Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

terça-feira, 30 de março de 2010

O gol que Zico não quer lembrar

Em 1985, o craque Zico enfrentava problemas financeiros com o fisco italiano e no início do ano revelou sua vontade de voltar a jogar no Brasil. Ele havia sido vendido em 1983 à Udinese da Itália. Aproveitando a presença do jogador no país, quando de um jogo da Seleção Brasileira pelas eliminatórias da Copa do Mundo, o Flamengo cogitou trazê-lo de volta a Gávea.

E graças a uma parceria com a Petrobras e a Rede Globo, o que parecia impossível se concretizou. A noticia caiu como uma bomba no meio esportivo, e para comemorar tal proeza nada melhor do que preparar uma grande festa apara recepcionar o ídolo.

Ao mesmo tempo em Alagoas, o programa “Globo Esporte”, através do repórter Marcio Canuto trazia quase todos os dias imagens de um ponta esquerda baixinho (70 kg, altura 1,65 m), que jogava no Centro Sportivo Alagoano (CSA), chamado Jacozinho. O repórter Márcio Canuto, da TV-Gazeta-AL, hoje na Globo-SP, ficava forçando, em tom de gozação, sua entrada na Seleção Brasileira. Jacozinho engolia a corda, e com isso, ficou conhecido no Brasil, de ponta a ponta. Jacozinho era uma figura folclórica, embora habilidoso e autor de bonitos gols que eram vistos quase todos os domingos no “Fantástico”. Por ser muito pobre, várias vezes foi flagrado indo treinar montado em um jumento. E gostava de comer rapadura.

Quando os dirigentes rubros negros decidiram em fazer uma volta triunfal de Zico convidaram para jogar contra o Flamengo uma seleção de craques do mundo. Maradona, Edinho, Mário Kempes, Rumennigge, Falcão, Paolo Rossi, Altobelli, Resenbrink, Fernando Morena e o técnico Cesar Menotti foram alguns convidados para o evento e prontamente aceitaram o convite. Até que um dia alguém ligado a Globo sugeriu o nome de Jacozinho.

"Jacozinho, quem é ele no meio de tantos cobras?", foi a pergunta dos dirigentes do Flamengo. "Queremos Jacozinho porque ele nos traz um ibope tremendo", foi o que alegaram representantes da Globo. Como a emissora havia financiado a volta de Zico, todos tiveram que aceitar a idéia. E então, na noite de 12 de Julho em um Maracanã lotado lá estava o Flamengo contra a Seleção de Craques, com Jacozinho no banco de reservas.

Quando o jogo Flamengo x Amigos de Zico começou foi aquela festa: flores, placas de comemoração, coroas e muitos presentes. Foi a bola rolar e o que se viu foi uma verdadeira pelada, embora o Flamengo estivesse vencendo por 2 x 1. Nem Zico e nem Maradona estavam jogando bem. A torcida impaciente começou a gritar: "Jacozinho, Jacozinho", provando a audiência que a Globo possuia. Quando faltavam 20 minutos para acabar o jogo o técnico Menotti não teve outra alternativa e colocou Jacozinho para jogar.

Quando ele apareceu no gramado a torcida entrou em delirio e esqueceu de Zico, do Flamengo e de Maradona. E na primeira bola que pegou no meio-campo Don Diego viu Jacozinho livre na esquerda e fez o lançamento. O baixinho ganhou na corrida do lateral Leandro, ficou de cara com o goleiro Cantarelle, deu-lhe um drible e mandou a bola para as redes. A Globo ficou meses falando do lance. O único que não gostou do ocorrido foi Zico que ficou bastante contrariado com o gol de Jacozinho, a ponto de declarar no fim do jogo: "Infelizmente tem pessoas que querem aparecer mais que os homenageados".

