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sábado, 2 de abril de 2011

Um bugre centenário

No dia de hoje está ingressando na seleta galeria dos clubes brasileiros centenários, o tradicional Guarani Futebol Clube, da cidade paulista de Campinas. Na realidade, a reunião que resultou na fundação do clube foi realizada no dia 1º de abril de 1911, na Praça Carlos Gomes. Mas para evitar gozações, principalmente de parte dos torcedores da A.A. Ponte Preta, o outro time da cidade, por causa do “dia da mentira (1º de abril), a data oficial de fundação passou a ser 2 de abril.

Os idealizadores do Guarani foram os estudantes do Gymnasio, Pompeo De Vito, Ernani Filippo Matallo e Vicente Matallo. Além deles, compareceram à reunião de fundação Antonio de Lucca, Romeo Antonio de Vito, Angelo Panattoni, José Trani, Luiz Bertoni, José Giardini, Miguel Grecco, Julio Palmieri e Alfredo Seiffert Jaboby Junior.

O nome do clube foi uma homenagem ao compositor campinense Carlos Gomes, autor da ópera “O Guarani”, baseada no romance homônimo de José de Alencar. Quem sugeriu o nome foi José Trani. As cores verde e branco foram sugeridas por Romeu de Vito, tendo em vista que todos estavam sentados sobre a grama da praça.

Depois de eleita uma diretoria provisória, tendo como presidente Vicente Matallo, estabeleceu-se que cada sócio contribuiria mensalmente com 500 réis. Em 9 de abril foi realizada uma segunda reunião, dessa vez em uma sala emprestada pela Sociedade Recreativa 7 de Setembro, para escolha da primeira Diretoria, com mandato de um ano.

Vicente Matallo foi confirmado como o primeiro presidente do Clube. Para os demais cargos foram escolhidos: Vice-Presidente: Adalberto Sarmento; 1º Secretário: Raphael Iório; 2º Secretário: Paulino Montandon; Tesoureiro: Pompeo de Vito; 1º Capitão: Luiz Bertoni; 2º Capitão: Francisco Oliveira; 1º Fiscal de Bola: Antonio de Lucca; 2º Fiscal de Bola: José Trani; e Procurador: Aurélio Rovere.

Os primeiros treinos e jogos do Guarani foram realizados num campo de terra batida cedido pela Prefeitura, na Vila Industrial. As traves foram feitas de bambu. No dia 23 de abril foi realizado o primeiro treino, quando se defrontaram dois times formados por associados.

O primeiro jogo da história do Guarani foi disputado no dia 18 de junho de 1911 e o adversário foi o Sport Club 15 de Novembro, que venceu por 3 X 0. A primeira vitória não demorou, veio no jogo seguinte frente, em 16 de julho de 1911, 2 X 0, contra o Corinthians Foot-Ball Club, de Campinas. O Guarani mandou a campo: Oliveira - Bertoni e Gonçalo – Marotta - Nick e Panattoni – Miguel – Trani – Fritz - Romeo e Grecco.

Em 1912 seis clubes se reuniram e decidiram fundar a Liga Operária de Foot-Ball e realizar o segundo campeonato municipal de futebol, da história de Campinas. O primeiro foi jogado em 1907 e vencido pela Associação Athletica Campineira. O Guarani sagrou-se vice-campeão, conquistando seu primeiro troféu - uma estatueta de bronze.

Como o clube começou a crescer e já contava com um número bastante grande de torcedores, foi preciso conseguir outro espaço para os jogos. Em 1913 foi alugado um campo de futebol junto ao S.C. Commercial, no bairro Guanabara, conhecido como “Ground do Guanabara”.

Em 1916 foi criada a Associação Campineira de Foot-Ball, que ficou com a responsabilidade de organizar um novo campeonato. O Guarani, que já era considerado o melhor time da cidade, apenas confirmou em campo sua superioridade, conquistando seu primeiro título de campeão citadino, e de maneira invicta.

Tempos depois, com o encerramento das atividades do Commercial, o Guarani conseguiu licença para usar gratuitamente o campo. A proprietária da área era a senhora Isolethe Augusta de Sousa Aranha, de família tradicional (filha do Barão de Itapura, Joaquim Policarpo Aranha e de dona Libânia de Sousa Aranha, Baronesa de Itapura), e tia de um dos pioneiros do clube, Egídio de Sousa Aranha.

Como a Prefeitura de Campinas não mostrou o menor interesse em conseguir uma área para que o Guarani construísse sua praça de esportes, Egidio de Souza Aranha teve papel decisivo ao convencer sua tia a vender o terreno de 20 mil metros quadrados, pelo preço irrisório de 900 réis o metro

Em seguida foi nomeada uma "Comissão Pró-Estádio", presidida por João Pereira Ribeiro. Várias promoções foram realizadas visando a arrecadação de fundos. Finalmente, em 15 de julho de 1923, foi inaugurado o chamado "Estádio do Guarany", na rua Barão Geraldo Resende.

