeiro, de 25/11/1959 até 22/06/1960; o segundo, de 16/07/1967 até 14/10/1967; o terceiro, de 28/05/1971 até 10/06/1971, junto com Newton Canegal. E o último, de 14/01/1981 até 05/04/1981. Comandou o Flamengo em 80 partidas, venceu 44, empatou 15 e perdeu 21.

Seu primeiro jogo como técnico foi um amistoso contra o Spartak Moscou, com vitória de 3 X 0, disputado em 25 de novembro de 1959, na antiga União Soviética. O último foi uma vitória de 2 x 1 frente o Colorado,do Paraná,em 5 de abril de 1981.

Como treinador do time principal, foram 83 jogos, com 45 vitórias, 15 empates e 21 derrotas. Modesto Bria era o treinador do time na maior goleada do Flamengo em Campeonatos Brasileiros, 8 X 0, contra o Fortaleza, em 4 de fevereiro de 1981.

Em 1967, quando era técnico dos juvenis do Flamengo, o radialista Celso Garcia levou até a Gávea um menino franzino, 13 anos de idade, de apelido Zico, seu vizinho no bairro de Quentino, para fazer um teste. Celso havia visto Zico jogando futsal em um torneio e após o jogo foi à casa dele, pedir autorização para levá-lo ao Flamengo.

No clube, usou sua influência para convencer o treinador Modesto Bria a observar o menino. Porém, poucos o levaram a sério quando chegou com Zico na Gávea, para treinar na escolinha. Quando o Bria viu o garoto, perguntou: “É esse? Desse tamanho?” Em principio Bria não acreditou muito no potencial do jovem, em razão de seu físico franzino.

Bria deixou ele treinar um pouquinho, só para que não voltasse para casa sem suar. Zico estava de short verde e camisa vermelha. No meio do treino, Bria o chamou para entrar. As pessoas que olhavam o treino debocharam do tamanho dele. Alguns falavam “coitado, é muito pequeno”. Na primeira jogada, o Zico colocou a bola embaixo da perna de um zagueiro alto, chamado “Cidade”. Todo mundo aplaudiu. E continuou driblando o treino todo.

Dias depois Zico estreou pelo Flamengo. A equipe da escolinha venceu o Everest por 4 X 3, e Zico marcou duas vezes. E logo começou a fazer uma preparação física especial com o professor José Roberto Francalacci. Zico ganhou massa muscular para suportar os choques com os marcadores adversários. O resultado começou a ser escrito quatro anos depois, quando o meia entrou pela primeira vez em campo pelo time profissional. De 1971 a 1983, o habilidoso atleta conquistou 22 títulos com o Rubro-Negro.

Outro jogador que deve muito do sucesso alcançado a Bria, é Mozer. Quando o paraguaio treinava as categorias de base do Flamengo, Mozer havia sido dispensado do Botafogo devido ao seu porte físico franzino e apareceu na Gávea para tentar a sorte. Em principio queria ser atacante, mas Bria disse que ele não passava de um centroavante deselegante, sem muito futuro no futebol. E fez com que Mozer virasse zagueiro. E a troca só lhe trouxe lucro.

Também o lateral Júnior foi descoberto por Bria. Logo que chegou ao Rio de Janeiro, vindo da Paraíba, ele chamou a atenção do treinador das categorias de base do Flamengo, quando disputava peladas na Praia de Copabacana. Levado para a Gávea estreou como profissional em 1974. No início era lateral direita, mas atuava também no meio-de-campo.

É verdade que Bria revelou grandes valores para o Flamengo, mas também errou em algumas avaliações. Nunes, que foi um dos maiores artilheiros da história do clube, quando ainda era adolescente foi fazer testes na escolinha do rubro-negro e foi dispensado pelo técnico Modesto Bria.

Ao deixar a Gávea, profetizou com os companheiros: "Um dia eles vão me querer de volta, mas aí terão que desembolsar muito dinheiro". Foi o que aconteceu alguns anos depois, quando o Flamengo teve que pagar caro para ter Nunes como seu atacante.

Títulos conquistados como jogador: Campeão Paraguaio (1942); Campeão Carioca (1943, 1944 e 1953); Torneio Relâmpago do Rio de Janeiro (1943 e 1944); Torneio Inicio do Campeonato Carioca (1946, 1951 e 1952); Troféu Cezar Aboud (1948); Troféu Embaixada Brasileira na Guatemala (1949), Troféu El Comite Nacional Olímpico da Guatemala (1949); Taça Cidade de Ilhéus (1950); Elfsborg Cup (1951); Torneio Quadrangular de Lima (1952); Troféu Cidade de Arequipa (1952); Troféu Juan Domingo Perón, na Argentina (1953) e Torneio Triangular de Curitiba (1953).

Sua paixão pelo Flamengo fez com que adotasse o Brasil como sua segunda pátria, vivendo aqui até sua morte, em 1996 no Rio de Janeiro. (Pesquisa: Nilo Dias)