O ex-atacante do CSA conta que foi um momento mágico da sua vida ter participado do amistoso, principalmente pelo gol que fez. “Eu recebi o passe do Maradona, driblei o Cantarelle, e marquei. Foi um dia de herói, apesar do Zico ter ficado um pouco chateado. Ele disse depois que eu não era amigo dele e havia outros jogadores que poderiam ter participado daquela partida”. Jacozinho disse que até hoje não sabe como foi parar lá no Maracanã. Conta que um empresário de nome Ronaldo ligou para fazer o convite. Ele teve de pagar a passagem do seu bolso e foi para o Rio. Nem sabia que ia jogar.

A fama meteórica de Jacozinho rendeu até uma homenagem feita por Fernando Collor de Mello, na época governador de Alagoas. “Nunca pensei que aquilo fosse acontecer. Até o Collor, que depois foi eleito presidente, me homenageou. O povo pedia para o Evaristo de Macedo (que era o técnico) me dar uma chance na seleção brasileira. Parecia até o Romário”, brinca o ex-atacante, que chegou a fazer testes no Santos Futebol Clube em 1983.

Givaldo Santos Vasconcelos, o “Jacozinho”, nasceu em 1956, na cidade de Gararu (SE). Hoje, aos 54 anos de idade reside em Vila Velha (ES). Ele tornou-se evangélico e comanda uma escolinha de futebol, núcleo do Vasco da Gama e como professor de Educação Física da Faculdade Batista. Mas ainda mantém o seu jeito folclórico e engraçado. No futebol viveu bons e maus momentos. Foi coroado rei em Alagoas e morou debaixo das arquibancadas no Maranhão.

Jacozinho Iniciou a carreira de jogador de futebol no Vasco Esporte Clube de Aracaju em 1975, nas categorias de base. Na época, o clube era dirigido por José Carivaldo de Souza que, atendendo solicitação do treinador Jaime de Souza Lima, assinou seu primeiro contrato em 21 de outubro, aos 20 anos de idade, percebendo o salário de Cr$ 800.00 cruzeiros.

Pelo bom desempenho apresentado no Campeonato Estadual daquele ano, Jacozinho foi contratado no ano seguinte, pelo Club Sportivo Sergipe, para as disputas dos campeonatos sergipano e brasileiro. Durante a temporada de 1977, atuou ao lado de jogadores como Raymundo Dória, Cabral, Orlando, Milano, Djalma Sales, Rubens e Peribaldo, entre outros. O primeiro jogo de Jacozinho no Maracanã foi contra o Fluminense que tinha um timaço, onde se destacava o craque Rivelino. O time sergipano perdeu por 2 X 1 e Jacozinho foi um dos grandes nomes da partida.

Ele ganhou fama e algum dinheiro, mas esbanjou tudo com farras e mulheres. Ele garante que, no apogeu da fama, chegou a possuir um sitio, uma mansão de cinco quartos em Jequié, na Bahia, uma casa em Aracajú, um apartamento em Maceió e três carros. Perdeu tudo. Hoje, vive em casa alugada.

Agora está longe da mulherada, mas tem um projeto na cabeça: se tornar pastor e levar a palavra do evangelho para a China. Faz parte de um grupo de pagode evangélico que já gravou um CD. Seu carro chefe é a musica que narra seu maior momento de glória. O refrão diz assim: “Maradona lançou, Jacozinho partiu, Figueiredo ficou, Cantarelle caiu... e a torcida gritou: é gol, é gol de Jacozinho”.

Um belo dia de 1988, Jacozinho apareceu no ABC de Natal e nas entrevistas garantia que vinha para ser campeão. Tarde de clássico-rei. Um domingo, estádio com mais de 15 mil pessoas. E entra no gramado Jacozinho, uniformizado e montado num jumento. Mas no final do jogo deu América 2 X 0. Depois disso Jacozinho teve seu nome lembrado para fazer parte da Seleção Brasileira e foi contratado para jogar no Santa Cruz do Recife. Não deu certo e acabou sumindo do mapa.

