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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Coelho centenário

O futebol de Minas Gerais e do Brasil está em festa no dia de hoje, quando está sendo comemorado os 100 anos do América Futebol Clube, de Belo Horizonte, fundado em 30 de abril de 1912. O clube nasceu graças a um grupo de meninos da elite mineira, quase todos estudantes do "Gymnasium Anglo-Mineiro", colégio que aplicava as aulas em inglês, ministradas por professores, em sua maioria, norte-americanos.

Naquele tempo, vários eram os grupos de meninos que jogavam futebol nas ruas e terrenos então existentes na bucólica Belo Horizonte de 1912, com apenas algumas ruas, meia duzia de avenidas abertas e pouco mais de 25 mil habitantes.

Entre esses, havia um grupo de menores de 13 anos que jogavam sempre na esquina das ruas Bahia e Timbiras. Certa tarde, reunidos a sombra de uma árvore, como de costume, Afonso Silviano Brandão, Augusto Pena, Aureliano Lopes Magalhães, Alcides Meira, Ademar Meira, Caetano Germano, César Gonçalves, Oscar Gonçalves, Francisco Bueno Brandão, Fioravante Labruna, Álvaro Moreira da Cruz, Gersôn de Salles Coelho, Guilherme Halfed, José Miranda Megale, Leonardo Gutierrez, Leon Roussoulliéres Filho, Oscar Gonçalves, Waldemar Jacob e Henrique Diniz Gomes, desejando dar uma forma mais organizada ao seu time, resolveram fundar um clube de futebol de verdade.

Era 30 de abril de 1911. Os compromissos com os estudos e as dificuldades surgidas, fizeram com que o time, que ainda não tinha nome, durasse apenas seis meses. Os garotos porém não desanimaram. Exatamente um ano depois de sua fundação, ou mais precisamente a 30 de abril de 1912, os mesmos meninos voltaram a se reunir, dispostos a não mais deixar que o clube desaparecesse.

Em nova reunião, não mais debaixo da árvore, mas na casa do doutor José Gonçalves, então secretário da Agricultura do Estado e pai de um dos meninos, fundador e primeiro secretário do Sport Club, primeiro clube de futebol de Minas Gerais, foi eleita a primeira diretoria, que ficou assim constituída:

Presidente, Afonso Silviano Brandão; Vice-presidente, Aureliano Lopes de Magalhães (primeiro a falecer); Secretário, Adhemar de Meira e Tesoureiro e Zelador, Oscar Gonçalves.

Entusiasmados com a fundação oficial do clube, os garotos que praticavam o futebol com bolas de meias, resolveram dar um nome bonito ao clube. A falta de um consenso obrigou a que se realizasse um sorteio para escolha do nome.

Entre as sugestões apresentadas estavam "América Foot-ball Club", em homenagem aos Estados Unidos da América, dos quais os meninos eram fãs, por influência das histórias contadas por seus professores, “Arlequim”, “Riachuelo”, “Guarany” e “Timbiras”.

A definição do nome aconteceu no mês de maio, nos porões da casa de Adhemar de Meira. As sugestões foram colocadas dentro do chapéu de Aureliano Lopes Magalhães, e o papelzinho com o nome foi retirado pela pequena Alda Meira, que depois se tornaria uma das mais importantes damas da sociedade mineira.

As cores do uniforme, verde e branca foram escolhidas também por sorteio. Ao que se sabe, o professor Afonso Silviano Brandão, sobrinho do "presidente" de Minas Gerais, Bueno Brandão (na época, os Estados possuíam presidentes e não governadores), era torcedor do América F.B.C., do Rio de Janeiro.

As cores oficiais do América, desde a sua fundação, foram verde e branco com punhos e golas verdes e escudo do clube a esquerda. Os calções pretos foram introduzidos três anos após a fundação.

O primeiro Estatuto foi elaborado por Afonso Silviano Brandão. Nele constava a proibição de ingresso no clube de maiores de 14anos. Essa proibição foi revogada mais tarde, quando ingressaram no América Otacílio Negrão de Lima, Luiz Guimarães, Mário Pena, José Soares Alves, Amilcar, Márcio Motta e outros.

A primeira equipe americana foi formada por Oscar Gonçalves - Leonardo Gutierrez e Fioravante Labruna - Luiz Guimarães - Augusto Pena e Lincoln Brandão - Dario Ferraz - Waldemar Jacob e Geraldino de Carvalho.

No ano seguinte de sua fundação, em 1913, o América fundiu-se com o Minas Geraes Foot-Ball Club. O presidente de honra dos dois clubes, então prefeito de Belo Horizonte, resolveu ceder ao América o patrimônio do Minas Geraes: um campo de futebol com suas traves.

O clube era composto por crianças de 13 e 14 anos e disputava jogos com garotos da mesma faixa etária. Na mesma época, devido a uma “desinteligência” no Atlético Mineiro, todos os seus presidentes até aquela data e três de seus fundadores, além de meio time se afastaram e pediram suas inscrições no América.

Os meninos que torciam por aqueles atletas fizeram uma reunião para que o Estatuto fosse mudado. Houve discordância e vários dos fundadores americanos saíram, mas o clube se tornou time de adultos, com atletas de Atlético e Minas Geraes. Os meninos americanos passaram a formar o segundo time.