Para o jogo inaugural foi convidado o Club Athletico Paulistano, na época o principal clube do futebol paulista, com Friedenreich e muito mais. O Guarani venceu por 1 X 0, gol de Zequinha, tendo jogado com: Pacheco - Joca e Tavares – Deputado - Juca e Joaquim – Miguel – Zequinha – Barbanera - Nerino e Pilla.

O Estádio da Rua Barão Geraldo de Resende passou por várias reformas e ampliações, servindo ao clube até 1953. Nele o Guarani recepcionou alguns dos maiores times do país, tendo ali mandado seus jogos pelos Campeonatos Paulistas de 1927; 1928; 1929; 1930; 1931; 1950; 1951 e 1952.

Em 1947 a Federação Paulista de Futebol implantou o profissionalismo no interior do Estado. O Guarani foi um dos primeiros clubes a aderir à iniciativa. Provém dessa época o acirramento da rivalidade com seu arqui-rival, a Ponte Preta, com quem faz o Derby Campineiro. Em 1947, o presidente da Federação Paulista de Futebol, Roberto Gomes Pedrosa, implantou a era profissional no esporte, criando os Campeonatos Paulista da primeira e segunda divisão.

Participou do Campeonato Profissional do Interior daquele ano e da 2ª Divisão de Profissionais de 1948, vencida pelo XV de Novembro de Piracicaba. Em 1949, porém, sagrou-se campeão da 2ª Divisão, ganhando o direito de disputar no grupo de elite do futebol paulista.

Mas isso trouxe um sério problema. O Estádio da Rua Barão Geraldo de Resende já não comportava o clube, e a FPF fez exigências que precisavam ser cumpridas. Então foi criada uma Comissão liderada por Antônio Carlos Bastos para estudar as alternativas possíveis. Descartadas as possibilidades de nova reforma ou ampliação do antigo estádio, o Guarani precisava partir para uma área maior, ainda que não tão próxima ao centro da cidade.

Foi quando uma empresa imobiliária propôs a troca da área do bairro Guanabara, por uma outra de 50.400 m2 na chamada “Baixada do Proença”, pagando ainda ao clube Cr$ 2 milhões em parcelas e encarregando-se da sondagem e a terraplenagem do terreno. E no local foi erguido o novo estádio do Guarani.

A denominação de “Brinco de Ouro” se deve ao jornalista João Caetano Monteiro Filho, do jornal “Correio Popular”. Ao ver a maquete do estádio, com a forma circular, ele logo pensou em um brinco. Como a cidade de Campinas era conhecida como "A Princesa D'Oeste", ele colocou em manchete: “Um Brinco de Ouro para a Princesa”. E epegou. A própria população passou a chamar o estádio de "Brinco de Ouro" e "Brinco da Princesa". Mas “Brinco de Ouro da Princesa” se tornou o nome oficial.

O estádio foi inaugurado em 1953, mesmo sem as cabeceiras, improvisando-se ali arquibancadas feitas de madeira. Na tarde de 31 de maio de 1953 adentravam ao gramado do "Brinco de Ouro" as equipes do Guarani e da S.E. Palmeiras, especialmente convidada para a inauguração. Num dia de muita chuva, o Guarani venceu por 3 X 1, cabendo a Nilo, meia-direita do Bugre, a marcação do primeiro gol, aos 44 minutos, cobrando falta no atual gol de entrada.

Completaram Dido e Augusto, no 2º tempo. Parte da cerimônia de inauguração acabou sendo adiada devido à chuva. Na segunda partida festiva, dia 4 de junho de 1953, o Guarani perdeu de 1 X 0 para o Fluminense F.C., do Rio de Janeiro. A iluminação foi inaugurada em 11 de janeiro de 1964, com um jogo amistoso em que o Guarani venceu ao Flamengo, do Rio de Janeiro por 2 X 1. O recorde de público chegou a 52.002 pagantes no jogo Guarani X Flamengo, pelo Campeonato Brasileiro de 1982.

O maior feito da história do Guarani é ter conquistado o título de campeão brasileiro de 1978. O time chegou ainda a dois vice-campeonatos brasileiros, em 1986 (em uma final inesquecível contra o São Paulo, decidida após uma prorrogação e disputa de pênaltis) e o Modulo Amarelo de 1987 (contra o Sport), classificando-se em três oportunidades para a disputa da Taça Libertadores da América, principal competição sul-americana de futebol.

O clube já revelou jogadores de projeção mundial, como Careca, Amaral, Júlio César, Deco, Evair, Amoroso, Luisão, Mauro Silva, Neto, Edilson, Ricardo Rocha, Elano e João Paulo, além de ter tido em seu elenco jogadores nacionalmente destacados, como Zenon, Jorge Mendonça, Djalminha e Neneca.

Em 1954, cedeu o primeiro jogador para uma Seleção Brasileira de Futebol, Fifi, que participou do Campeonato Sul-Americano Juvenil. Em 1963, o Guarani teve pela primeira vez atletas convocados para uma Seleção principal: Tião Macalé, Oswaldo, Amauri e Hilton, que jogaram o Campeonato Sul-Americano daquele ano. (Pesquisa: Nilo Dias)

Campeão da Copa do Brasil, em 1978. (Foto: Blog "Planeta Guarani")