Quando jogava no Santa, Jacó, que também esteve no Ypiranga, andava num Fusca caindo aos pedaços, devagar, quase parando, como seu dono. "Esse coitado é a minha cara", brincava. O calhambeque tinha nome. Chamava-se Maestro. "É um conserto em cada esquina", dizia o jogador, fazendo trocadilho com concerto, que significa peça musical.

Na sua longa carreira passou por 22 clubes: Vasco (SE), Sergipe (SE), CSA (AL), Jequié (BA), Galícia (BA), Lêonico (BA), Corinthians de Presidente Prudente (SP), ABC (RN), Baraúnas (RN), Nacional (AM), Santa Cruz (PE), Ypiranga (PE) e outros tantos clubes pelo Brasil. (Pesquisa: Nilo Dias)

Jacozinho quase acabou com a festa de Zico.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Djalma Campos: missão cumprida

Djalma Campos foi um dos maiores jogadores surgidos no futebol maranhense, em todas as épocas. Nasceu na cidade de Viana e ainda pequeno mudou-se com a família para o bairro do Desterro, no centro histórico de São Luiz. Com apenas 12 anos de idade já mostrava muita intimidade com a bola. Deu seus primeiros chutes no campo frente à igreja do Desterro, junto de outros garotos que se destacaram no futebol do Maranhão, como Santana, João Bala, Jovenilo e Fifi. Jogou depois no São Cristóvão, no Santos e Botafogo do Anil, do “seu Chuva” e no segundo quadro do Esporte Clube Desterro, que era dirigido por seu pai, Djalma Gomes Campos

O bairro do Desterro foi uma verdadeira fábrica de bons valores, onde surgiram outras revelações do futebol maranhense, como Enemê, Japi, Carro-Velho, China e Pindura, entre tantos outros. E não eram muitos os locais para se jogar. Além do Largo do Desterro havia o campinho da “Ford”, o “Quartel de Polícia”, hoje Convento das Mercês, as ruas e o campo da Oleama, no Dique, onde um goleiro não enxergava a outra trave, porque no meio do caminho havia a esquina da fábrica Chagas & Penha.

A habilidade que mostrou nos campos de futebol foi adquirida nas quadras de futebol de salão. Desde garoto, com 16 anos já se sobressaia no Atenas, time do bairro do Desterro. Quando o Sampaio montou sua equipe juvenil, ele foi convidado a fazer parte dela. Era a época de times como Vitex, Elmo, Flamengo (Monte Castelo), Real Madri e ainda o Drible.

Em 1968, quando já era jogador profissional foi convidado a jogar a Copa do Brasil de Futsal pelo Drible, tendo sido inscrito com o nome do seu irmão Delmar. Como o time não se preparou adequadamente não venceu nenhum jogo, mas ainda assim Djalma foi considerado o melhor jogador da competição. Ele era incomparável com a bola nos pés, não dava chutes à toa e costumava desmoralizar os goleiros com colocadas geniais. Apesar de ter marcado inúmeros gols, sua maior preocupação era armar as jogadas para outros artilheiros.

A primeira oportunidade que Djalma teve para jogar em um dos “grandes” do futebol maranhense foi através do goleiro Campos, que o levou para o Maranhão Atlético Clube (MAC), junto com os amigos João Bala, Santana, Fifi e Jovenilo. Mas não deram sorte, o técnico Calazans nem se dignou a assisti-los jogando. E o quinteto foi parar no Graça Aranha F.C., e por lá permaneceu por um bom tempo.

Anos depois, Calazans teve a humildade de reconhecer que errou ao barrar Djalma no início de sua carreira como jogador. Mas depois conviveu com ele no Sampaio, por isso dizia que o jogador nasceu numa época e no lugar errado: “Se Djalma Campos tivesse jogado num grande centro, com certeza teria sido o dono da camisa 7 da seleção brasileira”.