A primeira grande vitória foi contra o Atlético Mineiro por 1 X 0 , gol de Júlio Cunha. O primeiro amistoso interestadual foi contra o Flamengo, do Rio de Janeiro, no campo do Prado Mineiro, e o América venceu por 2 X 1.

O início de um período de glórias, jamais visto no futebol de Minas Gerais começou em 1º de novembro de 1915. O América venceu a até então imbatível equipe da Mina do Morro Velho, formada exclusivamente por jogadores ingleses, por 3 X 0. Jogaram pelo América: Didico - Mário Pena e Luiz Guimarães – Kainço - Otávio Pena e Henrique Diniz - Edson Jacob - João Brito - José Borges - Oscar Monte e Mimi.

Em 1916, o América armou a poderosa equipe que conquistou o campeonato nesse ano e nos nove subsequentes até 1925. O América se sagrava assim decacampeão estadual. Um recorde somente igualado pelo ABC de Natal, estando esta façanha registrada no Guinness Book (Livro dos Recordes).

Entre outros, fizeram parte da conquista do decacampeonato: Geraldino de Carvalho, primeiro negro a fundar e jogar em um time de futebol no Brasil; Otacílio Negrão de Lima, que se tornou grande político, e Mário Pena e Lucas Machado, que se formaram médicos e foram fundadores do Hospital São Lucas.

Em 1919, o América inaugurou o primeiro campo gramado de Belo Horizonte. Em 6 de maio de 1923 inaugurou o seu novo campo, onde atualmente localiza-se o Mercado Municipal.

Em 1929, com o dinheiro da venda do terreno antigo e já com o título de decacampeão mineiro, o América comprou um terreno na Avenida Francisco Sales, no bairro de Santa Efigênia, onde construiu o Estádio Otacílio Negrão de Lima, que passou por uma grande reforma na década de 1940. Com o passar do tempo, esse estádio ficou conhecido como Estádio da Alameda, por também ter entrada pela Alameda Álvaro Celso.

Em 1933 foi oficializado o profissionalismo no Brasil. Até então, toda prática esportiva era amadora. O clube protestou contra a implantação do profissionalismo e mudou as cores de sua camisa para vermelho e branco, situação que perdurou por dez anos. A partir de 1943, o América aceitou o profissionalismo, retomou as cores que marcaram o decacampeonato e recomeçou a investir no patrimônio do clube.

Em 1948, concluiu as obras de seu novo estádio, Otacílio Negrão de Lima, período marcado por grandes conquistas como o Campeonato Mineiro daquele ano e o Torneio Quadrangular, que reuniu o Vasco da Gama, campeão sul-americano daquele ano, o São Paulo, campeão paulista, e o Atlético, campeão mineiro de 1947.

Em 1957, o América conquistou a tríplice coroa ao ganhar os títulos juvenil, aspirante e profissional. Em 1971, destacou-se pela conquista do Campeonato Mineiro de forma invicta. Em 1993, o América conquistou mais um título estadual.

Porém, o grande destaque desta década foi a conquista do Campeonato Brasileiro da Série B, que possibilitou o retorno do clube à elite do futebol brasileiro. Em 2000, o América conquistou o título da primeira Copa Sul-Minas. Em 2001 e 2005 conquistou o Campeonato Mineiro e a Taça Minas Gerais.

Em um dos seus piores momentos no futebol, o América, único clube que havia disputado todas as edições do Campeonato Mineiro, caiu para o Módulo II do Estadual, em 2007. No ano seguinte, a volta por cima com a conquista do título do Campeonato Mineiro Módulo II, voltando à elite do futebol estadual.

Com uma nova diretoria, o América disputou a Série C do Campeonato Brasileiro e conquistou o título. Assim, o ano de 2009 marcou o início da ascensão alviverde à elite do futebol.

A última participação alviverde na Série B havia sido em 2004, quando ocupou o 21º lugar na tabela de classificação. Com uma equipe guerreira, o clube terminou a temporada em quarto lugar e conquistou seu acesso ao Campeonato Brasileiro da Série A, a elite do futebol nacional.

Títulos conquistados como clube profissional: Campeão Mineiro (1916 a 1925, 1948, 1957, 1971, 1993 e 2001); Torneio Início (1917, 1918, 1919, 1920, 1921, 1924, 1925, 1927, 1933, 1945, 1955 e 1957); Copa São Paulo de Juniores (1996); Campeão Brasileiro da Série B (1997); Campeão da Copa Sul-Minas (2000); Campeão da Taça Minas Gerais (2005); Campeão Mineiro Módulo II (2008); Campeão Brasileiro da Série C (2009).

A Câmara Municipal de Belo Horizonte, através do Projeto de Lei n° 1.707/08, instituiu o dia 30 de abril, data da fundação do clube, como o Dia do Torcedor do América Futebol Clube, data esta que passou a integrar o calendário turístico do município. (Pesquisa: Nilo Dias)

América Mineiro, em 1912. (Foto: Acervo fotográfica do América F.C., de Belo Horizonte)