Em 1968 Djalma já era já era o destaque do time do Graça Aranha, chamando a atenção do desportista Guido Bettega que comprou seu passe e o deu de presente ao Moto Clube. Por jogar no adversário do Sampaio Corrêa, a família inteira de Djalma virou-lhe as costas. Naquele mesmo ano o Moto foi campeão estadual e campeão do Norte. O time formava com Vila Nova – Paulo - Alzimar - Alvindaguia e Corrêa - Ronaldo - Santana - Djalma e Amauri - Pelezinho e Ribamar. Em 1969 o Moto perdeu o título para o Maranhão Atlético Clube.

O Sampaio, que não fazia boa campanha no “Nordestão”, resolveu lançar o “Sampaio Setentão”, um projeto para montar um grande time. O primeiro contratado foi Djalma que ganhara passe livre no Moto Clube. Finalmente, aos 23 anos de idade o jogador vestiu a camisa do time da sua família. E não deixou por menos, encantou a todos, dirigentes, torcedores e imprensa. Era a época dos dirigentes José Carlos Macieira, Humberto Trovão, Ari e Zé Barbosa. O presidente era Rupert Macieira, que substituiu Walter Zaidan. O técnico era o paraibano Edésio Leitão.

Uma curiosidade, é que Djalma, mesmo tendo jogado profissionalmente pelo Moto Clube, não se adaptava ao uso de chuteiras. Para resolver o problema, passou a andar em casa de chuteiras. No gramado, após os treinos ficava sozinho cobrando faltas e aperfeiçoando seus chutes. Mas o Maranhão conquistou o bicampeonato.

Em 1970, já consagrado como um verdadeiro craque foi convidado a concorrer a Câmara Municipal de João Pessoa. E foi eleito com mais de 2.500 votos. Passou então, a dividir suas atenções entre a política e o futebol. O Sampaio tinha um timaço, onde se destacavam Edimilson Leite, Gojoba e Pelezinho, mas ainda assim o campeão foi o Ferroviário.

Em 1972 o Sampaio Corrêa foi campeão do “Brasileirinho” (2ª Divisão), derrotando o Campinense da Paraíba, no jogo final. Naquela época, o Campeonato Brasileiro da Segunda Divisão não era oficial e não dava acesso à primeira divisão, já que os times disputavam o Brasileirão por convites da antiga CBD, hoje CBF.

Djalma teve oportunidade de se consolidar como o grande ídolo da torcida. Sob o comando do técnico Marçal Tolentino Serra, o time campeão formou com Jurandir - Célio Rodrigues - Neguinho - Nivaldo e Valdecir Lima - Gojoba e Edmilson Leite – Lima – Djalma Campo - Pelezinho e Jaldemir. Destes, Valdecir também já é falecido.

Aproveitando o sucesso, Djalma se candidatou a reeleição na Câmara Municipal. E ai aconteceu um verdadeiro clássico nas urnas. O jogador Faísca, do Moto também concorreu. Todos queriam saber quem venceria esse duelo político. Deu Djalma, que conquistou mais de 4.500 votos, contra 3.100 de Faísca, que também se elegeu.

Depois da conquista do “Brasileirinho” a meta do Sampaio Corrêa era o título estadual. No jogo decisivo contra o Moto aconteceu o inesperado: o goleiro Jurandir pediu dispensa e o reserva Campos estava doente. O atacante Zezé teve que ser improvisado no gol. O resto do time tinha Ferreira – Neguinho - Nivaldo e Eraldo (Valdecy - Gojoba e Edmilson Leite – Lima – Djalma - Pelezinho e Jaldeny (Vamberto). O empate em 1 x 1 deu o título de campeão maranhense de 1972 ao Sampaio Corrêa.

Em 1973 Djalma deu um passo maior na política, concorrendo a deputado estadual. E se elegeu com facilidade, foi o terceiro mais votado, com quase 14 mil votos. No futebol, o Sampaio montou um grande time para disputar o Campeonato Nacional: Orlando (Portuguesa) - Marinho (Paraná) - Moraes (bi-campeão pelo Cruzeiro) - Raimundo e Santos (Portuguesa) - Lourival (Sudeste) - Sérgio Lopes (Curitiba) - Buião (Atlético MG) - Dionísio (Flamengo) - Ailton (São Paulo) e Djalma. Técnico: Alfredo Gonzalez. Preparador Físico: Gualter Aguirre.

Os resultados positivos apareceram de imediato. Jogando em São Luiz o Sampaio Corrêa derrotou todos os times cariocas que enfrentou: Vasco da Gama, 2 X 0, Botafogo , também 2 X 0, Fluminense 3 X 1 e América, 1 x 0. Nesse jogo, já em fim de carreira, Djalma foi autor de uma jogada inesquecível: aplicou uma “barata” (enfiou a bola entre as pernas) do jogador Ivo, que recentemente havia sido convocado para a seleção brasileira. Ivo, até que tentou evitar o vexame, mas não conseguiu. O inesperado sempre fez parte dos desconcertantes dribles de Djalma. O Sampaio, não alcançou classificação porque fora de casa perdeu todos os jogos.

Djalma parou de jogar em 1974. No ano seguinte, quando já era presidente do Sampaio, foi obrigado a voltar aos gramados, porque às vésperas da decisão estadual o meia Joel adoeceu e não havia substituto para ele. Atendendo pedido do técnico Rinaldi Maya, Djalma passou a presidência do clube ao vice-presidente Chafi Braide e voltou a jogar, ajudando o time a vencer o campeonato estadual.

Na decisão contra o Moto o Sampaio venceu por 1 x 0, gol de Acy, quebrando um tabu de dois anos e 11 meses sem vitória sobre o time rubro-negro. Em 1976 Djalma deixou definitivamente os gramados e reassumiu a condição de presidente. O Sampaio sagrou-sei bi-campeão maranhense.

No Campeonato Brasileiro, o Sampaio contratou para técnico o famoso Djalma Santos. Quando de um jogo no Rio, o treinador deu entrevistas a imprensa falando mal do trabalho desenvolvido pelo clube. Foi demitido na hora. E nem assim os bons resultados apareceram. Pelo contrário, o vexame de duas goleadas seguidas: 5 x 0 para o Volta Redonda e 7 x 1 para o Flamengo. Sobrou para o presidente Djalma Campos que assumiu a culpa pelo fracasso e renunciou ao cargo.

Em 1978 concorreu a reeleição de deputado estadual, mas não venceu. Por volta de 1965, quando Antônio Bento Farias, já falecido vendeu quase todo o time profissional do Sampaio, Djalma foi convidado a ficar no banco de reservas. No segundo tempo entrou em campo e apesar da idade, mostrou toda a técnica que o consagrou como o melhor jogador do futebol maranhense em todos os tempos.

Levantou o público, dando um verdadeiro show com a incrível habilidade que Deus lhe deu, herança dos seus tempos de futsal. Naquela época a televisão não dava a cobertura esperada aos jogos de futebol. Por isso seu talento ficou reservado apenas aos que o viram jogar. Djalma foi um atleta completo. Além de se dedicar inteiramente à prática desportiva, não fumava e não ingeria nenhuma bebida alcoólica.

Em 1988 concorreu às eleições para prefeito de sua terra natal, Viana e venceu. Ao longo de sua vida pública foi ainda diretor executivo e vice-presidente do Instituto de Previdência do Estado do Maranhão (Ipem). Em 2005, como assessor da presidência da Assembléia Legislativa, por gratidão ao deputado Manoel Ribeiro, resolveu assumir ao lado de Humberto Trovão, o departamento de futebol do Sampaio Corrêa.

Por desentendimentos dentro do clube, Djalma se afastou do Sampaio e junto com Isaias Pereirinha e Humberto Trovão ajudou a fundar o Iape, o clube caçula do futebol maranhense, hoje na primeira divisão.

Djalma faleceu no dia 7 de agosto do ano passado. Eram 5 horas da manhã quando ele se sentiu mal e foi levado pela esposa para o hospital UDI. Lá ele teve um infarto e faleceu. Na noite anterior, o ex-jogador esteve no estádio municipal Nhozinho Santos, junto com o presidente do Iape, Isaías Pereirinha assistindo o jogo em que seu clube derrotou o Sampaio Corrêa por 2 X 1. Djalma, que era diretor de futebol teria dito ao final do jogo: “velho, missão cumprida". Como se soubesse o que iria ocorrer, ao sair do estádio passou pela casa onde seus pais haviam morado, na Rua das Palmas no bairro do Desterro, para visitar alguns parentes.

O ex-craque foi velado na rua da Palma, 652, no bairro do Desterro, próximo à igreja. O sepultamento aconteceu no cemitério Parque da Saudade, no Vinhais, onde seus pais estão enterrados. Djalma deixou três filhos adultos do primeiro casamento: Djalma Neto, Soraya e Solange. Do segundo casamento com a vereadora vianense Maria José, teve Fábio. (Pesquisa: Nilo Dias)

segunda-feira, 1 de março de 2010

A lenda paraguaia

Arsenio Pastor Erico Martínez, considerado pela Fédération Internationale de Football Association (Fifa) o melhor jogador paraguaio de todos os tempos, nasceu em Asunción, no dia 30 de março de 1915. Começou a jogar futebol no Colégio Salesiano de Vista Alegre, e aos 11 anos de idade foi levado para o Nacional, tradicional clube de seu país. Aos 15 anos já era titular absoluto.

Sua agilidade e fino trato com a bola logo chamaram a atenção. Durante a guerra do Chaco, entre a Bolívia e o Paraguai, a Cruz Vermelha formou um time de futebol para jogar partidas beneficentes no Uruguai e Argentina, visando arrecadar fundos destinados a auxiliar os feridos de guerra. Arsenio Erico foi um dos convocados.

Quando de uma apresentação em gramados argentinos foi visto por dirigentes do River Plate e do Independiente, que ficaram encantados com seu vistoso futebol. O River tentou contratá-lo ainda no vestiário de “La Bombonera”, logo após o jogo beneficente contra o Boca Juniors.

Como Erico era menor de idade, um tenente-coronel paraguaio explicou aos dirigentes do River, que não estavam em condições de ceder o passe, porque o atleta poderia ser considerado desertor. Mas os do Independiente foram mais ágeis, prosseguiram nas negociações e acabaram por comprar seu passe ao Nacional do Paraguai, por 12 mil pesos.

Erico ingressou no clube vermelho da Argentina em 1934, com apenas 18 anos de idade, tomando conta da camisa número 9 por 12 temporadas, até 1946. Seu jogo de estréia aconteceu no dia 6 de maio de 1934, diante do Boca Juniors. Antes do jogo, Arsenio Erico disse a imprensa argentina: "Quiero darle al público el gol, que es lo que más se celebra". (quero oferecer ao público o gol, para que possa festejar). Uma semana depois, frente o Chacarita Juniors, cumpriu a promessa, marcando dois gols.

No Independiente tornou-se o maior artilheiro de todos os tempos no campeonato argentino, tendo marcado um total de 293 gols (um a mais que Angel Labruna) em 325 jogos, recorde que permanece até hoje. A média foi de 0,882 gol por partida.

Foi artilheiro do campeonato argentino nos campeonatos de 1937, 1938 e 1939. Em 1937, o Independiente, que foi campeão venceu os últimos 10 jogos do campeonato, superando o até então líder, River Plate. E num feito espetacular Erico marcou 45 gols. Ao final da competição foram 115.

Contam que no campeonato de 1938 a “Tabacalera Picardo”, que fabricava os cigarros 43, que depois mudaram o nome para 43/70, deu um prêmio a Arsenio Erico por ter somado 43 gols no campeonato. Quando faltavam duas rodadas para o término da competição, o paraguaio pedia aos companheiros Antonio Sastre e Vicente de la Mata, que não lhe passassem a bola, pois se marcasse mais um gol perderia o prêmio.

Em 1941, Erico pediu um aumento salarial. Como não foi atendido resolveu vestir a camisa da Seleção do Paraguai, em jogo contra a Argentina pela “Copa Chevallier Boutell”. Mas o Independiente apelou a Fifa e a partida foi suspensa. Ainda assim, os dirigentes tiveram que viajar até Asunción para convencê-lo a voltar. O que só aconteceu depois que lhe deram o aumento salarial solicitado.

Entre os seus 293 gols, um entrou definitivamente para a história: foi contra o Boca Juniors. Erico pulou para tentar cabecear um cruzamento, mas se passou da jogada. Antes de cair ao chão conseguiu bater com o calcanhar na bola e a mandou para a rede.

Erico não foi somente um goleador emérito. Era dono de uma técnica incomum, driblava com perfeição e adorava dar toques de calcanhar. Acrobático, Arsenio era um equilibrista que executava jogadas luxuosas e toques de calcanhar na confecção de seus gols. A sua impulsão era fatal para os goleiros, daí o apelido de “El Trampolin Invisible”.

Seu estilo era inigualável. Saltava mais que qualquer marcador e ganhava dos goleiros. Como bom paraguaio, o jogo aéreo era sua especialidade. Ninguém conseguia pará-lo quando se preparava para o cabeceio. Por sua elasticidade, o jogador recebeu elogios de antigos craques como Leônidas da Silva e Alfredo Di Stefano.

Outra virtude desse notável jogador foi o seu altruísmo e desapego ao dinheiro. “El Saltarín Rojo”, como também era chamado, não aceitava regalias e paparicos em hotéis e restaurantes. Na sua concepção, o jogador de futebol era uma pessoa comum, e não um astro.

Ídolo de Alfredo Di Stéfano, Arsenio Erico era o típico jogador de todas as torcidas, que com seu estilo espetacular fazia valer o ingresso do jogo. Segundo o jornalista Sindulfo Martínez, “ningún otro jugador hizo temblar tantas veces el duro cemento de los estadios ni la fibra apasionada de las muchedumbres”. (Nenhum outro jogador fez vibrar tantas vezes o duro cimento dos estádios, nem a fibra apaixonada das torcidas)

O célebre compositor argentino Ovidio Cátulo González Castillo, dedicou-lhe um tango que dizia: “Pasará un milénio sin que nadie repita tu proeza, del pase de taquito ou de cabeza”. (Passará mais de mil anos e ninguém repetirá tua proeza, do passe de calcanhar ou de cabeça)

Arsenio Erico saiu do Independiente em 1946, depois de sofrer sérios problemas nos meniscos. Como não conseguiu se recuperar bem, seu futebol caiu bastante. Antes de voltar ao Paraguai ainda jogou sete partidas pelo Huracán, porém não marcou nenhum gol. Encerrou a carreira no mesmo clube onde começou, o Nacional de Asunción.

Morreu em Buenos Aires, no dia 23 de julho de 1977, aos 62 anos, logo após ter amputado a perna esquerda. Um problema circulatório acabou em gangrena. Foi sepultado no Cemitério de Morón, na capital argentina. Porém, no dia 23 de fevereiro deste ano os seus restos mortais foram levados para o Paraguai e agora estão guardados no Mausoléu do “Estádio Defensores Del Chaco”, em Asunción.

Arsenio Erico, “El Malabarista", outro de seus apelidos, teve a imagem impressa em selos postais. O correio paraguaio, através de sua assessoria filatélica realizou recentemente no Salão Comendador, da Câmara dos Deputados, o lançamento de selos do afamado futebolista, como parte das homenagens alusivas a vinda de seus restos mortais para o país. (Pesquisa: Nilo Dias)

A vida de Arsenio Erico virou livro. (Foto: Divulgação)